Há alguns anos, foi relançada uma coletânea de obras clássicas da literatura universal. Cada livro da coleção custava exatos R$9,90 e tinha como objetivo difundir e incentivar não só a leitura, mas também a literatura - utilizando, como referência, livros de autores consagrados da literatura nacional e estrangeira. Entre os autores dessa coleção estava a escritora inglesa Jane Austen, com a obra Razão e Sensibilidade. À época, por algum motivo, não me interessei nem pelo livro, nem pela autora. E, apesar de ter um grande apreço pela literatura inglesa (Charles Dickens, P.G. Wodehouse, Jonathan Coe), jamais entrei em contato com a literatura de Jane Austen. O meu tempo de despertar aconteceu enquanto lia Desejo de Status, de Alain de Botton.
Na verdade, Botton mencionou a obra de Austen como exemplo para uma de suas teorias justamente quando tratava da forma em que determinados grupos se relacionam, um procurando ter status mais privilegiado que o outro, sempre de acordo com critérios pernósticos, superficiais e prosaicos. Nesse sentido, a literatura da escritora inglesa não poderia ter sido utilizada como melhor exemplo. Em outras palavras, é correto afirmar que, a despeito de não ter sido compreendida em seu tempo, Jane Austen foi quem mais habilmente soube decifrar os sentimentos, os desejos e as ansiedades dos grupos que viviam às voltas com a fogueira das vaidades e da ambição. Tratado de sociologia? Dissertação de Mestrado? Nada disso. Romance inglês, com ironia e sublime elegância.
Antes dos adjetivos, o substantivo. A história de Orgulho e preconceito (Record, 2006, 430 págs.) se passa no século XVIII, na Inglaterra, e trata da trajetória de uma família, a um só tempo, comum e bastante peculiar. Comum porque na residência dos Bennet havia cinco moças que foram criadas com o único propósito de se casar. Peculiar porque essas cinco moças tinham outros atributos além da beleza, dentre os quais cabe destacar a inteligência e a argúcia para enxergar e compreender o caráter para além das palavras e do rígido código de cordialidade que os bons costumes estimavam na época. Cria-se um certo clima de expectativa quando a família Bennet, encabeçada pela matriarca, descobre que dois ricos e saudáveis rapazes (mr. Bingley e mr. Darcy) aparecem na região de Longburn, onde a família Bennet reside. Uma recepção logo é preparada e todas as irmãs, ávidas por um casamento (algumas mais do que outras, é verdade), comparecem. A intriga acontece justamente porque um dos rapazes, mr. Darcy, se mostra por demais orgulhoso para o gosto da família Bennet. E muito embora mr. Bingley caia nas graças dos Bennet, suas irmãs não apreciam tanto o seu interesse na bela Janet Bennet.
Se o plot é aparentemente banal - afinal, relacionamentos sempre são permeados por intrigas, disputas e ciúmes - o que merece destaque no romance de Jane Austen é o fato de a autora conseguir contar essa história sem jamais descer o degrau da leveza. Há um tom delicado em sua narrativa que, se lido de outra forma, pode ser considerado arrogante e elitista. Trata-se, na verdade, de uma leitura equivocada, visto que a escritora propõe uma narração sóbria e bastante detalhada para que o leitor possa entender com argúcia o que cada trecho, cada gesto das personagens possa ser decifrada.
É interessante observar, aliás, como esse viés de leitura em muito se assemelha com a história de Orgulho e Preconceito. Isso porque, assim como uma interpretação do estilo de Jane Austen pode fazer com que alguém pense ser arrogância a simples utilização de um estilo mais refinado, no romance, as personagens também se impressionam com a aparência e com o gênio aparentemente indomável de determinadas personas naquele círculo social. É o que acontece, por exemplo, com mr. Darcy, cujas atitudes fazem com que Elizabeth Bennet crie uma espécie de redoma sempre que tem de se dirigir a ele. Do mesmo modo, o próprio mr. Darcy começa a se sentir atraído pelo comportamento espirituoso e não menos contundente dessa Elizabeth. E o que era rejeição, pouco a pouco, passa a ser atração.
Certamente, alguém dirá que é mais uma prova de que os opostos se atraem. Ou de que ninguém comanda o coração, nem mesmo a razão. Frases que se possuem algum sentido também são eivadas de um embasamento raso e mundano, o que definitivamente é rejeitado e criticado na obra de Jane Austen. Basta ver como a autora, a partir de suas personagens, ironiza a frivolidade e a fraqueza de caráter das pessoas. Nesse ponto, também é correto afirmar que o romance é uma crítica de costumes do seu tempo, uma vez que, pela imitação, chega a satirizar determinados tipos, como o do mr. Collins. Uma pessoa cujo único fim é atingir um status elevado na sociedade, descartando a importância de ter uma opinião mais profunda acerca do mundo que o cerca. Para Collins, o que vale são as aparências e a todo o momento ele quer aparecer como algo que, de fato, não é.
Nesse embate constante entre ver e ser visto, a autora resolve com propriedade a relação existente entre o orgulho e o preconceito. É o que se lê no trecho a seguir: "A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós". Não consigo imaginar explicação tão sucinta ou mais exata.
O relançamento de Orgulho e Preconceito aconteceu, coincidentemente ou não, no mesmo ano em que um filme baseado no romance de Jane Austen ganhou as telas do mundo todo, chegando até mesmo a concorrer a algumas estatuetas do Oscar. Não cabe aqui desmerecer o filme, dizendo que o livro é "certamente melhor do que sua adaptação". Entretanto, não há dúvidas de que a obra da escritora inglesa possui refinamento e que proporciona um raro deleite aos amantes da literatura. Um livro para quem deseja ir além da aparência, dos clichês, sem qualquer preconceito.
Tive a oportunidade de ver o trailler do filme Orgulho e Preconceito em outubro de 2005 e, sinceramente, fiquei "enlouquecida" para assisti-lo, já que conhecia outras obras de Jane Austen, como "Razão e Sentimento/ Sensibilidade" (maravilha!). Sem conhecer a obra literária propriamente dita, apaixonei-me pelo trailler, fui "laçada", contudo tive que esperar alguns meses até a estréia. Um filme lindo que, na minha opinião, não perde em nada para o livro (tanto que comprei-o depois só para relembrar as cenas do filme...). Eu, particularmente, aprecio muito a comunicação não-verbal: sabe aqueles lances de olhar, meneios de cabeça e toda a movimentação que o nosso corpo faz quando estamos nos comunicando com alguém? Isso é bárbaro! E uma obra de Jane Austen faz muita diferença. E é a isto que me refiro quando digo que o filme conseguiu pegar-me pelo "laço". Os diálogos entre Darcy e Elizabeth Bennet são recheados de um movimento respiratório e de um "quê" no olhar que não podem passar desapercebidos!
Tambem gostei do filme Orgulho e Preconceito, embora considere que não tenha ficado à altura do livro, que é genial. Existe uma série inglesa da BBC (1995), a que ainda não assisti, mas que é considerada por muitos como a melhor adaptação do livro.
Já tinha assitido ao filme Orgulho e Preconceito de 1996 e, neste mês, assiti à versão nova. Simplesmente maravilhoso: o Sr. Darcy é mesmo um príncipe, belo e único. Como eu gostaria de encontrar um Sr. Darcy por aí. Ai Ai...
Amei este lindo romance... E quem não amaria? Ele é simplesmente fantástico. Um cenário rico que nos leva a desejar ter vivido naquela época. Atores maravilhosos... Nossa! Como o Mr. Darcy é lindo! É o sonho de consumo de qualquer mulher... Sem contar com o fato de que o filme não foge aos padrões da moral e dos bons costumes, garantindo sua qualidade sem precisar de pornografia.
Já li o livro, assisti ao seriado da BBC e assisti ao filme. Seria inútil dizer como gostei do filme. Jane Austen é única na arte de escrever... O livro consegue nos levar realmente para Longbum; é linda a maneira como ela descreve os cenários, as roupas e as casas... E, no filme, quando Elizabeth esta à beira do penhasco... O prazer que eu sinto em ver essa cena... é indescritível. A sensibildade... Maravilhoso!
Não me lembro de ter visto um filme com uma fotografia tão rica e maravilhosa como a de "Orgulho e Preconceito". O diálogo, o movimento dos atores, as casas, músicas... é uma obra muito especial!
A obra mais linda que já vi e li, amei tanto que tenho o filme e o livro. Um romance que faz nos a imaginar e acreditar em um amor puro e verdadeiro. Lindo o cenário, as vestimentas, as paisagens, os belos palácios e principalmente os personagens.
Estou louca para ler livros dela. Vi um filme sobre ela. "O clube do livro de Jane Austen". É perfeito. Acho que vou começar com "Razão e Sensibilidade". ;*