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Terça-feira,
25/4/2006
Cinema e vídeo em Cuiabá
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Localizada a 45 minutos da Chapada dos Guimarães e a 100km do Pantanal, a cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, é nesta semana a capital do Cinema e do Vídeo, conforme consta no material de divulgação deste 13º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá. E logo no primeiro dia de festival foi possível notar uma relação entre o evento e os filmes escolhidos. Os leitores verão como a seguir. Antes, mais um pouco sobre o Festival.
De acordo com um dos participantes, apesar de não ter a mesma importância de outras mostras (como a de Brasília e a de Gramado), o Festival de Cuiabá se destaca por não ter sido "pulado" desde seu início. Assim, sua 13º ocasião é a consolidação de um trabalho - isso num país que sofre com a falta de prosseguimento de determinados projetos, sobretudo os culturais. Na programação, serão cinco dias de sessões, debates, palestras e, pelo que se viu ontem, de contatos para novas incursões na seara cinematográfica e também audiovisual.
Na primeira noite, o destaque ficou por conta da mostra competitiva de curtas metragens, com duas peças distintas em gênero, número e grau, mas que estavam, ainda assim, lado a lado: Historietas assombradas para Crianças Malcriadas e Rap, o canto da periferia, sob a direção de Victor-Hugo Borges e Ardiley Queiroz, respectivamente.
No primeiro curta, a proposta - conforme explicou Guilherme Ramos, o representante da produção - é apresentar histórias que uma avó contaria à sua neta caso ela não obedecesse e não quisesse dormir. A dicotomia é clara: a produção fica entre a sátira e o terror. Mas como o primeiro é mais eficaz, melhor observar sob essa perspectiva, até porque o terror é uma observação irônica ao fato de boa parte das histórias para ninar sempre se fixar em um universo água com açúcar, leve. A inventividade, desse modo, fica por conta da animação que, de fato, eleva a simplicidade da narrativa.
Já em Rap, o canto da periferia, Ardiley Queiroz se propõe a mostrar o outro lado do Distrito Federal, mais precisamente a Ceilândia, principal cidade-satélite dos arredores de Brasília. É curioso notar, aliás, como o próprio diretor se confunde com a história do filme. "Não sou de Brasília, sou do Distrito Federal", afirmou ele em conversa com este repórter. E o curta, de fato, tem o mérito de mostrar uma cidade invisível aos olhos do cinema e do vídeo oficiais. Mais estranho: ninguém chega a se espantar com tamanha exclusão. A novidade é que, pela primeira vez, as vozes daqueles moradores foram ouvidas e registradas. Do mesmo modo, os entrevistados-personagens contam histórias inéditas sobre a Ceilândia, assim como a trajetória de cada um no lugar.
A obra é bastante contundente. Pena que essa força se distancie do propósito inicial. Em outras palavras, intencionalmente ou não, o curta passa a tratar quase que única e exclusivamente de discriminação racial. Um dos entrevistados, o rapper X, do Câmbio Negro, conseguiu arrancar aplausos da platéia que lotava a sala de cinema do Multiplex com um discurso racista sobre... o racismo. Contradições à parte, o rap não só sustenta, mas é a própria matéria que dá agilidade em todo o curta.
Na hora e vez dos longas-metragens, Cinema, Aspirinas e Urubus deu início à outra mostra, competitiva. Antes da sessão, porém, mais um discurso. Dessa vez, foi o diretor Marcelo Gomes quem reclamou a respeito da dificuldade em fazer o filme (o dele, no caso) rodar pelo país. Novamente, um autor que se confunde com suas personagens, que, no filme, tocam no mesmo assunto: a grandeza do Brasil impossibilita o trânsito fácil. Qual a relação? Entre a ficção e a realidade, a primeira apresenta um cenário árido, mas que consegue se mover a duras penas. No segundo caso, o paralelo torna-se válido justamente porque festivais como o de Cuiabá provam que as distâncias têm diminuído, apesar de tudo.
Confira aqui a programação de hoje.
Postado por Fabio Silvestre Cardoso
Em
25/4/2006 às 14h15
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