Meu primeiro post foi aos 26 anos, no início de 2001. Havia acabado de trocar Curitiba por João Pessoa e ainda não tinha emprego, ocupações e vida social na nova cidade. Passava boa parte do tempo escondida do sol no fresquinho do apartamento. E nessas horas eu escrevia.
Aliás, quando soube que iria para João Pessoa, a primeira coisa que pensei foi em aproveitar a mudança geográfica para mudar também de vida. Em Curitiba, um ou dois anos após a faculdade, passei em uma seleção para o cargo de redatora em uma agência de marketing direto. Eles nem me pagavam salário com a justificativa de era um "período de experiência". Mesmo assim eu curtia. Durou umas 2 semanas até me chamarem de uma outra agência, bem maior e mais famosa, desta vez para a área de atendimento.
O glamour e a perspectiva de ganhar algum salário, ainda que não fosse muito, me seduziram. A experiência foi ótima e serviu para eu descobrir que escrevia briefings excelentes, mas era péssima na politicagem com os clientes. Nos anos seguintes zanzei por uma e outra área da comunicação. Quando surgiu a oportunidade da mudança, decidi aproveitar e voltar para a área de redação.
Escrever blogs não tem nada a ver com ser redatora. Contei essa historinha pra explicar que, quando fiz meu blog, estava com muita vontade de escrever, coisa que eu sempre gostei. Só que escrever sem ninguém para ler não tem graça. Os diários secretos nunca tiveram apelo para mim. Na adolescência, adorei quando chegou a moda das agendas. A gente escrevia, às vezes em código, e mostrava para as amigas. Elas liam, comentavam, davam conselhos. Além do texto havia os desenhos com canetinha, os adesivos, os recortes de revista. Vivia atrás dos anúncios do Club Med porque tinha escolhido o tridente da marca do resort como sinal de conteúdo relativo a um certo menino por quem era apaixonada ― veja só, mesmo na agenda já usava tags!
Nos primeiros dias de João Pessoa, teria sido mais romântico sentar nas areias da praia de Manaíra, pedir uma água de coco e preencher páginas e páginas de um lindo caderno com capa em rosa pálido e folhas de papel creme. Ele seria o único testemunho da solidão que acomete os forasteiros em novas cidades ou da incredulidade em relação a costumes tão diferentes do seus.
Totalmente sem graça. Quem iria ler? Foi por isso que apelei para o blog. Ali eu contava minhas peripécias, analisava as diferenças de cultura e tentava atualizar a família e os amigos sobre as novidades. E também me exibia um pouco, já que as pessoas achavam os textos divertidos.
Mesmo com certa audiência, um dia abandonei o blog. Acho que foi quando comecei a escrever aqui no Digestivo. Sou daquelas pessoas que precisa de motivo para escrever. Contribuir com um site de cultura era motivo mais poderoso do que o blog. Nessa época também entrei em uma pós e arranjei emprego em uma agência ― cargo de redatora, salário de faxineira. Não importava. Eu estava repleta de oportunidades e motivos para escrever.
Anos depois, saudosa daqueles anos vivendo no Nordeste, tentei resgatar o blog, só que ele não existia mais. Encontrei alguns posts no cache do Google e reproduzi no meu segundo blog. Esse foi criado em 2005, quando eu já morava de novo em Curitiba. Era pra ser um blog de crônicas, ou de comentários inteligentes sobre a vida, algo que não tivesse a ver com meu trabalho de redatora, mas que mostrasse a sutil elegância do meu texto e uma precoce sagacidade diante das coisas do mundo. É claro que não deu certo. Relendo, agora, até que os posts são legais. Mas era um blog faminto, mal alimentado e complexado. Não precisa ser médico de blogs para diagnosticar o problema: falta de motivo, de foco, de posicionamento. Na minha opinião, é por isso que muitos blogs não vão pra frente. O blog é ferramenta. Se você não tiver conteúdo e uma intenção bem clara, de nada adianta.
E aí chegamos em meu terceiro blog, lançado em 2006. Parrudinho, alimentado com uma frequência razoavel, ele é meu cartão de visitas. Este já nasceu com um motivo: eu precisava de um portfolio virtual para mostrar meus trabalhos como redatora, e o blog é uma ferramenta fácil de utilizar. Nele também eu poderia escrever bastante, o que, no fim das contas, é o peixe que eu vendo. Não satisfeita em apenas colocar a imagem das peças e reproduzir textos e títulos, comecei a fazer alguns comentários sobre elas. Cada post, além da divulgação do trabalho, acabava trazendo conceitos sobre publicidade, marketing direto e comunicação dirigida.
Os estudantes também passaram a visitar esse meu módico espaço. Normalmente eles pedem dicas de livros e conselhos sobre como ser um redator. Sempre respondo porque também sou professora e gosto de dar atenção a quem se dispõe a ler as coisas que escrevo. E assim, de visita em visita, de link em link, acabei alcançando o 6º lugar da busca orgânica do Google quando alguém busca por "redação publicitária" (já estive em 4º, preciso correr atrás do prejuízo!).
Para mim o blog é meio, não fim. Apesar de me permitir ampliar um pouco os assuntos, ele continua servindo para divulgar trabalhos. O endereço está na assinatura do e-mail e no cartão de visitas. Digamos que ele seja um ponto fixo na mobilidade do ambiente virtual. Posso até postar mensagens rápidas no Twitter, mas conteúdo em profundidade vai estar lá.
Vejo o blog como uma ferramenta que democratizou a produção de informação e a visibilidade. A internet já proporcionava isso, mas foi o surgimento de um recurso acessível, que qualquer pessoa pudesse usar mesmo sem saber de programação, que permitiu a divulgação de um imenso conteúdo na Web. Claro, vem muito lixo junto. Porém, o joio se separa do trigo naturalmente, pela própria dinâmica do meio. É por isso que o blog não se sustenta em si mesmo como ferramenta. É preciso existir uma motivação para escrevê-lo, um posicionamento claro para que os leitores saibam o que vão encontrar ali e uma regularidade para mantê-lo.
Não acredito que o blog, assim como Twitter, sites de relacionamento e qualquer outro recurso, tenham uma única função, derivada de seu funcionamento ou códigos de programação. Acho que tudo isso deve ser encarado como ferramenta. Depois de compreender a ferramenta você pode decidir como ela será útil para suas necessidades e objetivos.
Todo mundo que tem algo a dizer e sabe como dizer pode ter um blog de relativo ou até grande sucesso. Basta encontrar sua praia. Sabe cozinhar? Coloque receitas diferentes. Tem talento para encontrar pechinchas? Faça um blog de ofertas. Gosta de música sertaneja? Escreva sobre seus ídolos e torne-se referência no assunto.
Aproveite que a cauda é longa, ache um lugar nela para o seu blog e seja feliz!
O próprio Andrew Solomon no prefácio do seu livro chegou a dizer "escrever sobre depressão é doloroso, triste, solitário e estressante. Contudo, a ideia de que eu estava fazendo algo que poderia ser útil a outros era gratificante". Ainda podemos ajudar outras pessoas contando nossas experiências, como superamos nossas angústias, problemas, crises. Por que você tem medo de escrever? O que teria para revelar ao mundo, quais suas angústias, seus medos, o que colocaria no papel e deixaria para a posteridade, o que se desvelaria para o mundo com a sua escrita? Por que não escrever para si próprio, ou mandar uma carta, um e-mail, contar sua vida, ver seu pensamento organizando em palavras, frases, linhas, parágrafos...? É um desafio interessante.
Adriana, os blogs hoje estão ganhando importância devido ao fato de possibilitarem que empresas (marcas) falem diretamente com seus clientes. O Google adora texto e os sites são cada vez mais indexados em função das palavras chave e da frequência com que atualizam seus conteúdos. Isso tudo é um reflexo da evolução do marketing digital. Bom futuro aos blogueiros!
Oi, Adriana. Gostei do teu post e de tua sinceridade em escrevê-lo contando as suas andanças através da publicidade e da arte de escrever. Muita gente pensa que escrever é "moleza", emprestando uma gíria antiga; eu convivi com parceiros poetas, contistas que trabalhavam como sociólogos ou como professores de história para a sua sobrevivência, mas o que eles curtiam mesmo eram os poemas, os contos e as letras de músicas. Um deles era "erudito", com o perdão de palavra, que lia Karl Marx em alemão, Maurice Merleau Ponty em francês e poemas de Walt Whitman no original; fora isto era coordenador de cursos nos cursinhos e faculdades; mas, ao terminar o processo de composição de uma canção, ele perguntava: "você gostou, maestro?", como se minha opinião fosse de um expert em poemas e letras; é claro que o resultado da soma da música e letra eu sabia, mas tinha horas que eu ficava meio que "encolhido" no meio de tanta erudição. Daí o meu medo de escrever, mesmo querendo dizer (escrever) alguma coisa.
Os motivos para blogar são tantos e ao mesmo tempo não existem. Fica um dilema: blogar ou não blogar? Para quê possuir um blog? As respostas eu não possuo, mas eu possuo um blog e continuo blogando sem parar, de forma contundente e delirante. Bom, vou ficar por aqui e continuar a blogar sem parar, sem trégua para o ócio.
Adriana, descobri no blog uma excelente terapia. Com formação em engenharia e com muito gosto pela escrita, montei o blog e me delicio com as possibilidades sempre crescentes de leitores. Sacramentei a vocação quando cursei jornalismo e aprendi técnicas para tornar um texto mais dinâmico e agradável. Meus primeiros posts foram contos e matérias. Aos poucos descobri que as narrativas poderiam fazer parte e iniciei a contar minhas viagens. Penso que o blog é um meio eficaz para quem escreve e conta histórias, de ficção ou não.