História da leitura (IV): a ascensão do romance | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Assim falou os mano
>>> No hidding place
>>> O retalho, de Philippe Lançon
>>> O filósofo da contracultura
>>> Entre a folia e o Oscar
>>> minha santa catarina
>>> Softwares para ficcionistas
>>> Os solitários anônimos de Fusco
>>> Poco più animato
>>> A história do bom velhinho
Mais Recentes
>>> Elemento Suspeito - Coleção Segurança E Cidadania de Silvia Ramos; Leonarda Musumeci pela Civilização Brasileira (2005)
>>> A Chave De Casa de Tatiana Salem Levy pela Record (2010)
>>> Mulheres Policiais - Coleção Segurança e Cidadania de Barbara Musumeci Soares pela Civilização Brasileira (2005)
>>> Vendem-se Unicórnios - Coleção Sinal Aberto de Índico pela Ática (2010)
>>> O Feminismo E Para Todo Mundo. Politicas Arrebatadoras de Bell Hooks pela Rosa Dos Tempos (2020)
>>> Devagar E Simples de André Lara Resende pela Companhia Das Letras (2015)
>>> Harry Potter E A Criança Amaldiçoada Parte um e dois de J.K. Rowling; John Tiffany & Jack Thorne pela Rocco (2016)
>>> Jack e o Porquinho De Natal de J.K. Rowling; Jim Field pela Rocco (2021)
>>> A Ditadura Escancarada de Elio Gaspari pela Companhia Das Letras (2002)
>>> A Ditadura Envergonhada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2002)
>>> A Ditadura Encurralada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2004)
>>> Diario De Um Banana 7: Segurando Vela de Jeff Kinney pela V&r (2013)
>>> A Ditadura Derrotada de Elio Gaspari pela Intrínseca (2003)
>>> A Ditadura Envergonhada de Elio Gaspari pela Intrinseca (2004)
>>> Diario De Um Banana 6: Casa Dos Horrores de Jeff Kinney pela Vergara & Riba (2012)
>>> Tempo Psdicanalítico Psicanálise e cultura 29 de SPID Sociedade de psicanálise Iracy Doyle pela Produção Gráfica Coqueiral (1997)
>>> Lulu Na Festa Do Pijama de Anna Mcquinn - Rosalind pela Pallas (2023)
>>> De coração aberto de Elizabeth Lesser pela Rocco (2005)
>>> Lulu Adora Historias (1º edição - 4º reimpressão) de Anna Mcquinn - Rosalind pela Pallas (2023)
>>> Lu Linguaruda de Maria Julião dos Reis; Clara Pereira da Silva pela Autografia (2020)
>>> Lulu Adora Historias (4º reimpressão) de Anna Mcquinn - Rosalind pela Pallas (2023)
>>> Dom Quixote de Miguel de Cervantes de Walcyr Carrasco Tradução Adaptação pela Moderna (2015)
>>> A Carne e o Sangue de Mary Del Priore pela Rocco (2012)
>>> A Apologia De Socrates O Banquete De Fedro de Platão pela Folha de SP (2010)
>>> Doze Reis E A Moça No Labirinto Do Vento de Marina Colasanti pela Global (2006)
COLUNAS

Sexta-feira, 22/4/2011
História da leitura (IV): a ascensão do romance
Marcelo Spalding
+ de 6800 Acessos

Chegamos no alvorecer da era das máquinas, símbolo central do período histórico que ficou conhecido como Revolução Industrial, fenômeno observado especialmente na Inglaterra no meio do século XVIII, com o surgimento da indústria têxtil (entre 1760-1780), a invenção da máquina à vapor (1769) e as primeira aplicações industriais com a produção de ferro de boa qualidade (1780).

No campo social, a Revolução Industrial aos poucos criou uma massa de trabalhadores, muitos dos quais foram alfabetizados e escolarizados para atender às demandas industriais. São esses trabalhadores, tranformados em leitores, que transformaram as narrativas em prosa em um gênero comum entre as camadas populares, e por isso mesmo até então considerado menor diante da tradição épica. Conta-nos Antonio Candido que, quando o rei da Inglaterra quis dar a Walter Scott (escritor inglês que viveu entre 1771 e 1832) o título de baronete, houve dificuldade em encontrar a justificativa oficial de praxe, pois o motivo era obviamente a glória trazida pelos seus romances, mas estes saíam anônimos e o autor não quis aparecer como tal na cédula honorífica, por se tratar de atividade incompatível com as de um gentleman bem-posto. A solução foi alegar a sua qualidade de poeta, aceita tradicionalmente, pelo establishment; deste modo preservou-se o segredo de Polichinelo, e o romancista mais estrepitosamente famoso do tempo foi agraciado a pretexto de poemas da mocidade, que havia assinado e cuja autoria não o vexava..

O século seguinte, o XIX, não por acaso seria o século do romance, um gênero próprio da era Industrial, da era Burguesa, em detrimento às epopeias classicistas. É o século, além de Walter Scott, de Charles Dickens, Jane Austen, Stendhal, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Victor Hugo, Dostoievski, Lewis Carrol, Mark Twain, Julio Verne, nomes basilares no cânone ocidental, e Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, nomes fundamentais no cânone da língua portuguesa.

A produção do livro alcançou escala industrial, o público consumidor se fortaleceu, os gêneros populares, sobretudo o romance, se consolidaram e assim como havia ocorrido quando do surgimento dos tipos móveis, novamente a leitura passou a ser malvista tanto pelos detentores do poder quanto pelos pensadores, conforme sintetizou Schopenhauer em Parerga y paralipómena, de 1851:

(.) não se deve ler demais, para que o espírito não se acostume com a substituição e desaprenda a pensar, ou seja, para que ele não se acostume com trilhas já percorridas e para que o passo do pensamento alheio não provoque uma estranheza em relação ao nosso próprio modo de andar (.) Após essas considerações, não nos espantará o fato de aquele que pensa por si mesmo e o filósofo livresco serem facilmente reconhecíveis já pela maneira como expõem suas ideias. O primeiro, pela marca da seriedade, do caráter direto e da originalidade, pela autenticidade de todos os seus pensamentos e expressões; o segundo, em comparação, pelo fato de que tudo nele é de segunda mão. Trata-se de conceitos emprestados, de toda uma tralha reunida, material gasto e surrado, como a reprodução de uma reprodução. (2005, p. 48-49).

No campo da ficção, Flaubert, no clássico Madame Bovary, de 1857, criou uma protagonista que, seguindo a tradição de Quixote, deixa-se seduzir por más leituras e condiciona sua vida real de acordo com os mundos inventados da ficção. Devido à temática do livro, Flaubert chegou a ser levado aos tribunais, acusado de ofensa à moral e à religião, num processo contra o autor e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, onde a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com alguns pequenos cortes.

O surgimento da imprensa comercial, diária e popular, aliás, ao lado da escolarização obrigatória e consequente alfabetização em massa, tem papel fundamental na popularização do livro nessa época. O The Times, de Londres, é de 1785; o The Guardian, um dos jornais mais vendidos no Reino Unido até hoje, surge em 1821; o New York Sun, vendido a um centavo de dólar, é de 1833; no Brasil, o Correio Braziliense é de 1808, mesmo ano do lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro, publicação oficial editada pela imprensa régia.

Com os jornais de massa, surgia um novo gênero literário, o conto moderno, que passou a ser tão malvisto como fora o romance no século anterior. Edgar Allan Poe, nos "Excertos da Marginalia", faz associação direta entre o progresso realizado em alguns anos pela imprensa e a afirmação do conto, dizendo que tal progresso não é uma decadência do gosto ou das letras americanas, como queriam alguns críticos, e sim um sinal dos tempos: "o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação".

Do ponto de vista dos livros, esta mecanização não chegou, num primeiro momento, a mudar sua técnica de impressão, que seguia seu formato de códice há cerca de mil anos, mas acelerou sobremaneira a produção, multiplicou o número de exemplares e de escritores, forjou o estudo da literatura e entregou para o século XX um objeto tradicional, capaz de suscitar medo e apreensão entre os poderosos, como bem representa Markus Zusak no romance A menina que roubava livros, sobre o período nazista, mas perfeitamente adaptado à lógica comercial e capitalista, com um sistema literário, como diria Candido, formado por autores, leitores e editores.

Neste século, o livro irá conviver com outras formas de arte e outros meios de comunicação de massa, como o cinema, o rádio e a televisão, que conquistam em pouco tempo enorme apelo popular e comercial. Nada, porém, muda a forma física do livro, até que com o surgimento da microinformática e da internet começam a surgir suportes digitais para a leitura em que não existe propriamente um objeto, e sim uma tela sobre a qual o texto eletrônico é lido, provocando uma uma revolução que Roger Chartier considera "com poucos precedentes tão violentos na longa história da cultura escrita".



Marcelo Spalding
Porto Alegre, 22/4/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Eleições na quinta série de Luís Fernando Amâncio
02. E se Amélia fosse feminista? de Ana Elisa Ribeiro


Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2011
01. História da leitura (I): as tábuas da lei e o rolo - 25/2/2011
02. História da leitura (II): o códice medieval - 18/3/2011
03. História da leitura (III): a imprensa de Gutenberg - 1/4/2011
04. O certo e o errado no ensino da Língua Portuguesa - 3/6/2011
05. A História de Alice no País das Maravilhas - 29/7/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




César
Allan Massie
Ediouro
(2000)



Level 2
Lenore Appelhans
Leya
(2014)



Sursis
Jean Paul Sartre
Abril Cultural
(1974)



Livro Literatura Estrangeira Os Loucos da Rua Mazur
João Pinto Coelho
Leya
(2018)



Palavras Que Complicam as Crianças e Encrencam os Adultos
Jose Luiz Balthazar Jacob
Giz
(2007)



Introdução à Fonetica
Mauricio Gois
Livros do Mundo Inteiro
(1971)



Dona Flor e seus Dois Maridos
Jorge Amado
Martins
(1966)



Espumas Flutuantes - Antologia
Castro Alves
Sol
(1997)



Modos E Maneiras
Odair Cunha
Evoluir
(2000)



Tristano Morre: uma vida
Antonio Tabucchi
Rocco
(2007)





busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês