Mês passado reencontrei um de meus livros favoritos: Vidas ilustres, de Hendrik Willem van Loon. Estava na prateleira de preciosidades frágeis, destinada àquelas obras especiais que passaram por várias reencadernações numa tentativa de manter as garras do tempo à distância. Meu exemplar data de 1952, pesa um quilo e suas páginas de letras pequenas ameaçam desprender-se, tornando a releitura um ato de reverência ou destruição.
Podemos encontrar, nas livrarias, exemplares novos e atualizados d'A história da humanidade, primeira obra de Van Loon a alcançar impressionante sucesso desde seu lançamento em 1921. Mas quem se interessar por Vidas ilustres, de 1942, deve garimpar nos sebos, deixando de lado exigências quanto à conservação da capa.
Van Loon nasceu em Rotterdam, Holanda, em 1882. Graduou-se e lecionou na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Jornalista da Associated Press e professor de História e Arte em várias universidades, tornou-se cidadão americano em 1919. Seus livros se destacam não somente pelo estilo elegante e provocador, mas pelos títulos e subtítulos longos. Quer um exemplo?
Vidas ilustres ― em inglês, Van Loon's Lives ― tem por subtítulo "Ou fiel e verdadeira narrativa de inúmeras e notáveis entrevistas com certas personagens históricas, desde Confúcio e Platão até Napoleão e Torquemada, sobre quem sempre tivemos grande curiosidade e as quais vieram jantar conosco em tempos que lá vão". Os capítulos também não deixam por menos: "Capítulo V ― Convidamos três grandes mestres da palavra escrita e falada e somos honrados com a presença de Cervantes, Shakespeare e Molière".
Meu reencontro atual com Vidas ilustres se deve a uma postagem do blog Trágico e Cômico, intitulada "Jantares de gala". Na postagem, o chargista Diogo Salles responde à pergunta que Lívia Yorke lançou na blogosfera: "Se você pudesse jantar com sete pessoas famosas, vivas ou mortas, quem seriam elas e onde se sentariam?"
À primeira vista, a ideia é simples. Trata-se de uma mesa redonda, de oito lugares, um deles ocupado por você e os outros, numerados de um a sete a partir de sua esquerda, para seus convidados. Quem você convidaria? Quem se sentaria ao lado e à frente de quem?
Em sua resposta, Diogo optou por driblar a regra e criar seis mesas temáticas, com pessoas ligadas a literatura, artes, música, cinema e futebol. Formou até um grupo de mulheres fora do seu alcance. Vários leitores do blog deixaram suas listas nos comentários. Parece que só eu travei por excesso de informações e não criei lista nenhuma. Aquilo me deu um déjà-vu de Vidas ilustres.
Lembrei-me do esmero com o qual Van Loon escolhia os cardápios, as músicas e até as reproduções de obras artísticas de acordo com a biografia de seus convidados. Sem dúvida, um trabalho desses estava acima de minha capacidade, mas pelo menos um lugar especial para o meu jantar eu gostaria de escolher. Teria que ser um lugar para nerd nenhum botar defeito. Escolhi o Catavento Cultural, uma espécie de museu da ciência interativo, localizado no antigo Palácio das Indústrias, em São Paulo. Especialmente voltado para crianças e adolescentes, ensina através do contato direto com os experimentos.
Lugar escolhido, trato agora de criar minha lista. Começaria com um homem além do meu alcance, a paixão da minha adolescência, Carl Sagan. Cientista e astrônomo norte-americano, Carl Sagan (1934-1996) tornou-se mundialmente famoso por sua série de programas televisivos sobre astronomia, intitulada Cosmos. Pesquisador e divulgador da astronomia, escreveu vários livros. Meu favorito é O mundo assombrado por demônios: a ciência como uma vela no escuro.
Entre os convidados brasileiros vivos, não poderiam faltar a geneticista Mayana Zatz, pesquisadora no campo de doenças neuromusculares e células-tronco, e o astronauta Marcos Pontes, primeiro sul-americano a realizar experimentos científicos em microgravidade, na Estação Espacial Internacional.
Completando o time nacional, chamaria o falecido Monteiro Lobato. Ele adoraria saber sobre o pré-sal, as descobertas científicas e as recentes polêmicas envolvendo seu nome e a eugenia, pseudociência que tantos horrores causou.
Para divertir-se no Catavento, convidaria o gênio italiano Leonardo da Vinci e a cientista polonesa Marie Currie, ganhadora de dois Prêmios Nobel, o de Física, em 1903, e o de Química, em 1911.
Agora, para me ajudar na escolha dos lugares à mesa e do cardápio, imploraria pela vinda de Hendrik van Loon, afinal ele tem muito a dizer e talvez pudesse autografar meu Vidas ilustres.
Olá Carla! Tenho estado muito ocupada com a faculdade e o trabalho, e por isso me afastei muito da "blogosfera". Minhas atualizações estão escassas e sinto saudade de interagir mais com vocês, que sempre me apresentam textos tão bem redigidos, repletos de ideias e mundos inspiradores, que sempre valem a pena. Não sabia que escrevias para espaços na internet fora do "Algo além dos Livros". Não deixe de divulgar! A propósito, achei sua mesa ótima! Só trocaria o Marcos Pontes por Albert Einstein, cuja personalidade sempre me fascinou. Também queria Santos Dumont e Gauss, e trocaria o jantar por um picnic no Jardim Botânico. Bjs, Rodrigo
Valeu, Rodrigo! Também pensei no Einstein. Acontece que não entendo tanto de Física quanto você e ficaria perdida na conversa. Preferi o Marcos Pontes, que conheci numa Star Party e sei que é gente boa. Dumont e Gauss também me interessam. Beijos!
Adorei o texto, muito interessante. Minha mesa seria composta com as seguintes personalidades : Jorge Amado, José Lins do Rego, Zico, Anita Malfatti, Maria Montessori, Pagu e Leonardo da Vinci. Abraços.
Muito obrigada pelo comentário, Michele! Gostei da mesa que você montou. Em especial, porque fiz o antigo primário em uma escola que adotava o Método Montessori e admiro sua autora. Beijos!