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Publicar em papel ou não?
Sexta-feira,
1/6/2007
O papel ainda importa
Fabio Silvestre Cardoso
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Uma crítica bastante comum aos jornalistas e ao seu ofício se justifica graças ao resultado do seu trabalho. Numa linguagem menos sinuosa e mais direta: o fato de os jornalistas escreverem em papel e, mais do que isso, o fato desse papel servir para toda a sorte de coisas - de limpar vidro de carro a ser receptáculo das fezes e urinas dos cães - torna bastante discutível a relevância do trabalho jornalístico, uma vez que este, como se nota, se pauta pelo efêmero, por aquilo que não resiste, mesmo quando lida com histórias, narrativas e fatos que são absolutamente capitais do ponto de vista histórico, como é o que acontece quando há um grande acontecimento, como a recente vinda do papa Bento XVI ao Brasil. O que houve, do ponto de vista jornalístico? De um lado, jornais e revistas gastaram tintas e mais tintas para registrar as declarações, a repercussão, as imagens do ilustre visitante. De outro lado, poucas pessoas, com efeito, leram, sobretudo porque estamos no Brasil, o que esta imprensa publicou. Resultado: este trabalho será importante, no futuro, se - e somente se - os historiadores desejarem resgatar os acontecimentos destas primeiras semanas de maio. Do contrário, como gostam de enfatizar alguns colunistas de esquerda, os jornais e sua visão de mundo estarão relegados à lata de lixo da história, como se fossem os apontamentos de um diário que sequer busca flertar com seu público.
Nesse sentido, cumpre observar que o papel do jornal tem sofrido, pelo menos nos últimos tempos, constantes investidas e decretos que anunciam sua morte. Uns dizem que os jornais insistem num modelo que, por cobrar por acesso à informação, vai de encontro às novas tecnologias da Era da Informação, esta, por sua vez, caracterizada pela abertura de seus conteúdos ao público sem que exista a necessidadade de pagar por este acesso. Outros, ainda, afirmam que o modelo dos veículos impressos se encontra estagnado porque os jornais e as revistas não souberam captar o timing da mudança, investindo, portanto, em exemplos que tentam mimetizar o formato televisivo (no passado) ou o da internet (agora). A propósito, é comum nos cursos de jornalismo os professores utilizarem como exemplo os canais Bloomberg, cuja tela permanece em constante mudança, num fluxo interminável de informação. No que se pode considerar exagero dessa perspectiva, tome-se como caso modelar a rede de TV a cabo BandNews que, há alguns anos, se vangloriou pelo prêmio internacional que ganhou. Melhor jornalismo? Não, melhor vinheta...
Com efeito, todo este cenário corrobora certa descrença na representação do jornalismo como papel. Pois de que adianta preencher laudas e mais laudas de texto se, no final das contas, ninguém vai ler? Mais do que isso: os meios eletrônicos já conseguem conjugar formatos mais eficazes, que trazem não somente mais conteúdo, como também fazem com que o jornalista seja um gestor de informação, em vez de um redator de notícias prontas, oriundas de agências noticiosas, com uma linguagem mais ou menos pasteurizada, que forma consenso em vez de dar lugar ao benefício da dúvida. De fato, tudo isso é verdade. Então, a pergunta sobrevive: por que publicar? Para não ser lido? A resposta é, a um só tempo, simples e complexa. Para tanto, é necessário um pouco de abstração. Confio que os leitores deste Digestivo Cultural possuem essa capacidade. Ao próximo parágrafo, onde a resposta se inicia.
Ainda que os blogs e demais sites noticiosos se abram como verdadeiras janelas da alma literária para o mundo de leitores, não é preciso ser nenhum gênio para descobrir por que é que as pessoas insistem nas publicações impressas. Ops. Sinto que fui jornalisticamente determinista no início deste parágrafo. Melhor apagar? Não! Às palavras, à escrita! Em verdade, os meios impressos possuem algo que a mídia eletrônica ainda não possui. E este detalhe, caro leitor, é a sensação de permanência. Imagine só que o escritor, alguém cioso e ávido por opiniões, não se contenta em ter elaborado um texto. Para ele, é fundamental que esse texto seja publicado. Com a internet, isso tornou-se, para o bem e para o mal, muito democrático. O que antes era improvável agora é bastante possível (alguns cliques e, voilà, você tem um blog). Ocorre que se no período que antecedeu a internet o mundo se dividia entre os publicados e os não-publicados, agora, o planeta literário - repleto de intrigas e vaidades - está mais para publicados na internet vs. publicados em papel. Aqueles desejam alcançar este estado, como bem definiu o Julio em seu artigo.
Nesse sentido, as opções que restam, e agora volto aos proto-jornalistas, é, um dia, ser publicado em papel, até para que o eventual blog/site alcance um status de maior reconhecimento nessa selva que é a internet hoje em dia. Funciona mais ou menos assim: os jornalistas até topam ser blogueiros e tudo mais; no entanto, é essencial que, de vez em quando, eles apareçam com textos nos veículos impressos. Por quê? Ora, para os jornalistas, o papel, ainda que sirva de embrulho de peixe no dia seguinte, permanece. Ou seja, para o bem ou para o mal, o registro está feito. Já na internet, para esses mesmos jornalistas, o desenho nas telas é tão efêmero quanto a última banda de todos os tempos da última semana. Quem se lembra? Para alguns abnegados e sonhadores, o papel importa, afinal.
Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo,
1/6/2007
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