COLUNAS
Quinta-feira,
16/8/2001
E Deus criou a mulher
Adriana Baggio
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O que será que Deus fazia antes de criar o mundo? Não sei, e a Bíblia também não responde. Mas enfim, ele criou o mundo, as plantas, os animais e o Adão. Deus levou Adão para passear pelo mundo e deixou que ele desse nome a todos os animais, como uma criança mimada que ganha um monte de bichinhos. Depois de se divertir com os animaizinhos, Adão se entediou e começou a encher o saco de Deus. Ele, que mesmo tendo descansado no sétimo dia ainda não tinha Se recuperado dos esforços da Criação, achou melhor arranjar alguma coisa para que a criatura se distraísse. Primeiro, botou ele prá dormir. Mas como esse artifício duraria pouco, decidiu arranjar uma companhia para Adão. Como a matéria prima já tinha acabado, e como na natureza tudo se transforma, Deus achou por bem tirar um pedaço da costela de Adão para criar a mulher. Quando ele acordou, lá estava sua companheira. Mas alguma coisa saiu errada, porque Eva, a mulher, não era tão obediente como Adão. Ela não se conformava com as ordens arbitrárias de Deus, que mandava sem dar uma explicação ou motivo. Por isso, quando a serpente ofereceu a Eva a maçã da árvore do Bem e do Mal, ela relutou um pouco mas decidiu aceitar. Afinal, qual o argumento consistente que Deus deu para que ela não provasse daquele fruto tão apetitoso? E vendo que era realmente gostoso, e como Eva não era egoísta, ofereceu um pedaço para Adão. Adão com certeza sabia do que se tratava, mas deu uma de joão-sem-braço e comeu a maçã sem o menor sentimento de culpa. Ao comerem a maçã Adão e Eva adquiriram o Conhecimento, e pagaram caro por isso. É por isso que a ignorância garante a felicidade. Em primeiro lugar, perceberam que não eram tão bonitos assim, peladinhos, e trataram de se cobrir. Deus percebeu que eles tinham comido a maçã quando viu os dois com folhinhas de parreira cobrindo as partes pudendas. Deus ficou irado com a desobediência, e como já estava ficando irritado com aquelas criaturas que tinham vida própria, arranjou problemas para eles. Adão teria que trabalhar pelo resto de seus dias para sustentar a família, assim como todos os descendentes homens, e Eva teria dores horríveis a cada parto, além de TPM todo mês, assim como todas as mulheres.
Antes de toda essa confusão, homem e mulher eram iguais. Mas ainda como parte do castigo de Eva, que aos olhos de Deus foi mais culpada do que Adão, ficou determinado que a partir de então a mulher estaria sob o poder de seu marido. E assim a mulher teve que agüentar maridos sujos, feios e malvados, e ainda ter filhos deles. Muito, mas muito tempo depois, um descendente austríaco de Adão percebeu que havia uma relação de amor e ódio entre a mulher e qualquer forma que lembrasse a serpente. Ainda hoje, mais do que nunca, as mulheres ficam fascinadas por essas "serpentes". Mas alguma coisa lá no fundo, algo como instinto ou memória genética dos tempos de Eva, diz que brincar com a serpente é legal, mas você deve tomar cuidado porque pode se ferrar por causa dela.
Greve de professores
Os funcionários da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, estão em greve há algumas semanas. Os professores já decidiram em uma assembléia não participar da greve, mas estão sendo pressionados a mudar de idéia. A UFPB vem de uma greve de 3 meses. Por conta dela, o primeiro semestre letivo está terminando só agora. E ainda querem fazer outra greve?
Não discordo dos motivos dos professores. Eles ganham mal, têm pouca estrutura para ensinar. Mas será que a greve é a melhor saída para resolver o problema? A greve prejudica o ensino de um sistema que já é deficiente. Os alunos perdem o ritmo, e quando as aulas voltam é difícil recuperar o tempo ocioso. Todo mundo sabe, principalmente os professores, que a melhoria da situação política e social do país passa pela formação crítica de crianças e jovens. Os efeitos prejudiciais da greve só ajudam a atrasar essa formação. Para protestar contra as más condições e o baixo salário, porque os professores não adotam uma estratégia diferente? Essa estratégia pode ser a longo prazo, com uma formação mais responsável do universitário, e a curto prazo. Vou dar um exemplo: como as eleições estão próximas, porque os professores não iniciam um movimento de apoio ao candidato da oposição? Vocês já imaginaram todos os professores de todas as universidades públicas do país fazendo propaganda para um candidato, ainda mais considerando que o público-alvo é como uma esponja, pronto para absorver opiniões e tomar partido?
Talvez isso seja muito trabalhoso, e difícil de contar com o apoio de todos. Mais fácil é fazer greve e ficar em casa, ou cuidar de outros assuntos. Na pior das hipóteses, o período de férias vai ficar um pouquinho prejudicado. Mas o salário, mesmo parco, estará na conta no fim do mês. Assim como existem professores dedicados, responsáveis, que gostam do que fazem, existem outros para os quais o magistério nada mais é do que uma opção ao fracasso no mercado de trabalho. E para esses, não interessa mudar nada, e sim manter o status quo. Professor de universidade particular, se é mal avaliado pelos alunos, vai para o olho da rua. Professor de universidade pública não. A estabilidade é muito cômoda, e ainda existe, todo ano, a possibilidade de uma grevezinha para agitar o coreto.
Adriana Baggio
Curitiba,
16/8/2001
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