O juiz Siro Darlan está com a macaca. A penúltima dele foi mandar um comissário ir cobrar a identidade das modelos numa dessas semanas de moda - quem fosse dimenor tinha que comprovar que estudava para entrar no catwalk. Burburinho é pouco para descrever o corre-corre dos bastidores, porque a lei, como bem sabe o juiz, é dura, mas é a lei. Em protesto, as modelos desfilaram com suas carteiras de identidade e passaportes como adereços. Maneira bem estranha de se protestar, aliás. Protesto se faz com coquetel molotov e pedrada, por parte dos manifestantes, e gás lacrimogêneo e cassetetes, por parte da polícia, como a morte daquele genovês deixou bem claro. A última foi proibir a entrada de menores num show beneficiente porque aquela-banda-que-não-consegue-fazer-uma-música-sem-falar-de-maconha iria tocar. O problema é que muitos quilos de alimento não perecível já tinham sido trocados por ingressos, e a emissora de rádio que promovia o evento teve que veicular um alerta sobre a portaria, oferecendo-se inclusive para destrocar os ingressos. Como a identidade - ela de novo - de cada um tinha que ser vistoriada na porta, lógico que houve aglomeração, empurra-empurra, xingamentos, agressões policiais, ou seja, apenas o suficiente para o juiz dar uma de Mauro Silva e revogar a portaria na última hora. Tudo isso, alguém já observou muito bem, pode ser parte de uma estratégia de marketing pessoal com vistas à candidatura no ano que vem: Siro Darlan estaria querendo fazer sua imagem junto ao eleitorado. Não precisava, juiz: por mandar tapar os mamilos das coristas do Crazy Horse no cartaz do Canecão, por querer lacrar aquela revista onde o Papai Noel agarrava os seios da Carla Perez na capa sob alegação de "agressão à inocência da criança", por mandar deter um guitarrista que tocou nu num festival de rock, pela sua capacidade de enxergar sempre um atentado à moral, às escusas da proteção do menor e do adolescente - mesmo que esse menor seja uma modelo que ganha em um desfile mais do que ele em um mês, e que esse adolescente seja o nerd criador do software que sacudiu a indústria fonográfica mundial - todo mundo já tinha sacado o que o senhor realmente é: um tarado completo.
Centro do mundo
Aliás esse negócio de modelos já deu. Vejam o que diz essa notícia publicada no jornal O Estado de São Paulo, por ocasião do dia dos namorados:
"Recentemente, [o psicólogo] atendeu em seu consultório a modelo M., de 22 anos. Deprimida, ela havia abandonado uma promissora carreira. Em poucos meses, rejeitou convites para trabalhar na Europa, abandonou a faculdade e terminou o namoro. Raramente saía de casa. Tudo por causa do umbigo que, segundo a moça, era torto. De acordo com o psicólogo, M., ainda em tratamento, sofre (...) um distúrbio que atinge cerca de 2% da população, a maioria mulheres jovens e bonitas de centros urbanos." Tá vendo, seu Galileu, para que serviu aquela inquisição toda? Hoje, qualquer modelo sabe que o mundo não gira em torno do sol, mas... de seu próprio umbigo.
Maniqueísmo
Existem várias maneiras de se dividir o mundo, por exemplo: pessoas que torcem pelo Flamengo e as outras. Não são visões muito boas, mas fornecem explicações fáceis pela simplificação que contém. Eu, particularmente, costumo dividir o mundo em pessoas-que-vão-ao-cinema e pessoas-que-vêem-filmes, embora reconheça que até como simplificação esta é ruim, porque existe o subconjunto das pessoas-que-vão-ao-cinema-para-ver-filmes, contingente, pena, cada vez menor. Porque a cada vez que volto ao cinema me convenço de que as pessoas vão lá para comer pipoca, bater papo, namorar (ó, eufemismos!), dormir - um cidadão do meu lado era o sujeito mais ligado nos primeiros 15 minutos de filme: ria, fazia pequenos comentários, resmungava, até que no 16º. caiu num sono profundo do qual teve que ser despertado por sua companheira ao fim da seção...- falar no celular, enfim tudo!, e, se possível, nos momentos vagos, sem muito compromisso, prestar atenção no que está acontecendo na tela.
Respeitável público!
A prefeitura do Rio fez um concurso para escolher o novo
Circo Voador e, para minha felicidade, descobri que um dos quatro arquitetos do projeto vencedor estudou comigo no colégio. Tiago Gualda fazia uma história em quadrinhos, nas últimas folhas de seu caderno, que cresceu tanto que ele achou melhor arrancar as folhas com alguma matéria anotada, por terem se tornado franca minoria. Parabéns, Tiago! Eu sabia, no meu íntimo, que aqueles desenhos de fundo-de-sala iam dar em alguma coisa.
Aquela eterna rivalidade
Passei um fim de semana em São Paulo, onde o bilhetinho que o menor abandonado te entrega para pedir dinheiro no sinal (lá se diz: farol) é impresso por computador e tem ortografia e gramática corretas. Quando voltei ao Rio, no domingo de noite, um garoto na minha rua tentava matar uma fila de formigas a grito, sob os apupos de um grupinho de amigos, como prenda pela brincadeira que estavam jogando.
Por essas e por outras assim que eu continuo achando o Rio melhor.
Aspas para meu camaradinha Augusto Pizarro, que não é imperador nem general, apesar do nome:
"Eu não sou totalmente inútil. Pelo menos, eu ainda sirvo de mau exemplo."
E, a pedidos, mais aspas para meu amigo (de)formador de opinião João Marcelo, a.k.a. O Mestre
"Há esperança para nosso país. Carlinhos Brown levou uma chuva de garrafas de plástico no Rock in Rio !!!!!!!! (tudo bem que é uma cambada que queria ver o Guns n' Roses mas o que vale é a intenção)"