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Sexta-feira, 20/7/2001
Abril em pedaços
Rafael Azevedo
+ de 2800 Acessos

"Abril despedaçado", de Ismail Kadaré, lembrou-me um pouco Lituma nos Andes, de Mário Vargas Llosa, representantes de um gênero já quase batido de livros (histórias "realistas" ou mesmo verídicas passadas em locais exóticos, tão típicas da segunda metade do século XX). Há neles muita coisa em comum, partindo da ambientação no desolado ambiente montanhoso; há ainda o recurso de estilo, comum tanto a Vargas Llosa quanto a Gore Vidal (em seus romances históricos), de escrever histórias simultâneas e aparentemente independentes, pontos de vista que se entrelaçam e se separam à medida que o tempo passa, e sempre uma dessas "visões" pertencendo a uma pessoa tão estranha àquele contexto quanto nós (quase sempre jornalista), que "traduz" este mundo remoto que está sendo apresentado, para nós, alheios e assustados leitores.
Em Lituma nos Andes acompanha-se o cotidiano duro, monótono e sombrio das pessoas que habitam as regiões mais inóspitas da cordilheira, os descendentes modernos dos antigos incas; Abril despedaçado nos leva ao cotidiano duro, monótono e sombrio das pessoas que habitam a região do Rrafsh, no norte da Albânia (os chamados Alpes albaneses), lar de um povo alheio há séculos de qualquer domínio exterior, e que obedecem unicamente seu próprio código de leis, sintetizado num pequeno livro chamado Kanun. É precisamente esse Kanun que mantém esse povo imerso na escuridão, nestas brumas primitivas que lhes afastam de qualquer chance de civilização, de uma vida minimamente moderna, impondo através de um sistema altamente complexo de vingança, e assassinatos, toques de recolher a famílias inteiras. Mas o Kanun não regula apenas brigas e mortes. Como a águia negra que adorna o centro da bandeira albanesa, o Kanun paira ameaçador sobre todos os atos de todos os habitantes deste lugar do planeta, interferindo na vida de todos eles. E é esse contexto que fascina Bessian Vorps, um escritor da capital, Tirana, que resolve passar a lua-de-mel com sua encantadora esposa Diana no alto das montanhas, a convite de um figurão que entrevistou, a autoridade máxima da região, chamado "príncipe do Kanun", chefe do clã de Orosh. O sujeito que faz com que o Kanun seja aplicado, e que coleta os tributos em dinheiro relativos às vinganças, que devem ser pagos depois de todas as mortes, e que basicamente manda em todos no pedaço. Além do sr. Vorps e sua mulher, que representam claramente a visão pessoal do autor (e seu estranhamento) em relação àquela região, possuidor dum misto de estranheza e fascínio, o narrador acompanha outros dois personagens - um jovem rapaz, Georg Berisha, que vê sua vida chegar a um fim, com data e hora marcada, apenas por ter sido mais um elo numa macabra e imensa cadeia de assassinos e assassinados, que já levou mais de 20 jovens da sua família, os Berisha, e do clã rival, os Kryeqyq. Mais adiante, apresenta-se a nós o terceiro personagem, Mark Ukaçjerra, espécie de "tesoureiro" do príncipe de Orosh, que passa uma noite envolvido em questionamentos existenciais (altamente improváveis para uma pessoa do nível sócio-filosófico que lhe é conferido no livro!), aflito pelos problemas causados pela mudança dos tempos às finanças do príncipe e como isso pode fazer com que sua situação pessoal antes absolutamente intocável seja repentinamente prejudicada pela simples mudança (em seu modo de ver, decadência) dos antigos costumes na região.
O livro não explora, ou se aborda o faz superficialmente, os relacionamentos pessoais. Talvez isso se deva à falta de diálogo. Os habitantes do lugar são, como os sertanejos de literatura brasileira, indivíduos fechados, soturnos e reservados, que dificilmente conversam entre si abertamente. O casal de jornalistas também o faz muito pouco, mas por motivos diferentes; há uma evidente falta de sintonia entre ambos, um insistindo em esconder do outro coisas que se revelam explosivas ao fim do livro. As mais expressivas formas de comunicação estão, por incrível que pareça, em três curtíssimos episódios, três breves encontros, três olhares, trocados por três destes personagens principais e que desencadearão pensamentos e acontecimentos irreversíveis, como já disse Diogo Mainardi, em sua crítica na Veja. Esse recurso do olhar comunicativo é um recurso mais do que batido na literatura, como bem frisou o mesmo Mainardi - mas que em minha opinião funciona bem aqui - convence, e não soa falso nem forçado. Se há algo forçado, é a insistência do autor em tentar inserir de qualquer maneira detalhes sobre a cultura daquela região da Albânia, beirando o didatismo, como nas novelas da Globo em que os personagens intelectuais se põem a discutir o livro que estão lendo da maneira mais artificial possível. A tradução talvez não seja a mais fiel possível, está compreensível e clara demais para ter sido feita de uma língua tão bizarra como o albanês...
Anyway, não é um grande livro, e aparentemente só o peculiar interesse por situações, pessoas, lugares e culturas tão diferentes da nossa possa motivar sua leitura; pelo menos foi o que motivou a minha. Mas uma reflexão posterior à leitura mostra-o razoavelmente mais interessante que uma mera curiosidade antropológica.
A editora, Companhia das Letras, colocou de maneira repulsiva na capa uma tarja grotesca, gigantesca, vermelha, com os seguintes dizeres: "O Livro que inspirou o novo filme de Walter Salles". O marketing barato me enojou, a ponto de quase não ter comprado o livro. Me intriga pensar o que o nosso glorioso "Waltinho" terá que fazer para adaptar essa história para o Nordeste. Afinal, a constatação de que ambas as sociedades (do sertão nordestino e do Rrafsh) dispões de códigos de honra estritos não quer dizer que o que se passe numa possa ser facilmente ambientado na outra; confesso que estou curioso. Mas, não espero boa coisa: em se tratando do cinema brasileiro, pode-se sempre contar com o pior.

Algumas frases em homenagem à última coluna do Rafael Lima
"Discurse sobre a virtude e eles passam como rebanhos; assobie e dance, e terá uma platéia."
"Porque não chicotear o professor quando o pupilo se comporta mal?"
"Na casa dum rico não há lugar para se cuspir senão em sua cara."
"Pra que serve um filósofo que não machuca os sentimentos de alguém?"
(Diógenes de Sínope, "o cínico", em Heráclito e Diógenes)

"Se não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes."
(Alexandre, o Grande, sobre o célebre filósofo)



Rafael Azevedo
São Paulo, 20/7/2001

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