COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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31/1/2005 | | |
15h52min | |
| Até que enfim a intelligentsia nacional se pronuncia sobre o "Dom Casmurro," uma das nossas maiores obras literárias. Lembro, com saudade, a opinião do igualmente saudoso Ibrahim Sued sobre Marcel Proust: "Um chato!" Coincidência?
Está bem, a partir de hoje, eu que a vida inteira me diverti lendo "Dom Casmurro" vou passar a considerá-lo "uma chatice" porque o extraordinário crítico literário Domingos Pellegrini assim o exige. Outro dia, o Millôr Fernandes disse numa entrevista que Machado de Assis é bobo. Também sugeriu que Bentinho era viado. Outra coincidência? Diferentemente de Pellegrini, Millôr é inteligente; mas desmerece a sua inteligência quando emite pareceres incompetentes como esse, ditados acima de tudo pela inveja e pela impotência. Pellegrini deve pertencer à escola dos críticos literários da Folha de S. Paulo, que acham que independência intelectual é chamar o "Hamlet" de "pecinha chata de Shakespeare". De uma coisa não tenho dúvida: quando se refere a Janete Clair, Pellegrini sabe muito bem do que está falando.
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31/1/2005 | | |
17h55min | |
| "Além de justificar comportamentos anti-éticos como os de Bentinho..." Caro Domingos, gostaria de parabenizá-lo por sua pequena meditacao sobre o Sr. de Assis, sobretudo pela frase que cito acima. Sim, concordo integralmente com sua análise: um personagem como Bentinho pode certamente justitificar comportamentos anti-éticos por parte de seus leitores. Por suas contradicões; por sua inconstância; por sua ironia; por sua imoralidade... Às vezes me pergunto por que razão o Sr. de Assis näo fez de seu personagem um sujeito mais agradável, mais correto e retilínio, que trabalha de verdade, que liberta seus escravos, que escreve sem inconstância aos enfermos, e, evidentemente, que encara a traicão de sua mulher sem se tornar amargamente vingativo? Sinceramente, não entendo a razão.
Felizmente, trata-se de um livro mesmo chato, cheio de firulas, que sem dúvida será repulsivo a leitores futuros. Ainda bem! Deixará de cair em mãos erradas, e de justificar mais acões anti-éticas por parte de dementes leitores... Grande abraco
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1/2/2005 | | |
06h46min | |
| Corajoso esse depoimento em relação a um clássico. Nos últimos anos tenho feito uma revisão do Machado - do qual, diga-se, nunca gostei - e descubro em determinados contos um Machado criativo & de humor afiado, além de inteligente; mas "Dom Casmurro", lido há tanto tempo, considero (salvo venha a reler depois e mudar de idéia) um romance difícil de engolir... O válido, o importante aqui, para mim, lendo essa crítica, é isto: a liberdade que todos nós devemos ter de criticar/discordar de um "clássico". E admitir, no final das contas, esta verdade escamoteada por pretensos entendidos em literatura: ler é sempre gosto pessoal, troca de visões de mundo, diálogo do autor com o leitor. E, se não me agrada a conversa de um escritor, tenho de ter o direito, a liberdade sagrada de dizê-lo - do mesmo modo como diria de um conhecido a quem passo a evitar: "É um chato".
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1/2/2005 | | |
10h15min | |
| Caro Domingos, suas idéias parecem estar bem consolidadas e não é meu objetivo demovê-lo de suas certezas. Entretanto, não posso deixar de anotar: o próprio Machado de Assis já havia deixado claro a propósito do teor sorumbático do livro. Basta atentar para o título da obra. Dom Casmurro. Casmurro, segundo dizem os dicionários, quer dizer "Que, ou aquele que é teimoso, implicante, cabeçudo". Assim, não há necessidade do trocadilho infame "Dom Chaturro". Antes, é melhor saber o significado das palavras. Forte abraço, parabéns pelo texto, Fabio
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4/2/2005 | | |
10h31min | |
| Dom Domingos, talvez agora já esteja na hora de ler Dom Casmurro. Já tomou contato com a obra lá (onde mesmo?) em Machu Pichu, sentiu o gosto da Literatura (não gostou, é fato) e algo incomodou sua alma veríssima. A porta se abriu. Não tenha medo do porteiro. Haverá outros e cada um mais poderoso que o anterior. Mesmo assim, tenha cuidado. A busca pela construção lógica da realidade (e pelo suor das personagens) poderá envelhecer os objetivos que o trouxeram até aqui. Será mesmo que pertence ao autor a tarefa de mudança do mundo? Não será esse um território do leitor? Seu texto, por exemplo, ampliou bastante meu repertório de interpretações para as expressões "Babaquara" e "Jacarandá" do João Antônio. Agora entendo. Anos 80... Londrina, Bar do Jota... Depois de Machado (que naquela época afirmava ter lido) sigo curiosíssimo a espera de seus comentários sobre Dostoiévski. A propósito, para escrever sobre a possível traição de Capitu procure ler as descrições de Otelo e de Desdêmona. Aliás, Dom Domingos, quem foi ao teatro naquela noite e saiu antes do fim? Quem resolveu, já velho, contar sua história? E qual era mesmo o nome daquele pessoal do curso de Letras que lhe deu suas primeiras lições de ética ("posturas éticas diante dos acontecimentos") quando permitiram que assinasse um trabalho que não só não realizou como não leu? Um abraço. Davi
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4/2/2005 | | |
13h13min | |
| Caro Domingos, em relação a Machado creio que a única coisa insuportável é a leitura historico-sociológica (roberto Scwartz, Sidney chalub, e seguidores) que se tem feito dele na academia, por pessoas que não entendem patavina de sutilezas poéticas. jardel
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6/2/2005 | | |
13h08min | |
| Quem tem certeza de que Capitu era vagabunda não presta atenção nos detalhes. Eu também era assim, até que um amigo jornalista muito conceituado nas redações cariocas me chamou a atenção para uma conversa aparentemente casual entre Bentinho e Escobar. Como se sabe, Escobar, casado com Sancha, era pai de Capituzinha. Se tivesse um caso com Capitu saberia que era pai também de Ezequiel. Ou seja, saberia que Ezequiel era meio-irmão de Capituzinha. Sendo assim, como se explica que Escobar sugira ao Bentinho que Ezequiel se case com Capituzinha?
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12/2/2005 | | |
23h10min | |
| Boquiaberto li essas linhas sobre o grande livro de Machado, "Dom Casmurro". Ao ler os comentários sobre as já citadas linhas, fiquei um pouco mais tranquilo. Entre essas pude perceber que o autor citava Ibrahim Sued como o único que "tivera a coragem de açoitar a obra em tela, tendo-a classificado como chatérrima". Vocês todos estão certos, meus queridos, inclusive o gênio da raça, o colunista social Ibrahim. Antônio Cândido, Houaiss e outros tantos estão errados ou, melhor, são uns chatos. E, agora, me vem à mente a seguinte questão: será que existe vida inteligente naqueles que, nos dias de hoje, não chegaram ainda aos 50 anos ou quase isso?
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20/2/2005 | | |
22h11min | |
| Um sujeito que, aluno de Letras, deixa de ler Machado de Assis "porque a política estudantil não dava tempo" acaba de definir-se como aquilo que Mário de Andrade chamava de "uma reverendíssima b..."! Gustavo Aguiar Rocha da Silva
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15/9/2005 | | |
16h23min | |
| É óbvio que o autor do comentário é um otimista que acredita nas pessoas, mas nem todas são assim, daí o estranhamento com a obra de Machado. Não fossem estas duas visoes o mundo estaria perdido. Literatura é isso, gostar e não gostar, amar um personagem e odiá-lo por isso, ler a crítica do Domingos Pellegrini e achar uma merda ou discordar.
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17/3/2006 | | |
23h22min | |
| Catarse pura! Domingos Bentinho! Machado na mosca!
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7/8/2010 | | |
13h13min | |
| Ao comentar "Dom Casmurro" mais de cem anos depois da sua publicação, e provocar outros comentários dos leitores, Domingos testemunha a força da obra. Um livro absolutamente chato como ele quer fazer ver não resistiria tanto tempo. Acabaria como as obras de Paulo Setúbal, conforme lembra o próprio Pellegrini no texto "O dia em que Paulo Coelho chorou", que ninguém lê mais. Acredito que se lesse "Dom Casmurro" hoje, em condições adequadas (a trilha de Machu Pichu não é exatamente o lugar ideal para desfrutar do livro), teria impressão melhor do romance. Na verdade, ele não simpatizou com o personagem, psicologicamente muito distante dele, transladando a sua antipatia para o livro e seu escritor. Aconteceu comigo ao ler "Adrienne Mesurat", que achei abominável, obra premiada do acadêmico francês Julien Greeen. Considerei o comportamento da personagem principal totalmente absurdo e o livro o pior que eu li. Será que a Academia Francesa de Letras estaria totalmente equivocada?
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