COLUNAS
Quinta-feira,
9/8/2012
Querido site de compras coletivas
Carla Ceres
+ de 3800 Acessos
Querido site de compras coletivas, venho, por meio desta, agradecer pelas emocionantes experiências que você me proporciona. Ontem, por exemplo, fui a um rodízio de panquecas. Quer dizer, não era bem um rodízio, mas eu acreditei que era porque estava escrito "Rodízio de Panquecas para 2" na oferta que você me mandou.
Conheço rodízio de pizza, de massas e de churrasco. Todos eles têm algo em comum: o cliente fica sentadinho à mesa e os garçons passam oferecendo vários tipos de alimento em pequenas quantidades, de cada vez. Ao freguês cabe empanturrar-se enquanto se desvia de espetos de carne e evita que lhe fatiem o nariz. Gosto do meu nariz, sabe? Talvez por isso (e por ser vegetariana), eu prefira rodízios de massas onde o pior que nos pode acontecer é sair com o vestido aos quatro queijos. Uma panqueca das mais "manchativas" que nos caísse ao colo poderia, no máximo, desenrolar-se e derramar seu recheio sobre nossos pés. Fiz meus cálculos e concluí: sim, eu poderia sobreviver a essa improvável catástrofe.
Convidei meu marido e lá fomos nós, depois de um dia daqueles, relaxar no restaurante. Chegamos às 18:30, conforme combinado na reserva. O estabelecimento mal estava aberto. Alguns funcionários preparavam as mesas. Nem entramos. Talvez fosse cedo demais e a equipe precisasse de um tempo para se organizar. Estávamos exaustos, com fome, mas de bom humor. Decidimos ir para casa e pegar nossos casacos. Foi difícil resistir aos pacotinhos de amendoim com chocolate que nos acenavam da mesa da cozinha. Sou doida por doces. Para ser sincera, só comprei o rodízio por causa da sobremesa: panquecas de banana, maçã e doce de leite. Pelo menos era isso que estava escrito na oferta.
Entramos no restaurante às 19:10. As mesas tinham toalhas. Yesss, que maravilha! Faltavam pratos e talheres. Sem problema, a gente espera, pensamos. Nenhuma panqueca à vista. Nenhum perfumezinho de panqueca no ar. Mas havia garçons de sobra. Um veio e nos trouxe prontamente o suco de laranja e o chope aos quais tínhamos direito de acordo com o cupom. Ainda bem que gostamos das bebidas porque foram tudo o que pusemos na boca até as oito da noite.
Chegaram outros casais, alguns grupos de amigos, uma família com criança e nada das panquecas, nem dos pratos, nem dos talheres. O rapaz que veio nos trazer o segundo suco e o terceiro chope reparou na nossa cara de ponto de interrogação faminto e explicou: "A gente já vai servir as panquecas naquele balcão e vocês vão poder ir lá pegar". Ah, então não seria rodízio, mas haveria panquecas no estilo self-service, também conhecido como save yourself ou "salve-se quem puder". Tudo bem, afinal a criança da mesa em frente já estava choramingando que queria comiiiidaaa.
Antes das panquecas, chegou uma cantora com um violão e começou a testar o microfone para uma apresentação ao vivo, que não estava incluída no cupom. Que beleza! Íamos pagar couvert artístico por passar fome ao som de "Um, dois, três, testando... sssom!!!"
Às oito e pouquinho, liberaram o bufê e começou a cantoria. Levemente alcoolizados por beber de estômago vazio, os clientes cambalearam até a comida. As panquecas doces não tinham aparecido ainda. As salgadas, embora frias, estavam ótimas. Até a de carne (que peguei por engano, graças a um erro no papelzinho de identificação) estava comível. Perdoem-me, vaquinhas!
Às oito e meia, sem panquecas doces à vista, pedimos a conta e um café. Ótimo café. Péssima conta. Veio errada três vezes. Não, não estavam cobrando a mais e sim a menos. Incompetentes, porém honestos, haviam perdido nossa comanda e teriam levado prejuízo se não fizéssemos questão de pagar corretamente. Nesse torneio para ver quem era mais virtuoso, só recebemos o troco às nove da noite. Lancei um último olhar ao bufê onde a sobremesa deveria estar. Vazio! Da cozinha, as panquecas doces me gritaram um "Volte sempre!" por telepatia. Não volto, ouviram? Não volto mesmo!
Quanto a você, site de compras coletivas, que tal ensinar seus colaboradores a aproveitar direito as promoções que fazem? Alguns comerciantes, ao atrair centenas de novos clientes em potencial, pensam apenas no enorme trabalho que terão para atender "um batalhão de aproveitadores que só querem pagar pouco". Procuram compensar o "prejuízo" inventando despesas para acrescentar à conta. A má vontade do patrão contagia os funcionários e o mau atendimento triunfa. A casa mostra o pior de si quando deveria dar um show de qualidade e competência. É triste ver profissionais sem preparo desperdiçando um bom investimento.
Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/
Carla Ceres
Piracicaba,
9/8/2012
Quem leu este, também leu esse(s):
01.
O incompreensível mercado dos e-books de Vicente Escudero
02.
Entrando para ganhar de Celso A. Uequed Pitol
03.
Raul Gil e sua usina de cantores de Félix Maier
04.
MPB: entre o passado e o futuro de Aline Pereira
05.
Ode a Pablo Neruda de Aline Pereira
Mais Acessadas de Carla Ceres
em 2012
01.
Na calada do texto, Bentinho amava Escobar - 8/11/2012
02.
Liberdade de crença e descrença - 4/10/2012
03.
Memórias de ex-professoras - 8/3/2012
04.
O céu tornou-se legível - 3/5/2012
05.
Dono do próprio país - 31/5/2012
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|