Montanhismos | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 9/7/2009
Montanhismos
Elisa Andrade Buzzo
+ de 5300 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Procura-se um texto assim: que seja tão cristalino quanto é esperar o ônibus numa manhã de inverno.

(Blocos, excertos, papéis avulsos com garranchos e um desejo de organização do que as manhãs oferecem e a madrugada oculta. É o mesmo desejo que leva aos altos e baixos, sem ele não se dorme (à espera do amanhecer que virá), não se levanta (no aguardo da madrugada), não se apanha o ônibus (no desejo de chegar), nem se escreve.)

A manhã é o ponto de partida do eterno recomeço, quando o sol começa a aquecer a atmosfera, os lojistas sobem as portas de seu comércio. Sem titubeios o momento é, no entanto, fugaz. Agora é esperar pelo dia seguinte e as cenas recomeçarão ― com o tempo, pequenas alterações irão ocorrendo, a percepção de mudança será mínima.

O ônibus passa e o mendigo continua sentado no mesmo banco. Num dia tem barba, noutro, só se reconhece que o homem é o mesmo por estar lá. Sem barba.

Num dia se vê o cachorro, feliz, castanho-avermelhado como uma raposa. Noutro, o segurança brincando com ele, depois a casinha na garagem da casa. A história se completa e se acompanha com graça da janela do ônibus, não sem um pudor de invasão.

(Pegar o lápis, acompanhar as sombras de um corpo recém-descoberto, procurar um texto meio penumbra, cheirando a uma madrugada distante ― embora verdadeiros, tudo é momentos-mentira. Uma rua residencial com prédios baixos, belos postes em ferro decorado, mergulhados numa camada de folhas estridentes. O cenário desta peça é um pano que se levanta. Acostumar-se a esta constante troca e dela recolher frações, pedaços, restos de convivência noturna.)

Nesta manhã, ainda que a luminosidade tenha a aparência fraca de um convalescente, a imagem dos autos tremelicam na miragem causada pelo asfalto quente.

(A noite insiste em aparecer e entra num café-restaurante de garçonetes tristes e jazz, tamanho provincianismo numa capital sul-americana. O carpete verde-musgo aquece os pés, o salmão dado na boca é delicioso. Rico.)

Lapa-Barra Funda, esta é uma linha repleta de motoristas e cobradoras, mulheres. Por isso, mais simpática, conversadeira. Ou, então, quieta nos momentos de reflexão que as constantes subidas e descidas ocasionam.

(Preparar-se para subir, sempre, mesmo que para em seguida simplesmente descer, mesmo que as montanhas sejam outras e que certas alturas não tenham a virtude das cordilheiras.)

O ônibus alcança o topo da avenida, como é linda a poluição do céu e o delineamento crayon dos prédios. Ainda há alguma vegetação intocável na encosta, o vento revolve os cabelos compridos. Se estes morros estão ao alcance das mãos, basta estender os braços para sentir com que familiaridade essa cidade nos abraça.

(Cenário pontiagudo no papel, moldura de pedra margeando a cidade mais linda do mundo. Por isso, inalcançável.)

Um ônibus colorido e falante, se está, afinal, numa casa-rodante, subindo aos céus e descendo aos abismos da Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. "Aqui tudo é passageiro, menos o motorista e o cobrador". Estamos no ápice do caos e, ainda assim, não há calmaria.

(Ela se insinua na fresta da noite, quase nua, apenas um manto branco recobrindo as curvas. Caligrafia tateada e neon terceiro-mundista clareando as noites ardentes destes outros cerros.)

Lá está o edifício Jaraguá, sobressalente como a última morada no topo de uma montanha, um bloco de concreto esculpido para olhos que, de tão dormentes, nem reparam que ele existe. Ao subir os últimos quarteirões da montanha se vê os fundos do prédio, quase todo em vidro. É subindo uma daquelas escadarias que assolam o centro da cidade ou os bairros montanhosos, como esse, que se tem acesso a ele.

Num dos andares, um enorme cacto e um homem que fala ao telefone, a que se segue uma empregada uniformizada passando com uma bandeja prateada. Com espanto não se encontram portões de ferro, nem guardas, apenas uma fonte com um tímido esguicho, as portas de vidro.

Fingimos que não nos conhecemos, você e a paisagem são peças do mesmo jogo diário. Seria capaz de ensinar o trajeto aos motoristas novatos. A subida vai recomeçar, da montanhosidade dos bairros ou das cidades, não se escapa, se aprende a caminhar.

(Tela aberta no agora das janelas, ou tela retraída em montanhas percorridas, entre a sensação e o burilar da sensação racionalizada, assim vai se fazendo a escrita, essa matéria recriada do viver.)


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 9/7/2009

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
9/7/2009
23h22min
Tenho um problema psicossomático que me pede cuidar a respiração. Normal é não pensar em respirar. Se fico ansioso, minha tendência é travar o diafragma. Se minha atenção é despertada por admiração, lá está ele outra vez travado. Apurei para ler teu artigo. Precisei parar algumas vezes. A culpa não era do texto. É ruim para minha saúde não respirar. Reli. Não entendi o texto. Gostei demais da ousadia. Era pra não ter muito sentido direto mesmo, dando importância À escrita como arte de interpretação individual? Com licença, vou lá fora tomar um ar...
[Leia outros Comentários de Fernando MDB]
21/7/2009
17h13min
Pelo visto, não é só escrever um texto, mas esboçar, e desenhar uma obra arquitetônica na escrita. Elaborar, instrumentalizar e garantir a satisfação de quem ler. Isto é ótimo.
[Leia outros Comentários de manoel messias perei]
19/9/2009
20h47min
Oi, Elisa, volto por aqui e leio feliz a jornada de suas palavras ;-)
[Leia outros Comentários de gisele lemper]
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