Na mesma semana em que os brasileiros da moda acompanham a 21ª edição da São Paulo Fashion Week, um evento de moda islamita faz seu début em Teerã, capital do Irã. As semelhanças entre os desfiles, porém, ficam só no fato de que as modelos caminham em uma passarela vestindo modelos criados por estilistas.
As diferenças começam pelos organizadores que, no caso da república islamita, são as forças policiais. Com duração de dez dias, a feira tem o apoio de autoridades religiosas, do ministério do comércio e da corporação estatal de transmissão para a TV. A lista de exigências do casting também deve ser outra, bem mais relaxada, já que o único traço humano visto no palco é o rosto das modelos. De algumas, só os olhos. Além disso, na fashion week iraniana não há nenhum Reinaldo Lourenço, e homens não desfilam.
Por baixo da hijab, a vestimenta que cobre todo o corpo e a cabeça, as modelos iranianas são mais livres que as brasileiras que desfilam em São Paulo. Estrias, celulites e os quilinhos extras que as nossas tops tiveram que queimar nas últimas semanas passam despercebidos embalados em tanto tecido.
A iniciativa, segundo a organização, surgiu da necessidade de combater a influência ocidental nas vestimentas das mulheres - principalmente as mais jovens - e mostrar que elas podem se vestir com estilo sem desrespeitar "os bons costumes e a modéstia". A tendência de usar roupas cada vez mais justas e véus que deixam à mostra os cabelos, agora com penteados mais ousados, vem assustando o governo.
A lei iraniana obriga as mulheres a vestir a hijab, incluindo o véu que cobre a cabeça, deixando só o rosto à mostra. Segundo o Corão, mais importante fonte de jurisprudência do Islã, é recomendável que homens e mulheres se vistam com modéstia, para não serem vistos como objetos sexuais. Mas cada país define o que a mulher pode ou não usar, e qual é a punição para quem descumprir a ordem.
Com um desfile de moda, a polícia do Irã tenta contra-atacar a invasão da cultura européia, que chega ao país pela televisão, e manter os costumes islâmicos em alta entre os jovens. Para decorar, uma exposição paralela de citações exaltando as virtudes da hijab. Uma delas é atribuída ao próprio profeta Maomé:
"Qualquer mulher com fé em Alá e no dia da ressurreição não exporá seus adornos para qualquer homem que não seu marido. Qualquer mulher que faça essas coisas para alguém que não seu marido traiu sua fé e provocou a ira de Deus."
A estratégia, porém, parece que ainda precisa de muito mais recursos para convencer as jovens. A estudante Shakoofeh, de 19 anos, estava na platéia apenas como curiosa, e não como consumidora. Para ela, pouco importa o modelo ou a cor da vestimenta. "Eu nem usaria a hijab se não fosse pela lei."
Interessente este desfile em Teerã. Sabemos muito pouco sobre este país. O pouco que sabemos são informações produzidas pelos USA e sempre nada favorável... Um grande país com uma enorme história para contar. Ivo Samel
Lendo esse artigo me bateu uma saudade da Leila Diniz. Tenho que ler de novo a entrevista dela no livro (esse, recente, que saiu há pouco tempo) do Pasquim. Eu imagino nós dois, na praia, no verão do Rio. Ela me olha com aqueles olhos sapecas, dá aquele sorriso longo, leve como aquela manhã de sol que nunca se acaba e diz, antes de rir com um sentimento de genuína pena pelo destino de tantas mulheres: "me inclui FORA dessa!"