A Folha de São Paulo está se gabando numa propaganda divulgada pelo rádio pelo seguinte privilégio: o único jornalista brasileiro em Bagdá, o Sérgio Dávila, pertence a sua agência.
Isso é espírito de porco; grosseria estúpida. Estamos falando de um momento solene da humanidade: estamos diante de uma guerra e não diante de uma conta de luz.
A Folha de São Paulo não merece respeito. No ano de 1998 seu caderno de cultura, o Mais!, nos fazia pensar. Eu descobri o poeta alemão Georg Trakl através desse caderno; e através dele a lógica paraconsistente do professor Newton da Costa.
O Mais!, atualmente, é veículo de uma estúpida propaganda política. Onde a política põem a mão, quando se começa escrever em defesa do povo, etc, não hesite em concluir: há algo de podre no reino da Dinamarca.
A propaganda acerba e desrespeitosa e o fato de veicular notícias políticas feitas sob medida é o corolário de um certo espírito: do espírito de porco.
A propaganda é mesmo coisa de idiota.
Quando Oliviero Toscanni, o xamã da publicidade criada pela Beneton, esteve aqui, os publicitários tiveram que rebolar diante de uma mesa redonda no programa Roda Viva para não passarem por singelos larápios.
Toscanni dizia a eles que a propaganda deve esclarecer além de vender. Um soldado ferido num campo de batalha vestindo uma calça tipo camuflada assinada pela Beneton: se isso não é menos idiota do que o espírito geral que povoa as agências de publicidade é no mínimo mais polêmico, mais inteligente: e o que interessa é o inteligente, o superior.
Naquela entrevista Toscanni superou todos. Ele dizia: se você quer vender um carro, avise de antemão aos clientes que o carro é uma bomba.
O carro é uma bomba, mas aqui no Brasil, Sr. Toscanni, os orangotangos apaixonados pela Fórmula 1 sempre o associam a coisas dessemelhantes: à mulher ou ao bem estar.
O carro é só uma utilidade: alguém já parou para pensar nisso?
Bem, o "Rei" Roberto Carlos - como o alcunha a Rede Globo -, não em pequena medida é responsável por essa associação de carro com bem estar. Suas letrinhas chinfrins são gratas a isso e povoam o imaginário popular.
Em um momento de sua entrevista, Toscanni citou o urinol enviado por Duchamp ao salão dos independentes. Toscanni tocou no nome do homem mais livre já conhecido por uma nação: o Sr. Marcel Duchamp.
Inclino-me a pensar que o Sr. Washington Oliveto jamais parou diante de um "Monet" que seja para apreciá-lo durante quinze minutos.
Oliveto é o símbolo de uma classe analfabeta arriscando a sorte: estão dentro de um país selvagem e ferozmente analfabeto, sem preocupação de aculturar-se. Eles não esperam por essa profecia: os livros estão chegando a qualquer gueto ( eu mesmo já doei alguns para rapazes de favela - doces e calmos como torpedos ).
Quando a cultura chegar às massas ela clamará por mais: por que a cultura vicia! E então a profecia será inevitável: essa classe nojenta a que pertence essa gentinha metida com publicidade, carros importados e cocaína, não poderá responder no plano intelectual aos anseios da massa aculturada.
No momento da revolução, dêem-me o meu fuzil e eu arrebento com os publicitários: deixe essa casta comigo; deixe também o Chiquinho Scarpa e sua gentinha fedida; deixe os apresentadores de televisão e os ricaços entediados dos Jardins...
A publicidade produzida pelos vendedores de cueca da Mash tem algo de insólito.
Num outdoor, em plena via Anchieta, está debruçado o corpo musculoso de um jovem sobre uma loura magricela. Advinhem qual é a marca da cueca usada pelo varão?
Quase no rodapé do cartaz estão empilhadas essas palavras: "active, basic, class, soft".
Uma cueca carrega genitália; uma cueca é algo rude como uma alça de mala; uma cueca fica amarelada e cheira mal.
A propaganda é assim: ela quer transformar algo trivial em sensacional. Aliás, isso é bem típico dos norte-americanos, com seus aparelhos de ginástica e suas escovas para cabelo.
Os americanos batem o recorde ( os americanos sempre superam a todos em tudo: sem dúvida são os melhores, os mais desesperados e os menos equilibrados ).
Nos Estados Unidos da década da repressão ao consumo de álcool, uma leva de gente culta deixava o continente. Essas pessoas eram mais sensíveis que "o resto" e necessitavam de cultura e não de propaganda.
Sinclair Lewis escreveu "Babitt" para denunciar a explosão de consumo incentivado pela propaganda.
Um paradoxo: as torneiras do Sr. Babitt são perfeitas; mas as pessoas que usam essas torneiras são perfeitamente neuróticas.
As propagandas de cerveja associam o consumo do álcool com mulheres. As propagandas de cerveja brindam contra o patrão e contra os azares.
Elas não brindam aos alcoólatras solitários. Porra! Elas não brindam à angústia humana, à incomunicação, à impossibildade de amar, elas não brindam às mãos calejadas e mal-cheirosas de um lixeiro.
Você sabe leitor o que é ser um lixeiro? Você sabe o que é não poder dormir ao lado de uma mulher por que o cheiro do teu corpo é insuportável? Você sabe o que é correr atrás de um caminhão portando lixo nas mãos e transpirando como um porco sendo abatido?
Você sabe do que estou falando, leitor. Pois estou falando também da sua solidão. Você sabe: porque só pode ser mais ou menos feliz encondendo-se; escondendo o que sente, escondendo a pessoa que ama, escondendo sua idade, escondendo as tuas broncas, escondendo o teu grito, escondendo as tuas frustrações, escondendo a tua impaciência.
As agência de publicidade são laboratórios pérfidos.
O recém lançado 29,99 do escritor francês Michel Beibengder denuncia o negócio da publicidade.
Esses homens usam termos bélicos para articularem seu esquema de manipulação ideológica; para efetivarem a lavagem cerebral. São generais confabulando nas salas de reunião: sim, esses caras envolvidos com propaganda de cerveja, de automóveis ou escova de cabelo. Você, leitor, não passa de uma cabeça de gado; de um número numa planilha. Essa gente é nojenta.
Eu tive vontade de cuspir na cara de um sacana nojento que me disse que publicidade é arte.
Frases de efeito duvidoso, imagens para deleitar as moscas na sala não são arte. A arte, se é que Aristóteles - aquele estagirita insignificante responsável apenas pela ciência moderna - descobriu que a arte é resultado de um agir ( categoria moral ) e de um fazer ( categoria técnica ). Ora, a união desses princípios não se manifesta no "fazer publicidade". Fazer publicidade é como ganhar uma moça: trata-se de elogiar seus belos olhos para chegar ao seu belo olho.
Bem, o tal sacana me disse depois: você sabe, com lábia você vende até mesmo merda em lata.
Ah sim!, mas a economia do país precisa de combustível para aquecer-se, para que os homens tenham seus empregos coisa e tal.
Bem leitor, se você está raciocinando assim, eu peço que por favor compreenda o meu idealismo: porque eu não tenho como certo que o capital é necessário para a preservação da espécie.
Eu em meu idealismo específico me inclinaria a considerar qualquer outra forma de relacionamento econômico: anarquismo, comunismo ou utopismo. O certo é que Karl Marx precisa ser revisto: ele fez a crítica. O materialismo dialético explica tudo até um certo momento; até o ponto em que o homem toma as rédeas, até o momento moral: quem garante que um homem não vai roubar na divisão dos pães?
Portanto, enquanto escrevo esse artigo, estou olhando do alto da montanha para as civilizações passadas e tentando desanuviar o pesadelo da convivência humana. É evidente que nós, homens tardios na história, estamos moralmente falidos.
Não obstante, a própria imbecilização ideológica que acomete uma era inteira é que nos torna idealistas.
Devemos voltar a Friedrich Nietzsche: tudo foi pensando por ele; todas as nossas opiniões devem partir daquilo que foi pensado por ele. E isso porque ele era LIVRE: ele era um homem sem compromissos com porra nehuma; ele não era um jornalista da Folha de São Paulo; ele não era um marqueteiro, ele não era um general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o cú na mão; ele era um homem, HUMANO, demasiado humano e que estava Além do Bem e do Mal: e ele abalou a Europa inteira: esse defunto é responsável até hoje por parir gênios inconformados.
Diante da indigência mental de nossa nação, quero concluir esse artigo com um apelo:
Empenhe, leitor, a porra da tua inteligência contra o charlatanismo, pois é desse mal que sofremos; nós brasileiros necessitamos de uma nação autêntica: nós necesitamos dos nossos heróis; vamos explodir as agências de publicidade, a literatura de auto-ajuda, Paulo Coelho, os programas de televisão e tudo que não brote de fonte pura. Nosso slogan:
BUSQUE NA GRANDE ARTE A ELEVAÇÃO: BUSQUE UM MEIO AUTÊNTICO DE SUBLIMAR A SUA VIDA.
Muito bem, Alessandro. Em parte, compartilho com suas idéias e, assim como você, me revolto (em alguns casos)com a hipocrisia reinante no universo da publicidade.
Pense no óbvio, entretanto: em nosso mundo capitalista, as regras deste jogo são cruéis mas, paradoxalmente, nos fazem correr atrás do novo e do inédito em busca da constante revolução cultural. Somos seres ávidos por descobertas, ainda que estas sejam recicláveis. Acredito que a publicidade e o monstro que a gera - o consumismo - seja o preço que pagamos para não vivermos estagnados em um mundo atemporal. Há de se ter referências visuais, auditivas, olfativas, palativas e táteis para nos descobrirmos e nos localizarmos no tempo.
Quando entrava no site da Globo.com e lia... "Não perca as melhores fotos da Guerra" achava isso a coisa mais absurda... parece q eles não tinham nem um pingo de consideração com os que estavam morrendo... claro que o site tem que divulgar, mas, utilizar de uma guerra para vencer outra é um ato de desrespeito e de violência verbal.
Hoje, é a publicidade. Ontem, foi a Igreja Católica. Sempre há alguém em cima muito interessado em dominar e dominar. Para isso, a maioria deve ser silenciada. Porém, uma coisa é "vero". Nunca a cultura e a existência humana foram tão banalizadas. Agora a ordem é imbecilizar a todos. Somos fadados a participar da burrice coletiva. Porém, em alguma fresta, naquele pequeno vão atrás da porta, a consciência nos estará obeservando. Atentamente. E seus olhos ardem.