O melhor de 2008 ― literatura e cinema | Milton Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
69465 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Com Patricya Travassos e Eduardo Moscovis, “DUETOS, A Comédia de Peter Quilter” volta ao RJ
>>> Op-Art – Ilusão e Inclusão na Galeria Espaço Arte MM
>>> Grupo Nós do Morro abre Oficina de Artes Cênicas com apresentação da Cia. TUCAARTE
>>> Livia Nestrovski & Fred Ferreira
>>> Oficina gratuita em Campinas traz novo olhar sobre o Maestro Carlos Gomes
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
>>> Pedro Doria sobre a pena da cabelereira
>>> William Waack sobre o recuo do STF
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
>>> Suicide Blonde (1997)
>>> Love In An Elevator (1997)
>>> Ratamahatta (1996)
>>> Santo Agostinho para o hoje
>>> Uma história da Empiricus (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> É Julio mesmo, sem acento
>>> O acerto de contas de Karl Ove Knausgård
>>> A vida do livreiro A.J. Fikry, de Gabrielle Zevin
>>> O retalho, de Philippe Lançon
>>> Claro como as trevas
>>> Jornalismo político ontem e hoje
>>> A pintura admirável de Glória Nogueira
>>> Vídeos sobre a Guerra no Rio
>>> Carona na Rede
>>> O Cabotino reloaded
Mais Recentes
>>> Modelagem Dinâmica Da Gestão. Passos Das Organizações Para A Excelência E Resultados Superiores de Ronaldo Darwich Camilo pela Instituto Qualidade Minas (2003)
>>> Orientaçães para promoção de saúde mental e qualidade de vida em pais e seus filhos com Síndrome de Williams de Maria Aparecida Fernandes Martin pela Memnon (2014)
>>> Tudo o que você queria saber sobre patentes mas tinha vergonha de perguntar ISBN de Francisco teixeira pela Clever (1997)
>>> Na Linha De Frente - Um análise do Comportamento Administrativo de Admon Ganem pela Lemos Editorial (1998)
>>> Guerra dos Sexos (Coleção Campeões de Audiência - Telenovelas) de Sílvio de Abreu pela Globo (1988)
>>> Massagem: Técnicas e Resultados de Carla-Krystin Andrade; Paul Clifford pela Guanabara Koogan (2003)
>>> Aviões de Espionagem - Coleção Guias de Armas de Guerra de Bill Gunston pela Nova Cultural (1991)
>>> As Aventuras Da Detetive Sol de Ciranda Cultural pela Ciranda cultural (2018)
>>> Pão da Vida para um Mundo Novo de Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Paulinas (2000)
>>> Alegrai-vos - Carta Circular Aos Consagrados e às Consagradas de Congregação para os institutos de vida consagrada pela Paulinas (2014)
>>> A Cartilha Do Amigo de Betty Milan pela De Cultura (2012)
>>> Exortação Apostólica Pós-sinodal Sacramentum Caritatis de Joseph Ratzinger pela Paulinas (2007)
>>> Nós : uma antologia de literatura indígena (4º reimpressão) de Mauricio Negro pela Companhia das Letrinhas (2021)
>>> Turma Da Monica - Narizinho Arrebitado de Mauricio De Souza pela Girassol
>>> Com Maria, Rumo ao Novo Milênio - A Mãe de Jesus, na devoção, na Bíblia e nos Dogmas de Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Paulinas (1998)
>>> Cordéis De Arrepiar África de Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo pela Imeph (2015)
>>> A Fiança - Coleção Prima Rima de Schiller pela Berlendis & Vertecchia (2010)
>>> Os Problemas Da Família Gorgonzola de Eva Furnari pela Global (2011)
>>> A Avó Amarela de Júlia Medeiros e Elisa Carareto pela Ôzé (2018)
>>> O Gigante Egoísta de Oscar Wilde pela Cortez (2025)
>>> Os Fantásticos Livros Voadores De Modesto Máximo de William Joyce pela Rocco Pequenos Leitores (2012)
>>> Livro De Histórias de Georgie Adams pela Companhia Das Letrinhas (2016)
>>> Frank Einstein E O Turbocérebro - Série Frank Einstein. Volume 3 de Jon Scieszka pela Intrínseca (2016)
>>> Teatro De Anônimo 15 Anos de Berton; Artigo; Libar; Gomes; Oliveira; Britto pela De Anônimo (2002)
>>> A Maior De Todas As Mágicas de James R. Doty pela Sextante (2016)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2008

Quarta-feira, 14/1/2009
O melhor de 2008 ― literatura e cinema
Milton Ribeiro
+ de 13800 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Raramente nos aproximaremos de um grupo de pessoas e estas, sejam elas quais forem, estarão discutindo literatura. Ou, se estiverem, dificilmente o livro discutido é recente. A cultura comum, a cultura como assunto de conversa é o cinema ― e olhe lá ―, não a literatura. Digo isso porque 2008 foi o ano em que finalmente pudemos discutir um livro que muitos tinham lido, ou que muitos tinham ouvido falar e sabiam do que se tratava e que era escrito por um escritor, não por uma Bruna Surfistinha. 2008 foi o ano de um livro escrito em 2007: O filho eterno, de Cristovão Tezza. Só isso já bastaria para que escondêssemos nossas previsões apocalípticas na gaveta à esquerda.

Espécie de relato autobiográfico disfarçado de romance, o livro de Tezza narra a dilacerante relação entre um pai escritor e seu filho, vítima da Síndrome de Down. É um livro que impressiona tanto pela franqueza e coragem da exposição quanto por seu texto. Tezza faz um livro de frases longas e que não deseja comprar o leitor com facilidades. Mereceu a chuva de prêmios que caiu-lhe sobre a cabeça: o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte no ano passado, o Portugal Telecom, o Jabuti de melhor romance, o Prêmio Bravo de Literatura e a primeira edição do recém criado Prêmio São Paulo de Literatura ― o certame que mais pagou a um autor no Brasil: R$ 200 mil.

No terreno das estréias, Pó de parede, de Carol Bensimon, foi o melhor de 2008. Formado de três novelas de boas histórias e esplendidamente escritas, o volume não é o tradicional livro de estréia autobiográfico e íntimo; é antes uma música de câmara elegante, leve e tranquila, que evoca realidades externas com algum desencanto. A voz da autora é incomum, mas a linguagem não é exagerada ou cansativa. Nenhuma das três histórias é esquecível, mas minha preferência vai para "Falta céu", onde, a partir de poucas informações, uma situação bastante complexa é construída. Bensimon deixa lacunas a serem preenchidas pela experiência do leitor e consegue direcionar e surpreender nossa fantasia. É autora para se acompanhar de perto.

No plano internacional, o melhor romance que li foi El común olvido, de Sylvia Molloy. O livro é de 2002! Incompreensível que nunca tenha sido traduzido no Brasil. Narrado na primeira pessoa, inicia-se com a chegada de Daniel ao Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, com as cinzas de sua mãe. Ele emigrara para os Estados Unidos ainda criança, logo após a separação dos pais, acompanhado da mãe. Poucas vezes tinha retornado à Argentina e o pai já morrera há anos. Daniel fala de si, de sua profissão de tradutor, da tese que escreve, mas o foco logo se altera. Este "Em busca da mãe perdida" torna-se uma arrebatadora demonstração dos enganos de nossa memória, levada com virtuosismo pela autora. Cada item que é acrescentado ou retificado em sua memória, cada acontecimento ― a sexualidade da mãe, o acidente de carro, as brigas com o pai, a apresentação da amante da mãe ―, torna impossível o retorno à vida anterior. As retificações e questionamentos são apresentados pela autora com a mesma lentidão e tranqüilidade com que Kafka comprazia-se ― ou parecia comprazer-se ― em mostrar coisas que nos parecem verdadeiros horrores não por si, mas pelo deslocamento a que sua aceitação nos obriga. É importante dizer que Molloy tem de Kafka apenas a característica de ser imperturbável, pois seu humor e elegantes anedotas são tipicamente platinas.

Acho que nunca vi tantos filmes regulares como em 2008. Pouca coisa era agressivamente ruim e quase nada era indiscutivelmente bom. Mas acho que dá para salvar 4,5 filmes. Podemos começar por O Segredo do Grão, de Abdel Kechiche, um filme de visceral realismo que tem como tema a singela inauguração de um restaurante dentro de um barco numa cidade portuária da França. Trata do choque cultural entre a comunidade árabe e a francesa, mas é universal ao descrever detalhadamente conflitos familiares. A câmara móvel de Kechiche é apenas aparentada dos filmes do Dogma 95, pois ela não serve para demonstrar movimento ou despojamento, estando mais a serviço da busca de ângulos originais, muitas vezes aproximando-se dos atores como se quisesse penetrá-los ou acariciá-los.

Outro grande filme foi o romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu, Palma de Ouro de 2007. Ele conta a história de duas colegas de quarto obrigadas a uma verdadeira odisséia para que uma delas pudesse realizar um aborto ilegal na Romênia de Ceaucescu. É um filme sem a menor preocupação moral ou religiosa. Descreve como as duas fizeram para livrar-se de um incômodo. Gabita, a grávida, deixa a operacionalização do aborto para Otilia, sua amiga. Gabita parece indiferente enquanto Otilia faz contatos com aborteiros, porteiros ― todos pequenos ditadores cheios de mistérios ― e depois trata de livrar-se do corpo do inquilino da amiga. Estes dois filmes têm algo em comum: ambos têm longas cenas que causam enorme angústia ao espectador.

E sim, os dois filmes dos irmãos Coen foram excelentes. Em No country for old men (Este país não é para velhos em Portugal e um título qualquer no Brasil), a acidez dos Coen cai adequadamente para narrar com frieza uma história amalucada e violenta. Meio western, meio thriller, quase sem trilha sonora e com cenas antológicas, é um grande filme. Já Burn after reading (surpreendentemente Queime depois de ler no Brasil) tem a paranóia americana como alvo. É um filme que conta muita coisa em círculos, não chega a lugar algum e nem deseja, mas nos arranca boas risadas. A cena de George Clooney em pânico por motivos que o espectador sabe serem falsos vai para minha galeria pessoal de momentos inesquecíveis.

Disse 4,5 filmes? Pois é, o 0,5 é do excelente Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen.

E o Prêmio de Maior Mico de 2008 vai para o discursivo homem de cuecas: Batman: O Cavaleiro das Trevas.

Nota do Editor
Milton Ribeiro mantém o blog Milton Ribeiro, no portal O pensador selvagem.


Milton Ribeiro
Porto Alegre, 14/1/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Do desprezo e da admiração de Guga Schultze
02. As cicatrizes da África na Moçambique de Mia Couto de Marcelo Spalding
03. Horizonte perdido de Elisa Andrade Buzzo
04. adoravelmente imbecil de Fabio Danesi Rossi
05. Zen e a arte de preparar drinques de Paulo Salles


Mais Milton Ribeiro
Mais Especial Melhores de 2008
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
21/1/2009
10h06min
Os comentários sobre literatura e cinema de Milton Ribeiro perdem um pouco da consistência quando ele usa a primeira pessoa. Dão a idéia de estarem acima do bem e do mal, como uma verdade indiscutível.
[Leia outros Comentários de Marcos Plata]
21/1/2009
12h09min
Marcos, saio em defesa do Milton porque também me valho da primeira pessoa em meus textos. Se estamos dando nossa opinião pessoal, que pessoa poderemos utilizar se não a primeira? O Milton em momento algum prega suas opiniões como verdades absolutas, mas sim como suas opiniões, só isso.
[Leia outros Comentários de Rafael Rodrigues]
5/4/2010
00h18min
Usei a busca do site para encontrar algo sobre "O segredo do grão" e encontrei uma rápida resenha-quase-uma-citação nesse texto. O filme merecia um pouco mais, na minha opinião. Nunca tinha visto a luz do sol ser utilizada de maneira tão explícita. A luz dos postes, de dentro de casa, das lâmpadas fluorescentes. A luz ambiente é a estrela do filme, e seu objetivo é iluminar os diálogos e as situações sem roteiro que vemos na tela. Sem luzes e efeitos especiais, a humanidade dos personagens, da economia, da política, da sociedade salta aos olhos. É preciso sobreviver, mas será preciso fazê-lo sem abrir mão de nossa dignidade, quando ainda há alguma? Talvez seja esse o segredo do grão.
[Leia outros Comentários de arqpita]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ciências da Natureza e Suas Tecnologias: Química
Edson Yukishigue Oyama e Outros - 3ª Edição
Hexag
(2017)



Comício de Tudo Poesia e Prosa
Chacal
Brasiliense
(1987)



As Religiões Antigas Volume 2
Tácilo da Gama Leite Filho
Juerp
(1994)



No Reino de Xantum - os Jovens e o Conflito de Gerações
Eurico Figueiredo
Afrontamento
(1985)



Os Sonhos - Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal
Francisco de Quevedo
Escala
(2006)



Apocalipse Sem Medo
Paiva Netto
Elevação
(2000)



7 Passos para Ser um Líder de Vendas
Alexandre Lacava
Gente



Geografia - 6ª Ano - Geração Alpha
Fernando dos Santos Sampaio e Outro
Sm
(2019)



O Jogador Desaparecido e Outras Aventuras.
Sir Arthur Conan Doyle
Melhoramentos
(2001)



Português - 6ª Ano - Araribá Plus
Mônica Franco Jacintho
Moderna
(2018)





busca | avançada
69465 visitas/dia
2,4 milhões/mês