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Quarta-feira,
26/4/2006
Cinema e vídeo em Cuiabá (2)
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Juntamente com as 66 produções que ora são apresentadas neste 13º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, existe uma programação, como posso dizer?, mais teórica, mais conceitual, quiçá acadêmica, que busca debater novas perspectivas da cultura e da sociedade a partir das temáticas dos filmes que são mostrados. De acordo com Luiz Borges, produtor do Festival, essa proposta surgiu na sétima edição do evento, quando este ainda acontecia dentro da Universidade Federal do Mato Grosso. À medida que o Festival cresceu, o debate também se consolidou, apontando, inclusive, novas diretrizes em relação ao cinema nacional, e não somente à produção do Mato Grosso.
No primeiro dia de Seminário, o tema "Fronteiras" foi apresentado pela profa. do Depto. de História da UFMT, Maria de Fátima da Costa, que, logo em seguida, falou sobre sua conferência: "Acompanhando uma viagem de demarcação de limites". A professora trouxe um longo relato, seguido de análise, da trajetória de portugueses e espanhóis no centro do Brasil nos idos de 1700... Se a distância no tempo já chama a atenção, os leitores se surpreenderiam se vissem a correlação desta palestra com o último filme da noite de ontem, o longa-metragem Serra da Desordem, que, não por acaso, está entre os concorrentes desse festival. A questão da cultura e do território estava ali, só que, dessa vez, em imagens que transitavam entre a ficção e o documental.
Destaques do dia
Antes disso, no entanto, a sala 5 do cinema Multiplex do shopping Pantanal (onde ocorre o evento) foi palco para mais curtas-metragens e suas respectivas categorias. Na mostra "Vídeos do Mato", por exemplo, os presentes conferiram o conteúdo mais experimental do dia, para o bem e para o mal. André Rondon apresentou o insosso e demasiado breve O sonho. E antes que alguém possa chamar este observador de chato, cabe lembrar que o próprio Rondon vaticinou a platéia. Aqui, suas palavras: "Olha, esse vídeo foi feito há um ano e meio atrás (sic)... Não esperem muito...". E o vídeo tem lá sua sacada, mas não chega a alcançar qualquer objetivo (e a história não faz sentido).
Já na Mostra Competitiva de Vídeos, pôde-se ver um trabalho digno da disputa: A resistência do vinil, de Eduardo Castro. Sobre o vídeo, é correto afirmar que se trata de um filme sobre obcecados a respeito de uma obsessão, o vinil. E o curioso é que o vídeo, que trata de uma relação morosa e nostálgica de pessoas com os discos, tenha um ritmo de edição e montagem para lá de frenético. De todo modo, o que torna o curta especial são os depoimentos. Únicos, como os discos de vinil.
Em seguida, o curta Horno ardiente, de Juan Maneglia, passaria despercebido se não fosse estrangeiro. Muitas palavras. Condição totalmente inversa de A lente e a janela, de Marcius Barbieri. Nele, as palavras dão lugar às imagens que mostram a percepção da diferença social a partir do olhar de uma garota, a personagem Verônica. Um discurso inflamado não surtiria tanto efeito.
Depois daquele baile
Em uma das principais sessões do dia, a platéia conferiu Depois daquele baile, filme de Roberto Bontempo. O longa-metragem traz no elenco Marcos Caruso, Irene Ravache e Lima Duarte na pele das personagens Otávio, Dóris e Freitas, respectivamente. E é em cima dessas personagens que se estabelece um triângulo amoroso à mineira, abordando a delicadeza das relações humanas, como a saudade, a solidão, a frustração, o afeto, a morte e a amizade. O leitor pode ficar despreocupado porque, ao contrário de outras produções, o filme de Bontempo não é pretensioso e não ousa falar de existencialismo. Low-profile, a obra conquista o público pelas beiradas, ora com diálogos bem engraçados, ora com Belo Horizonte como pano de fundo. Estão ali, a propósito, o Mercado Municipal, as avenidas largas da região central da cidade, assim como os maneirismos do cotidiano dos mineiros.
O dia ainda contou com as produções Freqüência Hanói, que, segundo as palavras de um dos diretores (Diego Lisboa), segue a tendência de trazer às telas um pouco de terrorismo digital em vídeo (o curta em questão traz o depoimento, via celular, de um presidiário). Depois, em Quem você mais deseja?, André Sturm e Silvia Rocha Campos apresentaram com a sutileza do preto e branco a história de amor de dois correspondentes. As falas são substituídas pela narração das cartas. E os 12 minutos do filme passaram rápidos demais tão bom que era o curta.
Para hoje, mais palestras, vídeos e longas-metragens. Confira
aqui.
Postado por Fabio Silvestre Cardoso
Em
26/4/2006 às 15h20
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