COLUNAS
Quinta-feira,
5/7/2001
Épocas
Juliano Maesano
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Se você é como eu, possui em seu passado várias fases, diversas épocas. Deixe-me explicar melhor: me refiro aos diversos momentos em sua vida onde seu gosto ou hábito era muito claro em relação a certas coisas, mas que logo depois parece ser totalmente diferente. Vou dar exemplos mais claros e garanto que muitos de vocês poderão se identificar com eles, ou outros parecidos que sejam exclusivos de vocês.
Quando eu era pequeno, diz minha mãe que eu adorava salaminho. Não me recordo disso, mas por anos a fio minha mãe seguiu me oferecendo os tais salames que hoje eu não suporto. O duro era que, às vezes, salaminho era só o que eu tinha como lanche. E nem adiantava reclamar, pois a resposta era sempre a mesma: "Mas você adora salaminho!" Finalmente, parece que, da maldição do salaminho, eu estou livre, mas ainda sofro com outras desse tipo.
A mais atual é a do suco de caju. Mas dessa eu nem reclamo, pois me lembro claramente de como eu adorava tomar suco de maracujá ou caju, na adolescência. Hoje não agüento nem olhar pro suco de caju. Como alguém tolera aquela "coisa"? É horrível. Como acontecia com o salaminho, de vez em quando, chego sedento em casa, esperando ver um suquinho de uva ou laranja. Imaginem meu terror ao abrir a porta da geladeira e só notar lá uma jarra com um suco que não se decide na cor, que fica entre o amarelo e o branco, as vezes meio transparente, sabem como é... E tudo piora se não me contenho e comento: "Caju?". Ouço: "Mas não é esse que você gosta?". Rebato: "Quantas vezes tenho que repetir que não gosto mais de caju, só de maracujá?". Ouço, por fim: "Mas, como pode? Você adorava caju!"
Me calo, sabendo que mereço a presente maldição. Mas não é engraçado como a gente muda a nossa lista de comidas ou bebidas que gostamos? Claro que entendo que só passei a gostar de camarão ao ficar mais velho, pois "ficamos mais refinados", ou ignoramos que quando pequenos nós não íamos com a cara daquele bichinho de olhinhos pretos e anteninhas que rastejava no mar.
Mas não consigo entender como que, de repente, passo a não gostar ou até a odiar algo que costumava adorar. Costumo até pensar no futuro e temer que meu gosto mude em alguns pontos, tipo: "Meu Deus, tomara que eu nunca deixe de gostar de Prestígio. E de Sonho de Valsa, então?".
Com isso, me recordo do Bis, de que não sou fã. Recordo como antes comia caixas e mais caixas de Bis.... parecia outra pessoa. Então, tive minha época do suco de caju e do salame. Hoje me considero na época do suco de morango de caixinha Del Valle. As caixas se proliferam na minha despensa e geladeira. Meses atrás, estava na época do suco de laranja de caixinha. Dava até notas, tipo: "Parmalat, bom, mas ácido demais"; "Top Fruit, meia boca, mas dá pra tomar"; "Nestlé, bom, um pouco doce."
E a internet então, como produz em nós diversas "épocas"? Quem aí ainda está na época do ICQ? Dessa eu já passei faz tempo. Cresci. Comecei há muitos anos, na época das BBSs. Era ainda aquela época que nem havia internet no Brasil. De verdade. Era apenas uma tela verde, tipo a do Videotexto (lembra dele?), e mesmo assim nos proporcionava um imenso mundo de informações, arquivos e amizades. Eu ia muito aos encontros da Mandic BBS no Beer's House, e ainda guardo vários amigos daquela "época".
Depois o email entrou na BBS, e com os anos, o acesso à WWW. Eu, como sempre, tentando me manter próximo à crista da onda, logo dominei a Net e entrei na fase do mIRC, programinha de IRC, o primeiro chat, que ainda guardo (mas não o uso há anos). Passei da fase do mIRC, logo entrando no ICQ, em seus primórdios. Hoje ainda o uso raramente, mas como todos que já passaram dessa época, costumo ficar "invisível", pra não aturar oito amigos malas escrevendo besteiras ao mesmo tempo, fazendo o ICQ disparar aqueles gritinhos irritantes a cada dois segundos.
Quem já não teve suas fases e épocas? Fez coisas que hoje nunca faria e até discorda ou repreende? Pôxa, quantas fotos de sacanagem já não peguei na Net? Milhares. Tinha época em que só me conectava pra isso, gastava gigas e mais gigas de espaço no HD para guardar as fotos que, passados anos, fui deixando de olhar. Também, pra quê? Já tinha decorado todas as mulheres, posições, tamanhos, estilos, números e outras coisinhas mais sobre o assunto do "sexo". (Pior é que pouco me serviu na "vida real"...)
Todos passamos nossas épocas de bebidas e baladas, também. Com elas temos os lugares preferidos, como aquela minha época do Friday's (restaurante de São Paulo). Logo, com a saída do Bertone (meu amigo barman), ficou claro que aqueles anos dourados haviam chegado ao fim, mas tentei algumas outras vezes voltar àquele espírito... em vão.
Fiel, continuo sempre com minha época (que parece ser eterna, Deus queira) do Stop Dog, lanchonete de São Paulo. Alguns tentam me ludibriar, contando vantagens (e pontos a favor) dos concorrentes, como New Dog, Joakin's, Burdog... mas eu não me deixo seduzir. Sigo fiel e aproveito, ao máximo, o meu sanduíche predileto. Parece que algumas épocas nunca vão passar...
Juliano Maesano
São Paulo,
5/7/2001
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