Algumas leituras marcantes de 2006 | Luis Eduardo Matta | Digestivo Cultural

busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Hoje a festa é nossa
>>> A Bienal e a Linguagem Contemporânea
>>> Comum como uma tela perfeita
>>> Entrevista com Cardoso
>>> Ensino Inferior
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Samba da benção
>>> O novo GPT-4o
>>> Um olhar sobre Múcio Teixeira
>>> Entrevista com Guilherme Fiuza
Mais Recentes
>>> Arte E Sociedade No Brasil de 1957 a 1975, Volume 2 de Aracy Amaral; André Toral pela Callis (2010)
>>> Aquele Estranho Colega, o Meu Pai de Moacyr Scliar pela Atual Didáticos (2009)
>>> Incentivando O Amor Pela Leitura de Org. Eugene H. Cramer e Marrietta Castle pela Artmed (2001)
>>> As Dores e as Superações do Dia-a-Dia Reveladas nas Mídias Sociais (Autografado) de Katie Borteze pela Chiado (2017)
>>> Poliedro Livros Português Livros 1 , 2, 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2012)
>>> Drogas Opção de Perdedor de Flavio Gikovate pela Moderna
>>> A Traição De Bourne de Eric Van Lutsbader pela Rocco (2010)
>>> Estudo Sobre Constitucionalismo Contemporâneo de Professor Francisco Pedro Juca pela Lumen Juris
>>> Calunga Tudo pelo Melhor de Luiz Antonio Gasparetto pela Vida e Consciencia (1997)
>>> Poliedro Livros Português Livros 1 , 2, 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2012)
>>> O Feijão e o Sonho de Origenes Lessa pela Aticas
>>> 1984 de George Orwell pela Companhia Das Letras (2017)
>>> Livro O Sermão Da Montanha de Georges Chevrot pela Georges Chevrot (1988)
>>> 1984 de George Orwell pela Companhia Das Letras (2017)
>>> Perto do Coração Selvagem de Clarice Lispector pela Rocco (1998)
>>> Japonês Em Quadrinhos de Marc Bernabe pela Conrad
>>> Tratado das Locações, Ações de Despejo e Outras de Jose da Silva Pacheco pela Revista dos Tribunais (1998)
>>> Poliedro Livros Geografia Livros 1 , 3 e 4 de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2018)
>>> Araribá Mais História 9 de Maira Rosa Carnevalle pela Moderna (2018)
>>> Livro Geração De Valor Futuro de Daniel Egger pela Campus (2015)
>>> Introdução a Admistração Financeira de Clovis Luizs Padoveze pela Cengage
>>> O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint Exupéry pela Harper Collins Br (2006)
>>> Poliedro Física Livros 1 , 2, 3 e 4 Ensino Medio de Sistema de Ensino Poliedro pela Poliedro (2014)
>>> Livro Todo Mundo Tem de Edith Derdyk pela Dsp (2012)
>>> Presente para Você de Fernando Vilela pela Leiturinha (2021)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2006

Terça-feira, 12/12/2006
Algumas leituras marcantes de 2006
Luis Eduardo Matta
+ de 9600 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Há anos que os livros são parte indissociável do meu dia-a-dia. Graças a eles, vivo várias vidas e tenho o privilégio de fazer viagens maravilhosas sem sair do lugar. Pode parecer um lugar-comum, mas saibam os meus caríssimos leitores que é nos lugares-comuns que, muitas vezes, residem as grandes verdades. Não devemos, portanto, desvalorizar os lugares-comuns. Pensem nisso.

O propósito desse artigo é partilhar um pouco das minhas expedições pela literatura ao longo desse último ano. 2006 foi um ano pródigo e extremamente rico em leituras. Mais até do que os anteriores pois, em 2006, me distanciei ainda mais da televisão. É claro que não a abandonei totalmente. Volta e meia assisto a algum programa, mas a televisão tornou-se um elemento raro no meu dia-a-dia. Posso afirmar, sem medo de errar que, caso as emissoras dependessem de mim para sobreviver, estariam todas fechadas. Hoje, por mais absurdo que possa parecer, ligo a televisão para ouvir rádio. É embalado pelas estações de jazz, música clássica, música eletrônica e, principalmente, new age que o meu serviço de TV por assinatura oferece, que eu passo as minhas noites, mergulhado nos livros, nesse que é o melhor meio de entretenimento já inventado pelo homem: a leitura de literatura. Quem nunca leu por paixão e fez disso um hábito, não sabe o que está perdendo.

Leio uma média de quatro a cinco livros por mês, todos os dias. Com base nessa conta, posso afirmar que, em 2006, li entre quarenta e oito e sessenta livros. Praticamente todos, à exceção de um ou dois, foram de literatura. Nenhum propriamente ruim. Havia uns poucos livros medianos, mas a maioria era excelente. Livros extraordinários, que preencheram os meus dias e noites de uma maneira excepcional. Só quem lê regularmente e com prazer é capaz de compreender isso. Não é uma sensação que possa ser compartilhada numa conversa, ela precisa ser vivenciada individualmente. Nunca haverá uma atividade tão intensa e tão envolvente quanto a leitura apaixonada de um bom livro. Nem as delícias da boa mesa, que eu prezo tanto. Por isso tenho a convicção de que a literatura nunca desaparecerá, pela simples razão de que ela é insubstituível.

Dessas cerca de cinco dezenas de livros que li, destaco sete que me arrebataram particularmente e, cujas impressões, faço questão de partilhar com os leitores deste artigo. São livros que recomendo vigorosamente, cada qual no seu gênero, cada qual no seu estilo, cada qual com suas peculiaridades e sua voz própria, mas todos maravilhosos, resultado da mente fértil de autores sensíveis e talentosíssimos, que merecem toda a minha gratidão, aplauso e admiração pelos momentos inesquecíveis que me proporcionaram. Notem que a lista abaixo não foi organizada por ordem de importância. Gostei de todos esses sete livros da mesma maneira, portanto leiam-na como se todos os livros estivessem relacionados no mesmo lugar de destaque, no alto de um pódio imaginário.

* Zorobabel: Reconstruindo o Templo, de Zé Rodrix (Record, 2005, 642 págs.) - Na minha opinião, Zé Rodrix é um dos mais importantes nomes do romance brasileiro contemporâneo e juro que não consigo compreender como a mídia ainda não reconheceu isso ou, pelo menos, não da maneira como este extraordinário escritor merece. Zé Rodrix, nome artístico de José Rodrigues Trindade, é uma das figuras mais versáteis da cultura brasileira contemporânea. Maestro, compositor, cantor, arranjador, publicitário, ator, professor, escritor e dono de uma inteligência prodigiosa e um enorme carisma, Zé Rodrix demonstra em Zorobabel: Reconstruindo o Templo, como a criatividade, aliada a uma maneira clara e certeira de contar uma história, pode produzir uma obra literária de vulto e, ao mesmo tempo, de grande apelo junto aos leitores. Zorobabel: Reconstruindo o Templo, é o segundo volume da Trilogia do Templo, que teve início com o igualmente extraordinário Johaben: Diário de um Construtor do Templo, lançado em 1999 e deverá ser fechada com chave de ouro, em 2007, com Esquin de Floyrac: O Fim do Templo. O romance mistura realidade e ficção para reviver um período conturbado da Antiguidade, que começa no auge do Império Babilônico, época em que as tropas de Nebbuchadrena'zzar (Nabucodonosor) invadiram Jerusalém e destruíram o bíblico Templo de Salomão, provocando a primeira diáspora judaica e culmina com a queda da Babilônia em poder dos persas comandados por Cyro, o Grande. O protagonista é Zorobabel, um jovem judeu que cresce como escravo na Babilônia e, depois da libertação de Jerusalém pelos persas, torna-se governador da Judéia, reedificando o Templo. Trata-se de uma saga épica e fascinante sobre os primórdios da Maçonaria que, assim como o primeiro volume da trilogia, só encontra paralelo na literatura brasileira, no que Nélida Piñon realizou com o seu maravilhoso Vozes do Deserto. O livro tem mais de seiscentas páginas que são lidas com voracidade em uma semana, se tanto. Um dos grandes romances brasileiros publicados no século XXI, que irá fascinar todos aqueles que adoram um livro repleto de aventura, capaz de nos transportar até um passado, cuja magia, permeia o nosso imaginário há séculos.

* Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa (Alfaguara, 2006, 304 págs.) - Que me perdoem os fãs-clubes de Gabriel García Márquez, Isabel Allende ou Carlos Fuentes - de cujas literaturas, aliás, sou leitor e admirador incondicional - mas, na minha humilde opinião, o melhor escritor hispano-americano vivo é Mario Vargas Llosa. A prosa de Vargas Llosa tem uma característica que salta aos olhos e que me agrada sobremaneira: ele é capaz de contar muito bem uma história, valendo-se de uma linguagem refinada e bastante sofisticada, mas de uma maneira surpreendentemente clara, sem nenhum artifício estilístico. Todos os seus romances, pelo menos os que tive o privilégio de ler, são excepcionais e esse Travessuras da Menina Má não foge à regra. O livro conta a história do peruano Ricardo Somocurcio, que na Lima dos anos cinqüenta, em plena adolescência, conhece e se apaixona pela jovem e fascinante Lily - a tal menina má do título - uma "peruanita" que se faz passar por chilena, mas que é logo desmascarada e desaparece. Essa paixão, algo destrutiva, algo poética, se prolongará por décadas de encontros e desencontros, onde Ricardo e a "menina má", que muda de nome e de casamento como quem muda de roupa, viverão encontros e desencontros nas cidades mais diferentes, desde a Paris revolucionária dos anos sessenta, passando pela Londres transgressora dos hippies e dos primórdios da Aids dos anos setenta, até o submundo de uma Tóquio instigante, de mafiosos pervertidos e uma vida noturna repleta de surpresas e mistérios. O desafortunado Ricardo, que vê sua auto-estima e sua própria saúde física serem esmigalhadas pelo poder que a paixão pela menina má exerce sobre ele, é uma metáfora bastante representativa dos descaminhos para os quais o amor desgovernado pode nos levar.

* O Lugar de uma Mulher, de Barbara Delinsky (Bertrand Brasil, 1997, 402 págs.) - Apaixonei-me definitivamente pela literatura dessa notável escritora norte-americana de romances sentimentais depois de ler essa história emocionante sobre os conflitos de uma mulher independente e emancipada, às voltas com um ardil armado pelo marido para lhe tomar os filhos e arruinar sua vida. A protagonista, Claire Raphael, é uma bem-sucedida empresária, esposa fiel e mãe dedicada que precisa lutar na justiça para reaver a guarda dos dois filhos pequenos. Para isso tem de enfrentar um judiciário preconceituoso, lento e tendencioso e lidar com a falta de caráter do agora ex-marido, cujo objetivo maior é tirar de Claire uma boa soma em dinheiro e, dessa forma, mitigar sua própria baixa auto-estima, conseqüência de seus fracassos profissionais conjugados com a sua mania de grandeza. No meio desse turbilhão de situações que vira a sua vida de pernas para o ar, Claire redescobre o amor na pessoa de seu sócio e melhor amigo. O livro é espetacular. A cena em que Claire se despede dos filhos na porta de casa é comovente e nos leva às lágrimas. Um romance para se ler num fim de semana prolongado.

* Restou o Cão e outros contos, de Livia Garcia-Roza (Companhia das Letras, 2005, 112 págs.) - Li alguns livros de contos em 2006, todos excelentes, mas se houve um que sobressaísse, este foi, com toda a certeza, Restou o Cão e outros contos, de Livia Garcia-Roza, indubitavelmente uma das grandes escritoras brasileiras em atividade. Psicanalista, Livia parece transportar para as suas histórias todo o amplo caleidoscópio de emoções e sentimentos que povoam a intimidade e o imaginário do ser humano nos dias atuais, notadamente da classe média brasileira. E, com isso, estabelece uma grande cumplicidade com um leitor que, muitas vezes, compartilha dos mesmos conflitos e sensações das suas muito bem construídas personagens. Mestra nos diálogos (como bem salientou Julio Daio Borges, ano passado, em seu "Digestivo nº 218") e dona de um humor sutil, porém, pungente, que se insinua das entrelinhas e nos assalta de repente como um vendaval, Livia vem construindo uma sólida carreira e seus livros são a prova de seu enorme talento e sensibilidade. Em boa parte dos contos de Restou o Cão, o universo infantil predomina e é, talvez, o maior entre todos os atrativos de um livro absolutamente sensacional. A comicidade presente em contos como o interessantíssimo "O Carneirinho" contrasta com a atmosfera perturbadora de "Jason" ou de "Carta para mamãe", onde uma menina escreve uma carta para a mãe internada num hospital - embora até neste haja pitadas de humor, sobretudo quando a narradora, subitamente, decide contar que decorou a bula de um remédio de tanto tempo que ficou escondida num banheiro. O elemento surpresa é uma constante em todos os contos e os pontos de vista, de tão múltiplos, tornam o livro um grande e rico mosaico de vozes distintas e incrivelmente reais. Da autora, eu já havia lido os ótimos Cine Odeon e Meus Queridos Estranhos e, neste momento, estou mergulhado no seu novo trabalho, o recém-lançado romance Meu Marido, que narra os conflitos e contradições de um casal, cuja relação vai, aos poucos, sendo minada pelas pequenezas de um cotidiano louco. Uma leitura, aliás, saborosíssima.

* Um Corpo para o Crime, de Val McDermid (Bertrand Brasil, 2006, 504 págs.) - Um romance policial perturbador e simplesmente brilhante. A história gravita em torno de Scardale, um vilarejo isolado e misterioso do interior da Inglaterra, onde, às vésperas do Natal de 1963, uma jovem de treze anos, Alison Carter, sai para passear com sua cadela e desaparece. Tudo indica que ela foi seqüestrada por um maníaco, violentada e morta. A trama que se desenrola a partir daí transpira tensão por todas as páginas. O suspense psicológico é constante e presente em cada uma das personagens. O ambiente, sombrio e pesado, chega a ser angustiante e, em dados instantes, beira o insuportável. Trata-se, inegavelmente, de uma obra muito bem realizada, mas cuja leitura não é das mais leves, embora não contenha uma única cena mais forte. A autora escreve com elegância e, em nenhum momento, cai na tentação da apelação gratuita. O único problema do livro - se há um - é o excesso de personagens policiais, algo muito comum, aliás, na literatura policial contemporânea. No afã de retratar um distrito policial com fidelidade, os autores acabam criando personagens em excesso e muito parecidos entre si, que gravitam em torno do detetive protagonista, o que pode confundir o leitor em alguns momentos. Nada, no entanto, que comprometa a leitura.

* Shosha, de Isaac Bashevis Singer (Francis, 2005, 300 págs.) - É imperdoável que, somente neste ano, eu tenha descoberto a prosa impressionante de Isaac Bashevis Singer, prêmio Nobel de literatura de 1978. Como pude viver mais de três décadas sem conhecê-lo? Considerado o maior escritor em língua iídiche do século XX, Singer é um exímio narrador da vida e da cultura judaicas na Polônia antes do Holocausto. Em Shosha, ele reconstrói esse universo, retratando a Varsóvia do início dos anos trinta, por meio da história de amor entre o jovem escritor Aaron Greidinger, filho de um rabino hassídico (seguidor de um movimento do judaísmo surgido na primeira metade do século XVIII, inspirado na Cabala), e uma amiga de infância, a tímida Shosha. O livro tem fortes componentes autobiográficos pois, assim como o seu protagonista, Isaac Bashevis Singer era escritor, escrevia em iídiche, era filho de um rabino hassídico e viveu na rua Krochmalna, em Varsóvia, cenário primordial da história. Trata-se de uma obra profunda e rica, que oferece inúmeras possibilidades de interpretação. Alguns leitores poderão identificar na história de amor entre Shosha e Aaron uma metáfora da sobrevivência de valores comuns a toda a humanidade frente a uma sociedade que caminha para o aniquilamento. Outros, por sua vez, talvez a encarem como uma narrativa que se vale de componentes da literatura fantástica para se debruçar sobre uma personagem (Shosha) que não cresce, tanto psíquica quanto fisicamente, numa espécie de analogia com a sociedade da qual ela faz parte, no limiar da Segunda Grande Guerra. O leitor que não se importar com o excesso de referências iídiches - pouco familiares à sociedade brasileira - terão, diante de si, uma grande obra. Em 2007, darei prosseguimento à leitura da obra de Singer e mergulharei nos seus contos que, segundo me recomendaram, são ainda melhores do que suas narrativas longas.

* O Clube Dante, de Matthew Pearl (Francis, 2005, 408 págs.) - Thriller ambientado na Boston da segunda metade do século XIX, O Clube Dante é dos raros trabalhos literários com os quais tive contato recentemente que conseguem aliar uma vibrante trama de mistério com uma prosa de grande erudição. Nesse ponto o livro se assemelha menos a O Código Da Vinci (com o qual ele foi injustamente comparado, a meu ver) e mais com uma obra como O Nome da Rosa. A trama de O Clube Dante, narra uma sucessão de crimes bizarros em Boston, inspirados em passagens do Inferno de A Divina Comédia, na mesma época em que um grupo de intelectuais (que compõem o Clube Dante) está finalizando a primeira tradução americana da obra-prima de Dante Alighieri. Com uma narrativa muito bem elaborada esse thriller prende incrivelmente a atenção e seu único defeito, a meu ver, é similar ao que acomete Um Corpo para o Crime, citado mais acima: há um excesso de personagens muito parecidos, que falam e se comportam de maneiras muito semelhantes - no caso, todos os membros do Clube Dante -, e um leitor mais impaciente poderá ficar enfastiado. Do mesmo modo, é preciso avançar nas primeiras sessenta ou setenta páginas, até o livro, efetivamente, começar a empolgar. Os que superarem essas barreiras serão seqüestrados pela narrativa de Pearl e conduzidos por um labirinto de suspense perturbador. Confesso que não entendo como esse livro, que foi best-seller nos Estados Unidos e na Espanha, não figurou em nenhuma lista de mais vendidos no Brasil.


Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 12/12/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Davi, de Michelangelo: o corpo como Ideia de Jardel Dias Cavalcanti
02. O elogio do Silêncio ou duas ou mais antipolêmicas de Paulo Polzonoff Jr
03. Conta-gotas de Adriana Baggio


Mais Luis Eduardo Matta
Mais Acessadas de Luis Eduardo Matta em 2006
01. Sim, é possível ser feliz sozinho - 19/9/2006
02. A favor do voto obrigatório - 24/10/2006
03. Literatura de entretenimento e leitura no Brasil - 21/11/2006
04. As novas estantes virtuais - 14/2/2006
05. Reflexões para um mundo em crise - 16/5/2006


Mais Especial Melhores de 2006
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
14/12/2006
21h45min
LEM, obrigado pelas sugestoes, e ja' estou aqui anotando para comprar algumas delas. Quanto ao Ze' Rodrix, eu li o seu primeiro livro, e te digo que sem duvida: foi um dos melhores romances de safra recente que li. Adoro como ele consegue misturar Historia com historia. E vou indicar outro livro que adorei, e que ficou faltando na sua lista de 7 lancamentos do ano de 2006: o 120 Horas. Quem gosta de romances, e nao leu o 120 Horas, esta' perdendo diversao garantida... Acho que, hoje em dia, os livros sao mais divertidos do que ir ao cinema (este ultimo cada vez mais chato e repetitivo...).
[Leia outros Comentários de Ram]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Financial Accounting - in An Economic Context
Jamie Pratt
Wiley
(2006)



Computador, Escola e Vida
Fernando José de Almeida
Cubzac
(2007)



Psicanalistas e Educadores Tecendo Laços
Ruth Helena Pinto Cohen
Wak
(2009)



José de Anchieta o Santo Que Amou o Braisl
Pe. Lourenço Ferronatto
Acnsf
(2011)



Conversando Com as Estrelas Reflexões
Vera Lúcia Dumont Prado
Belo Horizonte
(2009)



The Plan
Stephen J. Cannell
Avon Books
(1996)



Cartas Do Coracao - Uma Antologia Do Amor
Elisabeth Orsini
Rocco
(1999)



Livro Infanto Juvenis Poeminhas da Terra
Márcia Leite e Tatiana Móes
Pulo Do Gato
(2016)



A Visão Do Ameríndio Na Obra De Sousândrade
Claudio Cuccagna
Hucitec
(2004)



Porsche 911
Michael Scarlett
Editora Alaúde
(2012)





busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês