Flip 2006: um balanço tardio | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
84294 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Cia Truks comemora 35 anos com Serei Sereia?, peça inédita sobre inclusão e acessibilidade
>>> Lançamento do livro Escorreguei, mas não cai! Aprendi, traz 31 cases de comunicação intergeracional
>>> “A Descoberta de Orfeu” viabiliza roteiro para filme sobre Breno Mello
>>> Exposição Negra Arte Sacra celebra 75 Anos de resistência e cultura no Axé Ilê Obá
>>> Com Patricya Travassos e Eduardo Moscovis, “DUETOS, A Comédia de Peter Quilter” volta ao RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
>>> Pedro Doria sobre a pena da cabelereira
>>> William Waack sobre o recuo do STF
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
>>> Suicide Blonde (1997)
>>> Love In An Elevator (1997)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Do outro lado, por Mary del Priore
>>> 13 musas da literatura
>>> Mais Kaizen
>>> Anchieta Rocha
>>> O nome da Roza
>>> Máfia do Dendê
>>> Internet e Classe C
>>> Gramado e a ausência de favoritismo
>>> Mamãe cata-piolho
>>> A arte da ficção de David Lodge
Mais Recentes
>>> Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas pela Ediouro (2004)
>>> Ecologia: Alternativa Para O Futuro de Walter E Dorothy Schwarz pela Paz E Terra (2001)
>>> Universidade Torre Ou Sino? de Luiz Síveres pela Editora Universa (2006)
>>> Aplicabilidade Das Normas Constitucionais de Jose afonso da silva pela Malheiros (2004)
>>> Os Tres Mosqueteiros de Alexandre Dumas pela Larousse Jovem (2005)
>>> Makers 3 - English On The Move students book de Izaura valverde pela Richmond (2020)
>>> Escrever E Ler. Como As Crianças Aprendem E Como O Professor Pode Ensina-las A Escrever E A Ler - Volume 1 de Lluis maruny curto pela Artmed (2000)
>>> Peter Pan de James Barrie pela Ediouro (2002)
>>> Os Alquimistas Judeus - Um Livro de História e Fontes de Raphael Patai pela Perspectiva (2009)
>>> Abuso Do Direito E Ma-fe Processual: Aspectos Doutrinarios de Rui Stoco pela Editora Revista Dos Tribunais (2002)
>>> O Mapa do Tesouro de David J. Merkh pela Hagnos (2009)
>>> Sobrevivendo No Inferno de Racionais pela Companhia Das Letras (2018)
>>> Um Capitão De Quinze Anos de Julio Verne pela Escala Educacional (2010)
>>> Princípios do Processo Civil na Constituição Federal de Nelson Nery Júnior pela Revista dos Tribunais (2000)
>>> Os Embaixadores - Cosacnaify de Henry James pela Cosacnaify (2010)
>>> Diario De Um Banana: Um Romance Em Quadrinhos de Jeff Kinney pela V&r (2008)
>>> Negocio juridico existencia validade e eficacia de Antonio junqueira de azevedo pela Saraiva (2000)
>>> Descubra Seus Pontos Fortes de Marcus Buckingham; Donald O. Clifton pela Sextante (2008)
>>> Teologia De Missões: Termos Originais de Vacilius Lima pela Vacilius Lima Dos Santos (2016)
>>> Phillip Knightley de Espiões e espionagens. História da segunda mais velha profissão do mundo pela Dom Quixote (1990)
>>> Judiciário e Política No Brasil de Rogério Bastos Arantes pela Idesp (1997)
>>> História Social dos Direitos Humanos de José Damião de Lima Trindade pela Peirópolis (2011)
>>> Empreendedorismo e coaching de José Roberto Marques pela Ibc (2014)
>>> Children's Illustrated Dictionary de Dk pela Dk Children (2014)
>>> Mentiras Em Que Garotas Acreditam E A Verdade Que As Liberta de Nancy Leigh Demoss pela Vida Nova (2008)
COLUNAS

Sexta-feira, 1/9/2006
Flip 2006: um balanço tardio
Julio Daio Borges
+ de 7500 Acessos
+ 1 Comentário(s)


A famosa "Ponte da Amizade" da Flip

Eventos literários, em geral, são chatos e previsíveis. Como disse Villa-Matas, troféu "mau humor" da Flip 2005, se um escritor preferisse falar, ele não escolheria escrever. Aqui no Brasil, eventos literários às vezes servem aos escritores apenas para desfilar aquele conhecido rosário de lamentações: contra o governo (antes, era "a favor"); contra a sociedade (iletrada, lógico); contra a crítica (nunca suficientemente inclusiva); contra os editores (ou nem sempre; depende...); contra os livreiros (o "problema da distribuição"); e até contra o público (aliás, que público?).

A Flip é diferente, eu sempre digo, porque, milagrosamente, não tem nada disso: ninguém discutindo "políticas públicas" para elevar o índice de leitura no Brasil; ninguém lançando "movimentos" para salvar o escritor brasileiro da própria indigência; ninguém atacando a imprensa e suas resenhas insípidas (já que, na era do blog, todo mundo pode fazer mídia: "Não gostou? Faça a sua!"); ninguém falando que os editores não dão "chance" (porque, não raro, estão todos lá - para ver e ouvir...); ninguém com muita coragem para enfrentar o público (afinal, os ingressos foram tão difíceis de conseguir...); e ninguém chorando pela falta de reconhecimento da crítica (aliás, que crítica?).

Não que a Flip não tenha defeitos; tem vários. E não que a Flip esteja livre de gente oportunista sem nenhuma ligação com a verdadeira literatura. Como quase tudo em nossa "sociedade de espetáculo", a Flip tem de, anualmente, sobreviver, atrair mídia, basicamente movimentar a cena e pagar suas contas. Então, como quase tudo no Brasil, a Flip se equilibra entre o sério e o clownesco. Chama, portanto, autores seriíssimos (com os dois "is") e, ao mesmo tempo, convoca autênticos animadores de auditório ("o povo quer saber") - porque o brasileiro não é de ferro (nem de livro), tem de rir um pouco de si e da eterna "crise"...

E eu exploro as contradições da Flip desde a primeira edição a que compareci (a de 2004). E, ano a ano, segundo o meu balanço, essas contradições só vêm aumentando... Por isso, a Flip é sempre interessante - as conclusões, sobre o evento, são falhas (todas) e a cobertura insuficiente (para quem foi e leu depois). Neste ano, eu me atirei com unhas e dentes na cobertura - assim as conclusões, agora, ficam um pouco mais "fáceis" (eu não preciso recapitular mesas inteiras, com acontecimentos que já envelheceram e perderam totalmente o interesse).

A primeira e inegável contradição anual é a do público. Como tanta gente (12 mil pessoas, segundo o último censo) se interessa por literatura? Ninguém se interessa por literatura. Todo mundo se interessa por Parati, pelas praias maravilhosas, pelas "ruas sem calçamento", pelos restaurantes chiques, pelas pousadas charmosas, pelos bons shows (em 2006, Yamandú Costa e Marcos Valle), pelas pessoas que lá encontram (ou pelas mulheres que lá encontram), e, eventualmente, por alguma literatura, sim. Por palestras de que possam guardar alguma frase ("Eu não quero ter razão: eu quero é ser feliz!", Ferreira Gullar) e até, quem sabe, por alguns escritores esdrúxulos.


A mítica Tenda dos Autores (do outro lado do rio)

Outra das contradições, que eu (a)notei só nesta edição, é que sempre perguntam aos escritores participantes sobre o imponderável - "quem é, como é, para onde vai" - e como eles ficam, logicamente, sem resposta, saem, de improviso, as melhores coisas (e, às vezes, as piores também). Como quando perguntaram ao Jonathan Safran Foer se ele sentia "saudades" de seus personagens; ele respondeu que os personagens, em seus romances, são meros veículos para suas idéias (dele, Jonathan) e que "sentir saudades deles" seria como sentir saudades daquele microfone depois da palestra...

Uma terceira contradição - esta talvez remonte à própria organização (opa, rimou) - é a mistura explosiva entre literatura e política. No ano passado, explodiu com o Arnaldo Jabor que, à época, não se conformava com os dólares na cueca daquele sujeito... E que terminou vaiado pelos intelectuais da USP (os do "silêncio"), que foram prestigiar, em 2005, o Roberto Schwarz. Neste ano, explodiu na mesa Hitchens-Gabeira, em que um escritor que não acredita, literalmente, em Deus se revelou um utopista apaixonado, e em que um ex-terrorista que seqüestrou e arriscou freqüentemente a própria pele se revelou o mais cético e lúcido da discussão. Jonathan Safran Foer definiu, mais uma vez, essa contradição da Festa: era simplesmente uma pena que todo mundo parasse para discutir literatura e, no final das contas, não conseguisse escapar das guerras, do noticiário, da CNN, da política enfim. Eu entendo o que ele quis dizer, mas também entendo - conforme a organização da Flip; e conforme o Diogo Mainardi, muito provavelmente - que literatura não sobrevive mais sem polêmica.

Uma próxima contradição, por aproximação (opa, rimou de novo), envolve, naturalmente, a mídia. É histórico já: os jornalistas, os que escrevem principalmente, se sentem preteridos (e alguns até desrespeitados) na Flip. A primeira reação é a seguinte: "Pra que tudo isso? Grande m... Eu também escrevo!". É mais evidente nos marinheiros de primeira viagem. Em 2004, vi um editor de cultura e um bom blogueiro, no final, fazendo caretas. E agora, em 2006, ouvi lamúrias de outro homem de cultura e li, na volta, as reclamações de outro bom blogueiro. Eu entendo perfeitamente porque também já me revoltei (e reclamei). Eu, brasileiro, confesso "minha culpa, meu pecado": ninguém agüenta assistir, por muito tempo, a palestra de um colega de pena - essa é que é a verdade -, então procura defeitos no evento inteiro. "A Flip é isso, a Flip é aquilo... A Flip é injusta (na seleção), a Flip não dá condições de trabalho (ao profissional do jornalismo)..." Depois de três Flips, eu posso garantir: o povo da Flip começa a te respeitar, você fica amigo da organização (que é simpaticíssima, depois que você ultrapassa os leões-de-chácara) - em resumo, a revolta passa e você se integra.

A última contradição é, justamente, fruto dessa confusão (proposital, acredito) entre "ator" e "espectador". O André Laurentino ilustrou bem com seu exemplo: participou da oficina de textos da Flip 2004; caiu nas graças de um editor no mesmo ano; teve um trecho de seu romance (na época, no prelo) analisado na oficina de 2005; e, em 2006, estava numa mesa, como convidado, discutindo com outros dois autores. "Acredite, é possível" - ele parecia exalar por todos os poros... Particularmente, acho essa mensagem um tanto quanto perigosa. Literatura: todo mundo pode? Eu penso que não. Subliminarmente, os idealizadores da Flip, e os seus apoiadores do mercado editorial, parecem acreditar que quanto mais se vender a idéia da literatura como uma coisa normal, limpa e até perfumada - para "pessoas como nós" ("gente do nosso nível"), mais aspirantes vão freqüentar a Festa, mais livros vão se vender, mais os verdadeiros escritores sairão fortalecidos do processo.

É apenas questão de tempo até que a tecnologia para a produção do livro esteja barateada ao extremo, e democratizada, como o foram, similarmente, a tecnologia para a publicação na imprensa (não a impressa; em internet), a para produzir (e distribuir) música ou para, em alguns instantes, realizar cinema (opa, já está acontecendo...). Pessoalmente, eu achava que o mercado editorial iria passar incólume - como está, por enquanto, passando - ao advento da World Wide Web. Mas não vai (até para o "problema da distribuição" os revolucionários encontrarão uma saída). Nesse contexto, a dessacralização do ato de escrever, durante a Flip, só está fornecendo munição para o "faça você mesmo" (do it yourself), como muitas edições de fundo de quintal - para as quais ninguém encontrou a fórmula ainda (Livros do Mal, Candide, ...?), mas, no futuro, vai encontrar. Como eu disse, é apenas questão de tempo. Nesse cenário, os editores da Flip, ao dizer nas entrelinhas que "qualquer um pode ser escritor", estão comprando (como a burguesia) a corda para se enforcar... Ou não. De brinde, esta derradeira contradição!


A Carol e eu, highlanders da Flip

Para ir além
Leia as minhas anotações, a quente, produzidas durante a Flip 2006.

Nota do Editor
Todas as fotos são de autoria de Julio Daio Borges e Ana Carolina Albuquerque (exceto pela última, de autoria de um freqüentador simpático da Flip 2006).


Julio Daio Borges
São Paulo, 1/9/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A Casa das Aranhas, de Márcia Barbieri de Jardel Dias Cavalcanti
02. Mazelas do coronelismo de Diogo Salles
03. Ter ou não ter de Marta Barcellos
04. Queridos amigos de Luiz Rebinski Junior
05. Leituras, leitores e livros – Final de Ana Elisa Ribeiro


Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2006
01. Novos Melhores Blogs - 17/3/2006
02. Por que os blogs de jornalistas não funcionam - 22/9/2006
03. O Gmail (e o E-mail) - 3/3/2006
04. Desconstruindo o Russo - 21/7/2006
05. O náufrago, de Thomas Bernhard - 4/8/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/9/2006
17h52min
A literatura talvez seja capaz de resistir à vulgarização como não o fizeram a música popular e as chamadas artes plásticas (pintura). O cinema provavelmente caminha nessa direção; tudo, na verdade, está passando pelo processo que se resume na idéia: qualquer um pode fazer isso. Ou: a arte está em todo mundo. Essa idéia tem um fundo de verdade, mas que não passa disso: uma rapa de panela. Em literatura existem outros fatores não solúveis na massificação geral. Um deles é o ato de pensar, não democrático em si. Outro fator é que literatura é refratária à adoção de técnicas visando produzi-la. As chamadas "oficinas de texto" (ou algo assim) beiram o ridículo. Outro fator é que literatura é um sacerdócio exercido em regime de clausura, avesso aos holofotes em geral. Outro fator é que escritores escrevem, imunes a qualquer notícia, mesmo que esta seja a notícia da "morte da literatura". E essa notícia tem se avolumado ultimamente, mas passará como uma onda.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Couro De Piolho - Coleção Contos De Encantamento
Cascudo
Global



Discursos, Identidades E Letramentos: Abordagens De Analise De Discurso Critica
Maria Aparecida Resende Ottoni
Cortez
(2014)



Cozinha e Afeto - Cláudia
Abril
Abril
(2017)



Das Parfum
Patrick Suskind
Diogenes
(1994)



Gestão Ambiental. Responsabilidade Social E Sustentabilidade
Reinaldo Dias
Atlas
(2011)



Personagens do Espiritismo
Antonio de Souza Lucena; Paulo Alves Godoy
Feesp
(1997)



Um Roqueiro no Além
Nelson Moraes; Lilio
Speed Art
(1998)



Economia Informal e Viabilidade Econômica Foto Original
Claudia Correia e Outros Organizadores
Liber
(1998)



Planejando para o Futuro o Modelo Pert/cpm Aplicado a Projetos
Zigmundo Salomão Cukierman
Reichmann &affonso
(2000)



Yolanda
Antonio Bivar
A Girafa
(2004)





busca | avançada
84294 visitas/dia
2,5 milhões/mês