Entra ano, sai ano, e a tradição de fazer uma lista de coisas que desejamos realizar no ano que vai começar é a mesma de sempre.
No ano que vem eu vou...
Emagrecer, fazer academia, virar vegetariano, parar de beber refrigerante, ler um livro por mês, estudar inglês, ser menos briguento, dar uma mesada mais gorda pros meus pais velhinhos, parar de brigar com a minha filha, parar de beber, parar de fumar, começar a fazer artesanato como hobby (em vez de assistir tanta televisão), não vou assistir a nenhuma novela, vou frequentar mais o teatro, frequentar mais a igreja, parar de ver pornografia na internet, parar de trair o meu cônjuge, fazer as pazes com minha ex-amiga que roubou meu namorado, pedir as contas e montar o meu próprio negócio, pagar direitinho a pensão do meu filho que mora com a mãe, parar de implicar com meu ex-marido e sua nova mulher, adotar financeiramente uma criança de alguma ONG ou orfanato, fazer uma boa ação por semana, casar com minha noiva dos 10 últimos anos, engravidar, não vou engravidar pela oitava vez, vou entrar na faculdade, vou voltar para a faculdade, vou escrever um livro, vou fazer uma plástica, vou aprender a tocar violão, vou abrir uma poupança para economizar dinheiro, vou fazer uma viagem para o exterior...
Tem gente que faz até uma listinha, ou listona, e guarda em algum lugar para no final do ano conferir quantas promessas conseguiu cumprir. Eu mesma já fiz isso algumas vezes. O engraçado é que raramente conseguia recordar onde a bendita lista estava escondida. Mentalmente, não conseguia recordar o que havia escrito. E, quando encontrava a dita cuja, não havia cumprido quase nada ― às vezes nada. Então, desisti desse ritual. Para mim, não funciona.
Tenho uma colega que desde a sétima série coloca "emagrecer" e "fazer academia" na lista de ano novo. Quase 10 anos depois ela conseguiu. Fiquei um tempo sem vê-la, pois foi fazer faculdade em outro estado. Quando voltou, estava irreconhecível. Mas, antes disso, todo início de ano ela se matriculava na academia e não frequentava nem um trimestre inteiro.
Outro colega é hilário: em todas as festas de final de ano ele diz que é a última vez que come carne. Aí se acaba de tanto comer, dizendo que é despedida. Uma ou duas vezes ele vai na churrascaria e só come massas e salada, repetindo o tempo todo que virou vegetariano e importunando todo mundo com aquelas piadas ridículas de "você está comendo um defunto", entre outras piores. Tudo bem que é verdade, mas não precisa ficar falando, né? Então, em algum almoço de galera, ele se rende: "Eu não tô comendo carne, mas esse cheirinho tá me matando. Uma vez só não tem problema, né?". E nas festinhas do final do ano é sempre aquela despedida.
Refrigerante é uma coisa. Inclusive para mim, que nunca tomei o desgraçado até os meus 18 anos de idade. "Dá celulite" ― era o meu firme pensamento para não tomar. Mas então você está morrendo de sede na festa de aniversário da sua amiga e não tem suco. Você bebe um gole para molhar a garganta e... não dá. Quando se dá conta, sua geladeira está cheia de garrafas da bebida gasosa, pois todas as visitas adoram e não dá trabalho nenhum ― além de ser mais barato do que suco de caixinha. Um belo dia você se conscientiza e passa longe dos engradados no supermercado. Mas fora de casa...
Ler um livro por mês, estudar inglês, não assistir a nenhuma novela, começar a fazer artesanato como hobby estão sempre na mesma lista, juntinhos. Lindo. Quem dera alguém conseguisse cumprir tudo isso. O sujeito até desiste de assistir o final da novela que já estava assistindo e começa a ler. A novela termina, ele perde o final, fica com raiva e esconde. Começa a criticar todo mundo que assistiu, diz que nem quer saber o final. Começa a nova novela. Ele vê alguns pedaços no comerciais, diz que a novela não vai ter a menor graça. Vai pro quarto ler. Quando visita um amigo que assiste a novela é que é a desgraça. Ele faz tantas perguntas que não deixa ninguém assistir o capítulo da noite. Critica, fala mal, mas depois vai procurar as sinopses na internet. Um belo dia, larga o artesanato pela metade, e o livro empoeirando... e promete mais uma vez que é a última novela que assiste.
Parar de beber e/ou de fumar é um drama que toda família tem. Algum parente tem que ter algum desses vícios. Perdi meu avô para o cigarro, e tenho alguns tios que todo ano as esposas dizem que vão abandoná-los se não pararem de beber. Deve ser mesmo muito difícil. Nem faço ideia.
"Pedir as contas e montar o meu próprio negócio." Ah... O gostinho de cumprir essa promessa eu conheço. Demorou, mas consegui. E olha que consegui justamente quando parei com a lista. Mas conheço gente que ainda não criou coragem, e outros que, depois de uns dois ou três anos no próprio negócio, resolveram voltar para a CLT.
"Casar com minha noiva dos 10 últimos anos" é outra novela. Uma amiga minha sofreu muito com isso. Todo ano o noivo prometia: Ano que vem a gente casa! Que nada... depois de 13 anos, ela conheceu um cara pela internet e em seis meses estava casada. Dá pra acreditar? Só que o noivo dela descobriu que ela era a pessoa com quem ele realmente queria ter se casado. Depois de 2 anos infernizando a vida dela pra voltar pra ele, ela cedeu. Foram morar juntos. Mas casamento mesmo, no papel, ainda está na promessa.
Ah, ainda tem o dilema feminino atual: gravidez. Muitas mulheres sofrem com isso. Até querem, mas a importância que a carreira tem para elas, hoje, faz com que a maternidade fique em segundo plano. E pensar que há até pouco tempo a prioridade era sempre a procriação. Eu mesma casei muito mais tarde do que imaginava que me casaria quando adolescente. Mas resolvi engravidar antes dos 35 ― embora quando casei a ideia era esperar para engravidar aos 34. De repente, decidimos. No mesmo mês, a Lara foi encomendada. Mas algumas amigas minhas já estão casadas há uns 10 anos e sempre deixam para "o ano que vem". Algumas já passaram dos 35. Por outro lado, também conheço algumas garotas que começaram a procriar aos 15 anos e hoje têm um time de futebol, cada um de um pai.
"Começar a poupar dinheiro" deveria ser uma coisa aprendida na infância. Infelizmente, a gente quase nunca aprende. E, quem quer, demora a conseguir praticar. Geralmente, nem bem recebemos o dinheiro e já sabemos exatamente como vamos gastar. Ou pior: vamos dar uma volta no shopping só para assistir a um filme e, de repente, o cinema se transforma numa reprise do filme Delírios de Consumo de Becky Bloom. E não é só mulher que faz isso não. Muitos homens também. A diferença é que mulher gosta de gastar mais com roupa e sapato. Os homens, com eletrônicos. Mas quando o sujeito finalmente consegue planejar seus gastos conforme as dicas do Gustavo Cerbasi, vira outra pessoa. De repente, começa a falar de investimentos, de cotação do dólar, de previdência... e até mesmo de realizações que antes jamais poderia fazer, porque nunca sobrava dinheiro. Aí, quer cortar tudo. As saídas, o cinema, o cabeleireiro, a esteticista... e até os almoços de família que deveriam ser na sua casa. Se não corta o almoço, muda o cardápio ou começa a pedir para cada um levar um prato, ou aceita que você leve um quando você só ofereceu por educação. Fala sério... Duvido que o Gustavo Cerbasi faça isso.
O ano que passou foi interessante para muita gente. Eu curti tudo o que me aconteceu, exceto os quilos a mais por não conseguir controlar minha alimentação no final da gestação (foi o ano em que me tornei mãe). E ainda espero que 2011 seja tão bom ou melhor do que 2010. A lista tradicional eu não vou fazer. Claro que quero realizar muitas coisas, e tenho consciência de que não conseguirei fazer tudo o que pretendo. Entre elas, emagrecer, fazer artesanato, ler mais livros, assistir menos televisão e não beber refrigerante nem fora de casa. Será que desta vez eu consigo?
Que texto legal. Eu faço uma lista mental e tenho conseguido. Consegui ler os 12 livros (no mínimo) que queria (um por mês); passei a ver menos televisão - me viciei na internet e me joguei no trabalho - que, aliás, foi um campo que eu também alcancei meus objetivos. E para ano que vem... Bem... no momento tô de férias, vou pensar nisso no ano que vem.