Sexta-feira, 2 de abril de 2004, Ipanema, Livraria da Travessa. Muita gente. Jovens na idade dos quarenta e poucos anos, jovens na idade dos vinte e poucos anos. Atores e diretores na idade dos quarenta e poucos anos, atores e diretores na idade dos vinte e poucos anos. Encontro de duas gerações de gente de teatro e de fãs de teatro. Câmeras e repórteres de TV e da imprensa escrita. Quase todos os atores da montagem estavam lá: Nina de Pádua, Patrícia Travassos (agora Patrycia), Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Perfeito Fortuna e Evandro Mesquita (presente através de um vídeo onde explica por que não apareceu); além, é claro, do diretor e ator, Hamilton Vaz Pereira, como regente do evento, da mesma forma em que fazia no Asdrúbal Trouxe O Trombone.
Não havia um clima de nostalgia e sim de festa, celebração, no coquetel de lançamento do texto de Trate-me Leão em livro. Com a orelha escrita por Caetano Veloso e os prefácios por Hamilton, Regina e Luiz Fernando, recheado de fotos de cena e explicações sobre trechos da montagens, o livro é o primeiro passo de uma série de eventos e lançamentos em tributo aos trinta anos da companhia que tanto influenciou a cena carioca.
Não era o elenco de uma grande montagem "sacralizada" de nossa história teatral cumprindo as solenidades de um "ato cível" que estava presente na Livraria da Travessa, era um grupo de amigos, de atores, de jovens da classe média da Zona Sul do Rio de Janeiro de trinta anos atrás, como no espetáculo.
Lá estavam jovens que envelheceram mas que continuam tendo a mesma vitalidade, a mesma visão bem humorada e "sem grilos" da vida, que tinham. Só que "...todos agora vão ter que ler de óculos", como lembrou Regina.
Luiz Fernando não parava sentado um minuto para autografar, dizia que as pessoas que o procurassem, pois tinha que cumprimentar vários amigos. Hamilton, cinerone da noite, passou o tempo todo preocupado com a ordem (quebrada pelos próprios "Asdrubals"), com as músicas que iam ser tocadas (Rolling Stones, The Beatles e outras importantes referências como trilha sonora da geração), com a hora em que ia passar o vídeo e com os atores que não chegavam. Perfeito e Patrycia sentados, conversavam com todos. Nina chega com mais de uma hora de atraso, suada, rindo e cansada, pedindo desculpas. Regina chega por último, de óculos escuros, perseguida por fotógrafos e câmeras. Mas, cinco minutos depois, tira o óculos escuros e coloca o "de grau", esquecendo do papel que parecia representar na entrada.
Antes da chegada de Nina e Regina, foi passado um vídeo com trechos do espetáculo e pequenos depoimentos dos atores, explicitamente "doidões" pelo uso de maconha. Mas esta perde terreno para as lembranças relativas ao uso do Mandrix, que rolam noite adentro, uma "droga de época", como Regina definiu.
É chegado o grande momento, a leitura de trechos da peça pelos mesmos atores que fizeram a encenação, cadeiras são colocadas em cima de uma das estantes de livros da livraria. Nina não tem cadeira, nem trecho para ler. Aceita com muito bom humor ser colocada em segundo plano, até por medo da estante ceder.
A alegria é a mesma de trinta anos atrás, pequenos comentários, brincadeiras, erros e muita festa, e muita felicidade.
Por outro lado, é desgostoso lembrar que um evento de tamanha importância para a historiografia teatral carioca foi desprezado pelos acadêmicos de teatro. Não haviam quase alunos ou professores das duas Universidades da área, com seus respectivos departamentos de pesquisa, que se alojam na cidade. É a academia perdendo mais uma possibilidade de se mostrar atuante em relação a nossa memória ainda não "classificada nos anais canônicos".
A noite termina com uma homenagem póstuma a Diduche Worcman, grande incentivador do teatro desta geração, falecido há poucos meses. E Perfeito aproveita para convidar a todos ao gnocchi, na nova Sala Diduchi da Fundição Progresso, no dia 29 de maio, a fim de se comemorar os trinta anos do Asdrúbal, da mesma forma que eles faziam enquanto o grupo existia, e o aniversário de Patrycia.
Muito bem lembrado pelo Thiago da ausência dos acadêmicos que desta forma deixam passar a oportunidade ímpar de viverem e aprenderem algo a mais.
Parabéns ao Thiago pelo texto.