Tive um dia horrível. Horrível, horrível. Não estou com vontade nem de falar a respeito.
Lembrei de uma música do Trent Reznor chamada "I do not want this", onde um pedaço diz assim:
(...) "maybe I don't have a choice
and maybe that is all I have
and maybe this is a cry for help
I do not want this
I do not want this
I do not want this
I do not want this
don't you tell me how I feel
don't you tell me how I feel
don't you tell me how I feel
you don't know just how I feel
I want to do something that matters" (...)
É, foi um dia infernal, um dia de moedor de carne.
Hoje eu não consegui falar. Eu só queria ter tido a oportunidade de explicar o que é que eu pensava. Só isso. Eu sou uma pessoa cordata, eu sou fácil de convencer. Eu só queria ter tido a oportunidade de me expressar. Só isso.
Achei esta foto interessantíssima no Google, ilustra bem o dia que eu tive:
É de um fotógrafo chamado Brandon Luhring, de um livro que ele fez que se chama Shut up, que significa "cale a boca". O texto que acompanha o livro é bem interessante:
Não é a primeira vez que, com essa mesma pessoa, eu não consigo falar o que eu penso. É a quarta vez. Hoje eu saí de onde eu estava com a clara impressão de que nada do que eu penso faz a menor diferença. Não é importante. Eu não me senti respeitada nem levada a sério.
Vão dizer que eu estou enganada. Como eu preciso de dinheiro, eu vou sorrir e responder: "Então façam como vocês quiserem". Estou na posição desfavorecida. Não tenho o poder de impor nada.
A vida não é fantástica?
Sabem, não é só a boca que fala. Não é só o texto que fala. Atitude fala, liguagem corporal fala, os olhos falam, tudo fala. O texto de alguém pode ser lingüisticamente preciso, formal, impecável e dizer "olha, eu gosto muito de você". Mas se isso é dito aos gritos, por exemplo, ou com um olhar duro e frio, ou com raiva contida, o texto perde todo o significado original, a atitude grita muito mais alto e comunica outra coisa.
Eu odeio ser tratada com violência. Para mim, intransigência é violência. Não me deixar falar é violência. Eu odeio violência. Odeio. Alguém que não permita me expressar é a maior violência à qual podem me submeter. Se isso vier acompanhado de poder econômico, se eu estiver em situação desvantajosa, eu me sinto pior ainda.
Hoje eu estava muda e amarrada. A única coisa que me sobrou para salvar um resquício da minha dignidade como ser humano foi levantar e sair dali. Antes de me permitir sair, fui obrigada a pedir desculpas por ter perdido a compostura numa situação moedor de carne. Me senti humilhada. Fui chorando pela rua.
Eu odeio isso.
Nesse exato momento, duas da manhã e insone, tem duas coisas que eu adoraria que fossem possíveis: se eu pudesse acordar amanhã de manhã em janeiro de 1999, exatamente como as coisas eram em janeiro de 1999 ou se eu pudesse simplesmente ir embora para algum lugar novo amanhã pela manhã, algum lugar onde as coisas funcionassem diferente de como são aqui. Eu simplesmente odeio o que foi o dia de hoje e como as coisas são. Eu odeio ficar amarrada e amordaçada. Eu odeio que não me permitam ser civilizada. Eu odeio quem fala o tempo todo, joga poderes jurídicos na minha cara e não me deixa dizer o que eu estou pensando ou o que é que está me incomodando.
Já fizeram isso comigo mais de uma vez. Não é nada inédito. O fato de não ser novidade, só faz ficar pior.
Como diria Marilyn Manson:
"Everything's been said before
There's nothing left to say anymore
When it's all the same
You can ask for it by name"
Eu tenho um histórico horrível de pessoas que são prepotentes comigo e que não me permitem expressar o que eu estou pensando. Que não querem me deixar falar. Que vêm pra cima de mim com conversas ameaçadoras. Que jogam poderes legais no meu nariz. Estou cansada disso. Moedor de carne.
Mas eu vou calar a minha boca, uma vez que, hoje, o que eu menos consegui mesmo foi falar qualquer coisa. Shut up, Dani. Você não é ninguém mesmo. Não é dona de nada, nem tem poder pra p**** nenhuma.
Okay.
Hoje pela manhã, com um grande e querido amigo ao telefone, eu disse: a maior mentira do século XX e do XXI é que "dinheiro não traz felicidade". Dinheiro compra tudo e manda buscar tudo. Se você tem dinheiro, as pessoas te respeitam e te tratam bem. Se você não tem, nunca vai ter respeito nenhum. Essa regra foi criada há milênios e continua valendo. O resto é hipocrisia, é controle social, é ilusão para manter todo mundo bem enquadrado nas regras do jogo. Todo mundo é igual, mas o dinheiro faz alguns serem mais iguais que os outros.
Eu odeio isso. Eu nunca avaliei ninguém pela conta bancária. Eu detesto estar numa posição onde eu dependo das outras pessoas. Eu odeio estar amarrada. Eu tenho saudades de 1999.
Vou encerrar com uma única frase, cujo autor eu não recordo, mas nunca esqueci:
Se você quer que uma pessoa grite "não" com todas as suas forças é só tentar obrigá-la a sussurrar um "sim" quando ela não quer.
Nota do Editor
Daniela Castilho é designer, diretora de arte e assina o blog MadTeaParty, onde este texto foi originalmente publicado.
Força, Daniela! É terrível se sentir assim, eu sei. Não digo que já passei por isso, pois, não cheguei a perder a compostura, e aí não tive que me desculpar. Mas isso porque deixei de falar muitas coisas que via, e que achava erradas, no lugar onde eu trabalhava. É o que você falou: a necessidade da grana, do emprego. Eu até pensei em chutar o balde antes de sair, mas não iria adiantar nada. E, justiça seja feita, depois que eu saí, as coisas começaram a vir à tona, por elas mesmas. Um dos ditados mais conhecidos por aí, é aquele "A justiça tarda mas não falha", ou algo semelhante. Ou aquele outro da justiça de Deus e da justiça dos homens. Resumindo: quem está errado, vai pagar pelos erros, cedo ou tarde. Eu prefiro acreditar nisso, sempre. Força pra você! E sempre que precisar, desabafe assim, que é bom. Não resolve, mas ajuda.
Dependendo do nosso estado espiritual de humor, expressar-se pode ter um grande valor ou não. No fundo mesmo não tem, porque a vida será o que sempre foi mesmo assim. Porém, para a nossa própria salvação de não cair em dúvidas do porquê de nossa existência como indivíduo "diferente" dos outros, queremos às vezes dar todo o valor a isto. Afastar-se um pouco da nossa vida em primeira pessoa e "dar uma" de observador nos faz também entender que a "brincadeira" continua, e não há motivos para o desapontamento. Não estamos em guerra nem em competição entre nós mesmos. Vamos abrir caminho onde é possivel, e deixar os muros de pedra apenas como ornamentos para serem apreciados de vez em quando e pouco entendidos em sua profundidade. Momentos negativos existirão sempre, para todos, em todos os dias. Quem lidar melhor com eles, de preferência de forma irônica, terá um pouco mais de vida. Vc lidou bem, porque produziu com ele... algumas pessoas conseguem isso. Imagino que vc é muito feliz...!
Daniela, você foi ótima. Escreve e se expressa muito bem, conseguindo comunicar muito bem o que está sentindo. Não se apoquente. Se não deixarem você falar, pelo menos você escreve e se comunica muito bem. Não desista, continue. Você é muito boa. Abraços, Maurão
Situações como a que ocorreu com a autora do artigo acontecem volta-e-meia comigo e acredito que com algumas outras pessoas também devam acontecer. É chato, é desagradável... O problema, do meu ponto de vista, é que isso é quase impossível de se evitar. Um dos únicos jeitos é possuindo títulos, ou dinheiro, ou sei-lá-mais-o-quê, que confira autoridade ao possuidor. Fora nesses casos, só algumas pessoas com raro talento para se relacionar conseguem (e olha que mesmo essas têm de engolir muita coisa desagradável...). Entendo perfeitamente o fato de a autora ter perdido a compostura, o sono, e tudo mais que lhe houve de conseqüência. Parabéns àqueles que conseguem passar incólumes por coisas desse tipo! E vamos expresar nossos descontentamentos pra que, quem sabe, algumas pessoas se enxerguem e percebam que magoam as outras, e que é bem melhor conviver bem com os outros em relações onde a troca e aproveitamento de experiências e opiniões realmente ocorram. TODOS dependemos de ser ouvidos, é inegável. Força!