Blog é liberdade. Ninguém a não ser você tem o direito de interferir nas suas pautas, no tamanho dos seus textos, na freqüência de atualizações e principalmente nas suas opiniões. Seu blog é a sua TV Globo, a sua Folha de S. Paulo, a sua Reuters pessoal.
Minha profissão oficial é de jornalista. Escrevi textos para publicações da Editora Abril e jornais tradicionais como o Correio Braziliense, e atualmente faço free-lancers para veículos como a Rolling Stone Brasil e o Itaú Cultural. Na condição de profissional contratado, é mais do que natural que eu me submeta a determinadas regras, entregando meus textos dentro de prazos pré-definidos e respeitando a limitação de caracteres. Faço entrevistas, saio à rua para buscar informações, procuro apurar cada dado que é impresso na matéria.
Quando escrevo postsem meu blog, não deixo de lado o cuidado com as informações que publico (inclusive deixando links de referência das pesquisas que faço em cada texto). Mas aproveito ao máximo a liberdade editorial da qual só posso desfrutar em toda a sua plenitude no Pensar Enlouquece, escrevendo sobre qualquer assunto que me dê na telha, sem precisar me policiar quanto ao uso de gírias e palavrões e pouco me lixando para leads, deadlines, pirâmides invertidas e outras expressões comuns no vocabulário de qualquer jornalista. Por isso digo, sob a luz das minhas experiências, que manter um blog é um puta tesão.
Mario Amaya e Henrique Martin falando sobre a última polêmica estéril do momento.
Eu sinceramente já não tenho o menor saco para entrar em polêmicas que não têm razão de ser. Creio piamente que a tendência, em um futuro a curto prazo, está na convergência de mídias. Do mesmo modo que veículos tradicionais como o New York Times e a revista Newsweek contrataram blogueiros como Markos Moulitsas e Brian Stelter, tenho a convicção de que o mesmo ocorrerá por aqui, da mesma maneira que jornalistas consagrados como Ricardo Noblat e Luis Nassif seguiram a via inversa e revitalizaram suas carreiras criando blogs de ótima qualidade. Há espaço para todos, e eu só posso imputar ao gosto que as multidões nutrem por polêmicas inócuas todos esses embates maniqueístas digladiando duas atividades como o jornalismo e a blogagem que, muito longe de serem antagônicas, complementam-se uma à outra (vide os ótimos blogs do IDG Now e do RadarCultura na Campus Party).
Também fico embasbacado com a maneira com que certas discussões são requentadas e acabam indo parar na mesma lenga-lenga habitual. "Monetização de blogs", "a polêmica dos posts patrocinados", "velha mídia versus nova mídia", blablablá. Reitero o que disse na primeira linha deste texto: blog é liberdade. Nada me soa mais antinatural do que a cagação de regras para uma entidade tão anárquica e descentralizada como a blogosfera. Que, diga-se de passagem, é uma e são muitas, como bem exemplificam os blogs de moda, de policiais militares, de eco-ativistas, publicitários, "miguxos", prostitutas, professores, escritores, yada yada yada. Blogs são meios de publicação como outros quaisquer, que podem e devem ser utilizados das maneiras mais amplas e diversas possíveis.
Se você não gosta de ver posts patrocinados, abomina links de AdSense ou Hotwords ou acha escrota a atitude de um blog que não dá links para os outros, nada mais simples: deixe de ler determinado blog ou de assinar tal feed. Só. Não queira dar uma de paladino da moral e dos bons costumes, apontando seu dedo para este ou aquele blogueiro só porque ele pensa e age de maneira diversa da sua. Creio na capacidade de auto-regulação da internet. Um blog terá mais ou menos leitores de acordo com a credibilidade que ele será ou não capaz de manter junto aos seus visitantes. Refuto a idéia de que sejam impostas regras de conduta para a blogosfera da mesma maneira que teria ânsias de vômito caso alguém me propusesse a criação de um comitê de "notáveis" para decretar como deve ser a publicidade em blogs ou a participação na formação de um sindicato de blogueiros. Qual seria o próximo passo? Exigir diploma também para quem mantém um blog? Façam-me rir.
Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado em seu blog, o Pensar Enlouquece, Pense Nisso.
Bem falso mesmo, Alexandre. Acredito que a pluralidade de idéias e informações que se pode ter nos blogs é animadora. Muita gente (como eu) que não é profissional do jornalismo também gosta de escrever. Seja para qualquer fim. E os blogs abriram esse espaço, que está sendo bem aproveitado, diga-se de passagem. Ao contrário de você, que escreve no blog para "liberar" a norma, eu escrevo para "encontrar" a norma. Acredito que só se aprende a escrever exercitando-se, pensando e, por fim, além de ler muito, escrevendo. Bom texto.
O discurso de respeito à liberdade de expressão e aos diferentes convive atualmente com intolerâncias absurdas. E tem gente que ama discutir o sexo dos anjos... Que bom que o Inagaki defende sempre, com propriedade e mentalidade, o que há de melhor entre nós ;-)))