Não gostar de Machado | Daniel Lopes | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 3/6/2008
Não gostar de Machado
Daniel Lopes
+ de 14500 Acessos
+ 24 Comentário(s)

Não gostar de Machado de Assis, no Brasil, é arriscado. Quero dizer, se você sair por aí dizendo que não gosta. Mesmo se lhe foi pedida uma opinião. Você não corre o risco de ser surrado (não sei se essa garantia serve caso você esteja nos corredores da ABL), mas com certeza receberá aquele olhar de piedade que apenas os seres superiores sabem produzir.

Você é criticado por não gostar de Machado mesmo por quem nunca o leu, ou, ainda pior, por quem o leu e também não gostou, mas ainda assim... patrimônio nacional é patrimônio nacional. Mexer com Machado é quase como mexer com a Amazônia. Quase, nada, é pior, muito pior. Se Al Gore quer saber o que é realmente bom pra tosse, que experimente, em vez de dizer que a Amazônia é do mundo, declarar que Machado é "um escritor de segunda", como já opinou Millôr Fernandes.

Há pouco tempo, um leitor do Digestivo, comentando no meu perfil, se revoltou contra o fato de eu ter escrito que "ainda no colégio, nunca consegui gostar de Machado de Assis, e apenas quando já havia entrado na universidade pude compreender que não perdera nada". Também concorreu para aumentar a indignação do leitor o fato de eu ocupar espaço no Digestivo com textos sobre livros de autores estrangeiros, insignificâncias como J. M. Coetzee e Nathaniel Hawthorne: "Não gostar do Machado e gostar de escritores estrangeiros bem traduz esta juventude de hoje influenciada pela cultura americana e outras, que entram nos nossos ouvidos diariamente pela mídia e também por livros".

O autor da mensagem assinou como Delton. Eu lhe enviei uma resposta, mas esta voltou, acusando e-mail inválido.

Seja como for, assim que li seu comentário lembrei de algo que me ocorreu logo que entrei no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Piauí. Foi em 2003. Certo dia, entre uma aula e outra, estou a folhear no corredor um livro de George Orwell, quando um rapaz mais ou menos da minha idade pára sua caminhada simplesmente para dizer que eu sou um alienado. Eu levanto os olhos e o vejo erguendo um livro de José de Alencar. "Já leu isso?", perguntou. Sou um sujeito muito tímido, não gosto de discutir nem com gente inteligente. Disse apenas que "já, é um livro muito ruim". Nem vi direito o título, mas se era José de Alencar só podia ser algo chato, e eu queria me livrar do rapaz o mais rápido possível. Ele resmungou e foi embora.

Hoje penso que ele devia ser um desses membros do movimento estudantil que gastam mais tempo se movimentando do que estudando. Não sei se ele viu que o livro do Orwell era em inglês, pois eu estava começando a estudar inglês. Acho que não viu. Se tivesse visto, a bronca poderia ter sido maior. Com certeza, ele não sabia da história de vida de George Orwell. Tomara que, de 2003 para cá, a militância do jovem fã de Alencar em um partido político ou outro lhe tenha deixado algum tempo de sobra para aprender sobre a participação de Orwell na Guerra Civil espanhola, do lado dos republicanos e contra os fascistas ― experiência que gerou o livro Homage to Catalonia.

Nacionalismo literário
"Triste do povo que precisa de heróis". O que diria então Bertolt Brecht da carolice de uma intelectualidade nacional que precisa de heróis para se sustentar?

Sempre duvidei que alguém em sã consciência, se lhe fosse dado dois livros, um de George Orwell e um de José de Alencar, ao cabo das leituras preferisse Alencar. Se preferir, não discriminarei. Juro. Mas duvido que prefira.

É verdade que Machado de Assis não é tão ruim quanto José de Alencar. Se, conforme disse em recente entrevista ao jornal Rascunho o professor e escritor sergipano Antonio Carlos Viana, "dar Machado de Assis para um menino de 15 anos é querer que ele não goste de literatura, nunca mais", o que dizer do trauma gerado em um jovem que é forçado a ler coisas como Senhora? Viana diz ter acabado de escrever um livro em que indica 45 autores indispensáveis para que alunos do segundo grau tomem gosto pela leitura ― entre os quais, Franz Kafka e John Fante. Estou com ele.

Aliás, por que mesmo nossas crianças e jovens são torturados com obras monstruosas da literatura brasileira e portuguesa, ao mesmo tempo em que são privados dos grandes clássicos da literatura universal? É claro que existem excelentes obras brasileiras ― é difícil, por exemplo, imaginar um estudante não se divertindo e se comovendo com Memórias de um sargento de milícias ou Triste fim de Policarpo Quaresma. Mas por que, em vez de incluir estorvos do período romântico brasileiro, nossas grades curriculares não permitem aos mestres trabalhar novelas de Herman Melville, Gogol e Tolstoi, contos de Jack London e por aí vai? É para "valorizar o que é nosso"?

Mas enquanto a função principal dos nossos professores de literatura for fazer os alunos detestarem a literatura, o tipo de produto literário nacional que os estudantes irão comprar em sua vida adulta será, no máximo, as obras completas de Paulo Coelho, empilhadas estrategicamente na estante da sala, unicamente para fins de enfeite.

De cada 100 jovens que entram na universidade (tendo feito belos pontos nas provas de literatura), quantos se tornarão adultos apreciadores da literatura relevante, nacional e internacional? Sejamos benevolentes, suponhamos que esse número seja de 10. Desses 10, quantos devem à escola essa dádiva? 1. Podem sair pesquisando por aí. Os outros 9 se comportaram de forma rebelde na juventude, fingindo que liam poesia parnasiana, apenas para fazer a média na prova, enquanto que, na surdina, encontravam em sebos e bibliotecas o que realmente lhes dava prazer e o que de fato os transformou em leitores maduros ― alguns, até, apreciadores de Machado de Assis.

E para constar. O que respondi ao leitor Delton no e-mail que não foi entregue, em resumo, foi que

― é verdade, não gosto de Machado de Assis. E não é porque nunca o li, ou não entendi as estórias. Sim, li algumas e as compreendi, mesmo as que abandonei pela metade. O que não quer dizer que no futuro, em novas leituras, não possa vir a gostar dele. Mas não sinto a menor obrigação de fazê-lo;

― é uma besteira achar que se alguém não gosta de Machado ou qualquer outro escritor é porque tem que crescer mais "literaturalmente". Claro, eu tenho muito que evoluir, e espero evoluir sempre. Mas quem garante que, lá pelos 140 anos, tendo evoluído continuamente, ainda assim eu não vá gostar de Machado? Ou será que se o sujeito tem 100 anos e não gosta de Machado é porque ele não evoluiu o suficiente? E quem gosta de Machado aos 15 anos já atingiu o ápice de sua vida "literatural"? Que bobagem, não é mesmo?

― eu lhe asseguro que é muito bom ser influenciado por culturas de fora, dos EUA, da Europa, Oriente, África, Marte... Tão bom quanto ser influenciado pela cultura local. Acredite, há porcaria escrita em todo lugar, e em todo lugar há coisa boa à nossa espera. Pergunte a Machado, que era fã de carteirinha de Montaigne e Laurence Sterne.

Nota do Editor
Leia também "Por que não estudo Literatura" e "Formando Não-Leitores".


Daniel Lopes
Teresina, 3/6/2008

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/6/2008
09h23min
Daniel, você critica a inclusão de escritores brasileiros, partindo do pressuposto de que, ao ler grandes clássicos universais, o estudante supostamente gostará da literatura, ao contrário do efeito produzido pela literatura nacional. Isso é uma falácia. O que move alguém a gostar da literatura não é algo assim tão simples. Essa fórmula mágica de que, para alguém gostar da literatura basta que seja apresentado aos livros certos, não existe. Defendo a inclusão da literatura nacional por causa de um ponto simples: já que o aluno passará o resto da vida sem ler nenhum livro, que pelo menos saia do ensino médio com um contato mínimo com clássicos da literatura nacional. Não se trata de "valorizar o que é nosso", apenas de um modo de ensinar um conteúdo relevante, afinal, ninguém cogitaria a hipótese de substituir em História textos sobre o descobrimento do Brasil por textos sobre a formação do império germânico por esses interessarem mais ao estudante... Dos males, o menor.
[Leia outros Comentários de Leandro Oliveira]
3/6/2008
12h32min
Caro Leandro, eu critico apenas a inclusão de livros que, certo como dois e dois, afastarão o aluno da literatura. Não é novidade essa crítica, eu estou apenas passando adiante. Acho que aos alunos deveria pelo menos ser dada a opção de gostar mais de Machado de Assis ou de Jonathan Swift, por exemplo. Não é verdade que, saindo do ensino médio sem traumas literários, a pessoa terá mais probabilidades de, no futuro, vir a gostar mesmo de José de Alencar ou Camilo Castelo Branco? De resto, permita-me discordar: trabalhar, digamos, Kafka em sala de aula não seria de maneira alguma como estudar a formação do império germânico em detrimento da história brasileira. Até porque temos duas matérias de história no colégio, uma para a brasileira e outra para a universal, enquanto que no espectro do ensino de literatura somos pobres ao extremo.
[Leia outros Comentários de Daniel]
3/6/2008
23h18min
O intuito de incentivar a leitura de "clássicos" da literatura brasileira em detrimento da literatura universal seria justamente privar o povo de cultura de verdade e então preservar uma nação de medíocres...
[Leia outros Comentários de Cristiane Cardoso]
4/6/2008
10h11min
Fazer alguém gostar de literatura é uma improbabilidade como qualquer outra, meu caro. Assim como fazer gostar de matemática, de história, de química. Não se sabe (nem jamais se saberá) o que, exatamente, que conjunções e redes de sentidos, faz com que um indivíduo goste de literatura (ou de qualquer coisa). O problema é que todos acham que podem e sabem se meter no trabalho dos professores de literatura ou de português. Em qualquer mesa de boteco, comentários como os seus são aventados até que todos estejam bêbados. O negócio é saber que nem todo aluno é igual (em lugar algum), o que pode aumentar a probabilidade de uns gostarem de Machado e outros de Zola. Vários estudantes não gostarão de nada. Muitos serão empresários bem-sucedidos, gostando ou não de Machado ou de equações de segundo grau. Outra coisa: muitas nações precisaram de heróis. A Itália, por exemplo, elegeu Dante. E assim foi com a maioria dos países que precisaram constituir uma literatura nacional. Mas... são europeus.
[Leia outros Comentários de ana elisa ribeiro]
4/6/2008
10h51min
Sim, sim! O Machadão está em todas. O cara, já consumido pelos vermes, consegue extrapolar o seu tempo e assombrar os leitores do século XXI, sendo leitura obrigatória para todos que querem alcançar um lugar nas universidades e afins de nosso país. Sou professora de Português e Literatura e quase sou obrigada a fazer com que meus alunos (ensino médio) leiam o tal. Lógico que ele é bom, ainda mais se comparado ao J. Alencar; mas se eu falar, por exemplo, que não gosto tanto, é capaz de ser apedrejada. O leque deve ser mais amplo. Oferecer e mostrar as possibilidades da literatura e deixar a escolha ao leitor, acho que é minha função. O medo é que sempre escolham um Paulo Coelho, por exemplo. Beijo. PS: O artigo do Guga enriquece bem esse aspecto...
[Leia outros Comentários de Adriana Godoy]
4/6/2008
11h54min
Daniel, permita-me discordar de você. Isso não é "certo como dois e dois". Quem acha que Machado afasta o aluno da literatura e Jonathan Swift aproxima é você. Esta é uma preferência sua. Eu fui "obrigada" a ler Machado na escola, aos 14 anos, e acabei gostando. Gosto muito do Machado, embora me irrite com essa coisa de "patrimônio nacional". Não sei se ele é o melhor autor brasileiro, como dizem. Sei que é bom. Fazer ranking é bobagem... Na minha sala do ensino médio (saudosos tempos!), algumas pessoas gostaram do Machado e outras não gostaram, mas ainda assim continuam a se interessar por literatura do mesmo jeito. Detestei o José de Alencar e nem por isso disse "meu, nunca mais quero ler literatura brasileira na vida!". Acho que você está sendo reducionista.
[Leia outros Comentários de Marjorie Rodrigues]
4/6/2008
14h34min
Já não me sinto mais um herege condenado à fogueira eterna pela casta sacerdotal impenetrável da ABL. Não cheguei também a gostar de Orwell, o que pode ser uma condenação também aqui. Ultimamente estou envolvido em livros que refletem meu interesse por uma virada na maneira que os nossos escritores deveria nos brindar com suas penas. Não me envergonho de ter meus três últimos Neve - Orhan Pamuk - Companhia das Letras, A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak - Editora Intrínseca e O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini - Editora Nova Fronteira. Me envergonho sim por ter gostado de Monteiro Lobato na minha infância (e a razão escrevi aqui)... Abdalan
[Leia outros Comentários de Abdalan da Gama]
4/6/2008
14h50min
É ridículo querer impor regras e gostos literários, ou seja: cada um com seus gostos e, se todos gostassem do Machado, essa troca de idéias não estava acontecendo... Parabéns, Daniel, pelo texto.
[Leia outros Comentários de Paula Andréia]
4/6/2008
23h12min
Dan, te digo que eu gosto do Machado, mas não me sinto evoluída intelectualmente por isso. Gosto, mas não o considero o melhor escritor brasileiro. Sou mais um Aluísio, um Augusto dos Anjos, um Dalton Trevisan, um Guimarães Rosa, dentre outros singularmente geniais para mim. Como educadora, vejo que é um erro curricular de nossas escolas privar culturalmente seus estudantes de terem acesso à literatura de outros países. Lembro que no 2º ano disse a minha professora de literatura que o Romantismo francês e alemão era muito mais vivo e empolgante; ou você não acha Vitor Hugo mil vezes melhor que o José de Alencar? E só um particular, aquele pequeno que te abordou com um livro do Alencar na mão com certeza devia ser um idiota, pois até onde eu sei, os grandes militantes do movimento estudantil devoram Orwell (conheci o autor através de discussões e debates promovidos pelo M.E), e de preferência em sua lingua materna, para evitar a dertupação das traduções.
[Leia outros Comentários de Gerusa]
5/6/2008
00h47min
Daniel! Apenas para finalizar, comentei sobre as generalizações, porque entristeceu-me ver você cometer esse peculiar erro! Primeiro, identificou alguém que te abordou de forma ingênua/babaca, nacionalista, como sendo alguém do ME (movimento estudantil); segundo, imaginou a leitura desses militantes. Digo-te, meu amigo, que ao entrar para o ME, coisa do Século Passado, fui, primeiramente, apresentado a uma pauta de leitura, que não era, de modo algum, nacionalista. Os grandes líderes, e alguns militantes de base, que conheci, à época, eram grandes intelectuais, com uma formação cultural universalista e humanista. Sempre me recomendaram a boa literatura, que, tirando um ou outro, sempre é formada por uma lista mais ou menos igual... De clássicos a populares... E, quem me fez gostar de literatura, dos nove aos doze anos, foi um cidadão chamado Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido como Mark Twain! Abraços!
[Leia outros Comentários de paulo vilmar]
5/6/2008
13h36min
Daniel, simplesmente fantástico o fato de você levantar essa questão. Concordemos ou não, discutir isso abertamente já é um ganho! Concordo com você em vários pontos, mas vejo como culpada a má-formação literária do brasileiro, fruto de um currículo escolar obrigatório e muito pouco arejado. Num país em que o ensino se pauta voltado apenas para o Vestibular, não há margem para crescimento intelectual de verdade. Do antigo ginásio para o colegial, o aluno sobre uma "descompressão" literária: acostumado a ter prazer com textos didaticamente adequados (como a famosa "Coleção Vaga-lume", da Ática), se vê diante de estruturas complexas e temáticas adultas, cuja identificação é forçada e a apreciação pouco natural... A leitura, quando deixa de ser uma jornada prazerosa e se torna pura obrigação acadêmica, assina seu atestado de óbito.
[Leia outros Comentários de Leonardo de Moraes]
5/6/2008
16h03min
Não sei o que faz um jovem do ensino médio gostar de literatura, seja nacional ou internacional, mas José de Alencar, com certeza vai fazer o estudante pular várias páginas e procurar um resumo para conseguir se dar bem na "ficha de leitura"! Também não sei se eu teria entendido (e gostado tanto de) George Orwell se o tivesse lido durante o ensino médio, mas tirem "Senhora" das mãos dos estudantes brasileiros e coloquem "A Revolução dos Bichos" ou "A Metamorfose" e a chance de eles se interessarem pela leitura aumentará muito! Quanto a Machado, eu gosto muito, mas concordo totalmente com o Daniel, quando ele diz que devemos evitar esse nacionalismo literário e valorizar o que é bom, seja da nossa cidade, seja de Marte!
[Leia outros Comentários de Juliana Dacoregio]
5/6/2008
18h05min
É muito bom saber que existem outras pessoas que não amam Machado de Assis. O único livro dele que gostei realmente foi "Dom Casmurro". Recentemente disseram-se que seria interessante se eu lesse os contos de Machado de Assis (interessante para melhorar e amadurecer a minha escrita), mas não consegui ir em frente. "Uns braços" é extremamente desanimador, assim com "A cartomante". Houve um do qual gostei, mas não lembro o título, sei que a história é de uma solteirona que passa o tempo a relembrar antigos amores...
[Leia outros Comentários de Gelsa Mara]
6/6/2008
01h43min
Não creio que exista alguém em Brasília tentando impor aos nossos infantes leituras goela a baixo. Falta discussão, e na falta, deixe-se tudo como está! É lógico que o estudo da literatura não deve ficar amordaçado aos nossos Machados e Josés! Caso contrário, vamos fazer nossas listinhas, pegar uma foice e partirmos para a briga. Não podemos, também, generalizar, achando que tudo é ruim. Temos ótimos escritores pátrios (escritores pátrios é ótimo) ou de outras plagas! Devemos é pensar no preparo dos professores, imagine "O mundo de Sofia", sendo apresentado por quem nada entende de filosofia, daria outro livro! A apresentação é necessária, mas o gosto pelos livros é algo individual, não pode-se obrigar ninguém a gostar. Abraços!
[Leia outros Comentários de paulo vilmar]
6/6/2008
07h33min
Daniel, adorei seu texto! Sempre odiei Machado de Assis (e também José de Alencar, claro) e sou sempre criticada por isso. E o pior é ser criticada por pessoas que nem sequer têm o hábito de ler (refiro-me à literatura, claro!). Aliás, em meu ensino médio, eu sempre me perguntava porque os autores estrangeiros eram melhores que os nacionais (e eu odiava essa idéia). Só depois eu descobri que existem autores nacionais ótimos. E eu não devo isso à escola...
[Leia outros Comentários de Carolina Costa]
6/6/2008
09h44min
Daniel, olha, na verdade não importa muito gostar ou não de Machado. Até porque o que se lê, se guarda no intelecto, se absorve, é uma diversão solitária. Praticamente uma masturbação intelectual. Ou seja, há quem se divirta e se enriqueça intelectualmente com Paulo Coelho, com Diogo Mainardi. E por aí vai. Eu também sou das ciências sociais e há quem leia Marx, Weber e Durkheim e ache maravilhoso. Vira Bíblia. E há quem ache uma porcaria. Ou seja, a leitura é um momento solitário entre você, leitor, e o autor em forma de livro. Às vezes há conexão, as vezes não há. Eu acho Machado de Assis o melhor escritor. Do Brasil e do mundo. Mas isso é uma conexão íntima com o autor. Minha com Machado. É rir das piadas sarcásticas que ele faz, é conhecer a história do Rio de Janeiro e do Brasil através de seus textos, é conhecer outras nuances da belíssima língua portuguesa. Ler Machado não é fácil...
[Leia outros Comentários de Elaine]
6/6/2008
12h46min
No mundo hodierno fatos se sucedem em nanosegundos. A avalanche de informações gera o estresse, do qual todos, que pensam, são portadores... Concordo com Daniel e também não gosto do estilo H20 de Machado (incolor, insípido, inodoro, e adaptável ao continente). Melhor aprender sobre a vida dos rotifers por ex - pq, da vida deles, podemos inferir a história da sexualidade humana. Ou sobre os cantores de Tuva que nos impelem a conhecer o uso extenso do aparelho respiratório e das pregas vocais... Agora, escrever livros e teses para discutir a fidelidade sexual da heroina de olhos oblíquos de cigana dissimulada... Bem... "to each his/her own". Parabéns, Daniel (for having the guts - not to say something else..). Cylene
[Leia outros Comentários de Cylene Gama]
7/6/2008
12h34min
Li esse texto agora de manhã e fui buscar uma passagem do "Como e por que ler" do Harold Bloom que estava folheando ontem à noite e que cai como uma luva (acho) aqui: "Exorto o leitor a procurar algo que lhe diga respeito e que possa servir de base à avaliação, à reflexão. Leia plenamente, não para acreditar, nem para concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza que escreve e lê". E acho que há dois tipos de literatura, assim como há dois tipos de música, ou de qualquer expressão artística: a boa e a ruim, sem necessidade de se olhar para o "passaporte" delas. E discordo quanto ao fato de ser difícil fazer com que alunos gostem de literatura. Acho que o bom professor, aliado a um bom livro e a uma boa comunicação com os alunos, pode, sim, fazer com que esse pavor aos livros seja, se não eliminado, ao menos diminuído - e, certamente, farão aqueles que têm pendor para a leitura descobrirem de forma rápida e prazerosa.
[Leia outros Comentários de Flavia Penido]
7/6/2008
17h04min
Não gostar de Machado de Assis soa tão herético quanto criticar um livro de Jô Sares. Mas isso demonstra pelo menos três aspectos positivos: Machado e Soares foram lidos; qualquer unanimidade é burra; vivemos numa democracia... Talvez um quarto seria: gosto não se discute?
[Leia outros Comentários de Guto Maia]
8/6/2008
15h03min
Olá, Daniel! Embora seja um apaixonado pelas obras de Machado de Assis, concordo, em parte, com tua crítica. No entanto, o passar dos anos nos faz mudar de idéia, sim. Odiava Machado de Assis nos tempos de escola; do mesmo modo que odiava Erico Verissimo, devido aos primeiros livros (aborrecidos) que li, chamados "Clarissa" e "Música ao longe". Sendo gaúcho, sou proibido, veementemente, de não gostar dos Verissimo (Tem também o Luis Fernando; filho de Erico). No entanto, talvez hoje, relendo, entenderia aquele exagero de detalhes, uma vez que os uso em meus contos e meus leitores adoram. Sendo professor de LEM Inglês, com Especialização na Literatura Inglesa, prefiro muito mais o reino da magia, introduzido em quase 90% das obras, as quais fizeram a fama da LI no mundo. Trabalhá-la em sala de aula é muito fácil devido à ajuda dos filmes e os alunos adoram; muito mais do que a Brasileira. Mesmo assim, desenvolvi técnicas que os fazem gostar da LB também. (Segue...)
[Leia outros Comentários de Daubi Piccoli]
8/6/2008
15h06min
No caso de Machado, até armar um júri de brincadeira para julgar Capitu serviu de incentivo para despertar neles o gosto pela LB. Dali saíram até advogados, depois. Um bom professor faz você gostar até de Paulo Coelho (eca!) e de física quântica. Pode estar certo disso! Te recomendo apenas que não fiques sisudo a esse respeito. Mesmo com tantas críticas ao teu texto; não as leve em consideração a ponto de nunca mais retirar um Machado da estante ou buscá-lo em uma biblioteca ou livraria e lê-lo, assim, descompromissadamente, sem reminiscências e recalques, se isso te der vontade um dia e depois sentires um prazer estranho, vindo de um lugar inexplicado e recôndito de teu cérebro. Aconteceu comigo recentemente; quase trinta anos depois de ter saído do ensino médio e com as obras de Machado mesmo! Livre de preconceitos naturais da juventude, aproveitei e senti muito prazer nisso. Um grande abraço e sucesso!
[Leia outros Comentários de Daubi Piccoli]
9/6/2008
15h30min
Gosto muito da literatura machadiana. Li no ensino médio, obrigada. Mas me encantei pelo seu jeito irônico e crítico. Concordo, claro, com a crítica à leitura obrigatória. No colegial, fui obrigada a ler obras literárias, de algumas gostei, outras me foram forçadas... Na verdade, amo ler e sou apaixonada por literatura; graças à formação que tive em casa... Por ver meu pai lendo jornal e por ter várias obras na "biblioteca" dele... Detestei também José de Alencar e, ainda, Guimarães Rosa. Isso não quer dizer que sou menos inteligente ou que isso me descalifica. Temos que formar um país de pessoas que leiam por prazer!
[Leia outros Comentários de Tancy Mavignier]
12/6/2008
16h17min
Machado... Alencar... Todos são bons. Já dizia Joseph Conrad, escritor inglês, que o autor escreve apenas a metade do livro. A outra metade é por conta do leitor. Assim, Alencar pode ser ótimo para "Serafim", como Machado excelente para "Wilson". Até Paulo Coelho é bom: tem seus livros em 160 paises... Quanto a mim, creio firmemente que apenas se escreveram no mundo três livros: o "Novo Testamento", "Dom Quixote" e "O processo". O primeiro é nossa relação com Deus; o segundo é nossa relação com a vida; o terceiro é nossa relação com o Poder. O resto são cópias.
[Leia outros Comentários de Feiz Nagib Bahmed]
24/7/2008
11h21min
Na boa, tente sair por aí dizendo que o Chico Buarque, de "Budapeste", é horroroso. Aí, sim, você vai ver o que é levar cascudo na cabeça. Abrs
[Leia outros Comentários de Stefano]
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