O comercial é para um dos principais serviços de telefone celular alemão. A primeira imagem é uma tomada aérea, de face pro chão, correndo quase em close-up sobre os topos de uma cidade moderna, arranha-céus em preto-e-branco. Uma colagem de imagens igualmente belas e estilizadas se sucede: icebergs, rochas no deserto, e novamente a cidade cinza e prata: ruas, o interior de um edifício arrojado de paredes curvas, a luz que jorra da fachada de vidro. Na última cena, outra vista aérea, desta vez distante, mostra o mar de prédios altos entremeados pelas linhas pretas das ruas. A seqüência de imagens é rápida, estilo videoclipe, acompanhada por música sugestiva, como a dizer: o futuro é aqui, no pequeno telefone prateado de tecnologia avançada, competindo no mercado acirrado de telefonia celular da Alemanha.
Tão rápida a seqüência, que demoro a me dar conta de um estranho reconhecimento. O que me é tão familiar? Por certo não é a elaborada fantasia high-tech – nem o telefone, porque celular eu não tenho. Só uns dias depois, quando vejo o comercial de novo, entendo: a metrópole contemporânea, arquetípica, avançada, nada mais é que a minha cidade natal. São Paulo. Anônima, fantasiada em cenário futurista, cinzelada nas formas quadradas e angulares (com a curva ocasional) de sua arquitetura moderna. Servindo de fundo genérico pra vender celular alemão. Evocando Frankfurt, ou Nova York. Quase não a reconheço, e preciso ver o comercial várias vezes para ter certeza: o primeiro prédio em close-up é mesmo o Conjunto Nacional, dá até pra ver de relance o letreiro do Itaú; a panorâmica final é centrada no eixo largo da Avenida Paulista, ladeada pelos picos das antenas.
Os alemães têm notória fascinação pelos trópicos, preocupação com desigualdades sociais, e interesse especial pelo Brasil. Mas, no caso do comercial acima, a intenção não é mostrar São Paulo ou fazer uso das características particulares da cidade – do contrário, a imagem é desvinculada de sua origem. Será apenas um caso inócuo, esse proveito da forma sem conteúdo e sem crédito? O comercial do telefone celular não é único. Um anúncio para uma marca de chá pronto faz uso semelhante da cidade, mostrando a rotina de uma moça bonita e esbelta. Ela atravessa uma rua movimentada, no meio da multidão, com arranha-céus de fundo – de novo a avenida Paulista, vista do chão, delatada por seus semáforos pretos e retangulares. A moça vai trabalhar, um espaço moderno, envidraçado; depois faz jogging no Ibirapuera, diante do lago, a cidade ao fundo.
De novo, a cidade está estilizada e quase irreconhecível; de novo, filmada em belo preto-e-branco, São Paulo aparece bonita e limpa, sem papel no chão ou mendigo na calçada, realçando as formas simples e cristalinas da arquitetura de concreto e vidro e a textura rica da paisagem urbana. Quem não conhece os semáforos da Paulista não reconhece a avenida na cena rápida. Mas eu cresci brincando no Ibirapuera e só por isso posso jurar avistar a Assembléia no pano-de-fundo do jogging no parque.
E não é só. Uma propaganda de refrigerante mostra um vigia de museu “energizado” pela bebida, deslizando pelo piso amplo e rampas curvas do Pavilhão da Bienal, também no Ibirapuera, disfarçado com um letreiro em alemão. Usar um vigia de museu como garoto propaganda é, para ser justa, uma idéia bem alemã (e não apenas neste, mas em outros comerciais!). E museu, aqui na Alemanha, não falta. Por que, então, filmar na Bienal, no prédio desenhado por Oscar Niemeyer – sem que, de novo, a identidade do local seja revelada?
Ícone esvaziado
Assim como esses três, há outros comerciais em que figuram lugares do Brasil – ruas cariocas, prédios de Brasília – sem identificação. Suspeito que seja mais barato produzir os filmes comerciais no Brasil, ainda que o produto seja alemão. Mas não é apenas o aproveitamento de mão-de-obra barata que torna intrigante nossa presença silenciosa. Afinal, o trânsito de produtos e dinheiro entre empresas sediadas no primeiro mundo e suas filiais mal-pagas não é novidade. Interessante é o trânsito paralelo de imagens em que a metrópole complexa e contraditória que é São Paulo se torna um ícone esvaziado de seu significado original. O contexto histórico no qual a cidade se desenvolveu, as circunstâncias presentes que a sustentam, o intrincado tecido de relações sociais, econômicas, culturais e políticas que transformam os espaços da cidade – é como se tudo isso tivesse evaporado, deixando em seu lugar o esqueleto desértico de caixotes de concreto e aço.
A imagem da cidade é usada para lucro alheio, a baixo preço, perpetuando a desigualdade econômica entre países (metrópole e colônia) de modo semelhante às sweatshops da Nike na China – guardadas as devidas proporções entre as condições de trabalho numa produtora publicitária brasileira e uma fábrica de tênis chinesa. Ao mesmo tempo, a cidade que aparece na televisão alemã não guarda vestígio dessa desigualdade. A pobreza some da cidade assim como o seu nome: e no momento em que São Paulo vira símbolo cosmopolita, deixa de ser brasileira e si mesma.
Índio, samba e futebol
Não admira. O Brasil que aparece identificado – em documentários, reportagens de tevê, filmes, revistas, eventos – representa no mais das vezes os estereótipos mais crassos, mais risíveis, dos quais nós brasileiros fazemos piada e que eu pessoalmente julgava ultrapassados. Assim, vejo um especial sobre uma pequena tribo indígena no Amazonas; um documentário sobre um refúgio de fugitivos nazistas no Paraná; outro sobre flores tropicais; uma reportagem sobre assistência social a comunidades isoladas do Pará; um filme curto sobre a utopia fracassada de Brasília (em que figuram tanto as formas “exóticas” da arquitetura de Niemeyer quanto as favelas das cidades-satélite).
As imagens estampadas na tela perpetuam o imaginário visual dos alemães sobre o Brasil: floresta amazônica, rio turvo e caudaloso cruzado em barco rústico, gente dormindo em rede, rua de terra batida, pouca roupa, esgoto a céu aberto, sol, planta, saúva, bola de futebol. Um comercial da Nike mostra – adivinhem! – a seleção brasileira, em todo o seu talento e também em seu comportamento emocional e impulsivo. Em shows, casas noturnas, e no “Carnaval das Culturas” (evento público que toma as ruas de Berlim no mês de maio), o Brasil aparece proeminente, com penas coloridas, fantasias, samba e capoeira bem ensaiada prá alemão ver.
Que ninguém me entenda errado: sim, a tribo indígena, a comunidade paraense, a favela e o samba são, é claro, coisas do Brasil. Coisas atuais, não apenas fantasia de gringo. Mas, da mesma forma que São Paulo perde sua complexidade e vira forma estilizada pra consumo rápido, essas todas outras identidades brasileiras também são simplificadas, reduzidas à carcaça do trio elétrico, consumidas sem reflexão numa noite de prazer, logo mais esquecidas. A consternação provocada pela filmagem da favela é também ela momentânea, perdida na sucessão de sensações (euforia e tristeza, diversão e seriedade) que nos servem a mídia e o nosso modo de vida.
Quando o Brasil vira moda
É desconcertante, a despeito de nossa presença considerável, continuarmos desconhecidos. Quanto mais vejo Brasil em Berlim, menos reconheço meu país e eu mesma. Agora é moda, por exemplo, usar agasalhos e camisetas amarelo-canário ou verde-bandeira, estampando em letras garrafais o nome de nosso país: isso mesmo, BRASIL. (Ao que consta, alguns verões atrás a moda era SUÍÇA ou ITÁLIA, no mesmo estilo e tecido, mudando as cores. Agora, além de Brasil, já aparece JAMAICA...) Não, não é uma manifestação silenciosa entre imigrantes ou viajantes brasileiros. É moda entre os alemães mesmo, e sem nenhuma intenção de expressar idéias políticas ou demonstrar impressões culturais. Sem nenhuma relação com o lugar ou evento no qual a roupa é usada. É o apelo puro da cor e da forma – até que a moda se sature e acabe.
A caipirinha é onipresente. Não há bar que não ofereça a bebida, feita com legítima Pitu: casa noturna tecno, sushi-bar, tratoria italiana, restaurante tradicional alemão, boteco de esquina. Batida de côco é vendida já pronta em garrafa e virou sabor de sorvete. Escrita assim mesmo, em português, e – milagre! – com o acento circunflexo na sílaba certa. Todo curso de dança de salão oferece, junto à salsa obrigatória, samba. Para completar, a rede de vestuário H&M – uma das maiores da Europa, uma espécie de McDonald’s da moda – espalhou pela cidade toda outdoors com modelos brasileiras de biquíni sob o sol do Rio de Janeiro. A coleção é inspirada na moda praia do Brasil, e algumas lojas fizeram até coquetel de lançamento. Eu mesma testemunhei a fissura pelo Brasil, quando cheguei em Berlim e ouvi de uma colega que todos os seus amigos alemães queriam me conhecer, simplesmente por eu ser brasileira.
Branca demais
Eu, que não sou porta-bandeira, acabei não os conhecendo. Conheci, no entanto, a outra face da mesma fissura, os estereótipos negativos. Como, por exemplo, ao ouvir de incontáveis alemães a mesma resposta surpresa ao revelar que sou brasileira: “Você? Brasileira? Mas a sua pele é tão branca, brasileiro é mais escuro!”. Ou, de uma vizinha que viu meu nome escrito na caixa de correio: “Nunca imaginei que você vinha do Brasil, pois ‘Sandler’ não soa nada português.” E, para coroar, de um conhecido que tem mestrado em História e cursa psicologia: “Você não é nada típica... A gente aqui nunca pensa em brasileiro como estudante de pós-graduação, como intelectual, ainda mais interessado por história alemã...” E, para meu imenso embaraço, ele completou, candidamente: “A gente pensa em calor, morenas, carnaval, futebol...” Fiquei envergonhada foi por ele, não por nossa identidade vilipendiada. Como pode um historiador que se diz liberal e de esquerda proferir em sóbria consciência o clichê mais raso e gasto sobre o nosso país?
Engoli a ofensa, perdoei como um lapso isolado. Até travar, meses depois, um diálogo com uma universitária sobre arrancar dente do siso. Eu expliquei meu medo por conta de uma experiência traumática na infância, quando tive de arrancar um dente-de-leite renitente que custou força e fórceps ao meu dentista. A dificuldade estava na implantação do meu dente e não na técnica do dentista. Mas a garota soltou assim, na minha cara: “Ah, mas também, onde foi que você teve o dente arrancando? No BRASIL?!? Também, o que você queria?”. Eu queria, claro, que ela soubesse que não apenas temos ótimos dentistas e recursos no Brasil, como muitas vezes até melhores que aqui – como sugere a nossa exportação de dentistas pra Portugal na década passada, e os dentes estragados de boa parte dos alemães que conheço.
Assim, vivemos uma espécie de realidade dupla. Ninguém aqui parece saber do Brasil metropolitano, dos bons dentistas, da produção acadêmica. O Brasil que aparece é a selva e a favela, assim destacadas da grande cidade. E a grande cidade, por sua vez, só aparece destituída de suas mazelas e de sua própria identidade, sem nome, sem origem. Não admira que sobre só o clichê.
Entendimento complexo
Pois para começar a compreender o Brasil é preciso abarcar suas contradições, presentes e históricas. Sua multiplicidade. Considerar a complexidade interna de nossa sociedade, ao mesmo tempo injusta e desenvolvida. E também sua ligação com o resto do mundo, com os países desenvolvidos, com sua história. Como pode um alemão não saber, por exemplo, que não apenas há gente branca e de sobrenome germânico, eslavo, italiano etc. no Brasil, como muitas dessas pessoas só foram parar no país por causa da Alemanha nazista?
Sim, muito alemão tem consciência da ameaça à mata atlântica ou da prostituição de menores. Mas essa consciência desemboca num tom paternalista, de papai-sabe-tudo, quando ignora os próprios avanços dentro Brasil no combate a seus problemas. E quando ignora a ligação perversa entre riqueza e miséria, em que uma se alimenta da outra – tanto a riqueza brasileira como a européia, ou americana.
Mas há sinais de uma relação mais produtiva e inteligente. Um pesquisador de uma ONG dedicada a combater injustiça fiscal no mundo (oásis fiscais, sonegação), a Attac, cita não apenas o contato entre europeus e brasileiros, como dá crédito especial a uma organização brasileira (a Unifisco) que já vinha desenvolvendo o mesmo trabalho independentemente. Eu mesma acabei de participar de um encontro para os bolsistas do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) em que, na palestra inaugural, seu representante fez questão de mencionar, em meio a inúmeras parcerias internacionais, uma que merecia destaque: a parceria com o Brasil, por meio da Capes e do CNPq. Foi o único país citado, diante de centenas de estudantes do mundo todo.
Essa atitude é essencial, não por sentimento de justiça patriótica, mas porque a colaboração entre indivíduos, organizações, idéias e ações é necessária ao desenvolvimento de cada país, e do mundo. Meu desabafo sobre os estereótipos não é de modo algum uma sugestão de que apenas nós, brasileiros, possuímos a inteira verdade sobre o que somos. O olhar estrangeiro é valioso, fundamental e inevitável. Até mesmo o olhar preconceituoso: analisando o modo como os alemães nos representam, aprendemos muito sobre os próprios alemães... Mas aprendemos mais quando os clichês são desfeitos. Podemos nos reconhecer e conhecer mais sobre nós mesmos por meio do que outros têm a dizer de uma perspectiva distanciada ou diferente. Uma relação de mão-dupla, em que a reflexão mútua (nós também podemos dizer algo sobre a Alemanha) fertiliza ambas as partes. Pois, vocês sabem, na nossa terra, em se plantando, tudo dá...
Cara Daniela, embora me solidarize com seus sentimentos, sou forçado a lembrar que, infelizmente, essa imagem errada do nosso País foi/é criada/mantida por nós mesmos, com a nossa educação fundamental risível, a grade risível da progamação de nossas redes de televisão, a miopia da maioria de nossos políticos e o espiríto mafioso de parte de nossos governantes. Veja uma sitação interessante: morei quase minha vida toda em Fortaleza-CE. Quando comento esse fato, as pessoas elogiam a cidade, que é bonita, que cresceu, que isso, que aquilo. Ocorre que, faço sempre questão de registar, Fortaleza tem perdido cada vez sua identidade, ela não pertence mais aos seus moradores, mais ao "espírito global" de italianos, argentinos e agora portugueses, que "investem" na cidade, com restaurantes, hotéis, restaurantes, hotéis... Por que acontece isso? Pela pobreza do povo e pela falta de uma cultura local forte (coisa que não ocorre em Salvador ou mesmo em Recife). Um povo assim é presa fácil de qualquer outro povo, de qualquer negócio. Abs e parabéns pelos seus artigos, notadamente o do Dia D.
Dani, há muito tempo não lia seus textos aqui no digestivo. Gostei muito da coluna e espero retomar o hábito de passar por aqui. Quer dizer que você está em Berlim!? É como o Fabinho disse no Orkut: o mundo é seu. Beijos, Duda
Tem um remédio americano, Plaxil, que usa o Jardim Botânico, a praia de Ipanema e outros locais cariocas, sem anuncia-los, num comercial. Os atores inclusive falam em inglês... Assim como você, não reconheci de cara, porque o local é anunciado como um genérico :)
Cara Daniela, não só adorei o seu texto como, por morar em Colônia, me identifiquei bastante com a sua indignação em relação à visão que os alemães fazem do Brasil. Entretanto, por trás desse imenso choque de culturas que os movimentos migratórios contemporâneos propiciam está a incapacidade de todos nós de fugir do clichê: "Como pode um historiador que se diz liberal e de esquerda proferir em sóbria consciência o clichê mais raso e gasto sobre o nosso país?". Será que nós, que nos consideramos "liberais e de esquerda", estamos realmente livres de ser agentes de propagação do preconceito? Abraços, Homero.
Enquanto continuarmos construindo e propagando a "marca BraZil" em cima de carnaval com popuzudas siliconadas seminuas, e cartões postais com gostosas de fio dental e topless nas praias brasileiras, é assim que seremos reconhecidos, e continuaremos sendo o primeiro destino de alemães e outros, em busca de turismo sexual no Brasil. Por outro lado, não vejo problema algum em campanhas publicitárias internacionais usarem o Brasil como cenário, sem dar crédito à locação. Afinal, é o produto, e não o local, que deve ser anunciado, seja ele NY, SP ou Paris. Que seja pela beleza ou pelos baixos custos de produção local, o importante é que gere divisas e emprego no país.
Recebi o link para visitar este texto de um amigo em Portugal. Sou músico, compositor, e estive em Berlim em 97, no Berliner Ensamble, o teatro de Bertold Brecht, para intercambio cultural. Foi um prazer ler o seu texto, inspirador, e nosso grupo de discussão na internet, o Cantos do Brasil, inteiramente dedicado à difusão da música brasileira no exterior. Por um lado, muitos são os apaixonados pela arte brasileira, e como vc escreveu, muitos mais são os que não vêem o Brasil além de seus estereótipos. Estamos tentando fazer a nossa parte. Um abraço, muito sucesso, Felipe Radicetti
olá daniela... que legal esse caminho que vc tomou. o preconceito, é sempre assim, as pessoas são assim. com as suas exceções. mas também não sei porque vc imaginou que os alemães seriam diferentes. alguns devem ser, não todos. será que vc imaginava que por eles serem alemães, de um país tão desenvolvido (e não brasileiros - esses ignorantes - estou sendo irônico!), deviam ser mais esclarecidos? pois eu tenho vários preconceitos, e um deles, é que a ignorância é uma característica do ser humano. o grau de ignorância (em todos os seus nuances e significados) é que varia um pouco.
Daniela. É mais barato filmar no Brasil, mas várias propagandas brasileiras passam na Alemanha pq ganharam concursos internacionais e/ou se mostram aptas à mídia e público europeu também (Nissan, Danoninho, Audi, O2...). Muitas propagandas que passam no Brasil tb mostram imagens de outras cidades e países interessantíssimos, dos quais poucos sabem o nome. Quanto aos alemães que pouco conhecem o Brasil, veja com humor, senão você só vai perder nervos. Faça como eu, sorria e diga que o comentário só mostra o quanto falta a pessoa conhecer o mundo. Se tiver a oportunidade ou interesse, convide para mostrar a realidade aos amigos... (A casa dos meus pais está sempre cheia de visitas por causa disso) Não podemos igonorar que muitos brasileiros têm a imagem do alemão barrigudo com bigode e cerveja na mão! O único que me incomoda nessa "moda Brasil" é que antigamente era fácil reconhecer brasileiros pela rua. Hoje em dia alguém com roupa do Brasil, com grande probabilidade não tem nenhuma ligação com nosso país, fora a admiração! Abraço
Prezada Daniela, parabens por seu texto. Moro tambem na Alemanha e achei a sua percepcao dos fatos extremamente apurada. Concordo tambem com a formacao de estereotipo e com o tipo de visao que se tem do Brasil e dos brasileiros. A minha critica e' em relacao ao fato de se estereotipar culturas e paises e ao fato de sermos, desta vez, nos, os brasileiros. Na minha opiniao os brasileiros tem um conhecimento muito pequeno sobre o Brasil, em termos de analise de nossa cultura, possivelmente ate' menor do que os proprios alemaes (na media, e' claro). Se paramos o guarda do MASP e lhe pedirmos uma explicacao suscinta sobre o desenvolvimento do Brasil colonia, ou sobre qualquer outro terma correlato com nossa historia, correremos o grande risco de ouvir o nome Pedro Alvares Cabral, Portugal, e um sorriso maroto finalizando a conversa. Se fizermos a mesma pergunta a um guarda de museu alemao, tenho a impressao de que correremos o serio risco de ouvir um discurso suscinto sobre o colonialismo europeu, e com sorte ate algumas ideias sobre o caso portugues no Brasil. Defender a ideia de que os estereotipos estao presentes em todas as culturas, inclusive na nossa sobre nos mesmos, e mesmo sendo nossa tarefa combate-los, os alemaes devem levar credito por serem extremamente bem informados, dado que estao do ourtro lado do Atlantico, e por muitas vezes terem a curiosidade necessaria para colocar seus pes em terras tupiniquins e descobrir por eles mesmos de que se trata.
Quanto ao fato de o Brasil estar de moda, nao e so na Alemanha, mas virtualmente em toda a Europa. Em Londres a Selfridges organizou a maior exposicao do Brasil em solo europeu, e durante o mes de abril milhares de ingleses se vestiram de verde-amarelo. Para mim este acontecimento nao deixa de ser positivo, pois tenho certeza de que, no minimo, ao virem Brasil estampado em cada camiseta e vitrine de loja, os europeus terao maior curiosidade de conhecer nosso pais, de ler sobre ele e de explorar seus entrames mais profundamente. E claro que nao espero de cada europeu discorra sobre as disparidades sociais de nosso pais. Sou a favor das "expectativas racionais"!
O chato dos clichês é que eles sempre escondem uma boa dose de realidade... Claro que pra brasileiros que vivem no exterior e nao representam esse BraSil pra exportacao é muito difícil e até revoltante lidar com essa imagem carnavalesca, na minha opiniao perpetuada tbém pelos proprios brasileiros que se orgulham mtas vezes de representar estes clichês. Moro na Alemanha há 3 anos e tenho que discordar de vc... Já assisti a vários documentários na Tv aberta sobre o Brasil, tratando nao só de temas que vc citou, mas de trabalhos socias feitos por brasileiros, grupos de danca, musica, entre outros. E -afinal- o que vemos no Brasil sobre a Alemanha, além dos horrores do nazismo? Aliás, o que vemos no Brasil sobre outros países da Europa, por exemplo? Até quando as dimensoes continentais do nosso país vao ser a desculpa pra tamanho desinteresse? Entendo sua indignacao e me solidarizo com ela em vários aspectos, mas... nao acho que "identificar" imagens de Sao Paulo nos fará mais completos neste "quadro"... Abracos
Bem-vinda ao mundo globalizado! Sinto coisa semalhante à que vc se refere quando ouço estrangeiros falar do Brasil. E acredito que eles sintam o mesmo quando tento falar algo sobre seus países de origem. No final, toda idéia que temos de uma terra estrangeira é um estereótipo. Afinal, o que sabemos (perdoe-me incluí-la aqui) sobre a Grécia atual? Nada muito além da visão superficial transmitida na cobertura das olimpíadas. Ou sobre a Sérvia, senão o que se falou durante as guerras por que passou. Vc acredita que, sem ter vivido nesses lugares, é possível ter uma noção razoavelmente justa da complexidade das relaçoes humanas lá existentes? Mas, deixando de lado o amor pela pátria e por nós mesmos, por que o Brasil merece uma atençao especial do resto do mundo? Será que não é uma carencia nossa essa necessidade de atenção e compreensão?
Obrigada pelo "temos ótimos dentistas por aqui", pois é a parte que me toca! Infelizmente muitos brasileiros desconhecem nossa verdadeira cultura (ou discriminam?) criticando a festa junina, a cachaça e por aí vai. Vem, cá, quer dizer, então, que eles têm dentes estragados, é? Abraços!
Adorei os teus textos. Eu tô vivendo a mesma situacao, moro na Alemanha, sou brasileira, sou branca, estou estudando aqui, ninguém acredita da minha origem assim como nao conhecem o meu meu País querido, e o pior é que vestem a nossa camisa. Tudo bem, dá para ver que a intencao é boa, mesmo que nao conhecao o nosso País. Abracos!!!