Era muito mais fácil, há uns 150 ou 200 anos, conhecer e conviver com um gênio. Naquela época era possível, inclusive, ser um gênio. Talvez porque as desgraças da vida não estavam tão longe das pessoas como estão hoje ― todos digam "amém", agora, por favor (longe das pessoas que podem ser gênios, claro; das outras, não, infelizmente). Afinal, quem mais tem um parente tuberculoso? Aliás, quem é que tem tuberculose, hoje? Tudo bem que o nosso governo tem se esforçado ao máximo para manter a possibilidade de termos doenças ridículas e que poderiam ser banidas para sempre da nossa sociedade, como tuberculose, febre amarela e dengue, mas é raro alguém ter tuberculose, hoje. Talvez ela tenha acabado, literalmente, com os gênios, e é possível que tenha dado origem a alguns também. Muitos morreram devido a ela e talvez, quem sabe, justamente por causa dela, muitos gênios tenham surgido. Era batata: o jovem poeta, de repente, sabia que iria morrer em breve. Dali até o dia de sua morte sua mente iria trabalhar de maneira incessante e seus poemas sairiam cada vez melhores.
Mas, claro, graças a Deus nos livramos da tuberculose. E é óbvio que ela não está diretamente ligada aos gênios. O parágrafo acima é só uma associação bem exagerada entre a terrível doença e a genialidade. Agora, se alguém me levar a sério, começar a fazer um estudo sobre o assunto e descobrir que essa pseudoteoria realmente tem fundamento, vou querer minha parte no negócio. Uma descoberta dessas com certeza viraria livro e, muito possivelmente, me chamariam de gênio. Ora, não seria mesmo uma teoria genial?
Outra associação que podemos fazer é entre a loucura e a genialidade. Alguém tem alguma dúvida de que Nietzsche foi um gênio? (Aliás, continua sendo, porque gênios são imortais...) Mas Nit ― o apelido vale apenas para os íntimos ― morreu num sanatório e sua derradeira obra, Ecce Homo, apesar de genial e bastante engraçada ― ah, a sisudez dos que não conseguem ver humor na filosofia! ― é um festival de fanfarronices e delírios do genial filósofo alemão. Outro gênio que hoje é associado à loucura é Napoleão Bonaparte. Um dos maiores personagens da História, é bom esclarecer que Napoleão não chegou a ficar louco ― ao menos não há registro histórico disso. O que consta é que sua derrota em Waterloo fez com que muitas pessoas ficassem loucas e saíssem pelas ruas dizendo ser Napoleão. Por isso as centenas de piadas de manicômio utilizando sua persona.
Além de poder ser provocada por uma enfermidade e poder desencadear outra, a genialidade pode ser, em si, uma patologia. Ou seja: a genialidade pode ser uma doença que se manifesta através de comportamentos paranóicos, obsessivos e esquizofrênicos. Quem assistiu a Uma mente brilhante tem uma boa ideia de como a genialidade pode ser prejudicial a uma pessoa. O filme conta a história de John Forbes Nash, matemático que em 1994 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia. No filme, vemos um homem à beira de um colapso nervoso, como se a qualquer momento sua mente fosse entrar em curto-circuito. É como se o cérebro não suportasse a quantidade de conhecimento que ele tem; ou como se sua capacidade de processamento de informações fosse tão grande e acontecesse de maneira tão veloz, que as atividades cerebrais lhe causassem um dano irreparável. Então, ser um gênio pode ser ― e a História provou que muitas vezes é ― um fardo, quase uma maldição. Não são poucos os casos de "gênios atormentados" ou "incompreendidos", vocês sabem.
E aqui poderíamos entrar numa discussão interminável: o indivíduo tornou-se um gênio por ser um atormentado ou passou a ser um atormentado depois de descobrir-se ― e, claro, descobrirem-lhe ― gênio? Mas tentar responder a essa pergunta é como tentar responder àquela outra bem famosa: "quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?". Não entremos neste beco sem saída, portanto. Melhor partirmos para um outro, mas com várias saídas: o que é um gênio, afinal?
Existem várias definições, e eis a minha: gênio é todo aquele que os outros "colegas de trabalho" posteriores a ele querem imitar ou almejam sê-lo. É todo aquele detentor de uma obra fundamental para a humanidade ou, no mínimo, para determinada área do conhecimento ou da atividade humana. Por exemplo: Dostoiévski. Não fosse ele, Nit não existiria. Toda a paranóia de Nit vem de Crime e castigo. A teoria do super-homem é quase um plágio de uma passagem do romance de Dosto. Arrisco até dizer que, sem Dostoiévski, não haveria Nietzsche. Porque ele não apenas teorizou o super-homem, que é o próprio Raskólnikov: o filósofo alemão viveu como um super-homem.
(Bom, essa teoria é minha, não precisa ninguém concordar com ela.)
Encontrar ou conhecer um gênio, hoje, é mais difícil que ganhar na Mega-Sena. Tudo bem que Pelé ainda está vivo e Bill Gates também, mas a genialidade deles não pode ser comparada com a de Da Vinci, por exemplo. Ou com a de Newton. Talvez o grau de genialidade dos gênios esteja mesmo diminuindo. É pouco provável ― para não dizer impossível ― que surja um novo Einstein, por exemplo, ou um novo Machado, ou um novo Nelson Rodrigues. Mas não se deve almejar menos que chegar ao patamar de um gênio. Como diz J.M. Coetzee em Diário de um ano ruim: "o padrão ao qual todo romancista sério deve aspirar, mesmo sem a menor chance de chegar lá" é "o padrão do mestre Tolstói de um lado e do mestre Dostoiévski do outro". Substitua "romancista" por sua profissão e "Tolstói" e "Dostoiévski" pelos mestres dela e tenha isso como um mantra. Você não se tornará um gênio ― nem chegará perto disso ―, mas certamente vai lhe colocar na estrada rumo ao sucesso.
Caro Rafael, meu nome é Andrea Mathias Losacco, sou enfermeira e trabalho na Divisão de Tuberculose do Estado de São Paulo e gostaria de lhe informar que, só no Estado de São Paulo, são notificados anualmente cerca de 21 mil casos novos de tuberculose, e que o Brasil apresenta cerca de 100 mil casos novos por ano, números que mostram que a tuberculose está bem longe de ter sido erradicada.
Rafael, o matemático John Forbes Nash sofria de esquizofrenia. Doença que pode acometer qualquer pessoa, jovem ou velha, preto ou brano, pobre ou rico e genial ou não.
Olá, Rafael. Acho que a necessidade de encontrar um gênio em tempos difíceis, como o nosso, é tão grande, que acabamos por criar um estereótipo baseando-nos em pessoas que foram "destaque" em épocas passadas. Muitos escritores eram (?) chegados à boemia e a noitadas com profissionais do sexo - para ser politicamente correta - e, por isso, estariam mais próximos de contrair doenças como tuberculose e sífilis. Quem sabe daqui a 150 ou 200 anos a gente não consegue reconhecer gênios do século XXI?
Rafael, não existe nem jamais existirá outro Machado, Nelson Rodrigues (?) ou quem quer que seja. Seu texto não é genial, sequer ousado, um amontoado desconexo de preconceitos e figuras juvenis desenvolvidas por um senso mal-formado. Por favor, dê uma lida no texto do Jardel e seja mais prudente ao postar "textos" desta qualidade. Espero mais em qualidade e menos em presunção e preguiça.
Para quem não entendeu o texto do Rafael ou "esqueceu" de ler a linha: "O parágrafo acima é só uma associação bem exagerada entre a terrível doença e a genialidade". Uma pena, Rafael, que nem todo mundo saiba interpretar um texto com fina ironia como seu...
Eu penso que os gênios nunca existiram... De fato houve muitos intelectuais que se destacaram em diferentes épocas e lugares.
Mas a genialidade também é um mito moderno, um mito criado pelos "pares". O lance da tuberculose, por exemplo (risos). No Brasil foi embuste! Castro Alves e Álvares de Azevedo (os geniozinhos do nosso Ultraromantismo) não morreram disso, ainda que um catatal de textos afirme que sim.
A genialidade decorreria de um excesso de neurônios em certas áreas dos cérebros de alguns indivíduos? Provavelmente! Estimulados por circunstâncias ou ocasiões propícias, os tais neurônios, em determinados indivíduos, providencialmente desencadeariam resultados inesperados, surpreendentes, incompreensíveis, em tudo desproporcionais à normalidade de cada época... Talvez, por isso, da genialidade decorram obras individuais, únicas, motivos de admiração, respeito, discussão e crítica, no seu tempo. Aliás, elas extrapolam seu espaço e seu tempo, imortalizando-se pelo seu ineditismo... Imitar um gênio é compreensível. Formar escola a partir se sua obra, também. Difícil, mesmo, é conviver com um deles, pois sua carga de informações e percepções está longe de ser compreensível para a maioria de nós...