Escritores iniciantes são como sementes jogadas em um jardim. Quais crescerão? Isso ninguém sabe. Quem será o autor iniciante hoje, mas reconhecido em 2030 ou 2045?
O caminho do escritor é, como dizia, Hemingway, um caminho solitário. O escritor é individualista, precisa de introspecção para encontrar sua própria voz, mas também precisa ser curioso, pesquisar, percorrer rotas externas.
Solicitei a escritores, editores e poetas, conselhos para os iniciantes. Claudio Daniel, poeta, jornalista e doutorando em Literatura Portuguesa pela USP, só disse o seguinte: "meu conselho é leitura, leitura, leitura, leitura e leitura".
Uma visão semelhante é a do escritor e também professor universitário Miguel Sanches Neto: "Que nunca deixem de ler muita literatura, pois não há outro caminho para a construção de um estilo, de uma voz, de uma visão do mundo, do que lendo a literatura que nos antecedeu. Escrever deve ser sempre um subproduto da leitura, uma forma de unir nosso nome a uma tradição, nem que seja negando-a".
Plínio Martins, escritor e diretor da Edusp, disse: "Leia. Leia muito. Quanto mais uma pessoa lê, melhor ela domina sua linguagem e torna-se capaz de transmitir melhor suas próprias ideias. É importante também ter cuidado ao analisar sua própria produção criticamente. Vale a pena pedir opinião de terceiros ou até mesmo um parecer de outros autores que já tenham publicado obras similares".
Paulo Tadeu, jornalista, dono da editora Matrix e escritor de livros infantis: "Meu conselho é escrever sobre o que se gosta, e ler muito. Esse amor pela palavra escrita vai gerar frutos uma hora ou outra".
Patrícia Vence Castilla, dona a editora Ruínas Circulares, de Buenos Aires deu algumas sugestões: "Leitura, muitíssima leitura contemporânea de autores consagrados de cada país. Capacitação. Aproximar-se das oficinas literárias que contam com bons coordenadores, de preferência escritores, porque penso que nenhum artista ― escultor, artista plástico, ator etc. ― jamais duvidaria em procurar um mestre para ser orientado no ofício escolhido. Então, para escrever bem, a primeira coisa a fazer, segundo o meu critério, seria capacitar-se".
Para o escritor e jornalista José Castello "Toda grande ficção precisa despertar, antes de tudo, um sentimento de estranheza. Aquela sensação que nos leva a dizer: 'Nunca li uma coisa assim!', ou 'De onde esse autor tirou isso?'. A literatura é o terreno do singular. Sempre que alguma coisa se repete, nos decepcionamos um pouco. Portanto, não dá para dizer que isso, ou aquilo, me impressiona mais. Eu me impressiono mais com o susto, o espanto de encontrar uma coisa que eu não pensava que pudesse existir".
Outros profissionais da área do livro assinalaram caminhos diferentes. Isso me fez lembrar das palavras de Borges, que falou que sempre havia lido, nunca existiu uma época em que ele não lesse. E não falava só de livros, logicamente, mas de realizar uma leitura do mundo. O bebê lê alegria ou a tristeza no rosto materno. Crianças aprendem a ler a linguagem dos olhares e dos gestos. Escutei dizer que o jovem fala o que vive e os velhos vivem do que falam, fabulam, renovam biografias, enfim, reestruturam o passado para manter uma autoimagem positiva.
Alguns entrevistados falaram um pouco desse caminho de descobertas. Perguntei ao jornalista e escritor, autor de Meu nome não é Johnny, Guilherme Fiúza, quais conselhos poderia dar para os novos escritores que desejam escrever biografias. Ele respondeu: "Acho que não tenho autoridade para tal. De qualquer forma, arriscaria dizer a eles que tão importante quanto a vida do biografado é o olhar do autor sobre ela".
Já Wanderlino Teixeira, escritor e poeta, membro da Academia Niteroiense de Letras, aconselhou: "estar atentos ao que os rodeia, não se fiem apenas na inspiração. Escrever é trabalho de carpintaria".
Roberto Araújo, do Conselho editorial da Editora Europa, deu sua visão: "Livros não surgem por mágica. O conteúdo, que é sempre o que efetivamente interessa, tem que ser trabalhado cuidadosamente na cabeça do autor. O conselho mais prático que posso dar é que um livro é sempre fruto de um trabalho disciplinado. Algumas horas por dia devem ser separadas exclusivamente para este trabalho. E repetidos todos os dias. A verdade é que a concentração sempre demora. Para ela chegar ao ponto é necessário reler os capítulos anteriores, refletir sobre a nova cena, elaborá-la na cabeça e então partir para a escrita. Não há regras rígidas, já que este é um trabalho artístico, mas eu tenho a forte convicção que sem disciplina não é possível escolher com sabedoria as milhares de palavras que compõem um livro. Também acho inútil o uso de álcool ou qualquer tipo de droga. Com a consciência alterada, as palavras parecem ter uma força que não será compreendido por mais ninguém a não ser o autor. Se a intenção for publicar, o trabalho fica todo perdido. O certo é que é preciso garra e determinação. Nada está acima em termos de realização intelectual do que escrever e publicar um livro. É um esforço que vale a pena".
Depois escutamos os conselhos de Reinaldo Polito, autor de livros de oratória que já venderam mais de 1.000.000 de exemplares: "Minha sugestão, portanto, aos jovens escritores é que estudem muito bem essa arte. Aprendam os pilares básicos de como escrever livros. Comecem publicando textos menores em blogs e sites. Abram suas obras para a crítica de amigos, conhecidos e até desconhecidos. Aprendam que é melhor receber críticas antes de publicar definitivamente seus livros. Saibam que depois de publicados os livros não lhe pertencerão mais. Serão de propriedade dos leitores. Conheço pessoas que escreveram sem se preocupar com pesquisas, sem se aprofundar nos temas que abordaram, sem analisar as características de suas personagens. Foram tão criticadas que se sentiram desestimuladas a continuar. Escrever é uma arte que se aprende fazendo. Quanto mais a pessoa escrever mais competente se tornará. Tem de saber também que depois que o livro estiver pronto não será fácil publicar, que depois de publicado também não será fácil vender. Entretanto, o prazer de escrever irá compensar todos esses desafios. Vale a pena".
Quando a jornalista Luana Gabriela me pediu "dicas" para os novos escritores eu fiquei pensando que é muito mais fácil perguntar do que responder, mas falei:
Escrever um livro é uma tarefa empolgante. Se for de ficção, o autor deve desenvolver o enredo passo a passo, alguns mestres do oriente falam que qualquer arte deve ser iniciada com cuidado, com leveza, como quem caminha pisando sobre papel de arroz. Acontece que o caminho do escritor é longo ― e não é tão charmoso como as pessoas pensam. Escrever é um trabalho solitário. Então, a primeira dica é ter disciplina, escrever diariamente, ainda que seja uma página. E no mínimo uma vez na semana reler as páginas escritas procurando aprimorar o texto. Outra "dica" é estar sempre atento aos detalhes, caminhar pela rua, ouvir as pessoas. Observar gestos, atitudes, comportamentos e tomar notas daquilo que foi mais interessante. E depois, ao escrever um conto, um romance, analisar se algumas dessas notas podem servir para completar a construção de nossos personagens ou do cenário. Escrever é também aprimorar a leitura do mundo.
Encontramos conselhos excelentes para uma pergunta difícil de responder como qualquer deste tipo. Dicas para iniciantes? Que bom que a inspiração surgiu na mente de cada entrevistado, porque quem quer escrever percebeu que é preciso muito esforço e dedicação. Parabéns pela iniciativa à Profa. Isabel.