Dobradinha pernambucana | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
62811 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Helena Black em Meu Avô Samantha leva diversão às Bibliotecas Municipais discutindo etarismo e preco
>>> Cristina Guimarães canta Luiz Melodia em seu primeiro álbum, Presente & Cotidiano
>>> Teatro Nova Iguaçu Petrobras celebra três anos com show gratuito de Sandra Sá
>>> Mona Canta Dalva: Mona Vilardo homenageia a Rainha do Rádio Dalva de Oliveira no Teatro Clara Nunes
>>> 93 anos dedicados à música: Maurício Einhorn desfila seus clássicos no Blue Note Rio, em Copacabana
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Como era gostoso assistir à Sex and the City
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Anna Maj Michelson
>>> A Vida Acontece; ou: A Primeira Vista
>>> Bibliotecários
>>> O sucesso do Cansei de Ser Sexy
>>> Desglobalização
>>> A elegância da latrina
>>> Odiou-se minuciosamente
>>> Verdadeiros infiltrados: em defesa de Miami Vice
Mais Recentes
>>> Livro A Completa Lei De Murphy de Arthur Bloch pela Record (1996)
>>> Pitágoras: Amante da sabedoria de Ward Rutherford pela Mercuryo (1991)
>>> A Biblioteca da Bia de Viviane Ferreira Santiago pela Cepe (2021)
>>> Livro Prova dos Campeões Livro-Jogos Aventuras Fantásticas Volume 15 de Ian Livingstone, ilustrado por Brian Williams pela Marques Saraiva (1993)
>>> Desenho Geométrico Plano de Humberto Giovanni Calfa e outros pela Biblioteca do Exército (1997)
>>> Rubens, O Semeador de Ruth Rocha pela Salamandra (2010)
>>> Livro Marketing 3.0 As Forças Que Estão Definindo O Novo Marketing Centrado No Ser Humano de Philip Kotler pela Campus (2010)
>>> Livro Depressão: Causas, Consequências E Tratamentos de Izaias Claro pela Ícone (1998)
>>> Todos Os Caminhos Levam A Roma de Scott Hahn pela Diel (2002)
>>> E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas de Emicida pela Companhia Das Letrinhas (2020)
>>> Livro Lonely Planet Israel & The Palestinian Territories de Lonely Planet pela Lonely Planet (2012)
>>> Livro Prosperidade Fazendo Amizade Com O Dinheiro Coleção Sintonia Volume 3 de Lair Ribeiro pela Objetiva (1992)
>>> Livro Construindo Um Novo Brasil: Principais Desafios Do Regime Jurídico da Infraestrutura de Bruna Baldini de Miranda pela Safra (2011)
>>> O Catolicismo Hoje - Coleção Para Entender de Luiz Felipe Pondé pela Benvirá (2011)
>>> Livro O Alquimista de Paulo Coelho pela Rocco (1990)
>>> Livro Educação Em Debate de Moderna pela Moderna (2018)
>>> Dezamores de Pedro Ayres pela Primo Selo (2017)
>>> A Vida como ela é... O homem fiel e outros contos de Nelson Rodrigues pela Companhia Das Letras (1992)
>>> Inglês + Fácil - Gramática de Larousse pela Larousse (2006)
>>> O Fazedor De Velhos de Rodrigo Lacerda pela Cosac Naify (2008)
>>> A Arte Da Guerra - Edicao De Bolso - Sun Tzu de Sun Tzu pela L&pm (2007)
>>> Livro O Capital de Karl Marx; Edição Resumida Por Julian Borchardt pela Guanabara (1982)
>>> Tempo Aberto - Oito decadas em oito contos de grandes autores de Alberto Mussa, Nélida Piñon pela Record (2022)
>>> Livro Mentes Brilhantes de Alberto Dellisola pela Universo dos Livros (2021)
>>> Livro Por Um Simples Pedaço de Cerâmica de Linda Sue Park, traduzido por Eneida Vieira Santos pela Wmf Martins Fontes (2017)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2007

Quarta-feira, 23/1/2008
Dobradinha pernambucana
Luiz Rebinski Junior
+ de 7300 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Há pelo menos uma década e meia, quando o Mangue Bit tomou de assalto o Brasil, nos idos de 1994, Recife vem se especializando em produzir bons artistas e discos. Em 2007 não foi diferente. Dois grandes álbuns vieram da terra de Gilberto Freyre, dando mais frescor e elevando o nível do rock nacional. Além da Nação Zumbi, que lançou seu aguardado sétimo álbum, Fome de Tudo, é de outro recifense, também saído das entranhas do movimento encabeçado por Chico Science e Fred Zeroquatro, um dos discos mais interessantes do ano. China, ex-vocalista da banda de hardcore Sheik Tosado, colocou na praça Simulacro, uma das gratas surpresas do ano que passou.

Em comum, os trabalhos dos conterrâneos trazem "conceitos" pré-estabelecidos para suas obras. Depois da psicodelia em preto-e-branco empreendida em Futura (2005), a Nação Zumbi utiliza a fome como metáfora para falar de cultura, miséria, conhecimento etc. Algo que lembra, de imediato, "Comida", música do clássico Cabeça Dinossauro (1986), dos Titãs. A idéia, visível nas letras, é falar sobre os diversos tipos de fome que arrebatam o homem contemporâneo. Conceito que retoma também Josué de Castro e seu Geografia da Fome, livro que influenciou não só a Nação Zumbi, mas todo o Mangue Bit. Já China discute, mais em seu som do que nas letras, a idéia de "apropriação" na arte. Algo muito pertinente hoje, onde a fusão de sons e estilos é vista como a saída para se buscar novas sonoridades em um cenário que, parece, está saturado.

Nesse sentido a inspiração de China encontra eco no trabalho da Nação Zumbi, pois a banda de Jorge du Peixe é o exemplo mais bem-acabado de como o Mangue Bit passou de um movimento musical com forte pegada regionalista ― a banda detesta o termo ―, para um tipo de som que ultrapassa os limites da mistura entre alfaias e guitarras distorcidas. Desde 2003, quando ressurgiu das cinzas e fez de músicas como "Blunt of judah" e "Prato de flores" clássicos do rock nacional, a banda vem renovando seu repertório de idéias com trabalhos inspirados que fogem do óbvio.

"Carnaval", terceira faixa do álbum, é um bom exemplo de como a banda assimila de maneira fácil diferentes sonoridades. À guitarra suingada de Lucio Maia, juntam-se elementos de percussão e sons eletrônicos, dando origem a uma espécie de frevo funkeado. Brasileiríssima. Além de ser uma das melhores músicas do álbum, é a canção em que Du Peixe está mais solto, cantado com desenvoltura.

Fome de Tudo é também o disco do combo recifense menos "dependente" das guitarras de Maia, um dos melhores guitarristas do rock nacional. "Bossa Nostra", que abre a bolachinha, é uma das poucas músicas em que as guitarras dominam. "Onde tenho que ir" é outra canção em que a guitarra de Maia se faz presente de maneira imponente. Mas agora há mais elementos sonoros perceptíveis nas músicas, o que tira da guitarra a responsabilidade de ser o carro-chefe das canções. Há, por exemplo, a inserção de naipe de metais, como na ótima "Nascedouro". Os tambores, outra marca registrada da banda, também aparecem menos, agora estão bem mais sutis. Em compensação a bateria dub de Pupillo, também já bastante característica, e as programações de Du Peixe, ganham cada vez mais espaço, o que dá às músicas texturas interessantes.

A banda acerta também a mão nas parcerias. A mais bacana é com o também pernambucano Junio Barreto, que canta em "Toda surdez será castigada", e que marca outro ótimo momento do disco. Barreto é mais um artista bastante original vindo do Nordeste e que ainda é pouco conhecido fora de Pernambuco e São Paulo, onde está radicado. Já a participação da cantora Céu, que canta na sugestiva e soturna "Inferno", é bem discreta. Fome de Tudo fecha com "No Olimpo", uma alfinetada no mundo das celebridades com forte presença dos tambores.

Simulacro
Se em Fome de Tudo a Nação Zumbi foi ainda mais longe em sua busca por novos e originais sons, China não ficou atrás com seu Simulacro, ainda que não seja tão radical nas experimentações. Ao juntar idéias já existentes, "roubando" um teclado brega aqui, uma guitarra oitentista ali, um riff dos Beatles acolá, e misturando tudo com o delicioso sotaque pernambucano, China conseguiu um resultado inusitado. O que poderia parecer uma babel sonora baseada em pequenos plágios, na verdade se tornou uma obra de difícil classificação, original e de muito fôlego.

Repleto de texturas sonoras, Simulacro traz à tona músicas dançantes que se destacam pela versátil mistura de ritmos. As batidas eletrônicas, bem ao gosto de Pupillo, que produziu o disco, casam perfeitamente com as boas guitarras presentes. Assim China passeia por sonoridades distintas como a psicodelia, o brega dos anos 70 feito por artistas como Odair José, a bossa nova de Tom Jobim, e, principalmente, no Roberto Carlos dos anos 60/70, período que concentra o melhor da obra do rei. Em faixas como "Jardim de inverno" e "Asas nos pés", China reinventa com sucesso os teclados rasgados presentes em O Inimitável, um dos clássicos trabalhos de Roberto. Ao longo de todo o disco, os teclados vão se fundir com bastante precisão às guitarras tocadas por Marcelo Machado, membro do também pernambucano Mombojó e que participou das gravações.

O disco emplaca uma saraivada de boas canções, que resgatam, cada uma do seu jeito, os mais variados estilos. A trinca que abre o disco, composta por "Um dia lindo de morrer", "Jardim de inverno" e "Sem paz" é excelente. O álbum cai um pouco com "Câncer", uma ode ao cigarro, e "Colocando sal nas feridas", mas volta a subir com "Durmo acordo", que mescla com eficiência guitarra suingada aos característicos teclados, e com a belíssima "Canção que não se morre no ar", a melhor do disco. A música é uma balada dançante levada ao violão e com letra inspirada, que diz: "Sintonize o seu rádio, procure em alguma estação/ se eu entrar nos seus ouvidos, acelera o seu coração... coração, ah coração/ minha voz vai se espalhar no ar/ cada verso que eu cantar, os falantes te lembrarão/ minha voz é canção que não morre no ar".

Além de conceber bons discos, Nação Zumbi e China fizeram de seus últimos trabalhos exemplos de como a música pode transcender a rótulos e estilos. Desde que surgiu, a Nação Zumbi vem se reinventando de forma surpreendente ao agregar diferentes sonoridades e idéias às suas criações. Mesmo com a visível inclinação para as experimentações, a banda traz em seu som uma brasilidade pouco vista no rock nacional. Algo que, parece, vem fazendo escola na música pernambucana.


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 23/1/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Shows da década (parte 1) de Diogo Salles


Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2008
01. O jornalismo cultural no Brasil - 2/1/2008
02. Bukowski e as boas histórias - 15/10/2008
03. Despindo o Sargento Pimenta - 16/7/2008
04. Dobradinha pernambucana - 23/1/2008
05. O óbvio ululante da crônica esportiva - 27/8/2008


Mais Especial Melhores de 2007
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
7/2/2008
16h17min
Como bom fã que sou do rock brasileiro, vou dar uma conferida no álbum do "China". Valeu!
[Leia outros Comentários de Marcelo Telles]
5/3/2008
18h55min
Eu só vim conhecer o China quando ele já estava como vocal da banda Del Rey, que eu acho o máximo. Adoro ele todo desmilingüido cantando os sucessos do tal Rei... Aí um dia, vi no jornal, "Show do China". Então eu fui, sem pretensão, sem nada... sem saber até do que se tratava. Fui pelo nome, não vou negar. Quando ele começou a cantar... eu terminei de fumar meu cigarro, e fui mais pra perto, pra dançar. É muito bom. Final do show fui lá e comprei o "Simulacro", cheguei em casa, ouvi antes de mandar para um amigo em Brasília. Foi assim. Abraço, valeu pela matéria, muito boa mesmo.
[Leia outros Comentários de dora nascimento]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Rainha da Moda
Caroline Weber
Zahar
(2008)



Um Deus social - Breve introdução a uma sociologia transcendental
Ken Wilber
Cultrix



Três Paixões
Três por Tres
Atual
(2010)



Uma Carta de Consolação
Henri J. M. Nouwen
Cultrix
(1982)



Panamá
Ashley Carter
Record
(1978)



Revista Tempo Brasileiro - 161 - Leituras da Utopia, II
Vários autores
Tempo Brasileiro
(2005)



A mata atlantica.
Juca Brasileira.
Melhoramentos



Da criação ao roteiro: arte de escrever para Cinema e televisão
Lhar Plural
Pergaminho
(1992)



Construções Fabulosas 1 e 2
Ediciones del Prado
Del Prado
(1995)



Às urnas, cidadãos! : crônicas 2012-2016
Thomas Piketty ; tradução André Telles.
Intrínseca
(2017)





busca | avançada
62811 visitas/dia
2,5 milhões/mês