Estava relendo as duas colunas que escrevi sobre a minha descoberta dos feeds (1 e 2) e parece que foi há séculos. Vai fazer quatro anos, da publicação, em junho. A descrição continua válida (e permanece como uma boa introdução aos feeds, aliás), mas o Bloglines já foi para o espaço (troque, no texto, por "Google Reader") e muitas esperanças, ali concebidas, terminaram frustradas.
Na época, eu não contei - ou, simplesmente, não havia acontecido ainda - mas feeds, inevitavelmente, causam overdose no leitor. A maioria dos blogueiros não assume isso publicamente, mas eu duvido que, mesmo o Robert Scoble, consiga ler aquela quantidade descomunal de informação e aproveitar. Eu passei tempos procurando entender qual era o "furo" nos leitores de feeds e minha única conclusão - parcial, talvez - é que não dá para ler "tudo de todo mundo".
Nem tudo o que todo mundo diz é relevante. Ou, parafraseando Churchill, nem todo mundo consegue ser relevante o tempo todo. Logo, não compensa assinar "tudo de todo mundo". Quando digo "todo mundo" não estou me referindo ao planeta inteiro, nem a toda a população que publica na internet, mas às pessoas que você se propõe a ler (tanto faz se são jornalistas, escritores, blogueiros ou comentadores de fórum). Pense em todos aqueles dos quais você gostaria de ler tudo. Então: não dá para ler tudo nem dessas pessoas...
Os leitores de feeds tentaram formas de selecionar o que é relevante (no meio de tudo), mas, ainda assim, não funcionou. Na verdade, no caso do Google Reader, apareceram mais folders ainda - com os "favoritos" das pessoas no meu address book... Ou seja: não bastando todos os feeds que eu mesmo assinei (e não consegui ler), o Google ainda me oferece a seleção de favoritos das pessoas que eu conheço por e-mail (algumas bem vagamente)...
Eu passei uma época frustrado porque havia temporariamente desistido dos meus feeds. Era um momento em que minha vida estava mudando muito e eu precisava simplificar minha rotina. Portanto, momentaneamente, parei de ler feeds. Abrir o leitor não é exatamente uma obrigação e você pode passar horas lendo e visitando novos links. Mas, numa certa altura, você se pergunta: estou usando tudo isso? Será que preciso de tanto? Onde é que esses feeds vão me levar?
Um belo dia, como todo mundo, os feeds foram se acumulando, eu já não conseguia reservar tanto tempo para eles (ou não queria mais) e, sem nenhum planejamento maior, fiz uma pausa ainda no Bloglines. Já havia aberto uma conta no Google Reader, mas sentia uma vertigem só de ver a velocidade com que passavam os itens novos na minha frente (não precisava nem marcar, cada um, como lido e já aparecia como "lido"!). Quando fui "ver", já estava há meses longe dos feeds. Quando as pessoas me perguntavam, eu respondia, meio sem graça, que havia parado... como um viciado para com alguma substância.
Pois é, tentei voltar, anos depois (não sei quantos anos, mas foram anos). Abandonei, simplesmente, meu Bloglines (em definitivo). E comecei, do zero, no Google Reader. Para não sofrer de overdose novamente, procurei assinar apenas os feeds dos sites, blogs etc. que me ocorriam de memória... Durou alguns meses, talvez. Parecia administrável e eu - já partidário do método GTD - havia reservado um tempo, inclusive na minha agenda, para ler diariamente. Mas comecei a usar o Twitter, também diariamente, e hoje sinto que não preciso de uma "segunda" fonte de links...
Porque o Twitter, para mim, é também isso: uma maneira de se saber o que está acontecendo na internet - ou o que estão lendo (e indicando) - em tempo real. A diferença, com relação aos feeds, é que eu não me sinto na obrigação de ler os tweets de todo mundo. Invariavelmente, não passo da primeira página. Como estou sempre seguindo (e parando de seguir) (novas) pessoas, parece que confio mais agora na minha própria seleção. E acredito que o que está ali deve ser relevante.
Normalmente, ao abrir o Twitter, encontro pelo menos um link relevante de fato (sem passar da primeira página, mais uma vez). E já me dou por satisfeito se, num momento de sorte, encontrar até meia dúzia de links relevantes de uma só vez. Para quê mais (se repito esse procedimento algumas vezes ao dia)? E preciso repetir, porque, geralmente, "solto" as coisas que escrevo, ou incluo no Blog do Digestivo, direto no Twitter. Ou seja, o Twitter me resolve dois problemas: o de atualizar as pessoas no que eu ando fazendo e o de me manter atualizado no que as pessoas (que me interessam) estão fazendo.
Formalmente, eu sei que são ferramentas diferentes. Mas, talvez pelo mesmo motivo, o "conceito" de seguir pessoas hoje me atraia mais. Falei sobre isso com o Ian Black, numa entrevista durante a Campus Party, e ele ficou espantado que eu nunca indicava ferramentas, mas sugeria que - em quaisquer ferramentas - fossem seguidas pessoas. Nietzsche já dizia que não existem filosofias mas, sim, filósofos e, mesmo quando eu assinava feeds de sites ou blogs, mais uma vez, eu assinava... pessoas. Eu quero saber o que o Michael Arrington, o Jason Calacanis, o Steve Rubel, o Hugh MacLeod, o Robert Scoble, o Inagaki, o Interney, o Dahmer, a Recuero e o Boëchat estão pensando (independentemente de onde estão publicando).
Por consequência, o FriendFeed me parece simpático. Através dele, você segue a pessoa em todas as suas atividades on-line... Pensando melhor, deve ser, também, excessivo no longo prazo. (Embora muitíssimo elogiado...) A vantagem do Twitter, mais uma vez, é se concentrar no que "vale a pena" ser passado pra frente. Porque eu posso marcar um site no Delicious, gravar uma foto no Flickr e até publicar um comentário num blog, mas isso tudo pode não ser relevante para os meus leitores (ou para as pessoas que me seguem). No Twitter, por mais rápido, barato e fácil que seja publicar, eu procuro me conter mais.
Eu lembro de todas as pessoas que parei de seguir porque fizeram bobagem e tento me comportar. Como os tweets são breves e os exemplos são recorrentes, a curva de aprendizado tende a ser otimizada. Você aprende todos os dias um pouco e os tweets, se você não for burro, vão melhorar em igual proporção. Agora, imagine essa analogia se aplicando ao Twitter como um todo - a ferramenta se aprimora como poucas... Eu sei, existem as celebridades, os fakes, os jecas - mas eu não sigo essas pessoas; você segue?
De uns tempos pra cá, eu me convenci de que temos de confiar mais no zeitgeist. Se vejo um livro interessante uma vez, não vou atrás dele na primeira hora. Espero alguém falar dele novamente. Espero algumas confirmações de pessoas em quem eu costumo confiar. Se uma ideia merecer sucessivas menções, no meu conselho de "formadores de opinião" (não são os da imprensa), é porque ela tem mais chances de sobreviver. É estatístico. O Twitter, até agora, respeita esse princípio. Já os feeds... não necessariamente.
A contraposição entre zeitgeist e serendipity, angústia cada vez maior do homem moderno, me lembra aquela entre algoritmo e heurística. Há poucas semanas, em minha coluna web writing no iMasters/UOL, ao analisar o Times Reader do NYT afirmei [e penso não estar só na opinião] que o jornal é o software. Bem, não só o jornal, mas o livro, a revista, ou seja, interagimos com a informação e o conhecimento através de software, que é configurável, personalizável, anseia moldar-se às preferências do usuário. A internet é, em termos gerais de uso, software. Somos reducionistas pela ciência, mas precisaremos, cada vez mais, assumir uma postura holística em relação a ela [que é a mesma e outras, sobre o TCP/IP]. Desde o início de abril, realizo um experimento na Web, em que vou aglutinando software no contexto de uma ideia: a internet é um espaço para a criação de narrativas. É porque assim é a própria vida [os aglutinadores de lifestream não me desmentem].