Um pouco de conservadorismo | Eduardo Mineo | Digestivo Cultural

busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Diariamente
>>> Assim falou os mano
>>> No hidding place
>>> O retalho, de Philippe Lançon
>>> O filósofo da contracultura
>>> Entre a folia e o Oscar
>>> minha santa catarina
>>> Softwares para ficcionistas
>>> Os solitários anônimos de Fusco
>>> Poco più animato
Mais Recentes
>>> Globalização. As Consequências Humanas de Zygmunt Bauman pela Zahar (1999)
>>> As misérias do processo penal de Francesco Carnelutti pela Bookseller (2005)
>>> Ibase: Usina De Ideias E Cidadania de Carlos Fico pela Garamond (1999)
>>> Vigiar E Punir: Historia Da Violencia Nas Prisoes de Michel Foucoult pela Vigiar e punir
>>> Velhos São Os Outros de Andréa Pachá pela Intrinseca (2018)
>>> O Poder Da Cabala de Rabi Yehuda Berg pela Imago (2001)
>>> Saúde Mental de Jaider Rodrigues de Paulo pela Ame (2014)
>>> Neuroaprendizagem E Inteligência Emocional de Inês Cozzo Olivares pela Qualitymark (2009)
>>> Prevenção Da Violência. O Papel Das Cidades de João Trajano Sento-sé (org.) pela Civilização Brasileira (2005)
>>> Feminismo Em Comum de Marcia Tiburi pela Rosa dos Tempos (2018)
>>> Elemento Suspeito - Coleção Segurança E Cidadania de Silvia Ramos; Leonarda Musumeci pela Civilização Brasileira (2005)
>>> A Chave De Casa de Tatiana Salem Levy pela Record (2010)
>>> Mulheres Policiais - Coleção Segurança e Cidadania de Barbara Musumeci Soares pela Civilização Brasileira (2005)
>>> Vendem-se Unicórnios - Coleção Sinal Aberto de Índico pela Ática (2010)
>>> O Feminismo E Para Todo Mundo. Politicas Arrebatadoras de Bell Hooks pela Rosa Dos Tempos (2020)
>>> Devagar E Simples de André Lara Resende pela Companhia Das Letras (2015)
>>> Harry Potter E A Criança Amaldiçoada Parte um e dois de J.K. Rowling; John Tiffany & Jack Thorne pela Rocco (2016)
>>> Jack e o Porquinho De Natal de J.K. Rowling; Jim Field pela Rocco (2021)
>>> A Ditadura Escancarada de Elio Gaspari pela Companhia Das Letras (2002)
>>> A Ditadura Envergonhada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2002)
>>> A Ditadura Encurralada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2004)
>>> Diario De Um Banana 7: Segurando Vela de Jeff Kinney pela V&r (2013)
>>> A Ditadura Derrotada de Elio Gaspari pela Intrínseca (2003)
>>> A Ditadura Envergonhada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2004)
>>> Diario De Um Banana 6: Casa Dos Horrores de Jeff Kinney pela Vergara & Riba (2012)
COLUNAS

Segunda-feira, 19/1/2009
Um pouco de conservadorismo
Eduardo Mineo
+ de 5900 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Um ano de faculdade e já percebo que sou um dos poucos exemplos de conservadorismo na FEA/USP. Dois a menos e me torno um milagre biológico, um lobo da Tasmânia do statu quo, coisa assim. Não se pode nem recriminar alguém por certa dificuldade em manter a calça erguida que olhares de indignação chovem contra minha sensibilidade quadradona e cheia de pudor. Diria Pickering diante da cueca à mostra: "Have you no moral, sir?".

É verdade que existe este consenso de que a maioria das pessoas que cursam Administração e Contabilidade é conservadora, mas não me convenço porque, num geral, elas apenas não são de esquerda e não ser de esquerda não configura conservadorismo. São pessoas que não votam na Heloísa Helena, mas até acham seu discurso sobre questões sociais algo vagamente sensato, ao passo que um conservador ouve a Heloísa Helena falando sobre educação e já fica maluco, resmungando descabelado "Que burrice, meu Deus! Que burrice!".

No Brasil, conservador é quem defende o Maluf e o ACM, mas, pra mim, quem defende essa gente não é conservador; é só meio besta. O que vale também para quem defende qualquer outro político, porque conservador crê em valores naturais, crê em certo e errado; o que não existe na política brasileira, que é feita de acordos para garantir regalias e blablablá.

Não preciso dizer que conservadores, assim como todo mundo, gostam de regalias e sabem que as coisas têm um preço, mas nem tudo se deve vender, oras. Onde já se viu, um conservador jantando com gente do PT, admitindo alguém do PCdoB à sua mesa? Nem debaixo de cinta! Porém, não é possível fazer política no Brasil sem este tipo de coisa, sem estas melecas no comportamento. Um conservador desistiria tranquilamente de todas as suas regalias para se ver livre de um vereador bronco do ABC.

Tudo bem, é até possível relacionar a vontade de garantir regalias ao conservadorismo, mas se a simples resistência às mudanças por medo de perder regalias fosse o parâmetro, funcionário público seria a amostra mais cristalina de conservadorismo ― e não é verdade. Conservador prefere manter as coisas como elas estão por prudência, porque sabe que as pessoas são brilhantes em piorar tudo, em fazer besteira. Um moleque fica brabinho com os Estados Unidos e o conservador já conclui naturalmente que ele está para aprontar alguma asnice. "As naturally as water flows deepest where the land lies lowest" etc. etc., porque deu vontade de citar Tolstói.

De modo que a prudência conservadora ― esta tranquilidade simpática para ponderar tudo ― é a forma mais verdadeira de amadurecimento e eu não a trocaria por nada. Foi o que a esquerda nunca entendeu. Ser de esquerda é viver chocado, viver zangado com alguma coisa, viver em tensão. Deus me livre ser de esquerda! Não consigo imaginar a menor felicidade em alguém que se interessa muito por Sartre, por exemplo. Só de chegar perto d'O ser e o nada numa livraria, o céu escurece e os anjos choram ao meu redor. Quando alguém começa a ler demais estas literaturas de esquerda, ela acaba se tornando parte daquilo. Conversar com alguém de esquerda é conversar com alguém que passou a vida numa fábrica de carvão imaginária, sempre em pânico, achando que vão explorá-lo a qualquer momento. Tenha calma. Respire. Controle-se.

Outro aspecto curioso é o de que sempre recorrem ao altruísmo, que é a forma pela qual justificam tudo o que lhes dá vontade de fazer. Sei que nem todo esquerdista é um Georg Lukács, um retardado que acha razoável esfaquear gente pela causa anticapitalista, mas altruísta por altruísta eu também sou e quero o bem para as pessoas. Só não me orgulho muito disso porque é um dos sentimentos mais desprezíveis e individualistas que existem. Como H. L. Mencken escreveu, o altruísmo, até quando perfeitamente honesto, baseia-se no fato de que é um porre ver gente infeliz ao nosso redor, e eu ficaria muito constrangido de usar este argumento em alguma situação. Não sei como a esquerda consegue.

E as garotas de esquerda? Holy crap! As garotas de esquerda! Só de ver suas camisetas decoradas com broches do PSTU dá vontade de morrer. O pior é que, ao contrário da lenda, algumas destas garotas são lindas. Olhando seus rostinhos delicados, eu juraria que foram criadas em contato apenas com o belo, provavelmente nos campos britânicos e ensolarados de Sir Walter Scott ou Jane Austen, colhendo amoras e lendo Keats, Shelley etc. Mas bastam três palavras de conversa para perceber que estou diante dos sentimentos de um operário irritado, de uma alma toda lambuzada de graxa, falando em revolução e tal. Sei que existe fome no mundo e que é chocante, mas certamente estas garotas contribuiriam muito mais para o bem-estar da humanidade se simplesmente tentassem ser pessoas mais agradáveis em vez de ficarem se imaginando um camponês da Alemanha Oriental emburrado com a industrialização. Quem não acharia tranquilo passar fome para evitar a desgraça eterna de ouvir uma garota linda falando sobre Gramsci?

Entretanto, não posso dizer que não há conservadorismo na minha faculdade. A questão é que as pessoas que são conservadoras estão mais para o sentido econômico da palavra que cultural. E quase sempre já são professores. Quando o assunto sai da economia e vai para a arte, por exemplo, é difícil achar alguém que não seja moderninho, que não tenha caído naquele papo todo do Mário de Andrade. Saber colocar o erudito e o popular em seus devidos lugares é uma coisa muito rara nos dias de hoje, não apenas na USP, mas no mundo inteiro. Não que pra ser conservador tenha que ser um Wilson Martins, mas precisa respeitar o erudito e saber que os livros do Chico Buarque são no máximo uma imitação de literatura, do nouveau roman.

Esses dias mesmo li que a música Bohemian Rhapsody, da banda Queen, foi escolhida a música do século. Ó, que exagero. Eu até gosto dessa música, quer dizer, mais ou menos, mas o título de música do século deveria ser uma coisa meio séria, não? E atribuir a uma banda de rock a melhor obra musical de um século inteiro significa que a) o século teve uma produção artística ridícula, ou b) tem algo de errado nisso. Música popular é entretenimento e deve ser tratada como tal, pois a pretensão de erudição exige do público uma disposição que vai além do divertimento e pouco tem a ver com o que a música popular se propõe: agradar a muitos. O objetivo principal da erudição é outro, é o sublime, é a excelência. Por isso, falar em música do século sem mencionar, mesmo que por cima, George Gershwin e ― mantendo o papo em rapsódias ― sua Rhapsody in Blue me parece grosseria. Uma baixeza comparável ao break e à rinha de galo.

Não sei quando tudo isso começou ― ou até sei ―, mas o fato é que hoje em dia está tudo invertido mesmo. Agora as pessoas acham um absurdo achar um absurdo que um sujeito fique pelado no teatro ou que chamem de artista gente que na época de Mozart só serviria para limpar as sujeiras dos cavalos ― sendo ainda um pouco mais simpático do que Paulo Francis foi com os Beatles. Mas, sério, meu objetivo de vida é poder falar como Jeffrey Bernard, que o teto do meu crânio é como o teto da Capela Sistina. Parece que um belo dia as pessoas pararam de se preocupar com isso e, em vez de consertar o acabamento, elas passaram a sentir orgulho da pintura velha e das infiltrações em suas mentes, vazando axé e Godard para todo lado. Não é por nada, mas eu prefiro ficar do lado de fora. É mais seguro. E agradável.


Eduardo Mineo
São Paulo, 19/1/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Os Doze Trabalhos de Mónika. Prólogo. Sem Alarde de Heloisa Pait
02. Na hora do batismo de Marta Barcellos
03. A escrita boxeur de Marcelo Mirisola de Jardel Dias Cavalcanti
04. O 'casamento' de Martin Scorsese e DiCaprio de Eduardo Maretti
05. A odisseia do homem tecnomediado de Guilherme Mendes Pereira


Mais Eduardo Mineo
Mais Acessadas de Eduardo Mineo
01. O físico que era médico - 23/4/2007
02. Projeto Itália ― Parte I - 1/6/2010
03. A comédia de um solteiro - 3/12/2007
04. A propósito de Chapolin e Chaves - 24/9/2007
05. Razoavelmente desinteressante - 18/2/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/1/2009
02h43min
"Onde já se viu, um conservador jantando com gente do PT, admitindo alguém do PCdoB à sua mesa? Nem debaixo de cinta! Porém, não é possível fazer política no Brasil sem este tipo de coisa, sem estas melecas no comportamento." Não acho que esse seja um comportamento inerente apenas à política brasileira. Quando se tem um sistema político multipartidário, o chefe do executivo federal, estadual ou municipal acaba virando refém no próprio sistema político. Porque é impossível - salvo em raríssimas exceções - um político conseguir, com seu partido e sua base aliada, formar a maioria no legislativo para obter a governabilidade. Diante disso, o chefe do governo tem uma única opção racional, colocar a ideologia de lado e sentar a mesa com a oposição pra negociar. Ou faz isso ou termina como o senhor Fernando Collor, que certa vez proferiu "sábias" palavras: "Eu não preciso do congresso pra governar". A verdade é que, quando você ganha uma eleição e coloca a sua bunda na cadeira, a ideologia se torna um estorvo. No mais, meus parabéns!
[Leia outros Comentários de Vagner]
20/1/2009
12h59min
Identificar conservadorismo com prudência é, no mínimo, inocência. O conservador busca a manutenção do status quo, enquanto este lhe for favorável, e "fazer besteira" ou "piorar tudo" na sua opinião normalmente é colocar em risco a segurança de suas regalias. E, sim, funcionários públicos são na maioria conservadores, já tentou discutir o fim da estabilidade, por exemplo? As pessoas procuram o serviço público justamente em busca de seus benefícios e regalias, não é à toa que a indústria dos concursos públicos só tende a crescer. Agora, a esquerda de que fala o texto não pode ser confundida com a esquerda política de um modo geral. O pensamento de esquerda já saiu há muito das fábricas e das graxas. O resto é conversa de quem quer parecer sofisticado, culto e preocupado com o mundo, sendo que na verdade não passa de reprodutor de interpretações (ultrapassadas) e equivocadas. De Gramsci, inclusive. Classe média com "consciência social", que adora discursos... Já mudanças e atitudes...
[Leia outros Comentários de Andréa]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Viagem ao Mundo dos Micróbios (9º Edição - 1º Impressão)
Samuel Murgel Branco
Moderna
(1994)



A Lei de Murphy - e Outros Motivos por que Tudo Dá Errado!
Arthur Bloch
Record
(1977)



A Consciência De Zeno
Italo Svevo
Folha De São Paulo
(2003)



Cartas ao Pequeno Theo
Leonardo Simões
Do Autor
(2018)



Livro Infanto Juvenis Frankenstein Clássicos da Literatura Universal
Mary Shelley
Via Leitura
(2017)



Implantação de Inovações Curriculares na Escola: a Sala de Aula Ressignificada
Colégio Rio Branco
Cla Cultural
(2020)



Jacqueline Kennedy
Francisco Viana
Ed. Três
(1999)



Dorme, Menino, Dorme
Laura Herrera
Livros da Matriz
(2015)



Livro Didático 360º Sociologia Caderno de Infográficos
Varios Autores
Ftd
(2015)



Geoatlas
Maria Elena Simielli
Ática
(2002)





busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês