A Istambul de Orhan Pamuk | Roberta Resende | Digestivo Cultural

busca | avançada
74965 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Hospital Geral do Grajaú recebe orquestra em iniciativa da Associação Paulista de Medicina
>>> Beto Marden estreia solo de teatro musical inspirado em Renato Russo
>>> Tendal da Lapa recebe show de lançamento de 'Tanto', de Laylah Arruda
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> Escritor resgata a história da Cultura Popular
>>> Arte Urbana ganha guia prático na Amazon
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Jimi Hendrix encontra o Deep Purple
>>> Internet & Ensino, de Júlio César Araújo
>>> Laymert politizando novas tecnologias
>>> Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
>>> Gabeira sobre os protestos
>>> A Symphonia da Metropole
>>> Bar ruim é lindo, bicho
>>> A crise dos 28
>>> Animismo
>>> Expectativas e apostas na Copa de 2010
Mais Recentes
>>> Estorias dos sofrimentos, morte e ressurreição do senhor jesus cristo na pintura de emeric marcier de Affonso Romano de San'anna pela Edições Pinakotheke (1983)
>>> Coleção com 3 livros: Piadas De Boteco + Piadas de escritório + Piadas (muito) Bobas de Pepe Borrachov. Aníbal Litvin pela Vergara & Riba
>>> Kit com 2 livros: Lidere Sua Mente + Autocontrole de Augusto Cury pela Gold (2015)
>>> Laços (5ª reimpressão) de Domenico Starnone pela Todavia (2019)
>>> Apollinaire par lui meme (ecrivains De Toujours) de Pascal Pia pela Editions Du Seuil (1954)
>>> Old Man and the Sea de Ernest Hemingway pela Jonathan Cape (1955)
>>> A Essência do Talmud de Theodore M. r. Von Keler pela Ediouro
>>> O Pum E O Piriri Do Vizinho (5º reimpressão) de Blandina Franco - Jose Carlos Lollo pela Companhia Das Letrinhas (2020)
>>> South Africa 2010 Fifa World Cup - Livro Ilustrado Completo de Varios autores pela Panini (2005)
>>> No tempo dos Bandeirantes de Belmonte pela Melhoramentos (1948)
>>> Magia Do Verbo Ou O Poder Das Letras de Jorge Adoum pela Pensamento (1985)
>>> A Grande Fraternidade Branca e os Dirigentes Invisíveis de Kenneth w. Bourton pela Maya (1997)
>>> Academia Paulista de Letras - cadeira número cinco de Ignacio da Silvia Telles/ Paulo Bomfim pela Quatro (1991)
>>> A Varinha Mágica. Como Fazer de Ed Masessa pela Moderna (2007)
>>> Educação De Um Kabalista (2º edição) de Rav Berg pela Kabbalah (2015)
>>> Timequake. Tremor De Tempo de Kurt Vonnegut pela Rocco (1999)
>>> Através Do Espelho de Jostein Gaarder pela Companhia Das Letras (2000)
>>> Através Do Espelho de Jostein Gaarder pela Companhia Das Letras (2000)
>>> Através Do Espelho de Jostein Gaarder pela Companhia Das Letras (2000)
>>> Garota Das Laranjas, A de Jostein Gaarder pela Companhia das Letras (2012)
>>> Garota Das Laranjas, A de Jostein Gaarder pela Companhia das Letras (2012)
>>> O Alienista de Machado De Assis pela Penguin Books - Grupo Cia Das Letras (2014)
>>> Batman: Trilogia Do Demônio (Edição de luxo) de Jerry Bingham pela Panini (2024)
>>> Oliver Stone: Close Up: The Making Of His Movies de Chris Salewicz pela Thunder's Mouth Press (1998)
>>> O Mistério Do Cinco Estrelas de Marcos Rey pela Global (2005)
COLUNAS

Terça-feira, 4/3/2008
A Istambul de Orhan Pamuk
Roberta Resende
+ de 8300 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Acabo de ler Istambul (Companhia das Letras, 2007, 408 págs.), de Orhan Pamuk. Ávida para tomar lugar nessa leitura que tem encontrado aceitação elogiosa em nosso meio, surpreendi-me com a demora para gostar do livro. As primeiras 70 páginas foram-me custosas. São pouco atraentes; não é uma história no sentido usual, com começo, meio e fim, um romance. Tampouco se mostra como uma autobiografia tradicional. O próprio autor parece ter dificuldade para definir seu objeto, que fica, de início, embaralhado, escondido.

Para complicar ainda mais o começo, sem que tenhamos intimidade com o personagem, aos nossos olhos ainda apenas um sério senhor agraciado pelo prêmio da Academia sueca em 2006, somos colocados diante de revelações desconcertantes, íntimas, que parecem fora de lugar ― o contexto ainda não se fez.

Mas transposta a estranheza inicial, fui captada lenta e progressivamente; ambientei-me na Istambul do autor e caminhei com ele, curiosa, intrigada, interessada, até seu final. Aliás, e que final! O livro cresce colossalmente em seus últimos capítulos.

O autor entremeia suas memórias ― da infância ao início da vida adulta ― com considerações, explicações, questionamentos e narrativas sobre Istambul, sua cidade natal.

Não há um rigor lógico ou cronológico a presidir a narrativa; o livro foi escrito acompanhando o "tempo da memória". A questão principal a ordenar a escrita é saber quem é Istambul, definir seus contornos. Para a empreitada o autor vale-se de fotos, gravuras e desenhos, todos a tentar compor Istambul, a grande personagem que nomeia a obra.

Se procurarmos nos mapas e nos livros, veremos que Istambul está quase na Europa, onde, no entanto, já é Ásia; que já foi Constantinopla e Bizâncio. Que foi sede de um grande Império até 1923. Que na ânsia de se "modernizar", de fortalecer uma "identidade nacional republicana", foi palco de atos violentos contra gregos, judeus e armênios em 1955 ― conflitos abordados pelo autor.

Mas para Pamuk essas bordas são esfumaçadas, flutuantes, insuficientes. Sabe que a demarcar sua vida de escritor em um país do chamado Oriente, na periferia do mundo cultural, há o Bósforo, o Chifre de Ouro e a Ponte Gálata; a Hagia Sofia e seus minaretes; as yalis de madeira e o que sobrou delas. Mas não se sente seguro. É preciso demarcá-la com nitidez. Lança-se corajosamente na tarefa.

Como se formou a imagem que "o mundo" tem de Istambul?
Ao contar uma história absolutamente pessoal, e de maneira também radicalmente intimista, Pamuk acaba por propor questão universal, a formação do indivíduo e de seu sentimento de pertencimento a um povo, a uma cultura.

Um dos caminhos eleitos pelo autor para tentar explicar Istambul é discorrer sobre escritores e pintores antigos, suas influências, estilos, obras, recepção que tiveram. É recurso poético, pois recupera e homenageia a tradição. Ao autor interessa perguntar como a escrita e a pintura desses artistas moldaram a visão que os Istanbullus construíram de si mesmos ao longo dos anos. O rosto da cidade teria nascido do olhar dos artistas, que ao devolverem aos moradores imagens da cidade contaminadas por olhares de fora, por clichês estrangeiros sobre o exotismo oriental, acabaram por influenciá-los. São pistas que apontam para o duplo: é pelo olhar do outro que nos fazemos. Uma teia composta de ponto e contraponto, fios atravessados de uma margem a outra do Bósforo, de tal modo que o autor não sabe mais onde começa e onde termina seu "orientalismo".

A bela imagem das salas de visita ocidentalizadas a conferirem ar de museu às casas de Istambul da infância do escritor ― uma das poucas imagens inteiras que sobrevivem em meio às ruínas das primeiras 70 páginas ― ilustra bem a questão. A Istambul percebida pelo autor quer se ocidentalizar, parecer mais "civilizada" (e aqui nos reconhecemos, nós, brasileiros, sempre em busca de uma definição de nossa identidade a partir de paradigmas estrangeiros) mas teme perder suas raízes, seus traços distintivos, ficar "comum".

Outra ferramenta em que se apóia é a análise exaustiva da cidade. São páginas e mais páginas preenchidas com descrições impressionistas das ruas de Istambul e suas casas, da alma de Istambul. Pamuk tenta reconstituir o percurso discursivo que teria levado à identificação da imagem da cidade com a melancolia, a hüzün pela qual se sente assinalado.

Qual o papel de nossas origens em tudo o que nos tornamos?
Enquanto busca definir Istambul e apresentá-la ao leitor, Pamuk busca também entender em que momento teria se tornado escritor, conhecido sua verdadeira vocação. E em que medida Istambul teria contribuído para a formação dessa vocação.

Logo no início do livro há algumas linhas altamente reveladoras: "Era uma vez um tempo em que eu pintava. Ouvi dizer que nasci em Istambul, e sei que fui uma criança um tanto curiosa. E então, quando cheguei aos vinte e dois anos, parece que comecei a escrever romances sem saber por quê".

Saber por que. Eis a linha a conduzi-lo pela Istambul do passado. Pamuk caminha pela Istambul da sua memória para tentar entender em que momento deu-se o encontro com sua vocação. Crê que o encontro deu-se nas ruas da Istambul, quando vagava desesperado pela dor da perda da amada e da pintura. É curiosa essa coincidência que ele crê ter havido: quando perdeu a amada, perdeu também o interesse pela pintura. As duas tristezas se embaralham em suas recordações. E de tão grandes perdas só restou Istambul. Passou a vagar a esmo por suas ruas, a observar suas casas, e dessas andanças surgiu o amor por sua terra, por sua gente e por sua vocação. Sob o seu ponto de vista, estar em Istambul constituiu o escritor em que se tornou: "E aqui chegamos ao cerne da questão: nunca deixei Istambul, nunca deixei as casas, as ruas e os bairros da minha infância".

No início era o caos, que foi ordenado pela travessia, pelo caminhar lento, pelo conhecer-se e reconhecer-se.

O autor abre o livro contando que desde criança foi alimentado pela fantasia de que em algum lugar de Istambul havia outro Orhan, um gêmeo fantasmagórico, pelo qual ele nutria forte curiosidade. Ao final da leitura entendemos que sim, sempre houve outro Orhan. Um Orhan que dormitava dentro de si mesmo, que esperava ver definido seu caminho especial para acordar e tomá-lo. Um Orhan que se pôs de pé nas ruas de Istambul, quando se percebeu escritor.

Entendemos, por fim, que Istambul, a grande amada a acompanhá-lo vida afora, proporcionou-lhe autoconhecimento. Conhecendo-a, conheceu-se. Daí para falar de si mesmo e de sua vida, falar tanto de Istambul. Os caminhos se fizeram nas ruas de Istambul.

É sobre as marcas que nos formam que nos fala esse grande livro.

Para ir além






Roberta Resende
São Paulo, 4/3/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Quero ser Marina Abramović de Elisa Andrade Buzzo
02. Sobre o caso Idelber Avelar de Julio Daio Borges
03. Régis Bonvicino: voyeur-flânerie e estado crítico de Jardel Dias Cavalcanti
04. Perry Rhodan - 50 anos de aventuras espaciais de Gian Danton
05. Os sapatos confessam de Adriana Baggio


Mais Roberta Resende
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
26/1/2009
20h03min
Cara Roberta Resende, sua crítica acerca dessa obra de Pamuk ficou formidável! Sem dúvida que se trata de um livro denso e inicialmente difícil, uma vez que não há uma linha a se seguir. Mas, dando continuidade à leitura, somos absorvidos pela genialidade do escritor, que nos revela sua alma em palavras. Difícil não nos identificarmos com os "istambullus" - aos poucos perdemos nossa identidade para uma outra cultura e somos levados a sentir uma melancolia parecida com o "huzun": vivendo entre realidades tão díspares, não há como ser diferente.
[Leia outros Comentários de Glaydson de oliveira]
22/10/2012
11h10min
Acabo de ler este livro. comecei a lê-lo recém chegada de Istambul. Gostei desde a primeira página; fui sendo cativada linha a linha; não queria chegar à última página. O texto de Roberta Resende resume o livro e os sentimentos que ele despertou em mim; inclusive o hüzün que Istambul nutre.
[Leia outros Comentários de Sonia Barini Pansera]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Expresso do Oriente Coleção Supertítulos Volume 6
Graham Greene
Klick
(1997)



Superdotados - Trajetórias de Desenvolvimento e Realizações
Eunice Soriano de Alencar; Denise de Souza Fleith
Jurua
(2013)



Redescobrindo a Eucaristia
Cesare Giraudo
Loyola
(2006)



O Codificador Limpo - Um Código de Condulta Para Programadores Profissionais
Robert C. Martin
Alta Books



As Margens do Paraíso
Lima Trindade
Cepe
(2019)



A Garota No Trem
Paula Hawkins
Record
(2016)



Ben Hur
Lew Wallace
Airmont Books
(1965)



O Guardião Do Sétimo Portal
Maura De Albanesi
Vida E Consciência



O Último Testamento
Sam Bourne
Record
(2008)



Bases da Enfermagem Em Quimioterapia
Andrea Cotait Ayoub; Outros
Lemar
(2000)





busca | avançada
74965 visitas/dia
1,9 milhão/mês