Dia desses, li uma reportagem na versão digital da revista Exame sobre a geração Y: jovens executivos "impacientes, infiéis e insubordinados". Você acha que a matéria fala sobre a dificuldade dessas pessoas em encontrar emprego? Não, muito pelo contrário. O foco é nas estratégias que as empresas estão tomando para poder atrair e reter esses talentos.
O problema de ler reportagens como essas (e revistas como a Você S/A) é que, se você não é um super executivo ou executiva com 20 e poucos anos de idade e salário de R$ 20 mil por mês, corre o risco de achar que sua carreira está perdida.
Pelo senso comum, as três características ali de cima são o caminho mais rápido para o bilhete azul, e não para uma promoção. Chefes em geral não gostam de insubordinação, mesmo que você esteja com a razão. Essa regra só pode ser quebrada com sucesso por dois tipos de profissionais: os gênios e os políticos.
Os primeiros são aqueles que dão excelentes resultados. Vale a pena bancar o custo da quebra das regras diante dos benefícios que a pessoa traz para a empresa. Os do segundo grupo são os que se integram perfeitamente à fauna corporativa. Decoram todas as estratégias de marketing pessoal, de como aparentar competência e de como agradar a chefia. E acabam saindo ilesos de situações em que outros se ferram.
A mudança nas relações corporativas realmente é uma tendência. As hierarquias estão mais frouxas, o tempo de permanência em um emprego diminuiu, é mais fácil expor as idéias. Porém, expandir demais esses limites impunemente é um privilégio para poucos profissionais e em poucas companhias. Por isso, não desanime: a maior parte das pessoas trabalha em empresas normais, onde quem tem que mudar é você e não o RH e onde o funcionário está mais preocupado em perder o emprego do que a empresa em perder o empregado.
Assim como a carreira executiva não é unanimidade, o emprego das 9 às 18, com carteira assinada e vale-refeição também não é a única opção de ocupação. Aliás, quanto mais as pessoas se desapegarem dos formatos tradicionais de trabalho, mais oportunidades terão de garantir o leitinho das crianças no final do mês com dignidade e até felicidade.
Vejamos os fatos: o crescimento econômico do país não acompanha a demanda por empregos. As empresas não agüentam os custos que incidem sobre a contratação de empregados ― seja por desorganização, estratégia ou por inviabilidade mesmo. A "juniorização" é um fenômeno real: mão-de-obra barata, recém-saída da faculdade, tentando fazer um trabalho que profissionais mais experientes faziam (antes de serem demitidos por causa de seus, teoricamente, altos salários e espíritos críticos idem). Se você é um pouco mais velho e tem uma expectativa de remuneração compatível com sua capacidade e tempo de estrada, as coisas ficam ainda bem complicadas.
O que fazer pra se dar bem nesse cenário? Não sou Max Gehringer e nem consultora da Catho, mas adoro dar palpites. Então, reuni algumas dicas para cada objetivo de vida profissional.
Enriquecer
Não nasceu em berço de ouro e não quer esperar para casar com alguém mais abonado? Então vire um empreendedor. Para tal, você precisa ser flexível, otimista, visionário, intrépido, cara de pau e não pode ter frescura. Sim, porque talvez seus colegas trabalhem em um belo escritório, no ar condicionado, enquanto você vai estar vendendo cofres no meio da rua, com a mercadoria exposta no porta-malas do carro. A vantagem é que, com o dinheiro obtido, você pode ir melhorando de produto e de ponto de venda. E, assim, construir um belo patrimônio.
Ser um executivo de sucesso
Faça faculdade de administração, economia, ciências contábeis ou engenharia. Enquanto estiver na faculdade, arranje um estágio em uma multinacional. Candidate-se a programas de trainee. Aprenda e pratique regras de marketing pessoal e networking. Domine os termos que mais utilizados nas reuniões, como ASAP e BAU (as soon as possible e business as usual, respectivamente). Exercite a habilidade de ser, ao mesmo tempo, nem muito comum, nem muito diferente. Faça um MBA em escola de renome. Aprenda a arte da guerra, a fazer amigos, a gerenciar pessoas e a não mexer no queijo dos outros, principalmente no do chefe.
Viver da sua arte
Mesmo os artistas de talento podem ter dificuldade em sobreviver. Então, é preciso um pouco de flexibilidade. Isso significa submeter sua arte a condições que fazem dela um pouco menos arte e um pouco mais mercadoria. Você desenha e ilustra? Faça freelas para agências de propaganda. É fotógrafo? Idem, além de cobrir eventos. É músico? Encare uma banda baile de vez em quando, grave jingles. Participe de projetos culturais, leis de incentivo, concursos. E com a onda da produção de conteúdo cada vez maior na propaganda, estão surgindo boas oportunidades para integração das marcas com produções artísticas.
Passar em concurso público
Estude. Se a prova tiver redação, quem sabe se expressar por escrito tem mais chances. Como essa é uma deficiência geral dos brasileiros, principalmente dos jovens (falta de leitura), aprimore seu texto e saia na frente.
Trabalhar como criativo em agência de propaganda
Compre um iPod. Alimente sua cultura geral, erudita, popular. Desenvolva sua técnica (texto? direção de arte? webdesign?). Procure, peça, implore, rastaje por um estágio, nem que seja de graça. Escolha uma agência reconhecida, com um bom trabalho e grude no profissional que você achar mais talentoso (e que tenha chances de crescer e levar você junto). Participe dos eventos, das festas, das happy hours. Inscreva seus trabalhos nos prêmios, concursos e festivais. Busque obsessivamente a idéia que vai fazer você se destacar dos outros mortais. Prepare-se para abandonar sua vida pessoal.
De uma forma geral, o emprego está em extinção. Isso é tão clichê quanto dizer que cada um é uma empresa. Mas enquanto as pessoas não assimilarem essas duas grandes verdades, vão continuar reféns dos patrões. Exercite o desapego do INSS, do FGTS e do seguro desemprego. Não que você deva desprezá-los. Na prática, significa curtir esses benefícios enquanto eles existirem e se preparar para viver sem eles. Como? Aí vai mais uma lista de pitacos (os últimos, eu prometo):
― Faça uma poupança, para não ficar muito desesperado na época das vacas magras;
― Tenha um plano B. Pode ser um outro emprego ou um hobby com potencial para dar dinheiro;
― Use a internet para divulgar o que sabe fazer e que pode interessar a outras pessoas ou empresas, seja você um músico, um fotógrafo ou um artesão. Os blogs, Orkut e o MySpace estão aí pra isso;
― Apareça! Participe de eventos, cursos, publique suas idéias e seus trabalhos. Nas suas manifestações, cuide para ser coerente com a imagem que deseja projetar;
― Potencialize suas habilidades. Tem aquele cara que sabia consertar tudo dentro de casa: quando ficou desempregado, a esposa dele inaugurou o serviço "Marido de Aluguel";
― Encontre um nicho de mercado. Talvez você não seja o gênio da sua área de atuação, mas pode explorar trabalhos que outras pessoas não querem/não sabem fazer, criando um bom diferencial profissional;
― Tenha um plano de previdência, um plano de saúde e priorize essas duas contas na sua vida.
Tornar-se independente do holerite não é chutar o pau da barraca. É estar preparado para desistir do conforto do emprego quando ele passa a prejudicar o resto da sua vida. É poder deitar à noite com uma certa tranqüilidade, e não com o pavor de quem sempre espera ser o próximo na política de cortes da empresa. É ter um pouco de autonomia e responsabilidade pelo próprio destino. Isso tudo dá um friozinho na barriga, claro. Mas ele pode vir do medo do desconhecido ou, quem sabe, do prazer da liberdade.
Muito boas dicas! Um pouco de sorte também ajuda. Mas, quem junta tudo o que possui de bagagem de conhecimento, habilidade e informação à coragem de arriscar, corre o risco de descobrir a melhor coisa do mundo: trabalhar com independência no que gosta! E ganhar muito dinheiro...
Você tem razão e já repetiu acima que não é novidade. Emprego praticamente já foi extinto. O que existe, na minha opinião, é a tal terceirização. Ganha-se mais? Não sei. Tenho minhas dúvidas.
De qualquer forma, prefiro usar a máxima, segundo a qual você não tem emprego e trabala tanto quanto quando tinha, mas é senhor do seu tempo. Você tem de administrá-lo. Ponto. Abs digitais, Mari-Jô Zilveti
Não tenho nenhum diploma de faculdade e nenhum curso no exterior, desde cedo tive que lutar por meus sonhos, e hoje amo o que faço e tenho uma remuneração muito boa, o engraçado é que comigo acontece ao contrário do que vejo no mercado: depois que consegui chegar onde queria (com dignidade) é que vou buscar uma faculdade. As oportunidades estão aí, muitas vezes nós precisamos criá-las e, com humildade, transformamos essa oportunidade em possibilidade.
Abs, Diva.