Recentemente divulgou-se uma pesquisa que dizia que o brasileiro tem passado mais tempo na Internet do que assistindo televisão. Embora duvide que esses números estejam corretos e que, portanto, isso seja verdade, é um fato importante e inédito. Quando - e se - isso realmente ocorrer, teremos dado um passo rumo a um caminho novo e abandonaremos (será?) um objeto que tem monopolizado a atenção de milhões de pessoas diariamente em todo o mundo.
Antes de iniciar, vamos analisar brevemente a realidade brasileira frente TV versus Internet. Televisão, sabemos, é um item obrigatório em nosso país (e em muitos outros países, a propósito). O sujeito não tem geladeira, fogão ou o que seja que possa lhe melhorar a vida cotidiana, mas tem televisão (às vezes mais que uma, ainda que não tenha dinheiro para pagar a conta de energia). É o principal divertimento apontado pelas camadas de menor poder aquisitivo. Para essas pessoas, é apenas isso que a TV é: um instrumento de lazer, não de informação. Ela "foi" um instrumento de informação para a classe média e alta. Digo foi, pois, hoje, essas classes migraram para a Internet. Informar-se pela web é mais eficiente e mais rápido, e pode ser no intervalo entre um bate-papo no MSN ou outra atividade de lazer (ou não) que se deseja realizar. Exclusão social... Enquanto o usuário da TV precisa assistir ao Jornal Nacional para se informar, eu posso acessar o site da BBC, do MIT ou da NASA. É um passo adiante na aquisição da informação. Isso é segregação, certo? Sim, isso é segregação...
Enquanto devem existir no país, vejamos, 170 milhões de "usuários" de TV, temos pouco mais de 10 milhões de usuários de Internet. Aliás, esse número é superestimado. Eles contabilizam aquele menino da quarta série da escola pública que acessa o chat na aula de informática (monitorada por alguma ONG, a propósito, que chama isso de "inclusão digital", expressão do momento) uma vez por mês (e que nós sabemos, portanto, não usa a internet!). Mas, tudo bem, voltemos ao tema: por que essas pessoas passam mais tempo navegando do que vendo TV? Porque esse é o divertimento e o canal de informação da classe média atual. Televisão, para estes, está fora de moda. Enquanto na televisão você é um usuário totalmente passivo, na web isso não ocorre. Você pode ter um blog só seu, pode encontrar os amigos virtuais, ver quantos corações te deram no Orkut, etc. E pode, ainda, baixar o mp3 do Elvis cantando "My Way", pode ler o livro novo do Harry Potter (em russo, se quiser), pode mandar um e-mail para o presidente da república (embora ele não vá ler), pode estudar para sua tese de mestrado em neurociência. Você pode fazer tudo isso, mas poucos o fazem. Desses 10 milhões, 9 devem passar o seu tempo na Net batendo papo e repassando correntes sem sentido e veracidade. Pois é, trocaram a TV por isso...
E o que a TV tem feito em resposta? A TV tem investido (e muito) em novos formatos de programas, geralmente que envolvem a participação de quem assiste. Mas, logo verão (se já não viram) que isso é insuficiente. Quanto mais gente ganha a possibilidade de acesso à internet mais a TV fica de lado. Por que? Bom, porque, além de sermos ativos defronte o computador temos, na web, (quase) absolutamente tudo o que temos na televisão. Pela internet é possível saber precisamente o que ocorre na novela, no BBB ou no campeonato espanhol de futebol. E isso a hora em que eu quiser. Eu posso, inclusive, assistir esses programas pela internet, interrompendo quando quiser e continuando, se desejar, outra hora... A televisão só irá reconquistar seu público quando for possível ao telespectador montar sua própria grade de programação. Isto é, permitir que eu assista o capítulo da novela quando eu quiser, quantas vezes quiser e permitir que eu assista no domingo, por exemplo, todos os episódios da semana, sem gravação, apenas selecionando do controle remoto. Isso sim é revolucionário para a TV! E não irá demorar muito, aliás, já está acontecendo. Como tudo, entretanto, o que ocorre de novidade no mundo, alguns privilegiados terão acesso antes e outros, muito, muito depois, quando já tiverem inventando outra coisa mais incrível. Talvez, para usarmos a TV personalizada, precisaremos de um novo aparelho, mais moderno, ou adquirir algum aparelhinho que permita a seleção dos programas, ou, mais provável, pagar uma taxa a uma espécie de provedor de TV. E isso, o usuário atual de TV não poderá fazer... Mas não importa! A TV, ainda que avance outros concorrentes, continuará a existir por bastante tempo, ainda que altere seu formato atual.
Um outro aspecto nessa disputa entre TV e Internet parece ser o status adquirido pelos usuários do segundo. Muita gente diz, arrogantemente às vezes, que não assiste televisão. Isso parece dar um poder de superioridade a essa pessoa, uma superioridade intelectual principalmente, como se TV fosse lugar de gente burra (quem faz e quem assiste). Ok, leitores, eu preciso admitir que há muito mais inteligência fora da televisão do que nela, mas, a televisão é interessante. Ela pode estar péssima (TV aberta, principalmente), mas é uma invenção fantástica, nem tudo está perdido! Ontem mesmo revi um programa ótimo sobre livros (sim, sobre livros!) na TV Cultura. Ora, não é possível que quem não assiste TV não encontre nenhum programa de seu interesse, em especial se essa pessoa tem TV a cabo (opa, apartheid de informação/diversão de novo aqui, infelizmente). A televisão pode ser legal, sim... e esse texto seria totalmente dedicado a isso. Ia dizer, em principio, porque a televisão é legal pra mim e o que é legal, mas isso vai ficar para um outro dia. Mas eu não me acho ruim por assisti-la. Jamais conheci pessoalmente alguém que lesse mais do que eu, e eu assisto televisão! E conheço semi-analfabetos que não assistem televisão, pois dizem que a TV os deixa estúpidos (não é piada, creiam-me). Por que não posso combinar tudo? Televisão, internet, livros, cinema e o que mais eu quiser? (Falsos) Intelectuais rotulam certas coisas como inferiores e um grupo de desavisados abraça a causa, parece. Ir ao museu é bom, assistir Manhattan Connection é bom e cinema brasileiro também é bom. Se você não faz essas atividades, meu amigo, você não faz parte da elite cultural do país... ah, e não ouse dizer que assiste televisão, hein!
Adorei a ironia (inclusive a final). Sempre me incomodou que além de haver pouco empenho pela cultura e a educação, houvesse também uma "patrulha ideológica" querendo me dizer do que eu devo gostar ou julgar relevante. Gente chata!
Marcelo, para mim são fases, às vezes fico grudada na tevê, às vezes na internet, às vezes nos livros. Tudo é bom, de tudo se aprende algo. Mas, ah, a internet é imbatível. Ela é tudo: ela é livro, é cinema, é televisão, é tudo!
Eu praticamente parei de assistir TV porque os programas, em sua imensa maioria, estao ruins e/ou repetitivos. Tem um ou outro seriado legal, mas que satura se voce ja viu um monte de seriados. No que tange a noticias, e' dificil encontrar um noticiario bem feito e interessante, tirando aqui o BBC News. Acho que a televisao esta' com o rabo preso, no sentido de que tem que agradar a um grande publico, enquanto que na Net voce pode encontrar coisas mais customizadas, mais particulares a cada um. Um blogue raramente tem que ser direcionado a mais do que milhares de leitores. Compare isso a um programa de televisao, que atinge por baixo milhoes. Quando passamos a ter acesso a informacoes mais ao nosso gosto, temos menos tolerancia com coisas feitas para uma grande "media". De qualquer maneira, televisao e internet sao sobrevalorizados. Ainda acho que tem muita gente que esquece do bom programa que e' ir dar uma volta e encontrar o mundo...