Que o Digestivo Cultural tem colunistas de qualidade todo mundo sabe. Mas às vezes o pessoal se supera, vai além das expectativas. E isso tem ocorrido com bastante freqüência, ultimamente.
Aproveitando o gancho, resolvi escrever, de novo, um texto destacando as colunas que mais gostei de ter lido, no ano que passou. Sobre melhores livros do ano passado, digo o seguinte: li poucos livros em 2007, e os melhores que li resenhei aqui.
No início de novembro, Luis Eduardo Matta escreveu um texto brilhante chamado "Armadilhas da criação literária". Aí vai um trecho:
"Muitos acreditam que, por serem aficionados por futebol, conhecem o esporte melhor do que os profissionais do ramo. Fato semelhante ocorre na literatura. Do mesmo modo que todo torcedor brasileiro se considera um técnico de futebol em potencial, muitos dos apaixonados pelos livros acham que podem se tornar escritores. Mal sabem eles que a criação literária é uma epopéia extenuante e complicada."
Se você não leu o texto inteiro ainda, não sabe o que está perdendo...
Um dia antes, foi publicada uma coluna da Verônica Mambrini sobre o ócio criativo. Depois de ler, eu disse a ela que era um assunto aparentemente chato, que ela conseguiu tratar de uma maneira por demais agradável, para qualquer um ler e entender. Sem rasgação de seda, é isso mesmo. Palmas para a Verônica.
Na quarta-feira, logo depois do Luis, o Guga Schultze apareceu com um texto sensacional sobre Chapeuzinho Vermelho. Um texto incrível, de uma sensibilidade rara e apurada. Talvez o melhor texto dele no Digestivo, até o momento (na minha opinião, claro).
Depois do Guga, foi a vez da Tais Laporta. Ela escreveu sobre O apanhador no campo de centeio, romance cultuado do também cultuado J. D. Salinger. Tais escreve de uma maneira tão clara e simples, e faz observações tão pertinentes sobre o livro que fiquei morrendo de inveja dela.
Na semana seguinte, logo na segunda-feira, foi publicado um texto do Eduardo Mineo chamado "A comédia de um solteiro". O Mineo é um daqueles caras inteligentíssimos, que lêem de tudo e que têm senso de humor apuradíssimo. E seus textos têm todas essas qualidades. Esta sua coluna, em especial, é imperdível:
"Aliás, vamos falar sobre garotas? Um dos meus esportes favoritos é trocar perfis de garotas no Orkut com amigos e falar sobre elas por tempos. Sei que usar Orkut é falta de modos demais, uma maneira muito bruta de encarar a vida, mas é divertido, principalmente para se recriminar quem aceita depoimentos embaraçosos de amigos retardados. Nem todo mundo é assim, eu sei. Eventualmente achamos garotas até sensatas e realmente lindas naquele lugar, mas jamais tentaria qualquer coisa com elas porque, convenhamos, usar internet para conseguir relacionamentos não é ser um mau perdedor?"
Do Daniel Lopes não vou destacar coluna nenhuma, porque todos os textos dele são muito bons. O diferencial nas colunas do Daniel fica por conta de ele escrever sobre as mais maravilhosas obras literárias que quase ninguém leu. Ou seja: as colunas dele são um bom norte para quem quer ler boa literatura. Ele já resenhou, por exemplo, o romance Duas vezes junho, de Martín Kohan; já falou de Os ratos, de Dyonélio Machado; e já escreveu sobre os ensaios críticos de J. M. Coetzee. O Daniel Lopes é sempre garantia de uma boa surpresa e uma excelente dica para leitura.
Também merece menção pelo "conjunto da obra" a Marília Almeida. Como não quero me prolongar, citarei somente duas colunas, as que mais me marcaram. Em setembro, ela resenhou, e muito bem, diga-se de passagem, um livro de Anton Tchekhov e definiu os contos do autor russo como sendo "textos cheios de humanidade, sentimentos intensos e amor pela vida". Antes um pouco, em julho, a Marília elegeu as dez obras mais importantes da recente literatura latino-americana. Aliás, foi um texto que rendeu uma boa conversa com ela, sobre a vida, literatura e tudo o mais.
Ainda em novembro, o Luiz Rebinski Junior escreveu sobre literatura pop. Pensei que o Rebinski ia ser linchado em praça pública, por membros do PLUC (Partido dos Literatos Ultra Conservadores), mas, felizmente, isso não aconteceu. Sem medo de errar ou de ser feliz, ele faz um bom apanhado dos autores e obras consideradas "pop".
Outro texto que gostei bastante foi um da Adriana Carvalho, que era pra ter saído antes, mas foi publicado só em dezembro, por conta de o site ter ficado um bom tempo fora do ar. A coluna é sobre uma coisa tão fácil e simples que, de tão simples e fácil, anda muito difícil de ser vista por aí: a gentileza.
Também por causa do período que o Digestivo ficou "off", um texto da Pilar Fazito, que era pra ter saído no fim de 2007, acabou saindo no início deste ano. Como o texto foi escrito para 2007 e como eu gosto de quebrar o protocolo, incluo a coluna "Então, você quer escrever um livro..." neste meu apanhado de "melhores colunas de 2007".
O meu xará, Rafael Fernandes, resolveu chutar o balde no finzinho de 2007. Mandou brasa numa coluna detonando o White Stripes. Os fãs da banda(?) ficaram danados da vida com ele. Já eu, adorei o texto, e fiquei admirado com a coragem do Fernandes.
A Elisa Andrade Buzzo volta e meia escreve um texto menos "convencional", digamos assim. Sem ser uma crítica ou um artigo. Ela "viaja" um pouco, em algumas colunas. E isso é ótimo. É essa diversidade de estilos, temas e opiniões que faz do Digestivo Cultural o que ele é. A coluna "Chantibeijos", que foi ao ar em outubro, dá uma boa mostra do que a Elisa é capaz de fazer. Textaço.
Colega de quinta-feira da Elisa, o Marcelo Spalding abordou um assunto que levantou polêmica em 2007: o acordo ortográfico entre países de língua portuguesa. Vale, e muito, a leitura do artigo.
Como vale também, sempre, ler a Ana Elisa Ribeiro. É difícil escolher qual texto dela eu mais gostei de ter lido, porque eu sempre gosto de todos, e porque também ela produz bastante. Então, muitas vezes um texto ótimo dá lugar, na minha memória capenga, a um texto igualmente ótimo ou ainda melhor. Mas um que adorei e ainda saí por aí divulgando foi uma coluna que ela escreveu sobre chicletes. Sensacional.
Legal, Rafael, gostei de suas indicações. Acho que li todos os textos e é isso mesmo! O pessoal do DC está de parabéns! E vc, ainda mais, pelo seu trabalho. Abraço.
Rafa, concordo com você em quase tudo (modestamente, discordo na parte que me toca...). Mas acho que você se esqueceu de incluir aí um certo Rafael Rodrigues, colunista de primeira linha do DC.
Valeu mesmo, abraços!
Rafael é aquele cara chato que levanta no meio da festa e faz todo mundo chorar com seu discurso. Pô, eu tenho uma imagem a zelar, não me faça perder a fama de exemplo em virilidade que adquiri no longo dos anos me reduzindo a um velho babão com aguinha saindo do nariz. Seu, seu, inconveniente.
=]