De 2003 até agora a Flip mudou, cresceu, trouxe novos parceiros, gerou polêmicas de patrocínio, de escolha do homenageado ― como em 2010 ao escolher Gilberto Freire ― de privilegiar editoras, entre outros comentários de "corredor" de uma empresa, mas nada foi tão à público quanto a coletiva de imprensa final, o balanço da Flip deste ano.
Era para ser anunciado a escolha de Drummond e agradecer os jornalistas presentes na coletiva de imprensa, mas o curador da Flip 2011, Manuel da Costa Pinto, usou a palavra nazista ao tentar entender e explicar porquê, o escritor e documentarista francês, Claude Lanzmann, se recusou a responder as perguntas de Marcio Seligmann-Silva na mesa de sexta-feira, no último dia 8.
O balanço foi abalado. Na Flip modernista, a polêmica: bem no final. Teria Manuel da Costa Pinto excedido, subjulgado a importância da palavra? Confundido seu papel de crítico literário com o de curador? Ou defendido os acadêmicos? Teria ofendido Lanzmann?
Agora o que me intriga é encontrar logo após a coletiva, no domingo (último dia 10), alguns jornalistas e não sentir nenhum clima diferente entre os que comentavam o assunto. A novidade era Drumonnd.
Ao chegar em casa, São Paulo, por volta das 21h30, e ver os posts sobre a polêmica gerada pelo curador da Flip 2011, de imediato, pensei: será que eles "comemoram bola", como dizemos no jornalismo? Não foi só o anúncio do nome de Drummond para 2012? Teve algo mais e eu não percebi?
Sim, na coletiva, Costa Pinto disse considerar "decepcionante que um autor do porte dele [Lanzmann], que foi um dos grandes intelectuais do século XX, e conviveu como figuras como Sartre, rejeitasse perguntas de natureza intelectual". E completou: "Essa postura que ele teve contra um debate intelectual foi uma coisa nazista. É grave isso. Ele rejeitou o debate em nome da espetacularização."
Mais o assunto só foi mesmo levado a sério pela imprensa após o editor de Claude Lanzmann pedir pronunciamento da organização da Flip e do curador. Houve mea-culpa, a Casa Azul diz que a opinião é de responsabilidade do Manuel da Costa Pinto, e ele diz que talvez tenha confundido os papéis de curador com o de jornalista.
Tanto que a coletiva acabou às 15 hs. e pouco e os posts sobre as polêmicas surgiram por volta das 17 hs. Os jornalistas haviam comentado, mas não haviam dado ênfase ao assunto.
Uma palavra quase calou os 5 dias de Flip, o mercado editorial agora é outro, uma hora a polêmica aconteceria? Se o curador quis defender a classe intelectual brasileira, ou se o editor quis defender seu autor não é problema nosso.
O importante é que existe uma festa, onde as ideias estão fervilhando, os ânimos quentes, a gagueira dos autores saíndo, o espaço para a criação, diálogo, o prazer da arte, das celebrações, que os modernistas sempre quiseram.
Falamos em coletivo, em união, e não em fatos isolados, temos de estar abertos a opiniões: seja do curador, do editor, do povo, do leitor!
Somos uma nação que quase a metade das pessoas não sabe ler, não tem acesso à informação, e não pode gastar 4 mil reais em cinco dias para, no final, tudo ser para o mercado... e não para o autores e suas ideias. Quase que os grandes nomes foram ofuscados pelos organizadores!
"Vamos de mãos dadas", diria Drummond, em seu poema! Somos poucos neste caminho...
Discordo totalmente de você, Verônica. A festa, as idéias fervilhando, os ânimos. Tudo isso precisa ter uma certa identidade. A atitude de Manuel da Costa Pinto denunciou a mudança de trajetória da Flip. As colocações de Manuel foram incompatíveis com alguém que se petende uma pessoa agregadora de artistas e leitores, uma falta de respeito, além de eu discordar de todas as suas colocações. Lanzmann pode ter sido desagradável, mal humorado e até agressivo, mas ninguém se perguntou quais seriam os motivos que o levaram a não querer falar de "Shoah". Talvez, digo talvez, ele quisesse apenas falar do seu livro, apenas. A falta de sensibilidade em relação a um documentário tão perturbador como "Shoah". Mais ainda: a atitude de Manuel da Costa Pinto dizer a um ARTISTA que ele deveria, como se fosse uma ordem, responder a questões de natureza intelectual, mostra o descohecimento do curador em relação a o que é um artista. É atitude de quem tem uma biblioteca na cabeça.
Olá José, é seu direito discordar totalmente, mas concordamos que houve mudança na Flip, eu digo isso no meu texto (a Flip mudou, o mercado editorial é outro) e você no seu título... abraço!