O que mais agrada em A Dona da História é que o filme não quer nada além de ser um filme despretensioso. Ele é simples, bem amarrado, sem pretensões maiores que fazer o público rir e ver mais uma história de amor que, mesmo sendo igual a todas as outras, é diferente por ser única.
As histórias de amor são torrenciais no cinema. Existem em praticamente todos os filmes. Em algumas são secundárias, em outras são o próprio filme. Em A Dona da História, é a dúvida de saber se uma história de amor que já perdura por mais de 30 anos valeu a pena. Carolina era uma jovem um tanto alienada nos fins dos anos 60 que, numa passeata de protesto contra a ditadura em que se encontrava por acidente, conhece Luiz Cláudio. Paixão fulminante, casamento. Passados 32 anos, já cinquentões, eles vendem o apartamento da Barra da Tijuca em que moraram a vida toda para fazer a viagem dos sonhos de juventude dele - conhecer Cuba. É aí que ela esbarra na memória e no que poderia ter sido sua vida se não tivesse casado com Luiz Cláudio (algo similar ao que fez Sandra Werneck em Amores Possíveis).
O interessante do filme é que há duas histórias rolando em paralelo: o casal atualmente, vivido por Marieta Severo e Antônio Fagundes, e nos anos 60 (Débora Falabella e Rodrigo Santoro). E mais, a personagem Carolina jovem interage com a Carolina já mais velha. Elas conversam e se questionam sobre a vida que ansiaram viver, a que de fato tiveram, o que não foi como se queria, o que ficou pra trás etc. A jovem é apaixonada e sonhadora, quer viver uma vida digna de cinema, a mais velha tem os pés no chão, ressentida por não ter sido uma atriz, seu grande sonho. É esse choque do que almejara para sua vida e o que foi de fato a sua vida que dá o mote do filme.
Daniel Filho é um homem seguro do que faz. Depois de anos apenas produzindo e se dedicando à Globo Filmes, dirigiu A Partilha em 2001, atuou em Querido Estranho, lançado esse ano, e agora foi a vez dessa A Dona da História. Coincidência ou não, os três foram textos escritos para o teatro, se tornaram peças de sucesso e se transformaram em filmes pelas mãos de Daniel Filho. Se cinema é um jogo de risco, ele parece diminuir ao máximo o risco em errar (leia-se, ter prejuízo), pois busca textos de forte apelo comercial, recruta grandes estrelas da televisão (leia-se, galãs e nomes consagrados da Rede Globo) e emprega sempre o humor para garantir a diversão. E os roteiristas são João e Adriana Falcão, escritores de episódios de A Comédia da Vida Privada e do megasucesso O Auto da Compadecida. A Dona da História se baseia em peça teatral do próprio João Falcão.
Cada vez mais, desde Cidade de Deus, o cinema brasileiro vem ganhando ares de indústria, pelo menos parte dela. Essa discussão está em pauta no cenário nacional, com a criação da Ancinav e das novas diretrizes para o audiovisual que o Ministério da Cultura propõe. Assim, queira-se ou não, aprove-se ou não, há certo ar de indústria se impondo no ambiente, e Daniel Filho tem papel fundamental e atuante nessa transformação por seu desempenho junto à Globo Filmes. Os filmes nacionais mais vistos dos últimos dois anos tiveram o dedo de Daniel Filho, via Globo. No ano passado: Carandiru, Lisbela e o Prisioneiro, Os Normais e Maria, Mãe do Filho de Deus. Este ano já são três, além de A Dona da História, que deve ter bom desempenho: Sexo, Amor & Traição, Cazuza - O Tempo Não Pára e Olga.
Na média, mesmo os filmes nacionais de sucesso são bons, diferentemente dos blockbusters americanos dos quais poucos se salvam. Claro que o Brasil apresenta certas peculiaridades que possibilitam diversidade temática e melhor resultado final. Há personagens históricos que dão caldo a um filme (vide Olga e Cazuza, por exemplo), mas mesmo aqueles que repetem certas fórmulas e clichês conseguem fugir da mesmice. Um filme de amor brasileiro quase que invariavelmente vai ser melhor que um filme de amor americano. Por quê? Sem ser xenófobo, poderia responder afirmando: "Porque ele é nosso, feito por nós, contado com um jeito tipicamente brasileiro". E amor, apesar de uma língua universal, é sempre mais gostoso quando falado na língua pátria.
Em termos de cinema, A Dona da História tem alguns bons momentos que o fazem acima da média, como quando o casal se conhece numa passeata de protesto no centro do Rio de Janeiro (cenas que lembraram em muito aquelas veiculadas nos primeiros capítulos da novela Senhora do Destino). O diretor sabe filmar, sabe colocar a câmera no lugar certo, pegar planos interessantes e nem tão óbvios. Ora de longe, ora mais próximo. Há muitas referências ao universo do amor no decorrer do filme, tal qual Romeu e Julieta na cena da serenata no terraço. Quem não viu um mocinho bêbado esperar na sarjeta a chegada da amada e, após tentativa frustrada de aproximação, sair com o carro pifando pela rua? Ou então um pedido de casamento feito de joelhos? O amor, o amor para uma vida toda, é a base desse filme, o amor com um toque de humor. Não há platéia que resista.
por incrível, que pareça até mesmo filmes assim, leves e, como disse, sem maiores pretensões, tem sido dificíl encontrar nos lançamentos. Duas horas de embarque em uma história que nada mais faça do que trasportar para um estado de boas sensaçoes, conclusivamente, nao é fácil. sao filmes como a historia de nós dois, um lugar chamado nothin hill, lisbela e o prisioneiro, que ficam na categoria agua com açucar, mas sao merecedores de elogios, por preservarem a qualidade do entretenimento.