Nunca imaginei que o estereótipo pudesse corresponder tão bem à realidade. A TV aberta da Grã-Bretanha é tudo o que me diziam antes de eu sair do Brasil e vai um pouco além, sendo ainda mais britânica. O que você imagina que essas velhinhas tomadoras de chá vêem na TV durante o dia? Vamos ver? Eu vou fazer o seguinte - agora são 15h30 da tarde da terça-feira, dia 6 de fevereiro. Vou ligar a TV e te contar o que está rolando, OK?
OK. A TV aberta aqui em Londres tem cinco canais: BBC 1, BBC 2, ITV, Channel 4 e Channel 5. A BBC 1 está passando sua programação infantil com os Tweenies (uns bonecos falantes um pouquinho menos ridículos do que os Teletubbies, também interpretados por atores vestindo as fantasias dos personagens); na BBC 2, há três dias, 60% da programação diária é dedicada a um chatíssimo campeonato de sinuca (ainda neste ano a BBC 2 também passou na íntegra e ao vivo o campeonato mundial de dardos, outro esporte de pub que os ingleses adoram ver na TV, simplesmente porque esses são os poucos esportes em que eles ganham. Mais ou menos como nós e o futebol de praia). Na ITV, programação infantil. No Channel 4, mais britânico impossível: um sensacional programa sobre os jardins de um casarão vitoriano no interior da Inglaterra. Por fim, o Channel 5 está passando um enlatado americano.
Acho que este horário não é muito representativo, porque conta com apenas dois dos cinco tipos de programas mais típicos da TV daqui. Um é o programa de esportes britânicos, outro é o programa sobre jardins. Falta o programa jornalístico para informar à Rainha nostálgica as últimas notícias sobre as ex-colônias britânicas; falta o documentário e falta, é claro, o gameshow (especialmente o Who Wants to Be a Millionaire, uma coqueluche nacional, exportado para o Brasil com o nome de Show do Milhão.)
Todavia, um furacão passou por aqui no ano passado, um furacão surgido na Holanda, trazido para cá e para os Estados Unidos e posteriormente para o Brasil: a TV de Realidade. De fato, uma coisa fantástica para nós, urbanóides voyeuristas. Survivor, nos EUA, Big Brother, aqui e no resto da Europa, No Limite, no Brasil - todos trouxeram uma nova visão aos telespectadores, uma brisa de ar puro a dissipar um pouco os gases que emanam da decomposição de fórmulas batidas há décadas.
Agora, uma outra novidade está tendo um grande sucesso de audiência aqui na Grã-Bretanha. Transmitido pela ITV, Popstars é um prolongamento natural da TV de Realidade e do documentário. A idéia, importada da Austrália, é simples: reunir centenas de adolescentes que sonham em se tornar popstars e realizar um concurso com eles para a criação de uma nova banda de pop, daquelas de jovenzinhos lindos dançando e dublando playback. Dos três mil inscritos a princípio, apenas sobrariam cinco, com o passaporte carimbado para o sucesso. Durante três semanas, a ITV mostrou cada passo, cada temor, cada risada dos principais participantes à medida que eles iam se esgoelando para cumprir todas as tarefas impostas na seleção. O sujeito encarregado de escolher os vencedores foi separando os melhores, dia a dia - os melhores nas provas de canto, de dança, os melhores relações públicas, os mais belos - e aos outros só restava pegar seus chapéus e dar o fora. O segredo do sucesso é o seguinte: a cada programa, aumenta a intimidade do telespectador com os concorrentes, e esse carinho é substancial nos últimos programas. Quando terminou a seleção e três moças e dois rapazes foram escolhidos, as pessoas que os acompanharam nascer como grupo já começaram a cobiçar o futuro disco. Comprar o produto dos "popstars" seria, então, uma forma de colaborar, interagir, para que eles continuem tendo essa trajetória de sucesso. Todos se sentem cúmplices e responsáveis pelos bebezinhos do show businness. Bebezinhos que já começaram faturando - cada um recebeu cerca de R$ 300 mil só por ter vencido o programa, que continua a ser transmitido. Agora, os telespectadores acompanham a evolução dos vencedores.
Eu pude ver os cinco escolhidos e garanto - eles cantam melhor que a maioria das Spice Girls e dançam tão bem quanto os garotos do N'Sync. No entanto, é claro que é tudo o mesmo lixo cultural. Foi uma linda sacada filmar o processo de criação do grupo e assumir que é uma união artificial, em vez de tentar fingir, perante à mídia e os fãs que "o grupo se formou quando eu encontrei esses caras na escola e a gente descobriu que gostava do mesmo som". Não, não, vamos deixar de babaquice, você não concorda? O negócio é fazer dinheiro, mesmo, então que seja feita a seleção artificial dos que mais têm chances...
O grupo ainda não tem nome, mas tudo leva a crer que vai se chamar Inner Spin. O primeiro single já está sendo gravado - e deve ser lançado pela gravadora Polydor, em março. Quanto a vocês, meus amigos do Brasil, não se preocupem. Vocês vão ter um programa parecido em breve na TV Globo, mas para formar um grupo de axé music ou pagode, e o grupo vitorioso vai fazer seu debut no Domingão do Faustão. De quebra, aposto que esse mesmo grupo vai participar do próximo Rock in Rio, junto com as jovens estrelas ascendentes do programa Popstars aqui da Grã-Bretanha. Duvida?
Li seu texto. Acho que você tem razão em algumas partes.
Mas todo "Popstar" é algo um pouco que artificial...Mesmo uma Madonna , um Michael Jackson...que são considerados Popstars...são um pouco plastificados, andam conforme o mercado, a mídia os fazem, mudam de estilo para dançar conforme a música...É só comparar as músicas da Madonna da década de 80 e agora.
Quanto a formar um grupo c/ 5 jovens que nem se conhecem...não vejo problema nisso...desde que fique constatado de que os 5 têm talento...Vc não sabe se aqueles 5 eram pra se encontrar nesta vida desta forma...Além do mais, o público estará vendo...e o público não é burro. As rádios, tvs que "emburrecem"
as pessoas, tocando apenas aquilo que está pago pela gravadora.
O SBT estará fazendo o Popstars a partir de Abril.
Eu fui uma das selecionadas p/ a primeira etapa...e estou transbordando de alegria. Talvez você não tenha conciência do quanto isso é importante para quem tem este sonho há anos.
Pra mim está sendo, pra mim é.
Cada um tem sua opinião. Respeito a sua!
Abraço
Carol