Meu programa cultural mais constante, em São Paulo, é jantar fora. Saio pelo menos três vezes por semana, e acho que saio pouco. Queria sair mais. Um amigo - que, aliás, é companhia freqüente nesses jantares - me contou que o Niemayer, numa entrevista, disse que sai diariamente para jantar em restaurantes com a mulher. Acho um hábito saudável. É bacana variar de ambiente: jantar um dia, por exemplo, no Paris-Moscou, em Moema, e outro no Paris Tóquio, nos Jardins. E experimentar comida de países diferentes - como a russa e a japonesa - apenas mudando de bairro. Outra vantagem de se jantar fora é que os restaurantes são provavelmente o melhor lugar da cidade para people-watching: para observar pessoas novas, de comportamentos e com roupas diferentes, em um lugar em que todos se sentem à vontade, tranqüilos, em sua própria sala de estar. Os restaurantes são uma das vantagens da civilização.
Não entendo nada de comida. Como porque preciso comer. E, já que preciso comer, tento comer do melhor jeito. Nunca aprendi e não gosto de cozinhar. Sei que pode ser interessante - mas me sinto perdendo tempo quando frito um ovo. Acho que nunca fritei um. Mas voltando: não vou a restaurantes apenas por causa da comida. É importante comer bem, claro, mas o mais divertido, em um restaurante, acho que é o ambiente.
Minha vontade agora é incluir, nesta coluna, uma nota regular apenas para restaurantes. Para comentar sobre a Vila Nova Conceição passando pelo jantar movimentado no Josephine, pelo almoço tranqüilo no Condessa, pelo café da manhã depois da caminhada na Bread & Co., pela cozinha artesanal do A Cozinha. Ou sobre Higienópolis: com o ambiente caseiro do Carlota, o mais reservado no Ici, o tradicional do Jardim di Napoli, o novo Mercearia do Francês. E como explicar a Vilaboim, onde nunca aparece coisa boa? Queria escrever também sobre o Itaim: sobre os restaurantes mais fechados, às vezes escondidos, como Supra e Sabuji, e os mais coorporativos, onde almoço muito, como Pizza Brother's. Queria escrever sobre os vários restaurantes dos Jardins, do Figueira ao Capim Santo, incluindo Le Vin e La Tartine. Fora o Centro, a Bela Vista, a Liberdade - com Casserolle, Acrópolis e Tato. A lista não acaba. Quer dizer: na verdade, começa agora. Acho que essa nota gastronômica - ou, se quiser, sobre o ambiente que envolve a gastronomia -, sinceramente, não vai ser difícil de escrever. E, espero, nem de ler.
Assuntos importantes
Passo às vezes alheio aos "assuntos mais importantes do momento". Mensalão, que já foi, referendo sobre porte de armas, que acabou de ser, e Gripe Aviária, que está sendo. Acho que muita gente supervaloriza a importância desses assuntos gerais, macro, na vida cotidiana. O efeito deles, no nosso dia-a-dia, é normalmente insignificante. Acho um desperdício me aprofundar em assuntos que passam voando e nunca mais reaparecem. Enquanto isso, leio Status Anxiety, de Alain de Botton, e pego alguns insights de como a arte pode controlar essa ansiedade contemporânea por status, que é quase ubíqua - mas que pouca gente assume e, quando assume, busca apenas a dupla psicólogo-psiquiatra para resolver. E esquecem do alívio que um quadro do Christen Kokbe, por exemplo, pode trazer. Insisto nisto: Botton é um dos autores contemporâneos mais interessantes - por causa dos seus assuntos, do seu estilo e das suas referências.
O Coronel e o Lobisomem
O Coronel e o Lobisomem é um filme brasileiro honesto. Sem quase nenhuma apelação, a não ser à alegada tecnologia usada no final - que não combinou com a linha do filme. O ambiente é fantástico e - fora a francesinha, que está fora de contexto - os atores são bons. O filme consegue manter um ritmo divertido do começo ao fim. Nada excepcional, mas, se é o feijão-com-arroz que sabemos fazer, por que todo mundo arrisca outra coisa?
Obrigado, obrigado
E estou devendo dois agradecimentos - a dois leitores que, coincidentemente, gostam dos textos de viagem. O Daniel Aurélio, do Blues for Franz, que disse aqui que se encantou com a descrição de tantas cidades diferentes. Outro é o Roberto Vietri, vulgo "Palha", com quem converso bastante sobre os lugares mais exóticos. Fiquei feliz que o post de sua última viagem para o Leste Europeu, em 1 Outro Diário, tenha sido em minha homenagem. Sinceramente, aos dois, não sei nem o que dizer. A não ser obrigado - e prometer que, nas próximas férias, tento ir o mais longe possível.
Eduardo, existem alguns livrinhos "indisciplinadores de alma" sobre gastronomia. Eu tinha um sentimento parecido com o seu antes de ler as crônicas do José Antônio Pinheiro Machado. Cada livrinho custa dez reais (L&PM) e a mistura que o autor faz de gastronomia, literatura, cinema e cultura em geral nos deixa mais perto de entender esse universo dos restaurantes. Sugiro dois: "Na Mesa Ninguém Envelhece" e "Histórias de Cama e Mesa".
E reafirmo...
Os de viagens, principalmente, Eduardo; mas não só eles: seus textos sobre literatura também são muito bons.
Sobre as viagens, sabe, eu estou cada vez mais convencido de que pelo menos uma vez na vida, por uma fase que seja, as pessoas deveriam guardar na memória certas paisagens, lugares, momentos... Acho que não é nenhum exagero dizer que com isso nos tornamos pessoas melhores. E se um dia, no futuro, eu conseguir quebrar de novo essas muretas da rotina, pode ter certeza de que vou me lembrar de todas as suas dicas.
Abraços
Edu! Um obrigado aí pela lembrança e pelo link do blog, por meio do qual os interessados terão uma prévia do que se pode esperar de um giro de Moscou a Praga, passando pelos Bálticos. Um abraço, Palha