Qualquer poeta que não seja consagrado é independente, e os independentes são mais regra que exceção. Sempre foi assim. Acho que nós somos de uma geração acostumada a ídolos, bens culturais, ícones pop, atores de Hollywood etc., nosso tempo é do: ou você vende milhões de exemplares ou você não é ninguém. Mas isso não se aplica à poesia. Na narrativa temos até os best-sellers, mas não existem best-sellers poéticos. Todos os poetas famosos são poetas velhos. Manuel de Barros levou uma vida inteira até ser o Manuel de Barros. Infelizmente, ou felizmente, na poesia não existe essa ânsia. Acho que ninguém sonha em ser poeta para ganhar dinheiro (teria que ser muito burro para pensar isso). Acho que a poesia é o lugar onde o sentido da arte, que é um sentido da diferença, da singularidade, ainda permanece, isto é: o sentido do caminhar, do compor, e não a busca por "resultados". Um sucesso futuro é mais decorrência do acerto ou do erro do que da exigência de um mercado. Nem Ferreira Gullar vende tanto quanto se espera que venda um poeta famoso...
Márcio-André, em entrevista a Lisardo Lopes, no Pré-texto.
Márcio André prova mais uma vez que, além de um grande poeta, é um intelectual muito humano. Vale a pena refletir sobre as questões que ele coloca para os professores.
Será que alguém já pensou que Ferreira Gullar não vende muito porque ele escreve poemas chatos? :) Uma poesia que é best-seller, mas não autoral, é o Mahabharata, que já tem centenas de milhões de cópias vendidas... Não são todos que se entendem com "poesia", e esse gênero nunca terá, mesmo, a popularidade de um texto narrado. Aos amantes da palavra, um poema vale mil imagens... Creio que nossa eterna busca por "por que algo que eu considero bom, não é famoso" é que é um pouco entediante...