Queria ser mais partidário dos blogs, falar bem sobre eles em todos os lugares que eu vou e me escandalizar de verdade quando ouvir alguém dizendo que prefere papel. Penso até em demonstrações mais convincentes, fazendo protestos pela abolição dos papéis e me arremessando contra policiais pela causa dos blogs. Eu faria tudo isso se não fosse coisa de retardado. E além disto, tenho a falha de também preferir papel. Defendo os blogs porque gosto muito deles, acredito em seu futuro, acredito que o meu blog ainda me trará muito prestígio, muita glória, e que um dia ainda serei abordado na rua por loiras tetudas pedindo autógrafos por causa de algum post particularmente brilhante. Mas papel realmente é muito melhor.
A publicação em papel tem uma tradição que encanta. É muito legal poder publicar qualquer coisa em papel, mas é uma publicação cara, demorada e tem baixa acessibilidade. Mais até que a Internet, que é barata, instantânea e tem um alcance infinitamente maior. E quando dizem que a publicação pela Internet exclui as pessoas que não têm acesso, o dizem como se estas pessoas tivessem algum tipo de acesso ilimitado às publicações em papel, como se não houvesse dificuldade alguma na distribuição física e o valor cobrado fosse perfeitamente compatível com o orçamento destas pessoas.
Não é preciso ir muito longe para compreender que a relação entre o custo e o benefício da publicação pela Internet é muito mais vantajosa que a publicação em papel. O custo de se ter um computador com acesso à Internet pode ser maior que o custo de se obter um livro, mas se fosse possível calcular quantos livros se consegue obter na Internet, quanta informação, melhor dizendo, se consegue obter na Internet, o custo do computador se reduziria a centavos. Talvez nem isto. Só o siteDomínio Público disponibiliza quase 40 mil obras prontas para serem acessadas sem custo algum. É vantagem tanto para quem publica como para quem lê.
O ponto interessante da publicação em papel está no retorno financeiro, que é uma conseqüência da sensação de profissionalismo que há neste tipo de publicação, mas é um retorno que está vinculado mais a atividades de utilidade imediata como o jornalismo, que não é exatamente arte - é quase mecânico até - e sofre do problema de saturação de profissionais. Em contrapartida, o jornalismo de Internet cresceu satisfatoriamente e já é possível visualizar um mercado próprio e um espaço crescente para profissionais, o que contribui para elevar a condição de se atuar nesta área.
Já no caso específico da publicação de livros, ou melhor, de livros com pretensões literárias, o retorno é quase sempre semelhante ao de um blog com pretensões literárias: nenhum. Um em, sei lá, milhões, consegue publicar um livro literário que lhe renda o sustento. É mais difícil que loteria. Mesmo os nossos melhores escritores tiveram de trabalhar - seja como professor, seja como funcionário público, seja como jornalista, etc. -, e levar sua vida literária paralelamente. Estou falando dos melhores escritores brasileiros: Machado de Assis, Euclides da Cunha, João Cabral de Melo Neto, Lima Barreto, enfim, os de sempre. E por isto fico com o blog, que ao menos é mais barato.
Eu sei que são formatos diferentes, os blogs e os livros, mas é possível publicar uma obra na Internet de diversas formas que não os blogs (em PDF, por exemplo) e atingir o objetivo que deveria ser o de um escritor de literatura: ser lido. Ganhar dinheiro é bom e saudável, mas existem formas mais eficientes que publicar livros. Além disto, quando dinheiro se mistura à arte, corre-se o risco de influenciá-la, de viciá-la, e isto nunca será bom.
Há, entretanto, uma vantagem, a maior, do papel sobre a Internet: a comodidade. É ainda muito mais cômodo ler um livro do que um texto no computador. Faço a comparação imaginando que os dois tenham mais ou menos a mesma qualidade, afinal, quem não largaria alegremente qualquer livro de motivação empresarial para queimar suas retinas lendo um bom blog?
Quer dizer, há esta vantagem por enquanto. Vi estes dias um aparelhinho de e-Text e fiquei todo empolgado com o progresso e tudo. Imagino que me empolguei tanto quanto um índio ao ver um espelho pela primeira vez, mas sem aquele lance de dar a irmã em troca. Me controlei. Mas achei realmente genial, achei realmente muito boa a idéia de poder ler um livro de mil e quatrocentas páginas com todo o conforto que cem gramas podem me proporcionar. A iluminação também é confortável; não é ofensiva como a de monitores de computador. E tem dicionário embutido, tem opção de localizar palavras, você pode fazer anotações, enviar várias páginas por e-mail e guardar em sua memória uma quantidade de livros maior do que a que existe na biblioteca do congresso norte-americano - a maior do mundo. Suponho que o futuro da mídia, se houver, deve ser muito parecido com este aparelhinho de e-Text.
Eduardo, não vejo grandes dramas nesta questão do digital x papel. Acho que quem gosta de ler e pratica a leitura com regularidade vai sempre preferir o papel, o que não quer dizer que esteja negando o digital mesmo porque estamos numa fase de transição sem data certa para acabar. Mas é só pensar um pouquinho: quem lida com computador desde o tempo daqueles terminais IBM de tela preta e letras verdinhas, sem imagem nenhuma jamais iria sonhar com um e-book. Da mesma forma podemos perguntar: e como será amanhã? Como ainda estamos no hoje, prefiro o papel.
Eduardo, para mim, como também para muitas outras pessoas, a presença física do livro é uma necessidade que ultrapassa em muito a lógica da comodidade, do custo-benefício, etc. Aliás, por falar em comodidade, creio que estamos ainda muito longe de uma tecnologia que substitua a contento o papel impresso como suporte de obras escritas de média e grande extensão.
O livro ainda é um bom aliado de todos nós. O computador é o espaço que podemos estar em contato com um público maior. A lição de cada dia nos ensina que devemos aprender sempre. O livro é cada um de nós, devemos expor nossa poesia na vida, seja no computador ou não.
Concordo com os comentários, não é uma luta entre o papel e o digital, mas o papel ainda leva certa vantagem. O e-text parece mesmo uma boa promessa, mas gadgets tecnológicas sempre vem com aquele velho probleminha "pode dar pau" de repente. Mas gosto de sua colocação sobre blogs. Acho muito estranho que hoje existam jovens autores que não têm blog. Essa aproximação com os leitores me parece fundamental para estimular seu trabalho e para ter um feedback direto. Além disso, se a pessoa quer publicar em papel, já vai garantir uma boa publicidade boca a boca; eu mesma já divulguei em meu blog livros de autores-blogueiros.
O Jornal em papel está se extingüindo, assim mesmo, no gerúndio, como escreveu uma vez, em um jornal de papel, o Veríssimo, referindo-se aos casais em processo de separação, no caso, "separando-se". O autor dava exemplo, referindo-se à lentidão do processo: "Estou me separando"... E aquilo demora tanto que, passados 5 anos, cada um morando num lugar, ainda tinha casais falando para os amigos "estou me separando"... Assim vai ser com os jornais de papel. Extingüindo... Estingüindo... Jornalistas resistentes "esperneando de ódio pela perda de status", igualzinho aconteceu com os jurássicos fotógrafos com relação às digitais. Kkkkk!