Internet 10 anos - 1995 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Hoje a festa é nossa
>>> A Bienal e a Linguagem Contemporânea
>>> Comum como uma tela perfeita
>>> Entrevista com Cardoso
>>> Ensino Inferior
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Samba da benção
>>> O novo GPT-4o
>>> Um olhar sobre Múcio Teixeira
>>> Entrevista com Guilherme Fiuza
Mais Recentes
>>> Arte E Sociedade No Brasil de 1957 a 1975, Volume 2 de Aracy Amaral; André Toral pela Callis (2010)
>>> Aquele Estranho Colega, o Meu Pai de Moacyr Scliar pela Atual Didáticos (2009)
>>> Incentivando O Amor Pela Leitura de Org. Eugene H. Cramer e Marrietta Castle pela Artmed (2001)
>>> As Dores e as Superações do Dia-a-Dia Reveladas nas Mídias Sociais (Autografado) de Katie Borteze pela Chiado (2017)
>>> Poliedro Livros Português Livros 1 , 2, 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2012)
>>> Drogas Opção de Perdedor de Flavio Gikovate pela Moderna
>>> A Traição De Bourne de Eric Van Lutsbader pela Rocco (2010)
>>> Estudo Sobre Constitucionalismo Contemporâneo de Professor Francisco Pedro Juca pela Lumen Juris
>>> Calunga Tudo pelo Melhor de Luiz Antonio Gasparetto pela Vida e Consciencia (1997)
>>> Poliedro Livros Português Livros 1 , 2, 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2012)
>>> O Feijão e o Sonho de Origenes Lessa pela Aticas
>>> 1984 de George Orwell pela Companhia Das Letras (2017)
>>> Livro O Sermão Da Montanha de Georges Chevrot pela Georges Chevrot (1988)
>>> 1984 de George Orwell pela Companhia Das Letras (2017)
>>> Perto do Coração Selvagem de Clarice Lispector pela Rocco (1998)
>>> Japonês Em Quadrinhos de Marc Bernabe pela Conrad
>>> Tratado das Locações, Ações de Despejo e Outras de Jose da Silva Pacheco pela Revista dos Tribunais (1998)
>>> Poliedro Livros Geografia Livros 1 , 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2018)
>>> Araribá Mais História 9 de Maira Rosa Carnevalle pela Moderna (2018)
>>> Livro Geração De Valor Futuro de Daniel Egger pela Campus (2015)
>>> Introdução a Admistração Financeira de Clovis Luizs Padoveze pela Cengage
>>> O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint Exupéry pela Harper Collins Br (2006)
>>> Poliedro Física Livros 1 , 2, 3 e 4 Ensino Medio de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2014)
>>> Livro Todo Mundo Tem de Edith Derdyk pela Dsp (2012)
>>> Presente para Você de Fernando Vilela pela Leiturinha (2021)
COLUNAS >>> Especial Internet 10 anos

Sexta-feira, 4/11/2005
Internet 10 anos - 1995
Julio Daio Borges
+ de 5300 Acessos

Em 1995, eu estava na Poli. Antes, também, e antes eu já ouvira falar da internet. Da internet, não da WWW. Tem diferença? Tem. Internet é a rede; WWW é a interface. Vou explicar.

Antes de 1995, eu ouvia falar de uma rede em que as pessoas entravam. Era em DOS. Era antes do Windows 95. Você lembra? É bem provável que não. DOS era aquela interface com tela de fundo preto, onde você digitava comandos e onde o computador se reduzia ao Windows Explorer. Precário. Você podia listar diretórios (hoje, pastas), abrir diretórios, criar diretórios, renomear diretórios... e rodar arquivos. Arquivos de software — aplicações e outros quetais.

Mas não vou entrar muito nos primórdios, senão a gente perde o foco.

Meus colegas, quase todos da Computação da Elétrica da Poli — que faziam estágio lá dentro —, exploravam os diretórios da internet. Antes de 1995. E pegavam um monte de coisas no escuro. Eles listavam diretórios (ou pastas), iam entrando em árvores (de diretórios ou pastas), listavam os arquivos, escolhiam alguma coisa pelo nome e "baixavam" (download). Não sabiam para que a coisa servia; não tinham a menor idéia do que baixavam. Simplesmente baixavam e rodavam.

Às vezes encontravam coisas legais. Na época, quando queríamos dividir arquivos uns com os outros, passávamos disquetes e tínhamos de "compactar" (para caber mais). Não havia internet; não havia e-mail — lembra? (Não, você não lembra.) É muito simples: eu tinha um arquivo em Word, o relatório de uma experiência, por exemplo; queria que meu colega olhasse; copiava num disquete e passava. Era uma "internet" manual. Era a internet à manivela da época.

Muitas vezes, não eram apenas arquivos em Word. O próprio Word, por exemplo. Quando saiu a versão 6.0 do Word, da Microsoft — digo, do programa —, foi uma festa. Olhávamos aqueles menus (e aqueles ícones) espantados. (Quem lê tanta notícia?) Quem aperta tanto botão?

Acontece que o Word, o programa, era pesado. Não havia CD; não havia CD-ROM. (Você lembra?) Então a gente usava um negócio que chamava "ARJ". O ARJ era um "compactador", um Winzip da vida — antes do Winzip; antes do Zip (que era o mesmo compactador de hoje, em versão pré-Windows). É possível? É. Imagine um mundo com computador, mas sem Windows 95. Esse era o mundo antes de 1995.

Assim, meus amigos "baixavam" coisas dos diretórios da internet. E para você ter uma idéia de como eram aqueles anos, um dia, um deles chegou todo feliz porque havia baixado uma versão do ARJ para Windows. Que maravilha.

Pra que servia? Você pode se perguntar... Talvez para nada. A internet não era uma coisa pra gente normal; era a "internerd" ainda.

Nesse tempo de diretórios e arquivos, eu não acessava a internet. Eu não fazia estágio na Poli; eu só ouvia falar. A Web, a WWW, a World Wide Web, digo, era uma coisa insípida. Quem navegava pelos diretórios, em DOS, esnobava quem navegava pelas páginas (como nós navegamos agora). O pessoal dos diretórios dizia que a Web era muito lenta pra eles e que eles preferiam entrar em pastas atrás de arquivos...

Em 1994, já estávamos no terceiro ano da faculdade e a turma começava a fazer estágio. Começava a participar daqueles horrendos processos de seleção. Eu fui conseguir um estágio em 1995; o ano fatídico em que a internet comercial no Brasil começou.

Cansado das grandes empresas, e dos longos processos de seleção, de repente vi um anúncio no mural da Poli Elétrica, convidando para um estágio com reconhecimento de voz. Meus amigos que estagiavam na faculdade diziam que era boa lá a vida e que os professores eram mais compreensivos com os horários malucos da própria Poli (coisa que os empregadores nem sempre aceitavam). Então eu segui as diretivas do anúncio e me apresentei num determinado dia, num determinado horário.

Eu tinha uma parca noção do que era "reconhecimento de voz". Eu obviamente sabia que devia ser alguma coisa ligada a "comandos de voz" e talvez o máximo que eu conseguia evocar era o sujeito dirigindo o carro no seriado A Super Máquina (!). O professor, em linhas gerais, explicou o que era o estágio — e eu encerrei a entrevista com uma pergunta sobre aplicações, na vida real, desse tal de reconhecimento de voz. O professor murmurou alguma coisa sobre caixas eletrônicos de banco. Me pareceu interessante...

Dias depois, tocava o telefone da minha casa (celular havia, mas ainda era caro), informando que eu "havia ganho a bolsa", que eu — em bom português — havia sido aceito no estágio. Fiquei contente. E me apresentei na mesma sala de reuniões de novo.

O estágio começou. Apesar do glamour da história do "reconhecimento de voz", era mais uma coisa teórica em torno de "modelos lineares" (e não-lineares) para reconhecimento de voz humana. O que isso significava na prática? Significava que ficávamos programando em C++ (linguagem da qual você provavelmente não deve se lembrar) até encontrar um "modelo" (ou algoritmo) que gerasse (ou reconhecesse) determinadas ondas (ou freqüências) que correspondessem, sei lá, à vogal "A". Mais fácil: montávamos equações que representassem o "A" pronunciado pelo Homo sapiens. Qualquer Homo sapiens. Qualquer "A". E assim vai...

Nem preciso dizer que eu me aborreci logo. O que salvava o estágio era uma sala em que todos entravam e se encontravam. A sala da internet (vamos chamá-la assim, embora eu não me lembre do seu verdadeiro nome, na verdade). Está muito chato este relato?

Eu não estou certo de haver um motivo específico para a "sala da internet" ser tão freqüentada, a não ser pelo fato de que era justamente a sala onde a internet podia ser acessada... Ocorre que todo mundo passava por lá. Estagiários e não-estagiários; funcionários e não-funcionários; professores e não-professores; secretárias e não-secretárias... Havia um ou outro computador; o resto eram workstations ou "estações de trabalho", que rodavam Linux (eu lamento pela especificidade do vocabulário, mas aqui é inevitável...). O Linux de 1995 era grego pra mim; eu me limitava a alguns comandos. Criar pastas, gravar arquivos e navegar. Só.

Não lembro do primeiro site que fui visitar. Havia homepage nessa época? Também não sei mais. A internet, no Brasil, era basicamente universitária (pelo menos em matéria de acesso) e eu me lembro de um site da Unicamp. Mas meu interesse, na época, era música.

Eu estava descobrindo o Frank Sinatra e lembro que achei sua discografia completa na internet. Um achado. Também, uma porção de fotos que comecei a gravar. (Meus colegas mais nerds de estágio coletavam, previsivelmente, fotos de "mulher pelada" — e gravavam CDs para, depois, espalhar). Havia algum mecanismo de busca... Qual? O Yahoo!? Meus interesses musicais ainda se inclinavam para o rock pesado e, enquanto eu fazia minhas pesquisas sobre o Sinatra (ele estava vivo, lembra?), descobria os diários de gravação do Ozzy Osbourne. O Ozzy estava em Paris (muito antes do The Osbournes...) — ou em outro lugar da Europa — e contava, todo dia, no seu site, como havia sido a gravação do dia anterior. Não havia blog — mas era o primeiro blog que eu acessava.

Espalhei entre meus outros amigos a notícia da internet. E as reações, em 1995, eram as mais variadas. Uns pediam pra ver. Eu mostrava. Um amigo, fã dos vampiros da Anne Rice (era a época do Vampiro Lestat), pedia para "fazer uma busca" com a palavra-chave "rice". Caímos em sites de arroz. Plantas geneticamente modificadas... Outro amigo, ou quase, insistia praticamente todo dia pra eu lhe mostrar a WWW. "Quero ver essa porra funcionando", ele confessava, sem meias palavras.

Semanas depois, eu recebi o telefonema de um terceiro, na minha casa, querendo saber como acessar a internet da USP direto de sua casa. Era complicado. Eu sabia dessa história: sabia que — se você tivesse modem (lembra?) — havia um jeito de se conectar com a USP e de "puxar" a internet de lá. O negócio era tão novo que nem havia ainda o vocabulário. "Provedor?", nem pensar. Só em 1996. Mas, aí, já é outra história...


Julio Daio Borges
São Paulo, 4/11/2005

Quem leu este, também leu esse(s):
01. 40 de Julio Daio Borges
02. Mamãe de Julio Daio Borges
03. Para entender os protestos e o momento histórico de Julio Daio Borges
04. Meu encontro com o Millôr de Julio Daio Borges
05. Encontros (e desencontros) com Daniel Piza de Julio Daio Borges


Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2005
01. É Julio mesmo, sem acento - 1/4/2005
02. Melhores Blogs - 20/5/2005
03. O 4 (e os quatro) do Los Hermanos - 30/12/2005
04. Não existe pote de ouro no arco-íris do escritor - 29/7/2005
05. Schopenhauer sobre o ofício de escritor - 9/9/2005


Mais Especial Internet 10 anos
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Fábulas e Adivinhações - Ecologia em Quadrinhas
Sylvio Luiz Panza
Ftd
(1997)



Lanchas de Ataque
Antony Preston
Livro Técnico
(1983)



Poderosa
Sergio Klein
Fundamento



True Heroes Of Sport
Donatella Fitzgerald
Oxford University Press
(2012)



Estrategia Empresarial :conceitos, Processos e Administração
Agricula de Souza Bethlem
Atlas
(2009)



Contos
Fernando Pessoa
Epopeia
(1986)



Empreendedorismo - Transformando Ideias Em Negócios Plt 687
José Dornelas
Campus
(2012)



A Solidaƒo Povoada
Monique Le Moing
Editora Nova Fronteira
(1996)



O Segredo da Longevidade 630
Edison Rodrigues Filho
Melhoramentos
(2014)



Solteirões Convictos
Danielle Steel
Record
(2021)





busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês