Escrevo da sala de imprensa, esperando que a luz não caia como ontem. O Daniel Piza acaba de sair daqui depois de dividir comigo suas opiniões sobre o número zero da Revista Piauí - o projeto secreto de João Moreira Salles, para tentar dominar o mundo, imitando, claro, a New Yorker. O site em construção não diz nada. A mim me parece (vou ser bem pessoal agora), uma derivação do No Mínimo, com direito a Paulo Roberto Pires, o eterno darling da Flip, mais geração 00: Galera, Antonia Pellegrino (que eu sempre combino de encontrar mas nunca encontro), Antonio Prata... O resto deixo com a imaginação de vocês. Ah, eu sabia um outro segredo sobre o Ivan Lessa, que também está lá, mas não vou contar. (Daqui a pouco nem é mais segredo...)
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Ontem fiquei impressionado com a multidão de mulheres, na verdade, senhoras de meia-idade pra cima, que resolveram "se liberar", vindo a um evento em que os maridos nunca iriam acompanhá-las: a Flip. Algumas separadas, outras viúvas - geralmente bem resolvidas na parte financeira, de repente podem até adotar um escritor falido desses da Geração 90... Alguém se habilita? Ontem, enquanto eu tomava uma cerveja e olhava o rio, entre uma mesa e outra, entre duas passadas do Milton Hatoum (eu ainda o cumprimento pelo novo Jabuti!), uma mulher de uns quarenta anos dividia seu espanto com outra, desconhecida, que logo chegou: "Mas esse povo todo por conta de um evento de li-te-ra-tu-ra? Eu nunca pensei... Mas... literatura?" - ela se beliscava depois de ter conhecido um médico no almoço.
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A mesa em homenagem a Jorge Amado, a terceira, de ontem ainda, me surpreendeu. A Zélia não pôde vir, disseram que iam trazer o João Jorge, mas não deve ter sido ontem... Enfim: o embaixador (respeito, agora) Alberto da Costa e Silva foi muito divertido, com uma barba à la República Velha, defendendo Jorge Amado das acusações de exotismo: "Exótico, pra nós, é esquiar na neve!". Contou de vários parentes dele que são verdadeiros personagens de Jorge Amado: um tio que gostaria de ter entrado para a marinha, mas que não conseguiu e que, na sua obsessão, montou um barco inteiro na garagem de casa. Depois, não satisfeito, montou uma casa em forma de barco; que existe até hoje. Depois, ainda, contou de um primo que tinha uma relação de inimizade "pessoal" com Deus. Fazia versos fesceninos, mostrava a todos os religiosos que aportavam em sua cidade e nomeou uma fazenda sua de "Inferno" e outra de "Purgatório".
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O Eduardo de Assis Duarte fez um discurso emocionado sobre o deputado comunista cuja maior contribuição para a constituição federal (da época) foi instituir a liberdade de culto religioso. Jorge Amado. Fez um paralelo entre o romancista baiano e seu personagem Quincas Berro D'Água: também morreu para a elite européia (usou a expressão "elite branca", de um certo governador...), e para o marxismo, a fim de renascer para a cultura afro e para o feminismo. Terminou sua preleção - estou lendo a biografia de Machado de Assis pelo Daniel Piza - com um trecho de Capitães da Areia, em que o "Professor" fazia mágicas com suas histórias e seus livros, construindo uma casa de volumes e não de tijolos. A Myriam Fraga falou do feminismo de novo, de Tereza Batista, embora esteja já um pouco esquecida, confundindo nomes... Depois dos elogios de Oswald de Andrade ("uma Ilíada negra"), Albert Camus (em francês, of course) e Antônio Cândido - embora todos nutrissem simpatias (interessadas) mais à esquerda -, fiquei com vontade de ler Jubiabá.
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Agora, no iPod, estou ouvindo Dorival Caymmi. Para quem - no meu texto - sempre me pergunta "pra quê tanta música?", aí está a resposta. Quando você ia lembrar de trazer sua caixa Caymmi Amor e Mar para a Flip? Nunca! Pois com o iPod, aí está... Ontem tocava muito a Família Caymmi na praça da Matriz. Também na Tenda dos Autores. Principalmente Nana e algum Danilo. Mas eu também fiquei com vontade depois de ver o Jorge com aquele seu "olhar de picardia", conforme a expresão do Caymmi Pai, na exposição que a Folha de S. Paulo preparou na Tenda da Matriz. O Jorge também forra as paredes da Livraria da Vila com as capas de seus livros e, em forma de poster (não sei se é "pôster"), "benze" os autores que vão dar autógrafos. Não vi o show da Maria Bethânia, que foi bem falado na quarta, mas lembrei mesmo foi da Terça Insana (sei que a Grace G. assina a nossa Newsletter), da "Maria Botânica", porque, no site da Flip, seus cabelos estavam verdes...!
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Já ganhei dois livros de autores que estão "lançando" (ou "se lançando") aqui na Flip. Ia dizer que já sofri dois atentados poéticos, porque é farta a distribuição de livros aqui, se você bobear... Principalmente se os autores souberem que é você quem faz as resenhas. Na minha primeira Flip, a de 2004, uma moça muito simpática da revista Simples tirou da bolsa tão rápido o seu volume que eu não tive como recusar. A Carol se comoveu com o gesto, mas, na hora de ler, também não leu. E por falar em livros, ontem, à noite, lançavam um especial da Bravo! com 100 livros que se deve ler na Literatura Brasileira (coloquei em maiúsculas, gostou?). Era no Café Margarida, mas eu estava tão cansado que não fui. Encontrei o Michel Laub, ex-Bravo!, hoje de manhã mas esqueci de perguntar como é que foi... A Bravo! também preparou um bom especial, em formato jornal, sobre a Flip em si. Li ontem.
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Outra mesa muito boa ontem foi a quarta, De onde vem as palavras, com David Toscana e Mário de Carvalho. A mediação, muito bem escolhida pela Ruth, foi do Agnaldo Farias, que é conhecido por sua crítica de artes plásticas. Eu não sei se, pessoalmente, concordo com os seus pontos de vista muito de "vanguarda" (muito "Tunga"), mas admiro-o por seus óculos. Ontem, verdes. Sem brincadeira agora: ele se preparou, leu os livros e fez perguntas pertinentes. Chamou, no fim, os escritores de artistas... Aproveito para elogiar a escolha da mediação deste ano que, ao contrário da do ano passado (que parecia improvisada na última hora), foi coerente - muitos jornalistas. Hoje, a Beatriz Resende (não sei se, agora, é Rezende com "z"), por exemplo: ela fez praticamente uma palestra sobre cada autor; outra palestra sobre o tema. Se alongou um pouco, mas foi muito feliz no todo. E nas intervenções.
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O David Toscana, que é mexicano, veio cheio de graça, "falando português", de um curso que fez antes de chegar, e fez questão de ler seus livros (para o público) em edições brasileiras. Quando fizeram perguntas cabeludas, no entanto, confessou: "Meu português só dá pra pedir feijoada. Para responder a essas perguntas, eu precisaria fazê-lo em espanhol". E o fez muito bem. (Tô elogiando muito? Tô, né. É que eu gostei de verdade dessas duas mesas... À última nem assisti para não estragar.) Já o Mário Carvalho começou muito circunspecto. Até que não se controlou - eu adoro quando as pessoas perdem o controle na Flip - e emendou um discurso contra o comércio, a economia, as finanças... que não tem nada a ver com os livros, disse, com a literatura. Eu até anotei, veja só: "[Os livros, a literatura...] são uma construção antropológica que supera, em muito, a realidade do comércio". Quero ler Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde e Santa Maria do Circo
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Eu sei que vocês não vão acreditar mas o Christopher Hitchens acaba de se sentar aqui do meu lado de novo. (Não tenho nem mais assunto com ele... Ontem falamos mal de Deus - seu novo livro se chama God is not Great - até umas horas...!) "E aí, perdeu mesmo seu artigo (de ontem)?", perguntei. "Não, eu não tinha nem começado, na verdade...". Aconselhei então: "Você precisa usar o Gmail, ele grava as mensagens enquanto você digita, aí você não perde". "É, eu sei. Muita gente me fala que o Gmail é bem melhor...". Para quem acha que eu estou mentindo, o e-mail dele, na AOL, é chitch8003. (Teste, depois me fale...) Bem, falta quinze minutos para a próxima mesa. (Estive à beira de perder todo este Post, então vou postar, tá?) Depois completo com links, imagens, essas coisas todas.