Logo se completarão 10 anos que acessei a internet pela primeira vez. Naquela época - ainda que não seja tão distante assim - a teia era bem diferente do que temos hoje. Às vezes fico pensando se minha prima de 15 anos poderia imaginá-la como foi naqueles dias... Acho muito difícil. O pouquíssimo material disponível em português restringia-se a páginas de universidades e sites pessoais, geralmente de estudantes de computação e interessados em tecnologia (construir um website era uma tarefa para poucos naquela época), que colocavam fundos coloridos, músicas estressantes e pouco atrativas e, como fez um amigo meu, escreviam na sua home: bem-vindo ao meu pedaço da web (em inglês, evidentemente). Confesso que demorei um pouco para me acostumar com aquilo... Afinal, além do e-mail e dos sites de notícia em tempo real, para que mais servia a internet?
E então, os primeiros grandes sites começaram a surgir e crescer. Era possível ler a edição virtual daquele jornal panamenho, o resultado do jogo do campeonato inglês de peteca para deficientes visuais e até deu para saber durante a aula que o Rio não foi escolhido para ser a sede das olimpíadas de 2000. Mas, rapidamente comecei a me cansar daquilo... Inocente, pensei: isso, desse jeito que está, não vai ter muita graça... E então, algo de surpreendente (pelo menos para mim) e sensacional ocorre. As pessoas começam a colocar as suas opiniões na internet, começam a colocar as suas poesias, os seus textos, as suas músicas, as suas reclamações... A internet passa a ser um gigantesco repositório de opiniões. Opiniões de todos os tipos: boas, ruins, pessimamente escritas, inovadoras, agressivas, estimulantes, manipuladas, fúteis, tudo, tudo, tudo... Para cada opinião que você encontrar navegando por aí, pode encontrar uma outra completamente antagônica somente alguns segundos depois de ter lido a primeira. Para cada idéia que te pareça boa no início, há alguém em algum lugar do globo dando 10 razões contrárias que o farão pensar. É como se todas as opiniões (quase todas) estivessem ali, a apenas alguns toques do teclado.
E então, surgem os blogs. Como já escrevi aqui no Digestivo, não gosto muito de ler blogs. Mas, de uns tempos para cá, isso se tornou fundamental para mim, pois, através deles, conheço opiniões tão distintas das minhas e que algumas vezes me fazem refletir a respeito. São tantas cabeças se manifestando por aí! Tantas cabeças independentes dando sua impressão do assunto! Também, através da leitura dos blogs descubro pessoas interessantes. Refugiado lá no interior do Amapá existe alguém que escreve sobre cinema brasileiro. No nordeste, encontro um jovenzinho que publica literatura de cordel no seu blog e comenta tudo, explicando-nos a respeito. Uma sra. basca que talvez nem exista publica contos eróticos, entre um comentário em favor do separatismo e um relato sobre a superficialidade da vida do fenômeno Ronaldo. É justamente para isso que inventaram os blogs, e chamá-los de diários digitais é uma expressão quase sempre muito adequada, pois, de fato, é isso que eles são. São as vozes das pessoas, com a significativa diferença, entretanto, que esses diários eles mostram para quem quiser lê-los e não temem por isso. Eles não os escondem... É um universo de vozes individuais se manifestando... é quase uma reforma agrária das idéias, afinal, as pessoas recebem uma pedaço da internet e semeiam suas opiniões e pensamentos... Apenas uma observação: eu jamais lerei um blog em que o autor escreva com linguagem de internet (aki, kd, bjus. E também não assistirei alguns filmes do Telecine, que agora exibe essas legendas em alguns dias e horários). Não abro mão disso... O que é uma pena, aliás, porque assim deixo de ler 99% de tudo o que tem por aí...
Algumas (poucas) sugestões
Evidentemente, há inúmeras categorias de blogs. O Cabeza Marginal, segundo o meu entendimento, é uma evolução dos blogs convencionais. Ele reúne, além de textos, imagens, vídeos, sons, etc., engloba mais de um realizador e oferece, portanto, muito mais conteúdo do que simplesmente um blog (e possui conteúdo de qualidade). Muito próximo ao Cabeza, dos nosso vizinhos argentinos temos o Katarsis Blogzine. Para continuar ainda nos colegas argentinos, temos Poesia.org.ar, que, ainda que não seja exatamente um blog, merece meu destaque e contém poetas de outros países também, como Uruguai e México (a propósito, os argentinos "mandam bem" em blogs). Ainda no assunto poesia, temos o site do Fabricio Carpinejar, mas não espere muitas poesias postadas por lá (e sim (boas) crônicas). Sobre literatura, de modo geral, temos o Gávea, que se auto define assim: um site de portugueses sobre a literatura brasileira. Sempre passo pelo blog do senador (e ex-ministro) Cristovam Buarque, do jornalista Ricardo Noblat e Pensar enlouquece, pense nisso. Para os momentos de "descanso", temos o excelente blogDiburros, com ótimos cartoons/desenhos.
Interessante que você tenha registrado como mudou de idéia (pelo menos até certo ponto) sobre os blogs. Algumas pessoas fecham-se numa única opinião (ou implicância) e é difícil arredarem o pé dali; o melhor mesmo é testar nossos conceitos de tempos em tempos.