Torcedores e "Especialistas" em futebol têm manifestado que os jogos nessa Copa do Mundo estão fracos, monótonos, chatos, carentes de emoção. Faltam gols, grandes jogadas, destaques individuais: vitória com dois gols de diferença é goleada. Se a Copa é chata, nela também se tem dado destaque às inúmeras falhas individuais: Green, goleiro titular da Inglaterra só no primeiro jogo, protagonizou um dos momentos mais constrangedores, na falha que resultou no gol de empate dos Estados Unidos; igualmente constrangedor, mas com menos destaque, foram os gols perdidos pela Nigéria contra a Coréia do Sul, que selaram sua sorte no mundial.
O que se repete como mantra é: a França foi uma decepção, a Inglaterra não tem correspondido, a Holanda ganha, mas não empolga, a Argentina vence, mas não convence, a Itália foi uma vergonha, as seleções africanas são um fiasco, a exceção de Gana. Espera-se espetáculo, mas ele não ocorre. Fiquemos com um clichê: grandes jogadas individuais dependem de espaços. Quando pegamos os diversos documentários à disposição nas bancas de jornal com a História das Copas, o que surpreende é ver como Pelé e cia. tinham espaços. Nesses mesmos documentários se pode ver que foi com o "Carrossel holandês" em 74 que os espaços foram ocupados. O futebol-arte da seleção brasileira da Copa de 70 não se repetiu nas edições seguintes do mundial: um lampejo e derrota em 82 e vitória em Copa do Mundo novamente com o futebol-pragmático em 94.
O que a Copa Sul-africana repete e acentua é o império da disciplina tática, da maximização da eficiência, da lógica de resultados. Grécia, Suíça e Sérvia, para ficar nessas, protagonizaram partidas em que o que menos queriam era a bola. Contentaram-se com a aplicação tática, com uma armação defensiva que tornava praticamente impossível vislumbrar uma atuação individual ou coletiva de efeito de seus adversários. Como superar o "ferrolho" de defesas fortemente armadas para eliminar qualquer espaço possível de criação em campo? Eis uma indagação que muitos comentaristas esportivos têm feito.
O que se tem visto é que os melhores momentos, os lampejos de espetáculo, ocorrem quando por uma razão ou outra uma seleção perde o ponto de equilíbrio tático e se lança sem organização em busca de resultado. Por paradoxo, entre esses grandes momentos, aquele em que, contra a disciplinada Eslováquia, a seleção italiana, conhecida pela disciplina, na iminência de eliminação se lançou sem disciplina nos minutos finais da partida para arrancar um gol que a classificaria e sofreu justamente um gol que a eliminou precocemente nessa primeira fase. Os comentaristas foram unânimes em realçar a falha absurda da defesa italiana: tomar um gol após a cobrança de um lateral. Com a ânsia para marcar um gol salvador, teria a defesa italiana frieza para se preparar taticamente para cobrir espaços na hora do lateral?
A discussão, como se vê, gira em torno de falhas de posicionamento, portanto, de organização tática. Quem faz essas observações, no entanto, muitas vezes clama pelo futebol-arte. Não seria o caso pensar que essa Copa Sul-africana decreta o ocaso do tal do futebol-arte? Pensemos no futebol como a "arte do movimento com uma bola nos pés". Arte é uma exceção, não regra. A repetição, ou a reprodutibilidade, faz pensar na produção em série e na satisfação consumista capitalista. Os obstáculos à criação são superados pelo gênio. Mas o gênio não se submete às exigências de espectadores que pagam para vê-lo satisfazer seus desejos. Tampouco o gênio desponta conforme as pranchetas que o conformam a uma posição no campo, como se o campo fosse um tabuleiro de xadrez. Uma das grandes graças do futebol está justamente na insurgência a regras, no imprevisto: a partida tem noventa minutos e o movimento da bola é imponderável. Quando ocorrerem lances, jogadas geniais, nessa Copa isso será fruto principalmente da genialidade de um jogador para superar esquemas táticos, aproveitar falhas que o coloquem na condição de fazer valer o futebol-arte.
Otimismo ingênuo? Não, apenas a percepção de que as condições para a realização da arte do movimento com a bola nos pés atualmente não são as mesmas da Copa de 70. De qualquer forma, se, de fato, como o futuro assim o revelar, essa Copa representar o fim da arte no futebol, há poucas razões para acreditar que os torcedores tenham pulsões masoquistas para a chatice da maximização da eficiência com a disciplina tática. Claro, ainda por um tempo a publicidade se ocupará da ilusão: enquanto movimentar quantias vultosas e interesses, quem se beneficia com isso terá razões para apresentar embalagem bela por fora e vazia por dentro. Assim sendo, o futebol não se diferenciaria muito da Fórmula 1: o melhor piloto dispõe do melhor carro, sem um novo e imprescindível "pacote", não há carro nem há bom piloto na F1.
Futebol-arte e disciplina tática à parte, as seleções africanas são o destaque negativo dessa Copa. A Copa das Nações Africanas, disputada no início do ano e vencida pelo Egito, que não está na África do Sul, já o prenunciava. Mas quando se pensa em arte ou disciplina, nada disso se viu nas seleções africanas. Gana, a única a passar da primeira fase, não mostrou futebol vistoso ou disciplinado - circunstâncias bem específicas garantiram sua classificação. Costa do Marfim e Camarões, com jogadores como Drogba e Eto'o, acentuaram que dos países africanos não se pode esperar muito, mesmo com jogadores que são reconhecidos entre os melhores do mundo. Para as seleções da África, esta seria a Copa para mostrar que apresentaram "evolução", mas isso não aconteceu e a seleção de Gana, mesmo tendo passado para as quartas-de-final, não revela novidade alguma.
Vale por fim destacar que há muitos assuntos recorrentes e que evidenciam incompreensão sobre um evento cercado de tantos interesses. Uma observação recorrente é sobre o arranjo dos grupos e possíveis cruzamentos. Essa Copa tem evidenciado que cada partida tem características bastante próprias. Quem acreditar que cruzar com uma seleção supostamente mais fraca terá vantagem, se engana. O grupo da Itália, aparentemente fácil, deu a senha. Seleções com melhor aproveitamento na primeira fase têm contra si o fantasma da derrota e desclassificação num único lance. Uma competição chata e sem emoções é também marcada por inúmeras falhas individuais e de posicionamento tático. E um gol, não se pode esquecer, pode bem ser uma goleada; basta lembrar que foi assim que a Sérvia, última de seu grupo, venceu a Alemanha, que assim venceu Gana, que igualmente assim venceu a Sérvia.
Existem inúmeros complicadores, além de Jabulanis, retranqueiros e pseudo-craques, como Eto'o e Drogba (não jogariam no São Paulo de 1985, por exemplo): o fato de a Copa ser disputada ao final da temporada europeia é fundamental para o baixíssimo nível apresentado no país de Mandela; o tempo de preparação das seleões é curto demais; a pressão pelos resultados faz os técnicos, antes de mais nada, abdicarem do ataque para especular. A dita "irresponsabilidade" dos africanos deu lugar ao pragmatismo exagerado. Logo, perderam o encanto e tornaram-se equipes insossas e sem um pingo de tradição. E tradição, em copas, conta muito, que o digam brasileiros, alemães e argentinos.
Caro Humberto, concordo contigo. Acho que foi Nelson Piquet quem disse algo assim: "a seleção de 70 não aguentaria correr um primeiro tempo do futebol de hoje em dia...". As condições mudaram e o estado-de-arte só era possível sem a atual realpolitik do futebol. Não sou ufanista, mas acho que a seleção brasileira vai calar a boca de vários comentaristas de araque, a imensa maioria.
O futebol arte sempre foi a marca do Brasil. De princípio, os africanos herdaram isto. Mas diante da necessidade de obter resultados acabaram importando a força europeia, com técnicas de corridas e jogos aéreos. Acabaram as gingas. Não deu samba. Por outro lado, nós começamos, após o tricampeonato, a acreditar que era hora de matar o futebol arte. E começamos a buscar elementos na Europa. Mesmo assim a arte ainda destacou-se, mesmo sendo sufocadas pelas táticas. E hoje com uma seleção feita só pra valorizar os jogadores que estão na Europa apresentamos isto que está aí. Este sono de morte. Creio que até poderíamos ter arte e só jogar pra golear, mas isto é outra história. Vamos torcer pro Santos FC, veremos isto ainda. Antes que importe o sono da morte.
Alguém precisa dizer que esta Copa está muito fraca, tecnicamente. Mais do que a falta de espaço, percebo a falta de ousadia dos craques. Talvez até por isto não sejam craques. Ninguém arrisca uma jogada individual, todos presos às orientações dos técnicos. Arrisco dizer que faltou infância a estes jovens que cedo foram "descobertos" por olheiros e empresários.
A seleção brasileira pode até não estar agradando, mas das 32 seleções é a que passa mais confiança. O grupo está fechado com o treinador. Os jogadores estão determinados a trazer o HEXA. A cada crítica eles se sentem mais motivados. Querem provar que são capazes. Por isso, digo: "Continue com as críticas, isso vai motivá-los". Uma coisa é certa: No final, aqueles que criticaram vão ter que ouvir.
O sono da morte chegou e o time do Brasil em 2 de julho de 2010... conseguiu morrer nesta Copa de 2010. Cadê o futebol? Os jogadores ficaram como baratas...
Li agora mesmo, mas não sei onde, que TIVEMOS um Dunga, 11 Sonecas e 190 milhões de Zangados. Concordo. Pena mesmo eu tive foi de Ghana ter chegado até onde chegou e, agora, ter saído da Copa por conta de 3 malfadados pênaltis que deram errado.