Uma das grandes discussões recentes na Internet é a suposta falta de confiabilidade dos blogs. Assim, quem quiser passar respeito teria de se apossar dos preceitos do bom jornalismo para garantir qualidade de informação e, dessa forma, se legitimar. Mas será que é uma obrigação? Ou melhor, será que todos os blogs devem agir assim? É preciso lembrar que preocupações com procedência e qualidade devem ser levadas em conta para avaliar qualquer tipo de provedor de conteúdo. Um jornal ou revista estar há anos no mercado é um fator importante, mas não é só por fama que se faz credibilidade. Sabemos de manobras de meios de comunicação para favorecer certos grupos ou pressionar outros. E qualquer um que queira divulgar uma informação, seja onde for, pode escolher mostrá-la da forma como lhe convém. Ou tomemos como exemplo a frase de Assis Chateaubriand a seus empregados: "Quem quer ter opinião, que compre um jornal!". Hoje grandes veículos impressos (New Yorker, Economist etc.) são reconhecidamente de alta qualidade, e podem continuar daqui a 10, 20 anos. Mas não só tendem a migrar para a Internet, como tantos outros devem morrer. E bons jornalistas também devem migrar para a web, que vai revelar outros tantos talentos sem serem chamados de jornalistas (seriam blogueiros?Interneteiros? Ou simplesmente escritores?).
A recente competitividade e a decadência do mercado da mídia impressa fazem com que redações sejam enxugadas e jornalistas experientes sejam cortados em prol de jovens mais baratos. A necessidade de vender é inversamente proporcional ao condão do conteúdo e, particularmente na cobertura de cultura, as assessorias de artistas é que parecem pautar as redações. Isso não faz com que grandes da imprensa se tornem irrelevantes de um dia para outro. Mas é engraçado que clamem credibilidade quando vemos que a qualidade atual nem sempre acompanha a campanha. Esses fatores não impedem que tais veículos continuem nos trazendo boas análises e matérias de alto gabarito ― escritas tanto por profissionais jovens quanto por experientes. Nem são motivo para já darmos aos blogs a coroa de reis da informação. Afinal, também é possível encontrar uma enormidade de baboseiras e baixo nível na rede ― e em maior quantidade. Muitos blogueiros sentam na cadeira da comodidade antes sequer de serem relevantes. A ignorância pode nascer em qualquer lugar. Mas vale lembrar que nomes de referência no jornalismo sem terem se formado em tal (Daniel Piza, Ruy Castro, Sérgio Augusto, Paulo Francis). Por que algo semelhante não pode acontecer na Internet? De longe, parece que a grande imprensa está tremendo com a possibilidade de que seu status quo, sua imponência, sua relevância, sua postura de quinto poder ― o que leva inclusive à arrogância e a um "não me toques" ― estar tomando um enorme baque, nunca antes sentido.
Blog não é só gerar opinião ou informação, mas também é troca. São criadas interações com o leitor, bem como redes de contato. É uma relação bastante diferente do antigo jornalismo. No primeiro caso, quem lê pode opinar. Se isso por um lado é bom, pois é possível contestar o autor, por outro gera excessos nas atitudes, até irracionalidade e agressividade dos comentaristas, o que leva a um maior controle dos comentários ― um contra senso à idéia de liberdade que a rede dá. Algo nesse sentido saiu em recente pesquisa e já gera incômodo por parte dos promotores de conteúdo. Na geração de comunidades, novo paradoxo: a criação de "amigos", que se visitam, pode gerar apatia, falta de contestação, mas também promove retroalimentação e constante troca de idéias. E não só de blogs se faz Internet, mas também de portais, sites, fóruns e afins. A seu favor está a ampliação do texto: vídeos, fotos, links, áudio e comentários podem complementar e enriquecer o que é exposto. Um grande texto continuará um grande texto, mas se estiver munido de mais atrações, melhor ainda.
Para responder à questão exposta no título e no primeiro parágrafo, creio que blog não precisa, necessariamente, ser jornalismo. É apenas mais uma (democrática) ferramenta de comunicação: por que deve ter apenas uma maneira "correta" de ser usado? Por que não pode ser simplesmente um "diário adolescente"? Ou um local para expor pensamentos? Existem milhares de possibilidades. A aproximação ao que se entende por jornalismo vai depender do que se propõe expor e do preparo do blogueiro. Como leitor, me baseio na própria experiência: acho que para certos assuntos é necessário que haja profunda pesquisa e levantamento de diferentes versões de um fato. Principalmente em assuntos mais "pesados" ou que necessitem de fontes que não estão à disposição na Internet ― e é claro que um jornalista gabaritado ajuda a legitimar. Mas quem não for conhecido ou formado pode, aos poucos, se firmar como referência (lembram-se do "não-jornalistas" há alguns parágrafos?). Em temas de menor relevância, sem que se precise de fontes off-line, não vejo a necessidade desse tipo de atuação. E para assuntos mais específicos, de nicho, um jornalista dificilmente conseguiria cobrir de forma tão eficiente quanto uma pessoa que trabalha com o tema ou que o tenha como um hobby sério.
À medida em que é possível organizar o enorme conteúdo da Internet (via feeds, newletters etc.), podemos ter somente a informação que queremos. Em vez de uma dezena de cadernos com centenas de artigos, selecionaremos qual assunto queremos, que tipo de análise, de quem e com que freqüência. É o fim daquele amontoado de papel inútil; esse formato deverá permanecer por alguns anos, mas é possível que sirva para textos maiores, grandes reportagens e análises ― quem sabe até se aproximando de um formato de revista ― e com pequenas tiragens. A queda nas vendagens e anúncios mostra que o jornal físico como conhecemos está em decadência. Há quem justifique sua existência ainda por uma suposta "praticidade": "é mais fácil de ler", "é bom pra ler no café", "dá pra ler deitado", "levo no banheiro", etc. Bem, não passo a maior parte do tempo nem tomando café, nem deitado, muito menos no banheiro, mas sim na frente de um computador. E prefiro que as informações me cheguem organizadas por categoria ― posso bater o olho nos títulos e saber de antemão o que pode me interessar. A realidade mostra que os argumentos pró papel são cada vez mais fracos.
A Internet parece amedrontar muitos jornalistas: a perspectiva do desconhecido à espreita do conforto. A grande diferença hoje entre blogueiros e jornalistas vem daí: os primeiros nada têm a perder; em geral têm empregos fixos, escrevem por escrever e estão crescendo com a mudança. Já os segundos têm tudo a perder: o formato em papel está acabando, sua relevância já não é mais a mesma, seus empregos estão em risco e muitos enfrentam dificuldade com tecnologia. Talvez haja receio de terem de se tornar empreendedores, procurar novas oportunidades na rede e fora dela em detrimento a posições cômodas nas redações dos grandes jornais. Só não percebem o básico: o bom jornalista tem formação e talento como diferenciais ― só falta descer do salto, usar a criatividade e desbravar novas oportunidades.
O novo substituirá o velho! Tudo se transforma, nada se cria, e isso já dizia o Lavoisier, o cientista morto pelo louco, o esquizofrênico Robespierre. Há pouco mais de 120 anos, temos a luz elétrica, antes era só candeeiro, era um atraso danado! Há menos de 20 anos poucos conseguiam escrever em máquinas de escrever (isso não é redundância, é a pura verdade). Agora já escrevemos no computador e ficamos todos metidos e profetas. Tudo muda, e o jornalismo mudará também para a Internet, o jornal de papel ficará na lembrança, mas as empresas jornalísticas aumentarão a divulgação na rede e ficarão mais ricas. Entretanto, aniquilarão com 99% dos bloguinhos de hoje. Blog não é jornalismo, muito menos editor da boa literatura. Também passará.
E o livros de papel nunca terão fim; ler na tela deixa cego, vesgo, bobo e beocizado; é só ver o que se escreve por aí, pensando que são escritores... Nada como ler um livro, folha por folha, sossegado, embaixo de uma árvore frondosa, sem neura digital.
Quem não estuda, não se aprimora, não se informa, não se atualiza, não se recicla, não tem firmeza, não tem dedicação, não tem perseverança, não tem missão, não tem paciência, não tem determinação, não é solidário, não tem competência, não tem talento, está preocupadíssimo...
Olha, creio que não entenderam nada sobre a lenga lenga da mídia em relação aos blogs. Um blog pode ser utilizado como veículo de notícias, qual o problema? O blog do PHA, do Azenha e de outros jornalistas por acaso não são críveis? Agora, observem que na realidade eles emitem suas opiniões. Como num editorial. Um blog nunca foi nem será um jornal on-line, é um espaço onde o moderador publica de tudo, inclusive contestações à mídia atual, mas é sobretudo um diálogo. Os blogs referidos na mídia são os que têm a função de contestá-la. Daí a propaganda negativa, a perseguição. A mídia não fala do "flog" da Paulinha, fala dos blogueiros que fazem parte do SIVUCA, uma organização que contesta os políticos, a atual maneira de se fazer jornalismo no Brasil...
Abraços.
Para um bom entendedor meia palavra basta. Jornalistas estão precoupados em perder a disputa para os blogueiros. O que é compreensível. Mas, se tiverem qualidade e credibilidade, não há o que temer. É a lei da oferta e da procura de informação.