Vivemos em uma época estranha. Enquanto os líderes mundiais estavam reunidos em Copenhague para discutir uma nova agenda mundial de combate ao aquecimento global, substituindo o Protocolo de Kioto, um proeminente professor da MIT (Massachusetts Institute of Technology) publicava artigo no The Wall Street Journal com o título: "The Climate Science isn't settled ― Confident predictions of catastrophe are unwarranted" (a tradução seria algo próximo de "A ciência do clima não está decidida ― Previsões de catástrofe garantida são injustificáveis").
O autor do artigo explica, entre outras coisas, que o CO2 não é o grande responsável pelo aumento da temperatura da terra, que, por sinal, desde o século XIX só aumentou 1,5 graus fahrenheit. Para completar, o aumento não pode nem ser provado, haja vista que as bases de registro no século XIX não são confiáveis.
Os fatos continuam estranhos quando lemos que a COP 15 foi um fracasso, já que os países ricos estavam mais interessados em proteger a si mesmos (grande novidade) e a presidente da conferência nem disfarçava sua indiferença ― Connie Hedegaard, ministra do Meio Ambiente da Dinamarca, teve que renunciar após duras críticas dos países participantes, que a acusaram de estar privilegiando países ricos nas negociações. E, para completar, o melhor comentário, vibrem, foi do presidente Lula, quando afirmou que os líderes atuais serão lembrados como os: "dirigentes que foram incompetentes para salvar o planeta enquanto era possível". Não é incapaz!
Em outra seara, os fatos também estão esquisitos. O Bradesco já tem barcos para dar crédito aos indígenas na Amazônia. Não sou contra. Pelo contrário, acho o crédito essencial para o crescimento do Brasil, mas, que é esquisito, é. Até porque mal começou e já tem gente reclamando ― com certeza, os pequenos agiotas.
Caminhando pelas esquisitices, quero falar sobre os estranhos seres de Pandora, planeta fictício de um dos mais belos filmes que já assisti: Avatar.
Primeiro, o modo como James Cameron, diretor do longa, aborda temas sérios e reflexivos, em clima de ficção científica, com amor e seus sacrifícios, é sinérgico.
A caixinha de surpresa está mais para os sentimentos que o filme desperta junto com suas mensagens subliminares do que pelos estranhos animais que habitam Pandora.
Frases rápidas e ditas como pano de fundo falam sobre a cobiça humana, a escassez de riquezas materiais, o capitalismo e o papel do acionista nas empresas modernas.
Discussões como essas aparecem quando o gerente da empresa que banca o empreendimento extraterrestre topa matar os habitantes deste planeta a fim de conseguir minérios que valem bilhões de dólares. Vale um parêntese para comentar que este minério calharia bem ao Brasil: com ele é possível resolver o problema de energia da terra.
Quando o gerente resolve levar a cabo o sanguinário plano do general mercenário, a cientista eco-chata lhe apela para mudar de ideia. A resposta vem em forma de pergunta: e o que eu faço com os acionistas que bancam, inclusive, seu salário?
Tudo muito real e passado de tal forma que o espectador se comove e torce pelos estranhos animais desta terra desconhecida. Bem que eles precisavam de uma COP 15 para resolver o problema.
Mas não é só isso que o filme trata. Enquanto um padre anglicano prega para fiéis roubarem de grandes varejistas, porque o preço será repassado para os mais ricos mesmo (quanta decência, não?), o filme tenta demonstrar que destruir um povo por causa de suas riquezas não é exatamente certo e justo. E que a cobiça tem seu preço e seus efeitos negativos. No filme de Cameron os bonzinhos vencem, mas a história da humanidade não tem o mesmo registro.
Quando os espanhóis conquistaram o Império Inca, não só roubaram o ouro, mas também destruíram a civilização que vários historiadores taxam como uma das mais desenvolvidas para o seu período.
Mas o que mais me chamou a atenção no filme e que achei ao mesmo tempo genial, super estranho e aflitivo foi a rede com que todos os habitantes de Pandora conseguem se conectar uns com os outros, por meio de "fios" que saem do seu cabelo.
É como se todos tivessem entradas USB. A memória do povo é guardada por uma espécie de Deus. A inspiração deve ter sido a internet, mas não deixa de trazer uma reflexão: com a internet armazenando cada vez mais textos, informações, notícias, livros, ou seja, a cultura da humanidade, será um perigo se um dia isso for destruído por alienígenas que queiram roubar nossa terra.
Serão essas bases de informações o que deixaremos de mais sagrado para as próximas gerações? A resposta eu realmente não sei, mas o caminho, por enquanto, é este. Não precisaremos de extraterrestres para destruírem estas informações. Como dito no começo, o mundo está cada vez mais estranho e é bem capaz que os nossos líderes, privilegiando os países ricos, com a ganância natural do homem, junto com os acionistas e as novas formas de crédito, cheguem a um consenso: precisamos recontar a história para poder lucrar mais. Vamos destruir as informações (prática comum na antiguidade de domínio de um povo sobre o outro) para nos reinventar.
Só me resta terminar este texto copiando a plateia do filme: aplausos para o novo mundo!
O mais intrigante nessas questões é a figura do homem ganancioso, que fica traduzida na imagem do europeu, que destruiu culturas e civilizações. Será que os INCAS fariam algo semelhante com os "europeus", se tivessem tempo? Será que é da natureza humana a ganância? Podemos generalizar dessa forma? Uma cultura que se sobrepõe à outra deve ser considerada mais desenvolvida?
Ótimo, Dani. Veja que até mesmo o seu artigo é acompanhado nos dois lados por ofertas comerciais. Mas o que vale mesmo é ficar atento a como as coisas e as pessoas são. Nelson.
Gostei do artigo. Assisti ao filme surpreendido pela sua beleza. O cenário é estonteante, as criaturas nos conquistam pela doçura, pela integridade. Apesar de longo, não senti cansaço. Fui preparado pra ver mais um panfleto americano - ele existe -, mas Avatar é mais que isso: uma obra de arte. E o artigo do Daniel comenta com competência essas peculariedades da obra de Cameron.
Devo dizer que nem pisquei durante o filme, e nem tinha grandes expectativas antes do início da sessão. Gostei muito do texto, realmente acho estranho que ao mesmo tempo em que formamos um estranho acervo cultural na internet, onde podemos acessar e incluir de tudo, ao mesmo tempo em que o mundo se torna cada vez menor em termos das facilidades de comunicação em todos os aspectos, parecemos estar cada vez mais desumanizados. A impressão é a de que todo mundo está tendo que tomar remédios para suportar esta crise de valores. Abraço!