No Festival de Curitiba 2010 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 14/5/2010
No Festival de Curitiba 2010
Julio Daio Borges
+ de 6900 Acessos

* Eu gosto de teatro. E sempre me ressinto por não poder acompanhar mais a cena teatral de São Paulo. Portanto, foi muito bem-vindo o convite da organização do Festival de Curitiba, para que o Digestivo cobrisse a edição 2010. Como sabia da importância do Festival, e como estamos numa fase sem "Colunistas de teatro" no site, resolvi me lançar na empreitada. Minhas impressões, aqui, são obviamente incompletas e parciais. No início, pensei em fazer uma cobertura diária, no "estilo Flip", mas, depois, preferi metabolizar as impressões de Curitiba e compor um texto mais reflexivo em São Paulo.

* Em primeiro lugar, eu gostaria de elogiar a organização. Desde o convite até a confirmação, passando pela programação em si e pela recepção lá, foi tudo acima da média. A comparação mais frequente, no meu caso, é com a Flip: onde você mal consegue os ingressos para assistir à programação oficial, quanto mais hospedagem e transporte. Qualquer festival que seja, se quiser uma cobertura minimamente decente, precisa oferecer as condições de trabalho básicas. Esnobar os jornalistas não me parece a melhor estratégia. Infelizmente, em alguns setores do meio cultural brasileiro, existe a noção de que passar uma aura de "inacessibilidade" desperta maior interesse. Bobagem. É apenas falta de respeito.

* Eu conhecia pouco Curitiba. Estive umas duas vezes de passagem. (Uma delas indo para a Lapinha.) A possibilidade de cobrir o Festival me apresentava, também, essa chance de interagir melhor com a cidade. Porque, nesse ponto, o Festival de Curitiba se aproxima da Flip. Quase toda a programação tem lugar nos teatros próximos ao centro. Você pode fazer quase tudo à pé. E isso me interessava particularmente, porque, em São Paulo, não costumo desfrutar da cidade dessa maneira. A ideia de misturar o Festival de Curitiba com a rotina da cidade deveria ser copiada por outros festivais em mais lugares do País.

* Fiquei hospedado no hotel Slaviero Braz. Em geral, em São Paulo, não tenho muita paciência com o centro, com sua lotação, sua eterna sujeira e sua violência iminente. Mas em Curitiba foi divertido andar pela XV de Novembro, explorar a Livrarias Curitiba e o Café Avenida. Depois li sobre a "XV" no novo livro do Miguel Sanches Neto e a sensação foi completamente diferente por ter estado lá. Meu itinerário era basicamente até o Largo da Ordem, "sempre em frente", com passagens pelo Memorial da Cidade (Q.G. da assessoria de imprensa) e "desembarque" em algum teatro ali próximo; ou, então, à direita, na direção do teatro Guaíra e da Federal do Paraná. Com exceção de amigos que me buscaram no hotel, meu maior deslocamento foi até a Ópera de Arame.


Setor Histórico de Curitiba visto da rua Dr. Claudino dos Santos. Ao fundo, o Largo da Ordem, e, à direita, a entrada do Memorial da Cidade (Fonte: curitiba-parana.net)

* No primeiro dia, uma segunda-feira, estava "seco" para ver alguma coisa e me joguei logo no Fringe, a "mostra livre", digamos assim. Entrei no meio da peça Désir, que estava sendo encenada no teatro Mini Guaíra, à tarde. Os atores já estava seminus e se exibiam em poses atléticas para a plateia. Um casal: no meio de uma discussão abstrusa sobre sua relação. (Não lembro quase do texto, que não devia ser bom.) O ator era um "cavalheiro de fina estampa", sem muita profundidade, no entanto. A atriz parecia ter mais talento do que ele, mas se entregava alegremente à simples tensão dos corpos. Désir estava mais para a escultura, a estatuária, do que para o teatro. A audiência era pequena e nem todo mundo aguentou até o final. Désir não me disse, especialmente, nada, e eu não quis voltar outro dia para ver a primeira parte.

* Na saída foi mais divertido, porque os "especialistas" metiam o pau, horrorizados. No meio desses comentários, conheci o Luiz Felipe Leprevost, que me deu um livro (quando soube que eu era do Digestivo) e me apresentou alguns amigos: atrizes, dramaturgos como ele, "gente de teatro" enfim. Pareciam jovens. Me indicaram Manson Superstar, no Teatro Experimental da UFPR (TEUNI), e eu me encaminhei para lá. Antes, uma epifania. Passou, por nós, o "Guga" Kuerten, que, surpreendentemente, também acompanhava o Festival (inclusive o Fringe). Fiquei paralisado; não conseguia cumprimentá-lo. Estava de chinelos e arrastava uma namorada. Depois, me arrependi de não tê-lo abordado. O primeiro Roland Garros foi importante, para mim, no ano em que eu estava me formando. O Brasil começava a superar seu complexo de vira-lata... (Lembro, com carinho, do pai de um amigo nos trazendo "caipirinhas", enquanto assistíamos ao jogo e tentávamos nos concentrar num dos inúmeros trabalhos da faculdade.)



* A UFRP, do teatro, me lembrou muito a São Francisco, de São Paulo. A construção, com um pátio interno, as grandes portas de madeira, os universitários esperando fora das salas... Talvez eu estivesse ainda no mood "1997", quando tinha uma namorada que estudava direito e eu frequentava o "Largo"... Manson Superstar foi de uma violência que eu só acreditava ser possível no cinema. Descobri, no meio da coisa toda, que talvez não me interessasse tanto assim por Charles Manson, mas já era tarde... A violência não era apenas do enredo, sobre o assassinato de Sharon Tate (detalhadamente encenado), mas também por causa das imagens projetadas no palco e da música num volume à beira do insuportável.



* Os atores, contudo, foram convincentes (até porque, se não o fossem, a violência não teria funcionado). Tanto que eu pensei que fossem "gringos". A peça era toda em inglês. Me impressionou, principalmente, Leandro Daniel Colombo, no papel de Roman Polanski (na época, marido de Sharon Tate). Não consegui imaginá-lo falando português, por exemplo. Apesar da agressividade que, no final, me cansou, gostei da mistura de peça com uma espécie de documentário, com imagens originais de Manson, Tate, Polanski etc. Manson Superstar ficou, para mim, como o auge do delírio hippie dos anos 60. O que, entre outras coisas, deve ter feito John Lennon proclamar que o sonho havia acabado.



* À noite, dentro da mostra oficial, assisti a Dulcinea's Lament, no teatro Reitoria, espetáculo baseado na minha atual obra preferida da literatura universal, o Dom Quixote. Aliás, levei o livro, para começar a segunda parte, mas não engrenei de fato. Enfim, gostei muito da "atualização" do Quixote, nessa montagem multimídia (sem ser chata). O ponto de vista feminino - Dulcineia é a protagonista - funcionou com perfeição. A atriz era ótima e foi quase um choque acompanhar o desempenho de uma verdadeira atriz depois daquelas outras do Fringe... Além dela, havia uma banda, que fazia o acompanhamento (com destaque para o guitarrista), mas que, igualmente, adaptava o cenário, acrescentando ao evento mímica, marionetes e metalinguagem.



* Claro que, como fã do Quixote, gostei mais das passagens literais. Ducinea's Lament não era tão profunda quanto o romance - segundo Harold Bloom, em teatro só Shakespeare -, mas essa, digamos, concessão permitia um diálogo com a plateia que, futuramente, poderia legar novos leitores ao Quixote. Era bom entretenimento, com suficientes doses de inteligência e uma base sólida num clássico incontestável. Não é algo fácil de se realizar. E eu não me lembro de ter visto uma montagem, com esses componentes, nos nossos palcos. (Ah, o grupo era canadense.) Único defeito: a peça ser um pouco longa. A audiência, instintivamente, aplaudiu em vários momentos (esperando que tivesse acabado). Acho que "se pagaria" numa temporada bem divulgada em São Paulo.

* Na hora do almoço do dia seguinte, uma terça-feira, fui até às Ruínas de São Francisco assistir a Clowns & Clownesses. Fazia muito sol, o lugar era bonito, mas eu não aguentei ver aqueles palhaços excessivamente paramentados, num calor intenso, até o final do espetáculo. Com trechos de óperas, eles desfilavam, depois montavam pequenas cenas, alternando-as com coreografias ou algo similar. Talvez o show fosse para crianças; o fato é que eu não consegui apreciar. Gostei mais de percorrer as galerias de arte, antes e depois de começar... Dali, me embrenhei pelas ruas próximas, até o teatro Novelas Curitibanas, onde assisti a De como fiquei bruta flor.

* Dessa, gostei mais, embora nem tanto no começo. O teatro era muito simpático e impedia, praticamente, os espectadores de saírem no meio da performance. O que talvez eu tivesse feito, porque as duas atrizes encenavam todas as "fases" desde o fim de uma paixão até a serenidade do relacionamento terminado, até a indiferença total. Em dez partes, e muita verborragia, exigia bastante dos espectadores - a ponto de uma das atrizes quase "solicitar" a nossa paciência. Do que eu gostei, contudo, foi do final. No início, elas pediam para que cada um anotasse, num papel, alguém ou "alguma coisa" que quisesse esquecer, superar etc. E, nos últimos instantes, acendiam uma pira, onde cada um, da plateia, jogava seu papelzinho anotado, e ele virava cinzas ali na hora... Vi muitas pessoas às lágrimas, tentando superar velhos traumas. Valeu pela catarse.



* À noite, na mostra oficial, vi Exotique, na Ópera de Arame. Adorei a Ópera de Arame em si. Fiquei lembrando das obras arquitetônicas que a Carol me mostrou (e me explicou) tantas vezes, e quis que ela estivesse lá. Era completamente diferente, com uma grande estrutura metálica à vista, no meio de um lago, com um acesso via ponte de ferro, e carpas nadando sob os nossos pés... Foi uma experiência em termos de arquitetura (mais do que em termos de teatro). O Exotique, de Pelotas, era uma espécie de Cirque du Soleil transcodificado, uma franquia meio diluída do original. Não era propriamente uma novidade, para quem tinha visto o Cirque, mas era um espetáculo e tanto para quem nunca tinha visto, principalmente leigos, crianças e adultos-com-crianças.


Ópera de Arame, no Parque das Pedreiras (Fonte: curitiba-parana.net)

* A ida e a volta para a Ópera de Arame foi uma diversão à parte, com jovens críticos de Fortaleza/CE, Vitória/ES e Uberlândia/MG (site Bacante). Eles, evidentemente, "acabaram" com Exotique. (Uma das moças que trabalhava na organização tentava defender o show, mas em vão.) O que particularmente os incomodava era o final - meio rave, meio "Madonna" (com simulações de sexo, esfrega-esfrega, muita bolinação etc.) - num espetáculo supostamente "família". Me incomodou, mais que isso, uma criancinha que praticava contorcionismo, o que soou menos como arte do que como exploração da infância. Exotique tinha suas partes engraçadas também, como o palhaço "mestre-de-cerimônias"; como "gente da plateia" que subia no palco para compartilhar, desajeitadamente, as palhaçadas etc. (Cirque du Soleil reloaded.)



* No terceiro dia, uma quarta-feira, a chuva me desanimou a sair do hotel explorando os teatros (e o Fringe). Acabei indo, só à tarde, a Descartes com Lentes, depois de uma recomendação enfática, por e-mail, da assessoria de imprensa. Era um conto do Paulo Leminski - com que ele ganhara um concurso na juventude -, adaptado em forma de monólogo. Lamentavelmente, uma decepção. Como o pior Leminski, o texto era de uma logorreia delirante, sobre uma vinda imaginária de Descartes ao Brasil. Eram tantos neologismos que a atriz - aparentemente uma boa atriz - se contorcia no palco improvisado. E ia tirando a roupa (clássico). Para terminar, logicamente, nua. Um nu dispensável. Tive a sorte de me colocar perto da porta e de sair antes que seus pêlos pubianos me perguntassem o que eu tinha achado... (Na última vez em que eu havia olhado, ela partia pra cima da Beth Néspoli, crítica do Estado...)

* Depois dessa "experiência", desisti da "mostra livre" (sem curadoria), do Fringe. E fui passear pelos sebos de Curitiba. Há vários. De discos, inclusive. Nesse aspecto, a cidade parece ter parado no tempo. Não só porque, em São Paulo, as lojas de discos, praticamente, inexistem; mas porque os sebos - com o advento da Estante Virtual - estão acabando igualmente. Em Curitiba, o comércio me soou mais local, do que global (como na capital paulista). Graças a isso, talvez, adquiri uma bela edição do primeiro volume da série Pontos de Vista, de Wilson Martins (que eu resolvi homenagear, claro, por estar em sua cidade). Confesso que nunca consegui avançar muito em sua História da Inteligência Brasileira, mas nos seus Pontos de Vista segui altivo.

* À noite, fui conhecer, pessoalmente, a um amigo de internet, o Manoel de Andrade, poeta redivivo dos anos 60 e da América Latina. O Manoel, um jovem na faixa dos 70 anos, me levou para jantar no espaço Alberto Massuda, do filho do respectivo pintor, cheio de obras de arte surrealistas. Muito além da realidade comezinha, também, as histórias do Manoel, da América do Sul até a América do Norte, homenageando Che Guevara, escapando do Brasil, sendo editado na Bolívia, ressuscitando heróis indígenas, um verdadeiro périplo. E ele ainda acredita em reencarnação! Não bastam todas as vidas que já viveu. Sem contar a das últimas décadas, que lhe permitiu ganhar dinheiro vendendo livros e, superando um passado comunista, enriquecer, ora vejam. Pela conversa interessantíssima do Manoel - que eu já havia resenhado e entrevistado - troquei a adaptação de As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, no teatro Sesc da Esquina.

* No dia seguinte, praticamente o meu último, uma quinta-feira, me concentrei na mostra oficial e só fui almoçar com a minha amiga Adriana Baggio e seu marido Tatá Vaz. Eles me levaram na Cantina do Délio. A Adri, vocês sabem, é Colunista highlander do Digestivo, e talvez só seja igualada, em longevidade, à inabalável Ana E. O papo estava ótimo e a comida, maravilhosa. Essa ignorância de que só existe gastronomia em São Paulo precisa ser corrigida logo. Eu me lembrei muito da Vila Madalena. Um lugar charmoso, todo colorido ("cores de Almodóvar"), com gente esperando civilizadamente à porta. Fazia tempo que não saía para almoçar dessa forma, em dia de semana, mesmo em São Paulo. E registrei minha surpresa no Twitter. Pena que não deu tempo de seguir as dicas da Adri e do Tatá. (Incrível como amigos transformam o modo como você enxerga um lugar.)

* In On It, à noite no Guairinha, fechou com chave de ouro minha passagem pelo Festival de Curitiba. Confesso que já tinha ouvido falar da peça em São Paulo. É um primor de comédia inteligente, com atuações impagáveis de Emilio de Mello e Fernando Eiras. Eles têm um domínio do público que eu não vi em nenhuma outra montagem do Festival. Praticamente regiam a plateia. Controlavam risos, silêncios e palmas. O ritmo é tão bem marcado e a mensagem, tão contemporânea que o sucesso de In On It torna difícil uma continuação, no mesmo nível, na carreira dos dois protagonistas. Não tenho ideia dos números da peça, mas merecia estourar por onde quer que passasse.



* Apenas para concluir: do Festival, eu ouvi que se tornou demasiadamente mainstream. Ou seja: começara como uma novidade, atraindo novos nomes, mas cresceu tanto que se rendeu aos patrocínios, às grandes plateias e ao "nível médio" da televisão. Por outro lado, o Fringe - que seria um contraponto a isso - terminou muito "solto", num vale-tudo, sacrificando plateias, em nome da famosa "inclusão". Eu, evidentemente, não conseguiria avaliar o Festival em perspectiva - mas as críticas, dos veteranos de outras coberturas, parecem fazer sentido. Agradeço, mais uma vez, à organização, por haver me convidado. E espero, nos próximos anos, enviar outras pessoas do Digestivo, que farão avaliações complementares a esta minha. ;-)

Para ir além
Festival de Curitiba


Julio Daio Borges
São Paulo, 14/5/2010

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