"Diante do gênio artístico que é Michael Jackson, Madonna não é mais que uma simples teórica." (Caetano Veloso)
Gênio precoce, o maior artista pop do século XX, megalomaníaco, polêmico, mistura de anjo e demônio, perigoso e mal ("dangerous" e "bad", como denominou dois de seus CDs), Michael Jackson é sem dúvida um dos artistas mais controversos da história. Ele suscita a paixão e a fúria, mas uma coisa é certa: ninguém fica indiferente à sua esmagadora presença.
Da infância difícil à sua glória atual, a vida de Michael Jackson é uma sucessão de sofrimentos, alegrias, caídas e subidas. Uma vida sabiamente traçada por ele mesmo como um conto de fadas.
Nascido em 29 de agosto de 1958, em Indiana (Estados Unidos), Michael Jackson e seus irmãos tiveram uma primeira infância difícil. Filho de um pai violento e obstinado, que buscou na realização artística dos filhos a fortuna e o sucesso criando os Jackson Five (sob a influência dos cantores negros americanos Otis Redding e Little Richard), o cantor sofrerá desde a mais tenra infância, dois anos de idade, a força e o rigor do trabalho e da educação quase militar do pai, desenvolvendo o gosto pela música e pela dança sob essa mesma influência.
Em 1963 a família Jackson já começava a acumular sucessos nas rádios da região, sendo notável o brilho, a graça natural e o timbre agudo da voz de Michael Jackson. Em 1967, depois de ganharem um prêmio num concurso de música no Teatro Apollo de Nova York, assinam seu primeiro contrato para gravarem um disco com a Steeltown Records.
Começam as primeiras turnês e Michael Jackson é sempre notado por sua presença cênica, sua belíssima voz e seus inimitáveis passos de dança. O destaque de Michael Jackson, aclamado aos 11 anos, já prepara inconscientemente o terreno para a sua futura e formidável carreira solo.
Começa a chover ouro para seu pai, com a venda de discos, shows intermináveis e um novo contrato com a célebre gravadora americana Motown Records. A aventura dos Jackson Five dura até o ano de 1976, no qual por obscuras razões de direitos autorais eles mudam de gravadora e de nome. Assinam com a Epic e passam a se chamar The Jacksons.
Mas a antiga gravadora, consciente do carisma que Michael Jackson possui, leva o jovem a assinar um contrato pra produzir seis discos solo com seu nome. O primeiro se intitula Got to be there e sai em 1972. É o nome também de uma de suas músicas que se tornaria memorável. Paralelamente, The Jacksons continua seduzindo o público internacionalmente, gravando vários discos.
Malgrado o extraordinário sucesso de público e a glória conquistada, a vida de Michael Jackson torna-se um calvário. Desde a adolescência sua vida é coberta por acontecimentos infelizes, como o abuso e perseguição paterna, que explicam, como diz o próprio Michael, a origem de suas numerosas inclusões pelo universo da cirurgia plástica e uma sexualidade atípica. Uma infância e juventude atordoadas que podem explicar, em parte, as futuras obsessões do cantor e sua megalomania. Não explicam, no entanto, sua genialidade sempre presente.
A carreira adulta de Michael Jackson começa em 1979 com seu fabuloso álbum Off the wall, produzido por Quincy Jones que será durante anos seu melhor amigo e fiel colaborador.
Em 1982 sua carreira atinge o ápice, com seu mítico disco Thriller, o álbum mais vendido da história da música. Daí em diante ele se tornará um deus vivo, desbancando os Beatles e o rei Elvis. Começará a ser chamado, inclusive, de The King of Pop.
Michael Jackson renova a linguagem da música pop, absorvendo não só os traquejos da linguagem musical dos guetos negros americanos, mas também sua existência cênica. Renova ainda a linguagem dos clipes fazendo uso de todos os recursos artísticos criados pela arte de vanguarda, notadamente a partir de Thriller, que na sua integridade se tornará um verdadeiro curta-metragem. Nada, nem no cinema, nem na música, se equipará à sua ousada liberdade de criação naquele momento. Note-se que as gravadoras (olhando para a música que surgia na periferia americana), o cinema e o clipe vão absorver quase que imediatamente os resultados das ousadias do cantor.
A partir daí, Michael Jackson se torna um fenômeno indescritível, com suas aparições criando um verdadeiro mar de lágrimas, uma histeria coletiva. Seus discos passam a vender aos milhões. Suas tournês atravessam o planeta com recorde de público e admiração irracional.
No entanto, soma-se à sua glória a desgraça. Numa propaganda para a Pepsi Cola, em 1984, sofre um acidente que marca gravemente seu rosto. Começa a fazer uma série de operações que, mais ou menos legítimas, transformam pouco a pouco o cantor. O resultado é uma alteração na própria cor e biótipo, sua face tornando-se pálida e seus traços negróides vindo a desaparecer como que por um milagre da ciência. De aparições assustadoras, onde surge um Michael Jackson deformado, às aparições assombrosas onde aparece como uma menina delicada, de traços finos, seu comportamento provoca numerosas críticas.
Não para o sociólogo francês Jean Baudrillard, que, no seu livro As transparências do Mal, vê na transformação de Michael Jackson a possibilidade de finalmente destruirmos a limitada noção cultural de que existem raças diferentes e não seres humanos.
Michael Jackson torna-se a capa da revista Ebony (ébano, em português). A foto do cantor estampada na revista causou certa polêmica no mundo pop. Como poderia ser possível que, na capa de uma magazine destinada a afro-descendentes, Michael Jackson aparecesse mais branco do que nunca? O nariz afinado, resultado de inúmeras plásticas, também chama atenção. A edição comemora os 25 anos do álbum Thriller, no qual Jackson ainda era visualmente representante da raça negra.
É nessa época que Michael Jackson sucumbe a todos os excessos. Cria, por exemplo, a famosa mansão Neverland (terra do nunca), em homenagem ao personagem Peter Pan, um verdadeiro parque de diversões onde se refugia, solitário em seu mundo, apesar de sua estupenda popularidade universal.
Paradoxalmente, quanto mais escândalos ele produz, mais seus discos vendem, mais amor desperta nos fãs. Seus próximos discos, Bad, de 1987, e Dangerous, de 1991 são, sobretudo, obras de incontestável qualidade artística. Michael Jackson é um gênio do pop e suas músicas, sabiamente colocadas em cena por uma poderosa estratégia de marketing, são de uma perfeição tão alta que colocariam, por exemplo, Madonna e outros artistas do mundo pop num nível amador.
As causas nobres comovem também o cantor e despertam sua verve política. Desde o apelo sentimental de "We wre the world", em 1985, com Lionel Ritchie, em defesa da causa das crianças feridas nas guerras até seu antirracismo de "Black or White", em cujo clipe surge transformando-se numa pantera e destemperando sua fúria contra as pichações racistas e fascistas que aparecem em pareces de casas e vidros de carros. Reúne nos seus videoclipes imagens de líderes negros e revoltas populares, crianças padecendo a violência das guerras e da fome, conjuga imagens de soldados pesadamente armados com inocentes crianças preocupadas apenas com sua vivência lúdica, e trabalha essas imagens sob a direção do cineasta das causas negras Spike Lee.
Meio anjo e meio demônio, a persona de Michael Jackson é ambiguidade pura. Para escapar de certos rumores casa-se em 1994 com Lisa Mary Presley, a filha de Elvis Presley. O casamento soa falso, algo como um contrato comercial, e não dura mais que dois anos, vindo o cantor a se casar em seguida com uma desconhecida, Debbie Rowe, que lhe dá o primeiro filho Prince Michael Jackson em 1997. Em 1998 nasce seu segundo filho, chamado Paris. Em 1999 é processado pela mulher, que lhe exige uma grande soma de dinheiro.
Em 2002 Michael é assunto de novo escândalo. Faz um acordo com um jornalista para a produção de um documentário sobre seu cotidiano, seu universo de eterna criança e sobre seus jovens amigos. Revela-se sua forma singular de viver, de dormir com crianças em Neverland sem a presença de suas mães por perto, como revela-se o ser extremamente sensível que o cantor é, que teve uma infância difícil e que busca na doce alegria da companhia das crianças o reencontro com o mundo de sua própria infância perdida. Há no DVD Dangerous: the short films um clipe que nos toca muito, pois vemos o adulto Michael ao piano, cantando "Go to be there", se encontrando com o menino Michael que canta e brinca ao fundo da cena.
O documentário gera polêmicas e mais polêmicas e é visto por milhões de pessoas no mundo todo, mas estas ficam divididas entre a compaixão e a revolta. Chega-se a pensar na possibilidade do cantor ser pedófilo. Michael Jackson se sente ultrajado e traído pelo jornalista e contra-ataca com um processo judiciário e uma nova reportagem a seu favor.
Este fato teve o mérito de aumentar ainda mais a popularidade do cantor, que, naquela época, aos 45 anos e com uma carreira de 40, apesar de tudo, continua incontestavelmente como o rei da música pop.
Com centenas de milhões de discos vendidos, e outros tantos produtos derivados, uma verdadeira indústria em torno de sua personalidade faz de Michael Jackson o cantor mais escutado, mais admirado e, para além de todo o comercialismo que a indústria cultural explica, o mais genial nestes últimos cinquenta anos da cultura pop. Não há definição melhor para esse fenômeno do que a de uma lenda viva.
Belíssima matéria do jornalista Jardel Dias Cavalcanti. Até que enfim alguém com bom senso e sensibilidade escreve algo bonito e justo sobre o cantor Michael Jackson. Você, de uma forma competente e sem sensacionalismo, descreveu verdadeiramente o que aconteceu e acontece na vida desse grande astro.
Como você mesmo disse, Michael é pura ambiguidade, e é isso, juntamente com seu incrível talento, que faz com que ele seja cada vez mais admirado pela maioria das pessoas, principalmente pelo seus fãs cada vez mais apaixonados e fiés. Adorei também quando, além do talento, você citou o lado humanitário de Michael, coisa que a maioria da midia infelizmente ignora.
Você, Jardel, me faz continuar acreditando em uma imprensa justa e correta. Com certeza você honra a sua profissão. Parabéns!
desculpe, admiro michael jackson pelo seu passsado, mas hoje é um alien, a própria socieade americana o ridiculariza como uma aberração, dizer que ele foi maior que os beatles e que elvis é brincadeira, jacko hoje é um doente que merece nossa piedade... teve seu valor, isso é certo, foi um excelente músico, mas hoje é alien
Parabéns materia fantastica, parabéns mesmo, só uma correção: o video que aparece o Michael, e no fundo ele pequeno, no dvd Dangerous: the short films, é o da musica "I'll be there" e, nao, "go to be there", fora isso exelente matéria...
Adorei a matéria! Que bom seria se todos seguissem esse exemplo, e parassem de criticar alguém que não se conhece. A reportagem cita fatos importantes da vida do cantor como: o seu talento inquestionável, seu poder de superar as polêmicas, atraindo cada vez mais o amor e a admiração dos seus fãs, o poder de conseguir vender milhões de álbuns, muito mais que vários artistas de renome, e também os que são fabricados pela indústria da música, mas que são infelizmente valorizado pela mídia... Até o lado humanitário do artista você citou, o que é louvável, pois nem todos conhecem as atitudes generosas de Michael ao redor do mundo... Só não concordo em um ponto da matéria, quando você diz que Michael teve sua cor e biotipo transformado por um milagre da ciência. Esclareço que sua cor foi mudada, sim, mas por uma doença que não pode controlar e que, de maneira alguma, pode ser de sua responsabilidade. Quanto à sua trasnformação visual, ele tem todo o direito, como qualquer um de nós, de fazer o quê quiser de sua vida...
amei o que esta escrito aqui, até que enfim alguem escreveu uma coisa boa sobre o michael, sempre tem alguem querendo ferrar ele, mas o autor que escreveu aqui está de parabens
Muito obrigada pela matéria realista e muito justa sobre o fenômeno que é Michael Jackson. É uma pena que a juventude atualmente só o conhece como "freak", e nem se dá ao trabalho de conhecer toda a sua genial vida, o porquê de tanta fama. Mas isso vai acabar logo, logo! Mais uma vez, muito obrigada!
Michael Jackson realmente é um fênomeno. Tenho 26 anos e pude ser testemunha de seu sucesso no passado, ele conseguiu ser o número 1 do mundo. Gostaria de vê-lo em ação novamente, é um monstro sagrado adormecido. Quanto aos seus erros e todas as polêmicas, quem somos nós para julga-lo... Ótima matéria!
Nossa, adorei a matéria, vc soube simplesmente descrever a carreira de um ótimo artista que sabe como entreter públicos de várias idades, raças ou gêneros. Ele é como um mito da música pop.
Esse artista é um dos melhores artistas que já conheci. Michael, vc é o melhor!!!
Matéria excelente... Ao contrário de muita gente, vc deu A SUA OPINIÃO e não foi "pela onda" da mídia americana que só sabe criticar Michael Jackson hj em dia. Sem dúvida ele é o Rei do Pop e já deixou sua marca com uma carreira de 45 anos. Viva ao Rei e se Deus quiser ele volta com tudo. Obs: Espero q a maioria das pessoas tenham opinião própria e não seja levada pela mídia marrom como exemplo do José, q comentou a notícia.
Michel Jackson a meu ver, só teve graça quando era uma imitação do original, James Brown. Seu sucesso nada mais é que um produto da indústria cultural americana, nada que milhões de dólares de marketing não construa. Para quem viu o fenômeno no auge do sucesso em sua época pode até achar fantástico, mas hoje, vendo aqueles clipes, não se pode encontrar outro adjetivo que não seja cafona, assemelhando-se com o fenômeno da banda Calipso no Brasil. Arte é para poucos, se fosse para muitos seria pop, seria Michel Jackson!
Atualmente há tantos textos incompetentes, sensacionalistas, com pouco repertório e também com informações não checadas (boatos, muitas vezes) na mídia que, quando lemos um texto como este, do Jardel Dias Cavalcanti, é um prazer, não só pelo tema, mas pelo próprio texto. Parabéns.
O verdadeiro artista vai ser julgado a vida inteira. Muitos vão adorá-lo, muitos odiá-lo. Mas o que importa é a sua criação, a sua obra, a sua alma. Michael, você é um verdadeiro artista. Realmente, a arte é para poucos.
Acredito que todo gênio da música pop deveria morrer jovem, somente assim sua arte seria relmente tolerável, caso de John Lennon, Jim Morrison, Kurt Cobain, Jimmi Hendrix, Janis Joplin. Na pior das hipóteses, se sobreviverem, então, saiam de cena, caso do nosso extraordinário Chico Buarque, porque senão teremos que aturar velhos insistentes como o Roberto Carlos todo ano, insistindo com a mesma chatice; ou o Elton John, a Madonna e outros velhacos ultrapassados vindo aqui em plena crise para encher suas contas bancárias à custa do populacho do terceiro mundo. Não! Michael Jackson não é gênio.
É, amigo. Dá até um nó na garganta. Um dia eu vi Michael Jackson. Na minha frente. Tinha um espécie de lenço que lhe protegia o rosto, mas deu pra ver. Um corpo franzino e um olhar assustado. Estávamos no Rio de Janeiro e eu fazia parte da segurança. Incumbiram-me de permanecer no acesso ao hotel por onde ele realmente passaria, enquanto os fãs e a imprensa aguardavam em outro acesso. Uma observação: Sempre considerei e acho ainda que ele é o maior astro deste século. Apoiado, claro, conforme dito, por uma equipe de alto nível. No palco, seu brilho é grande.
Tem um mistério, esse rapaz. Quem o viu como eu vi não terá palavras para explicar. Tem alguma coisa de estranho nele...
Queria responder individualmente aos comentários, mas não é necessário. Farei apenas uma afirmação: uma coisa é a indústria cultural, que distribui e cria suas personalidades, as obras de arte; outra é o talento aproveitado, às vezes moldado, por essa indústria. Não se pode colocar todos os gatos no mesmo saco. Sabemos que Ivete Sangalo é lixo cultural, é enlatado, não é música; no entanto, também sabemos que Mick Jagger e Michael Jackson são artistas no sentido pleno da palavra, como Mozart e Debussy o eram na sua especificidade. Podemos escolher uns ou outros, ou ficar com todos os que são verdadeiramente artistas, independentes de serem pop ou eruditos. Eu fico com a segunda opção.
Parabéns pela matéria. Pela primeira vez vejo uma análise justa do comportamento de Michael Jackson! Ele é o rei do pop! R.I.P., Michael! Você fará falta!!!