Dá para viajar sem fotografar? | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 12/8/2011
Dá para viajar sem fotografar?
Marta Barcellos
+ de 3500 Acessos

A ideia era sair do roteiro das agências de turismo, buscar nossas veias latino-americanas e fugir das "viagens de confirmação", nas quais acabamos fotografando as mesmas fotos do guia visual. E também aproveitar o câmbio favorável enquanto há tempo (quem se lembra da tristeza dos viajantes depois da maxidesvalorização do real em 1999?).

Você vai mesmo para a cidade do México? Vou, eu respondia. Não, o destino não será uma praia mexicana, Cancun ou um novo paraíso artificial, continuava me explicando. Não, não penso que seja como ir a São Paulo. Ninguém me invejava; eu estava no caminho certo.

Mas havia as crianças. Quando dei por mim esperava à beira da piscina pelo grupo que "nadaria" com os golfinhos. Colocavam a roupa de neoprene, inclusa no preço camarada do parque mexicano ("mais barato que a Disney"), enquanto a mim caberia concorrer com o fotógrafo oficial na missão de registrar a façanha. Nadar com os golfinhos, viria a descobrir depois, é algo recomendável no currículo das crianças bem nascidas do Brasil, algo para abafar no Facebook. Eu precisava caprichar na foto.

Enquanto aguardava, pude observar uma modalidade que não nos havia sido oferecida no cardápio do parque. Segundo a mocinha gentil (os mexicanos são gentis até nos rituais de segurança do aeroporto), por 400 pesos as crianças poderiam interagir com o golfinho na piscina por 30 minutos. Sem abraçar o animal. Com mais 300 pesos, o programa duraria 45 minutos e incluiria o abraço. Ficamos com o pacote básico, até porque a chuva ameaçava estragar a foto, digo, o programa.

Naqueles minutos de espera concluí que nos tinham sonegado uma opção certamente mais em conta. Uma treinadora que orientava seu golfinho no canto da piscina, entre afagos e sardinhas, fez um gesto e um grupo de quatro crianças aproximou-se com o fotógrafo. Sem perder tempo com troca de roupas, elas apenas se abaixaram na beirada, uma de cada vez, e repetiram os gestos de comando necessários para duas fotos: numa o golfinho encostava o nariz na mão da criança espalmada para baixo e na outra viravam o rosto para receber um "beijinho" do mamífero. A orientação era clara: tinham que olhar para a câmera. Não dava tempo de ver o animal e o contato gelado causou algum sobressalto nos menores, mas tudo foi rapidamente registrado e premiado com sardinhas (o golfinho, claro). Fiquei calculando o preço daquela modalidade fast.

Nosso grupo finalmente saiu do vestiário, devidamente paramentado, e constatei que a prometida proporção de 12 pessoas para um golfinho havia sido estendida para 17. Mas não era hora de matemática ou rabugices, e sim de curtir o lado lúdico do investimento. Que foi um sucesso, tanto a performance do golfinho como a do treinador. Fotos tiradas, era hora de trocar de roupa novamente e comemorar com tacos, quesadilhas e enchilhadas, além de provar outra boa cerveza mexicana. Dessa vez, não vou esquecer a foto dos pratos.

Conheci dois viajantes (que não conhecem um ao outro) que nunca tiram fotos em suas viagens. Quando soube da primeira história fiquei um pouco chocada. Eram os tempos em que ver o mundo através de lentes parecia coisa de japonês, turistas ricos que andavam em grupo guiados por sombrinhas, com câmeras no pescoço e poucos recursos vocabulares para compreender o que se passava em volta. Fotografar tudo o tempo todo no mínimo denotava falta de imaginação. Mesmo assim, fiquei chocada, porque, especialmente numa viagem distante, a ideia deixar a experiência somente a cargo da memória que se apaga é angustiante. Os japoneses exageravam, mas abrir mão de qualquer registro parecia radical demais.

Hoje a pretensão de guardar a memória da viagem no álbum de fotos não existe mais. A fotografia é fato, versão e memória ao mesmo tempo, aqui, agora e no Facebook. Numa época de tantos flashes, a experiência e o seu registro viraram uma coisa só, distribuídas em tempo real, e raramente revisitadas em um álbum de fotos antigo. Assim como as festas, as viagens só existem quando fotografadas. Se você não fotografou uma viagem ela realmente aconteceu? É algo a se considerar. No caminho inverso, há algumas semanas confirmei no Facebook minha presença em um evento, não consegui ir, mas no dia seguinte constava que estive lá. Juro que me sinto como se não tivesse faltado tanto assim.

Quando soube, recentemente, do segundo viajante contumaz que não fotografa nem os lugares mais exóticos não pude deixar de sentir uma ponta de inveja. Imaginar a sua liberdade. A liberdade de escolher, depois, se a viagem aconteceu ou não. De construir com calma a sua versão do vivido. A liberdade de quem descobriu, há tempos, que tudo é ficção, inclusive a memória e as fotografias. Mesmo assim, apegada que sou a esse mundinho de experiências que 'precisam' ser capturadas, eu lhe perguntei: mas você nem escreve alguma coisa? Nem um moleskine para algumas notas, no lugar da câmera? Nada.

Sem registros, a viagem dura apenas o tempo que durou. Não é um investimento lúdico em um roteiro ensaiado para fotos. Ela se apaga como o "tempo real" que nem existe, como a memória insuficiente para reter qualquer resquício do tempo presente. Conheço gente que viaja muito, fotografa tudo e não se lembra de nada. Confunde as viagens na hora de citá-las. E também conheço bons contadores de histórias de viagem. Em geral viajam pouco e transformam seus poucos "causos" em histórias sensacionais. Afinal, para que viajar - ou fotografar golfinhos - quando se tem uma imaginação fértil?

Nota do Editor
Marta Barcellos mantém o blog Espuminha


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 12/8/2011

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