Conforme disse no "Como escrever bem — parte 1", é essencial ler (bem) para escrever de maneira correta. Mais do que simplesmente escrever sem erros, a leitura nos garante novas possibilidades de textos, novo vocabulário, novas idéias, novos estilos até. Escrever corretamente, apenas, pode ser útil, digamos, num texto jornalístico, mas, não é suficiente para possibilitar a confecção de uma poesia ou um texto literário, por exemplo. Há inúmeras e evidentes diferenças entre os tipos de escrita, e transitar confortavelmente através destes é o objetivo a ser alcançado, algo importante, aliás, afinal, escrever bem significa escrever bem qualquer tipo de texto, certo?
Ao se preparar para escrever algo, alguns passos devem ser seguidos (geralmente inconscientes, na maioria das pessoas). O primeiro deles é identificar claramente sobre o que você vai escrever (excetuando-se, talvez, romances/contos/poesias, tratados na "parte 3" dessa série). Se você não tem a mínima idéia do que dirá no texto, é melhor procurar alguma fonte de informação que possa lhe auxiliar, ou correrá o risco de dizer algo equivocado. Saber sobre o que se vai dizer é metade da tarefa, a outra, aliás, é transformar tudo em palavras, ligá-las de forma adequada e, se for o caso, melhorar a construções e as ligações, em um segundo momento, geralmente. Se você não domina o assunto que irá abordar e não pode (ou não tem tempo para) consultar referências, pense duas vezes antes de começar. Se, ainda assim, precisar escrever por algum motivo, procure relacionar o texto com assuntos/tópicos que domina. Isto é, procure um mote para falar de algo que possa fazê-lo com segurança, tomando apenas o cuidado de encaixá-lo no assunto em questão. Mas, se você for alguém (muito bem) preparado para escrever, pode superar algumas vezes o problema do conteúdo apenas com a elegância do seu texto (o que, fique claro, é uma espécie de estelionato literário, afinal, você enrolou o leitor e ele nem percebeu!).
Bem, se você já tem em mente o que irá abordar no texto, precisa escolher a forma como fará isso. Essa fase é como escolher as suas roupas para vestir: se você vai ao cinema, usa um tipo de roupa, entretanto, se vai ao velório, usa outro tipo, e se vai a praia (ou esquiar), um outro, diferente dos anteriores, mas você precisa ter no seu guarda-roupa todos esses modelos, pois não sabe quando será preciso utilizá-los. Assim, se vai escrever para seu blog (internet/informal), para o Digestivo Cultural (jornalismo/internet) ou uma tese de doutorado(acadêmico), deve se encaixar no estilo esperado pelos que irão lê-lo. Jamais o contrário. Além disso, escrever bem não se refere unicamente ao texto em si, mas o modo como você o apresenta aos seus leitores.
* Internet — Depois dos blogs, essa parece ser a parte mais fácil de todas, não é? Talvez, vai depender muito de que tipo de leitor você tem e que tipo de autor quer ser para estes. De maneira geral, as pessoas não querem textos demasiadamente sofisticados para lerem na internet. Eu, por exemplo, só leio textos muito complexos deitado, com boa iluminação e longe do barulho do computador. Eu não leio nada muito sofisticado na tela do computador, não consigo me concentrar da maneira que é necessário. Portanto, para web, não complique muito na linguagem e no conteúdo. Independente do vocabulário e da forma da escrita usada, os textos da internet não devem ser longos, nunca! Cansei de visitar sites interessantes, porém, com textos gigantescos que levaria 2 ou 3 horas para ler... defronte o computador, evidente (nem todos têm impressora ou querem imprimir). Portanto, se seu texto é grande você já está quase fora. Outra coisa, não encha seu texto com infinitos links. Isso confunde o leitor e deixa seu texto sem graça. Coloque apenas os links realmente importantes para que qualquer um possa entender o conteúdo do seu texto e não um mar de referências perdidas. Esteticamente, separe os textos em parágrafos espaçados, pois blocos muito grandes cansam os leitores. Não use fontes nem cores incomuns (pode não parecer, mas a web tem uma espécie de padrão). Ah, e cuidado com o que irá escrever, pois a verdade pode estar a apenas algumas buscas no Google...
* Blogs — Há muitos tipos de blogs. Alguns têm textos mais bem escritos do que muitos livros que temos por aí. Todavia, não há muita responsabilidade envolvida. É um blog, meu amigo, se eu quiser, escrevo sem acentuar, uso linguagem web, escrevo de qualquer maneira! Isso é fato, por isso escrever para blogs é fácil. Provavelmente, você não irá receber um e-mail de alguém que visitou o seu blog e não o achou bem escrito. Acredito que isso não acontece, mas o contrário sim. Se visitam seu blog — e estão acostumados com esses blogs infanto-juvenis terríveis que proliferam por aí — podem se surpreender, vendo que ele é dos bons, o que é raro na internet. Para escrever bem em blogs é fundamental ser um leitor de blogs. Os blogs têm um estilo próprio, uma forma particular de informar, opinar e divertir, e, se você quer ter um blog, deve se encaixar... As pessoas irão ao seu blog querendo ler um blog (e o que isso significa) e é importante dar isso a elas, não importando o estilo.
* Jornal (impresso) — Parto do ponto inicial que jornal impresso nesse país é artigo de luxo, ainda que as garotas do Saia Justa pensem o contrário! (a propósito, eu gostava tanto da Márcia Tiburi... eu até queria casar com ela, sabe? O que ela está fazendo ali, Deus?). Isso significa que, apesar da educação ser um grave problema nosso, as pessoas quem lêem jornal têm (ou deveriam ter) instrução (é claro que alguns só olham o caderno de esportes, mas, finjamos que não!) e você pode, sendo assim, exigir mais de seus leitores. Como assim exigir mais de meus leitores?, não são eles que nos elegem? Não exatamente, se você escrever difícil (ou assuntos muito restritos), por exemplo, está escolhendo seus leitores (e isso só não muito é bom quando o jornal te solicita, educadamente, que você seja mais acessível e comum). Jornalismo, para mim, é muito — muito mesmo — distante de literatura. Alguns escritores são jornalistas, isso é fato. Mas, de modo geral, poucos jornalistas são escritores. Conheço jornalistas que não leram 20 livros nas suas vidas inteiras... Até sabem contar uma boa história, geralmente baseada em pesquisa árdua e citações nominais, mas são incapazes de escrever um livro pelo menos razoável. É completamente diferente uma coisa de outra. Inventar histórias e personagens é muito mais difícil do que reproduzir os que já existem. No jornal, você sempre tem o tamanho certo da sua matéria, o que quase sempre te impõe limites ruins. Nesse tipo de texto você precisa ser objetivo, direto. Mesmo que seja muito interessante, você não poderá escrever 50 linhas apenas sobre o sapato egípcio do personagem. Escrever texto jornalístico é quase como escrever uma receita de bolo, não há muito espaço para improvisação e nem para o talento particular do cozinheiro. Se você tem liberdade para publicar o que quiser, cuidado. Poesias são lidas por, vejamos, ninguém, ainda que boas. Minicontos parecem atrair alguns curiosos, mas geralmente eles esperam assuntos muito amenos e superficiais. A linguagem?, depende do que se escreve, mas, geralmente, é simples, sem sofisticação, mas dentro dos padrões da mídia impressa.
Quando chegou as telas o filme Alexandre (de Oliver Stone, com Colin farrell, Angelina Jolie e Anthony Hopkins), as editoras mundiais não perderam tempo em lançar livros sobre o assunto (lembro que a Folha de S.Paulo publicou os títulos que sairiam, motivados pela exibição do filme. Eram uns 6 ou 7, creio). Um deles é Alexandre, o grande (E.E.Rice, Editora Nova Fronteira, 2004) .
Em cerca de 100 páginas, com letras e espaçamento grandes, além de mapas e imagens, a autora procura dar uma visão geral sobre este importante nome da história mundial. Todos os argumentos são baseados em conhecimento comprovado a cerca dos fatos, visto ser a escritora uma arqueóloga, e, portanto, despreza lendas, mitos e histórias duvidosas (o que, na maioria das vezes, é o que agrada aos leitores comuns). Fora isso, é a história de Alexandre, muito rapidamente descrita (para ser lido em uma tarde e nem precisa ser inteira). Serve como introdução ao assunto.
Muito bom. Este aqui está mais centrado no assunto, mais prático; mas tem - felizmente - seus toques de humor. Irônico, verdade, mas melhor do que nenhum... E isso dos 20 livros lidos por jornalistas, puxa! Estou chocada... hum... estou mesmo?
Sempre procuro ler textos que ensinam a escrever melhor. Não tanto para mim, pois os textos que perpetro por aí não merecem muito aperfeiçoamento. Mas para ver como posso estimular meus alunos, mormente os do Ensino Médio, a escrever melhor. E a dificuldade é enorme. Agora, para ficar mais irônico, o nobre autor poderia terminar ensinando como se tornar um ghost-writer de textos acadêmicos, para podermos ganhar um trocado com esse pessoal que estuda em faculdades particulares... Benza Deus!
Em relação aos textos na internet, penso como o autor. Desde quando se criaram os blogs, eu sempre escrevi textos curtos, sem prolongar demasiadamente, pois, além de ser fastidioso, poucas pessoas lêem. Acho que bons textos são apreciados em sua simplicidade - pelo menos na internet -, onde tudo é muito rápido...
Minha profissão, empresário, exige uma “boa conversa" com clientes e credores. O êxito comercial depende dessa habilidade; a "boa escrita”, porém, é irrelevante. No entanto, por hábito, meu lazer é ler. E, depois do Orkut, também postar para minhas comunidades. Foi isso que me trouxe até o texto acima, que reputo boníssimo. É realista, prazeroso, faz recomendações sábias e honestas. O caso da diferença entre o texto literário e o jornalístico: criar personagens e histórias é mais difícil que escrever para jornais ou contar histórias escritas por outros. A ponderação de que é o escritor quem elege seus eleitores e que, para escrever bem, exige-se treino. A recomendação de que não se deve escrever sobre o que não se sabe. Tudo isso explica o juízo que emiti. Esse tipo de leitura nos deixa mais seguros ao escrever; e, "antenados", para evitar deslizes. Obrigado, Maroldi, por um texto tão sinestesicamente saboroso.
Aqui você expõe que literatura é outra forma de escrita, com o que concordo; também que é mais difícil escrever, as fórmulas ajudam pouco. E acredito que o poder de influência da literatura é maior do que o da ciência, por esta ter um modelo limitado, mais ou menos úniforme, sem a liberdade e emoção literária, que podem exercer um poder enorme, promover grandes transformações, pois sentimentos afetam mais as pessoas do que explicações.